• Summer •
Sentei-me no banco de madeira do parque e olhei ao redor procurando algo que me fizesse ter ideias para o meu desenho de hoje. Uma ventania forte passou e levou os meus cabelos até os olhos, eu os tirei da minha vista e abrir meu caderno de desenhos. Sim, eu tenho um caderno de desenhos. Eu amo desenhar e tudo que me inspira eu transformo em lindos rabiscos.
Batuquei o lápis no caderno e olhei ao redor mais uma vez, não vi nada, além de uma árvore morta. Era essa árvore que eu iria desenhar.
O lápis passava pela folha em branco criando rascunhos, com o tempo foi se transformando em uma linda árvore triste e solitária. Não sei porque, mas me identifiquei. Triste e solitária era como eu me encontrava todos os dias. Quando tinha terminado, apreciei cada detalhe dela. Era tão solitária. Só de pensar que um dia alguém tiraria-a dali me partia o coração.
Olhei para o meu desenho mais um vez e imaginei minha vida igual àqueles galhos. Secos e mortos. Não conseguia ver o lado positivo de se viver. Não conseguia ver os benefícios da vida. Eu simplesmente não via.
Minha vida era um droga.
Como poderia ver benefícios em se viver uma mentira?
Meus pais biológicos me largaram em frente a casa de estranhos na época em que eu era recém-nascida. Rosa e José me criaram com todo o amor do mundo e eu os agradeço por isso. Eu os amo muito também.
Depois disso nunca mais os vi novamente, apesar de nem sequer lembrar das suas faces. Quando fiz 15 anos, meus pais me contaram que eu era adotada e por incrível que pareça, eu não chorei, não gritei e não berrei. Fiquei abalada? Sim. Mas percebi que, se eles não ficaram comigo, mesmo passando por dificuldades, eles não me amavam o suficiente. Não fiz questão de tentar encontra-los e acho que foi melhor assim.
Uma ventania forte passou por mim e levou a folha do meu desenho para longe. Eu segui o papel com o olhar e ele tinha caído do outro lado do parque. Deixei as coisas no banco e levantei indo direto para o papel. Quando cheguei perto, o desenho não estava mais lá. Fiquei decepcionada, já que o desenho que fiz ficou lindo. Eu não o encontrei e provavelmente nem icontrarei. Então com tristeza, voltei, peguei minhas coisas e caminhei para casa.
19h13
— Aonde estava minha filha? — Perguntou minha mãe depois que me viu entrar pela porta da frente.
— Estava no parque, mãe. A senhora sabe, estava desenhando, como sempre — Falei entediada, indo para as escadarias que levava para o segundo andar.
— Você anda muito sozinha, querida. Porquê não chama seu amigo para irem ao cinema? Sei lá, saia um pouco da sua rotina — Aconselhou.
— Não, mãe. Eu não sou muito de sair e eu amo minha rotina, mas obrigada pelo conselho, vou levar em consideração — Sorri fraco e subi para meu quarto.
— Pense no que eu te disse antes, Summer. Você é linda, inteligente e incrivelmente meiga, não devia viver assim! — Gritou, me dando mas um de seus grandes conselhos, que vou anotar na minha lista de conselhos que devo levar em palta.
Entrei no quarto, fechei a porta e fui logo me despindo para tomar uma ducha. Depois do banho, coloquei uma calça moletom, minha regata branca e fui para cama pegando meu celular que estava no criado mudo do lado dela. Deitei e fui mexer em meu wathsapp.
"Machimelo! Quanto tempo!"
Chegou uma mensagem do Chris e eu respondi imediatamente.
"Verdade! Tu virou rico e esqueceu dos pobres :("
"Não te esqueci, só estava ocupado esses dias. Mas agora estou de volta!"
"Podemos nos ver qualquer dia desses? Estou com saudades"
E era verdade. Já faz dois dias que não falo com ele. Quando se tem poucos amigos você sente saudades até das babaquices que eles fazem para te alegrar.
"Podemos nos ver esse semana? Estou livre"
"Claro! Amanhã, que tal?
