História Seele - 6 - Nunca confie no que eu faço quando estou fora de mim

"Onde você for, eu irei segui-lo
Você define o passo, vamos deixá-lo rápido e lento"

(Satellite - Lena Meyer-Landrut)

Estava um pouco melancólico desde a noite anterior. Devido ao princípio de escândalo que ocorreu nas escadarias do Shinjuku Piccadilly, Victor não avistou mais Yuri. Tinha ficado feliz em ver o fotógrafo no local, apesar dele ter estado lá a trabalho. Queria ter falado com ele, mas por conta daquele ocorrido, não o vira mais. Não entendia ainda o porquê de sentir-se daquela maneira quando pensava no japonês. Talvez fosse coisa de sua cabeça, somente pelo simples fato do rapaz o lembrar a bendita Monika que sempre aparecia em seus sonhos, junto do seu amado. Tinha que esquecer isso. E pensar que é diferente, que simplesmente ficou atraído por Yuri Katsuki. Só não sabia como, mas ficou. No momento, o que lhe deixava deprimido era o fato de que o nipônico não atendia suas ligações e Victor já havia feito dezessete somente naquela manhã. Seria aquilo um sinal de que o moreno queria se manter distante e tinha medo em lhe dizer sobre? Estava agora atordoado com esse tipo de pensamento. Não entendia porque seu coração doía com tamanha possibilidade. Sentou-se na enorme cama king size na suíte que dividia com o outro Yuri e pegou seu iPhone que estava no criado-mudo. A vontade de tentar ligar mais uma vez o consumia. Pôs a mão na cabeça e começou a bagunçar o cabelo, por estar confuso sem saber como procederia em relação aos seus pensamentos recentes. Não percebeu que seu companheiro de quarto havia entrado. Nem mesmo viu o sorriso que o loiro estampava no rosto. 

- Victor, tá com algum problema? - vendo que não conseguiu nenhuma resposta, Yuri acertou a cabeça do prateado com uma revista que avistara em cima de sua cama. - Estou te chamando pela quarta vez seguida!! O que diabos você tem??

- Isso dói, seu отродье*!! E não, não estou com problema nenhum. Quer algo comigo? Se for... eu já digo que não saio com menores de idade. - antes de colocar a mão no local atingido, recebe mais um golpe de revista na cabeça.

- Claro que não, идиот**. Eu só queria lhe mostrar isso. - e exibiu o artigo na tela de seu Samsung Galaxy S6, que era sobre as críticas positivas sobre o drama que ambos estrelam. - Os convidados do red carpet gostaram do que viram. Não é demais?

- É sim, mas... deixa eu ver isso aqui. - pegou o celular das mãos de Yuri e passou a ler em voz alta a nota que havia sobre si mesmo logo após do artigo de resenhas críticas. - "Apesar de Victor Nikiforov parecer estar bem comportado, sua presença adquiriu a habilidade em ser chamariz de escândalo, já que foi no tapete vermelho de sua nova empreitada o barraco envolvendo o astro coreano Lee Seung Gil. Seria possível Nikiforov-san ainda se manter longe do que se tornou sua marca registrada?" AAAAAAHHHH, DEIXA EU MATAR QUEM ESCREVEU ISSO!!!!

Sentado em sua cama, o loiro ria. Achava engraçado porque meses atrás, o próprio Victor não estava nem aí para os seus escândalos e não dava a mínima para nada. Ainda não entendia o porquê do surto do prateado por conta daquilo. Resolveu dar uma pausa na risada apenas para salvar o seu pobre celular que estava prestes a ser arremessado por um russo alterado. Tencionou pegar a revista e golpear a cabeça do mais alto novamente, mas preferiu não o fazer, pois Victor surtaria de novo e Yuri acabaria morrendo de tanto rir da situação. Foi quando recebeu uma mensagem, indicando um singelo convite de almoço para ele e seu acompanhante de cabelos cor de prata.

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"Não vamos fazer promessas, você nunca sabe o que te espera amanhã"

(Let's Not Fall in Love - BIGBANG)

Sua cabeça latejava um pouco mais que o de costume. Ao se levantar e olhar-se no espelho, Yuri dera um grito. Não se lembrava de como o batom vermelho e aquela maquiagem pesada foi aparecer em seu rosto. Pensou logo que podia ter sido alguma brincadeira infame de Phichit. Já estava preparando em sua cabeça uma forma de esganar o pobre taliandês, quando este apareceu em seu quarto carregando consigo uma bandeja com frutas, bolo de laranja, suco de kiwi e uma cartela de aspirinas. Esqueceu por um instante a tramoia que arquitetava em sua mente para colocar as mãos no pescoço do seu colega de apartamento. Iria aproveitar aquele gesto do mais novo e depois pensaria novamente em seu plano anterior. Aproveitaria para perguntar ao rapaz o que aconteceu na noite anterior.

- Trouxe sua cartela de aspirinas porque sei que você precisaria. A sua sorte é que pelo menos você não se lembra das putarias que faz quando tá bêbado e também não é uma pessoa pública. - roubou uma maçã da bandeja depositada no criado-mudo de Yuri.

- Como assim... putaria? Phichit-kun, não me esconda nada! - pegou imediatamente a cartela com os comprimidos e engolira um com o auxílio do suco de kiwi. Não queria que a dor de cabeça lhe tirasse a concentração das palavras que o outro moreno iria proferir em seguida.

