História Seguir em frente - Aquele dos reencontros

Maitê P.O.V

Um mês tinha se passado depois daquele dia e as coisas iam bem, na medida do possível. Tudo com David era bom e a cada dia eu podia sentir meu sentimento por ele crescendo. Fui assistir alguns jogos do Chelsea nesse meio tempo, o que gerou alguns rumores aqui na Inglaterra de que eu seria a nova namorada do "zagueiro David Luiz". Não sei como esse pessoal descobre as coisas, já que a única evidência de estarmos juntos seria uma foto minha dormindo que David postou naquela viagem que fizemos e o fato de eu ir aos jogos com a camisa com o nome dele. Nada foi concretizado até agora, o que achei ótimo, pois não gosto de holofotes. Nesse momento estou na empresa e com tempo livre, então fui pesquisar passagens de ida e volta pra o Brasil, já que eu teria uma semana de férias devido aquelas horas extras que paguei aqui. Alguém bateu na porta da minha sala.

- Pode entrar -falei um pouco mais alto

- Olá, srtª Calheiros - O sr. Arthur entrou acompanhado de uma moça muito bonita, por sinal.

- Olá. Em que posso ajudá-los? 

- Bem, essa aqui é a Caroline Haussman. Ela também é publicitária e acabou de ser contratada. Como as duas são brasileiras, pensei que você poderia ajudá-la a se adaptar por aqui, pois ela acabou de se mudar da Bélgica.

- Oh, claro que posso -beijei suas bochechas- Prazer, Maitê Calheiros. 

- Eu estou um tanto amarrotado de tarefas. Qualquer coisa pode pedir a srtª Calheiros, ok? -ele disse enquanto ia embora e ela assentiu com a cabeça.

- Faz tempo que você trabalha aqui? -ela disse

- Não muito. 10 meses para ser exata. -tentei ser simpática

- Entendi. Fiquei feliz em saber que teria outra brasileira por aqui. Só que eu, na verdade, acho que sou mais belga que brasileira. Moro lá desde pequena e vim parar aqui a pedido do meu noivo. -ela me disse sorridente

- Ele é daqui? -Claro, né, Maitê. Dãr.

- Sim. Ele é jogador, você deve conhecê-lo já que trabalha com futebol né? Eden Hazard. -ela falou e eu juro que pude ver seus olhos brilhando.

- Nossa, que mundo pequeno. Conheço sim. - pensei em falar de David para ela, mas, ainda não sei exatamente qual é o título para me referir a ele. Preferi ficar calada.

Caroline tinha um alto astral invejável. Ela contou-me que acabou de se formar em publicidade, namora o Hazard há 10 anos e que já o casamento já está marcado. Ela sempre conta as histórias com um sorriso no rosto e vai ser ótimo ter uma companhia assim aqui no trabalho. Passei o resto da tarde mostrando a ela a empresa e como é a rotina por aqui. Senti meu celular que estava no bolso vibrar e o peguei. Mensagem de David.

X Acabei de sair do treino e tô passando aqui perto da SDox. Quer uma carona?

V Quero. Tô esperando aqui na porta. 

Ele realmente estava passando perto, pois só deu tempo de guardar o celular e vi a Mercedes dele chegando. 

- David Luiz? Essa é a sua carona? - Caroline falou 

- É. - falei sem graça

- Vocês namoram? -ela disse, surpresa

- Ahm... mais ou menos. 

- Como assim mais ou menos? Eu o conheço porque ele também joga no Chelsea com o Eden.

Nossa conversa foi interrompida pela buzina do carro de David e eu agradeci mentalmente. Ela ainda ficaria por lá a espera de um motorista que já estava indo buscá-la, então despedi-me dela e fui até o encontro do cabeludo. Ele estava vestido com o uniforme de treino do clube e com uma faixa na cabeça, o que o deixava extremamente lindo. Dei um selinho em seus lábios.

- E aí -ele dizia com aquele tom de voz que passa calmaria pra qualquer um- como foi seu dia?

- Normal. Chegou uma funcionária nova para trabalhar comigo e acabei descobrindo que ela é a noiva do Hazard. Legal né? Mundo pequeno - eu disse

- Ela veio morar aqui? Ele sempre fala o quanto é ruim manter relacionamento à distância 

- Sim, eles vão casar em breve aí ela preferiu vir se adaptar logo.