"Ás 16h00?"
"Perfeito!"
Eu e Chris passamos a noite toda conversando besteira. Quando deu onze horas eu desci para tomar um copo de suco e comer algo, porque minha barriga não parava de gritar pedindo por comida.
Fui na cozinha, fiz um sanduíche rápido e bebi um copo de suco de maracujá — que estava uma delícia por sinal. Lavei a louça e quando estava prestes a sair da cozinha, escutei um barulho vindo do lado de fora. Um arrepio percorreu minha espinha e eu subi as escadas correndo. Tranquei a porta do quarto e me joguei de baixo das cobertas. Eu estava com medo, estava com medo de um simples barulho.
— Que ridículo — Sussurrei. — Deve ser algum cachorro — Tentei me convencer dessas palavras e saí do meu refúgio.
Quando fechei os olhos e tentei descansar, escutei outro barulho. Abri-os imediatamente e tomei coragem para ir até a minha janela. Abrir primeiro a cortina e depois abrir uma fresta da janela para enxergar o que se passava lá em baixo. Eu vi um corpo se mexendo atrás de uma árvore e quando estava tentando ver quem era direito, ele olhou para minha janela e ficou me encarando.
— Ele não deve está me vendo, está muito escuro — Sussurrei.
Eu não sabia se estava me vendo ou não, provavelmente não, já que estava muito escuro, mas mesmo assim, ele continuou a olhar para cá. Depois de um tempo, começou a andar normalmente, como se fosse o dono do mundo.
Voltei para cama. Quem era? O que ele estava fazendo no meu jardim? Eu não vi seu rosto, será que ele veio me sequestrar? Há... Pare de ser imbecil, Summer. Deve ter sido só um ser humano que se perdeu. Repeti como uma mantra em minha mente até adormecer.
Domingo, dia 22 de Maio, 08h00, em casa.
• Summer •
Levantei atordoada por conta do sono. Fui no banheiro e tomei um banho quente que me relaxou por completa. Coloquei qualquer roupa que achei no armário e desci para tomar café.
— Bom dia — Falei e me sentei na cadeira do lado de pai.
— Bom dia, filha. Dormiu bem? — Perguntou.
— Sim — Menti. Eu não consegui dormir a noite toda pensando no acontecimento de ontem a noite. — Eu dormi maravilhosamente bem — Sorri irônica, mas acho que eles não perceberam.
— Que bom, querida. Bem... queremos conversar com você, sobre um assunto meio delicado — Falou meu pai calmamente, fazendo uma pausa para checar minha reação. — É sobre o meu trabalho.
— Pare de enrolar, querido e vá direto ao ponto — Disse mãe, já emanando irritação.
— Certo — Rolou os olhos. — O meu chefe estar necessitando que alguns de seus funcionários faça uma viajem para o Brazil, por que uma de suas filiais está com problemas e nós precisaremos de toda ajuda possível, e bom, o que eu estou querendo dizer é que; vou precisar acompanha-los nessa viajem e só voltarei mês que vem — Disse rapidamente.
Ele disse tudo tão depressa que eu não consegui processar toda a informação.
— O senhor irá para o Brazil? — Foi só o que consegui dizer
— Exato.
— Eu compreendo pai, entendo que precisa ir. Sei que voltará para nós o mais rápido possível — Falei com os olhos marejados. — Não se preocupe, eu cuido de mamãe — Sorrir fraco.
— Sei que irá — Tocou a minha mãe que descansava em cima da mesa.
— Que dia irá viajar? — Perguntei receosa.
— Amanhã — Sorriu sem mostrar os dentes.
Eu não falei nada. O silêncio dominou a sala. Eu não queria me pronunciar, até por que eu não tinha nada para dizer. Eu simplesmente não queria que ele fosse, mas não é questão de querer. É aquele ditado: Querer não é poder. E eu não tinha poder algum.
Tomei café e subi para meu quarto um pouco infeliz. Peguei o meu mp3 que estava em cima da cama e o conectei com o fone de ouvido. Abri minha playlist e coloquei algumas músicas para tocar.