- Bem... eu estava no coquetel da premiére me escondendo do Seung Gil quando você me ligou. Quando eu atendi, você já se encontrava levemente bêbado e tava me chamando pra lhe fazer companhia. Agora... Yuri, como foi que você foi parar naquele bar okama***? - mordiscou a maçã que estava em sua mão. 

- Quer dizer que essa maquiagem... olha Phichit-kun, eu não lembro. Só me recordo que eu pedi pro taxista me deixar no primeiro bar que aparecesse no caminho dele. Mas nunca imaginaria que seria... esse tipo de estabelecimento. - sentia-se constrangido, imaginando o tipo de besteira que havia feito.

- Eu também não imaginaria, ainda mais vindo de um cara como você, Yuri. Teve um momento que eu desliguei o celular porque o Seung Gil me encontrou e eu tive que fugir de novo. Só quando eu cheguei no terraço da boate onde o coquetel estava sendo realizado que eu lhe retornei. Você me atendeu já embriagado de vez e ficava dizendo que era Katsudon-chan, a princesinha do pole dance. - pausou seu relato para rir um pouco e parou quando viu Yuri estreitar os olhos. - Como eu não podia ir até o tal bar onde você se enfiou e ir lhe buscar, pedi para uma pessoa fazer esse favor pra mim.

- E quem foi essa pessoa? - desfez a careta de raiva, agora curioso.

- O Masaharu. Também conhecido como o cara que você dispensou ano passado. Sabia que ele tá trabalhando como assistente de direção do drama? - tudo o que o japonês queria naquele exato momento era cavar um buraco e se enterrar quando ouviu aquele nome.

Masaharu Suneyoshi era um cameraman freelancer que Yuri conheceu durante um trabalho para a ViVi. Foi com o homem dos cabelos azuis e piercing no canto direito do lábio inferior que o moreno descobriu que também podia gostar de pessoas com o mesmo gênero sexual que o seu. Apesar de já ter namorado algumas garotas na época da escola, foi com Masaharu que o moço perdeu sua virgindade. Ambos achavam que podiam ter um relacionamento, mas Yuri descobriu que o lance era apenas sexo. Não gostava muito do jeito carente e dependente do azulado. Algo que ele via em Victor Nikiforov e que talvez podia ser um motivo mais do que o suficiente para afastá-lo. Concluiu que não gostava de pessoas assim, por se sentir um pouco sufocado.

- Phichit-kun, eu poderia nesse exato momento estar com minhas mãos apertando o seu pescoço. Mas não farei isso por ser seu amigo e apreciar o que você faz por mim. - deu mais um gole no suco de kiwi já quente. - E como foi que ele me trouxe aqui?

- Quando ele chegou no bar, me ligou dizendo que você estava praticamente seminu no pole dance e que teve trabalho em te arrancar dali. Masaharu pegou a chave do apartamento que tava no bolso da sua calça e entrou te carregando. Cheguei um pouco depois com o Chris... a tempo de ver você praticamente atracado no Masaharu, tentando beijá-lo. Foi o Christophe que te levou pro quarto e disse que não te deu banho porque você apagou assim que caiu na cama. Tive que pedir desculpas em seu nome. Francamente, Yuri... acho que da próxima vez que você for beber, terei que ir junto só pra garantir que não faça nenhuma loucura. Agora vou voltar pra cozinha. Tenho que terminar o almoço que estou preparando para os nossos visitantes. Quando acabar de se alimentar, vá tomar um banho porque você ainda tá cheirando a álcool. - e saiu do quarto, deixando um Yuri constrangido. 

Nunca lhe passou pela cabeça que reencontraria um ex daquela maneira constrangedora. Tomou o restante do suco e foi direto para o banheiro. Decidiu que terminaria seu café da manhã assim que estivesse limpo, sem aquele cheiro de bebida que ainda exalava de seu corpo, além da maquiagem que estava em seu rosto. Vergonha era o que sentia. O que Masaharu estaria pensando dele agora depois das cenas comprometedoras da noite anterior? Mesmo que não tivesse mais nada com o maior, aquilo foi a pior coisa que fez em sua vida. Durante o banho, se lembrava dos poucos momentos com o outro que não fizera questão de apagar. Apesar do rapaz ser irritante com sua carência exagerada, no sexo ele virava outra pessoa. Era nisso que Yuri se agarrava enquanto se banhava. 

"Patético, é isso que eu estou sendo. Patético." pensou, assim que saiu do banheiro de seu quarto e se vestira. Planejara terminar seu café na sala, tencionando assistir a alguma reprise de seu amado Saint Seiya. 

Seus planos foram por água abaixo quando viu a pessoa de quem ele mais queria se livrar sentado em seu sofá. Por um momento, quis voltar atrás e esganar Phichit Chulanont. Como aquele tailandês ousava em convidar Victor Nikiforov para o apartamento deles? Sentado ao lado do mais velho, estava o tal loirinho que sempre o acompanhava. Não tardou para que os olhares do russo e do japonês se encontrassem. Enquanto Yuri corava com aquilo, Victor se sentia feliz. Afinal de contas, estava vendo o fotógrafo mais uma vez.

Nem o outro Yuri, tampouco Phichit e Chris que chegaram na sala depois, perceberam o clima que se instalou ali. Pelo visto, para o japonês aquele almoço lhe renderia alguma surpresa da qual ele não iria gostar.

"Seus olhos negam tudo para mim
Mas eles refletem assim como um anel de diamantes"

(Till My Heart Stops Beating - Joe Brooks)