- Entendi... por falar nisso, semana que vem tem um jantar do clube e nós vamos. Quero te apresentar para todo mundo.

- Ahm... semana que vem? eu falei, sem graça

- Algum problema? -ele disse, curioso

- É que eu vou pro Brasil. -fui direta

- Brasil? Como assim? -ele olhou-me intrigado

- Lembra daqueles dias de folga que falei? Vou usá-los para visitar minha família lá e também aproveitar que vai ser aniversário do meu irmão para comemorar todo mundo junto. 

- Ah tá -ele fez bico

- Faz assim não, bebê. Já combinei com minha mãe e tudo... não posso desmarcar assim. 

- Tudo bem, né. É que eu queria te apresentar para os moleques...

- Vão ter muitas outras oportunidades, sim? E eu volto logo. É só uma semana.
(...)

A casa de David tem se tornado minha segunda casa. Ele sempre acaba me convencendo a ficar por lá e digamos que decidir entre dormir lá em casa, sozinha, a dormir com um cabeludo lindo e de cueca boxer, a primeira opção não me parece nem um pouco convidativa. Fui para o shopping com Caroline alguns dias (isso já está se tornando normal) porque ela não trouxe muitas roupas e estava escolhendo a dedo todos os móveis da casa nova. Acabou que nós nos identificamos muito e sabe aquele tipo de pessoa que mal chega na sua vida e já parece que é de casa? Foi assim com ela. Considerando também que eu também estou mais sociável para fazer novas amizades, tudo culpa de David.

Tive que deixar tudo organizado na empresa por conta da semana que eu ficaria fora. Separei as planilhas previamente organizadas e o resto da semana passou voando. Senti que no começo David ficou um pouco chateado por eu não ir para o tal jantar com ele, mas não queria transparecer isso. Depois, no fundo, ele acabou entendendo que já tinha passado da minha hora de ir para o Brasil. 

Coloquei uma calça jeans, blusa preta e uma jaqueta branca para complementar o look. David fez questão de me deixar no aeroporto, então, liguei logo para ele para não chegar atrasada, como de costume, e acabar perdendo o voo. Não sei se já comentei que odeio fazer mala e por isso não estou levando muita coisa.

      David P.O.V

Já estou dentro do carro e quase chegando na porta do prédio da Maitê. Ela nem viajou ainda e eu já começo a sentir meu peito apertado de saudade. Desde aquele beijo meses atrás eu sabia que ela faria estrago comigo, mas é que parece que a cada dia eu me apaixono mais e me apego mais. O seu jeito indecifrável às vezes me deixa louco e preso à ela, ao mesmo tempo. Parei o carro quando cheguei e vi que ela já me esperava.

- Oi, cabeludo -ela disse ao entrar no carro

- Oi, tetê. Você não tá arrumada demais pra quem só vai viajar? -eu disse só para implicar, por mais que fosse verdade.

- Arrumada? Eu não estou com um pingo de maquiagem -ela falou enquanto abaixava o óculos escuros para que eu visse seu rosto melhor

- Tanto faz, eu não entendo de maquiagem mesmo... -nós rimos e o silêncio perdurou por um tempo

- Vou sentir sua falta. -ela começou

- Eu também, minha linda. Você não sabe o quanto. -pisquei rapidamente para ela

O caminho até o aeroporto foi silencioso. Eu só conseguia pensar no jantar de amanhã e enquanto os outros jogadores estariam com suas respectivas namoradas ou esposas, ela não estaria comigo e além do mais, a um oceano de distância. Só espero que essa semana passe logo para que eu possa vê-la de novo, como diz aquela música.

Quando chegamos, a levei até o local de fazer check-in e ficamos esperando a chamada do voo. Ela comprou o café que tanto amava e sentamos em umas cadeiras mais reservadas.

- Você vai me ligar sempre que puder? -ela quebrou o silêncio mais uma vez

- Todos os dias. Mas por que a gente tá falando como se você fosse passar um ano fora? É só uma semana. Vai dar tudo certo. -eu disse

- Sei lá. É que de repente me bateu uma sensação ruim... -ela se aninhou ainda mais em meu abraço.

- Não fala assim, minha linda -puxei seu queixo para que ela olhasse para mim- eu vou estar te esperando com um buquê de rosas, que tal?