Nick Jonas - Close ft. Tove Lo
Halsey - Colors
5 Seconds Of Summer - Amnesia
Avril Lavigne - Keep holding On
Hailee Steinfeld - Starving
Shawn Mendes - Mercy
Ed Sheeran - Give me love
The Chainsmokers - Closer ft. Halsey
Enquanto as músicas tocavam, me deitei na cama e fitei o teto. Fechei os olhos e adormeci lentamente.
11h20
Acordei com alguém batendo em minha porta, eu mandei um "pode entrar" e vi que era minha mãe.
— Podemos conversar? — Perguntou, sentando-se na ponta da cama.
Assenti.
— Como você está se sentindo?
— Normal? — Perguntei, estranhando sua pergunta.
— Não. Como você se sente sabendo que seu pai irá viajar?
— Mãe, eu fico triste em saber que ele vai ficar longe por um bom tempo, mas se isso significa que vai ajuda-lo com o salário, eu estou mais que disposta à aceitar.
— Eu fico feliz que compreenda — Sorri. — E já pensou no que eu te disse? Em sair um pouco pra se divertir.
— Sim. Vou sair com o Chris hoje — Sorriu.
— Que bom! — Sorri alegre. — Só não exagere, certo? — Brinca.
— Nem se eu quisesse — Sorrir amarelo.
— Sabe... A vida é um droga. Fica boa, depois volta a ficar uma droga. Mas esse é o ciclo, essa é a vida. Eu só quero o seu bem, e sei que ficar aqui trancada não irá te ajudar em nada. Você precisa sair, conhecer novas pessoas, fazer novos amigos, conhecer alguns garotos — Sorriu.
— Mãe! — Repreendo-a.
— Mas é a verdade. Só pense no que eu estou te dizendo, certo?
Assenti outra vez.
— Tá bom, gora eu tenho que ir. Quer algo para comer?
— Não, eu já vou descer para almoçar.
Ela saiu do quarto e eu fui tomar um banho para tirar a preguiça do corpo. Vesti uma calça skinny, meu blusão e meu all star azul. Desci para almoçar.
Quando terminei, fui assistir os episódios de scream queens que eu tinha gravado na TV.
15h00
Olhei o relógio e já era três horas. No começo fiquei com preguiça de levantar do sofá, mas depois lembrei que tenho que me encontrar com Chris hoje.
Fui para o quarto, tranquei a porta e me despi, entrando no box. Aquela água fria fez-me esquecer de todos os meus problemas e do mundo a minha volta. E isso era tudo que eu mais queria na vida.
Quando terminei o banho, corri pro armário para procurar uma roupa. Acabei optando por um cropped branco, uma blusa xadrez vermelha e azul, um short jeans e uma bota de cano curto. Não era uma das melhores roupas que eu tinha, mas é só uma saída com o amigo.
Olhei as horas e faltava só dois minutos para às quatro. Peguei meu celular na cama e desci as escadas. Encontrei minha mãe sentada no sofá assistindo um programa de culinária. Beijei sua bochecha e ela se virou assustada.
— Oi, filha. Está tão linda — Sorriu, me avaliando — Já vai?
— Estou esperando o Chris — Digo e é nessa hora que a campainha toca. — Por falar nele... Tchau coroa, te amo — Lhe beijei mais uma vez e fui atender a porta.
— Crianças... Também te amo, Summer. Não chegue tarde, querida.
Abri a porta e encontrei um Chris super arrumado e com um sorriso devastador no rosto.
— Chris! — Pulei em seu colo.
— Machimelo — Sussurrou em meu ouvido. Esse é o apelido que ele me deu mas isso é história pra outro dia. — Que saudades de você, anjo.
— Também senti saudades. Só faz dois dias, mas me pareceu uma eternidade — Saí do seu abraço.
Ele sorriu e seguro meu rosto com as duas mãos.
— Não irá acontecer de novo. Vamos? Tenho tanta coisa para te contar — Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele segurou minha mãe e saiu me puxando pela calçada.
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