- E com chocolate. Branco, de preferência -ela sorriu

- Sim senhora -fiz sinal de continência. 

Senhores passageiros do voo 2334 em direção ao Brasil, por favor dirijam-se ao portão E. Argh, nunca gostei da voz dessa mulher.
 

Dei um abraço apertado seguido de um beijo rápido em seus lábios e ela partiu. Nunca tive tanta certeza como tenho agora que essa semana será difícil de lidar, estamos há um mês juntos e nos vendo praticamente todos os dias. Vai ser ruim acordar sem aquele cheiro que o cabelo dela tem de manhã. Mas, tudo bem, David, uma semana passa rápido.


  Maitê P.O.V

O voo foi tranquilo apesar das 11 horas dentro de um avião. Dormi boa parte desse tempo, acordando apenas para fazer as refeições. Acabei de pisar em São Paulo e já sinto uma atmosfera diferente. Senti saudades desse clima. Fui ligar para mamãe quando passei da sala de desembarque mas, para minha surpresa, eles já estavam a minha espera com uma plaquinha "Srtª Calheiros". Own.

Dei um abraço longo nos dois e até o Papai que sempre costuma ter um semblante rígido esboçou um certo tipo de emoção. Ele pegou minhas malas e logo fomos em direção ao carro que estava no estacionamento. Pela primeira vez na vida eu não parava de falar e tinha certeza que eles estavam estranhando isso.

- Vejo que Londres fez um bem enorme para você, filha. Está tão extrovertida. - mamãe dizia

- Tem razão. Acho que mudei muito nesses últimos meses...

- Algum motivo especial? -ela continuou e eu já sabia onde ela queria chegar

- É... ahm... eu conheci uma pessoa lá que está me fazendo ver o mundo de outra maneira, digamos. -eu disse, sincera

- E o trabalho? Não está deixando de lado, né, Maitê? -meu pai olhava para mim através do retrovisor.

- Claro que não, pai. Eu sei muito bem dos meus objetivos. 
(...)

Meu quarto estava exatamente do jeito que eu deixei, não antes de vir para Londres, mas antes de ir morar sozinha aqui em SP. Voltar para cá me trás um misto de emoções e lembranças, boas e ruins. Pensei em David e lembrei que ainda não tinha mandado a mensagem que prometi assim que chegasse.

V Oi, cabeludo. Como estão as coisas por aí sem mim? 

Ele logo respondeu

X Oi, tetê. Tudo bem, por enquanto. Já chegou?

V Sim. Já estou na casa dos meus pais.

X Que bom, assim eu fico tranquilo. Tô um pouco ocupado agora, mas, mais tarde eu te ligo, pode ser?

V Pode. Eu vou aproveitar para descansar um pouco. Beijo, se cuida

X Você também. Beijão
(...)

Acordei com meu celular tocando, olhei no visor e era meu irmão, Lucas, pedindo para que eu fosse encontrá-lo no shopping, onde estavam comemorando o "pré-aniversário" dele. No começo fui relutante por ainda estar cansada, mas digamos que ele fez um tipo de chantagem emocional e eu acabei aceitando. Minha cunhada, Letícia, também estaria por ali e eu mataria a saudade dos dois de uma vez só.

Como fazia calor em São Paulo, coloquei um shortinho rasgado, uma regata cinza e um tênis parecido com o meu superstar só que de cano longo que ganhei da Adidas. Mamãe emprestou-me o seu carro para que eu pudesse sair quando quisesse, o que facilitou muito. O trânsito daqui parece mudar a todo momento e precisei ligar o GPS para chegar até o destino. Lucas me disse que estava no Outback e que eu me fosse para lá. Quando entrei no restaurante, reconheci de longe o cabelo extremamente loiro e lindo da Letícia com Lucas ao seu lado e tinha um cara também, mas minha miopia impediu-me de saber quem era. Fiz a menção de ir até lá, mas os dois logo se levantaram e foram ao meu encontro.

Conversávamos carinhosamente até o caminho de volta à mesa até que ouvi uma voz bastante familiar. Não, não pode ser.

- Não fala com os velhos amigos, Mai? -ele disse e eu tive certeza de quem era pelo tom cínico.

- Pedro?

(...) CONTINUAAAA