Meus últimos dias de "férias" passaram lentamente, por incrível que pareça. Não saí muito de casa, confesso. Passei algumas noites em claro, aquilo tudo que aconteceu me pegou de uma forma que não consigo explicar. Eu estava de TPM, o que contribuiu para meu estado derrotada -diga-se de passagem- de espírito. Chorei algumas vezes, não sei dizer exatamente o porque, mas não conseguia segurar. Vi algumas fotos que David postou no instagram e ele parecia tão bem, tão feliz e principalmente de uma forma tão diferente da que estou. Fiquei me perguntando se aquilo não tinha o afetado nem um pouco... Sei lá, se em algum momento ele lembrou de mim e se teve a curiosidade de saber como eu estava, porque eu fazia isso o tempo todo.
O que aconteceu entre nós sempre foi... intenso. Isso, intenso é a palavra certa. Desde o começo, todos os frios na barriga quando ele simplesmente repousava os olhos em mim, quando eu sentia a maciez do seu cabelo ou cheiro que ele tinha. A noite que a gente fez amor pela primeira vez foi mágica... enfim, tudo com ele era bom, demais até, para ser verdade. O que ele me disse na noite do jogo ficou martelando na cabeça durante dias e estou começando a entender que talvez tenha sido melhor assim.
Confesso que tenho evitado encontrar com ele e isso acabou me afastando de Oscar e Ludmila durante essas duas semanas. Recusei todos os convites para almoços, saídas e todas as coisas que eles costumam fazer quando tem um tempinho livre e querem estar com os amigos simplesmente porque sabia que ele estaria lá também e seria tudo tão mais arriscado. Eu não queria mostrar que estava sofrendo sentindo falta dele, por mais verdade que isso fosse. Ele tinha sido bem claro quando me culpou de todos os problemas que aconteceram.
Assisti pela televisão a semi-final do campeonato, aquela que David não jogou por ter sido expulso e num jogo extremamente difícil, o Chelsea conseguiu vencer nos pênaltis e garantiu a vaga na final. Isso me aliviou um pouco, já que no fundo eu realmente sentia uma parcela de culpa na expulsão dele. Agora tudo estava indo conforme manda o figurino e eu torço para que seja campeão. Sei que é o único título que ele não conquistou em sua primeira passada pelos Blues e significava muito para ele.
Kate têm me ajudado bastante e ela foi o colo amigo que eu precisava nos primeiros dias. Carol está totalmente amarrotada com os preparativos do casamento que eu não podia incomodá-la com meus problemas. Por falar nisso, o casamento já é daqui a três dias e estou indo buscar meu vestido no ateliê. Tenho muitos que nunca foram usados ainda guardados mas a ocasião pedia um especial e a estilista desenhou um exatamente do jeito que eu queria, vai ficar lindo, mas nada que ofusque a beleza daCarol. Pra falar a verdade, ela estaria mais bonita se estivesse até sem maquiagem e vestindo um simples jeans.
Pra completar o ciclo de "vida nova", decidi comprar um carro. Eu já tinha a carteira de motorista inglesa mas ainda não tinha comprado um por puro comodismo, só que um certo dia acordei com essa ideia e não sosseguei até realizá-la. Os preços daqui são extremamente baixos se comparados aos do Brasil e eu podia pegar o modelo que queria com um custo perfeito também. Uma Land Rover Evoque branca, nada mais original que ter uma Land Rover na Inglaterra, né? Tirei a entrada da poupança que tenho e parcelei o resto em poucas vezes. O problema agora era só não me perder nas ruas, sorte que alguém muito amigão inventou o GPS para salvar minha vida.
(...)
- Ficou maravilhoso -a estilista dizia em inglês, naturalmente- aliás, qualquer vestido ficaria lindo em um corpo desse
- Que isso -falei sem graça- o mérito é todo seu.
- Em que você trabalha? -ela continuou
- Sou publicitária.
- Ahm... entendo. Será que você toparia estrelar uma campanha para a minha marca?
- Eu tenho contrato de exclusividade com a SDox entretenimento, não posso projetar as campanhas de outro lugar, infelizmente -eu disse sem entender aonde ela queria chegar.
- Não, querida, você não me entendeu. -ela ajeitava o coque no cabelo extremamente perfeito- eu quero que você seja a modelo, entende?
- Modelo? Ahm... não acho que eu leve muito jeito para isso.
- Eu conheço bem um talento quando vejo um, acredite. Você é exatamente o que eu estava procurando, rosto angelical e um corpo natural. O cachê é excelente, eu garanto. Quero que seja uma campanha diferente e eu estou cheia dessas modelos prontas que só sabem fazer carão, se é que você me entende.
Ela pegou um papel e escreveu todos os benefícios que eu ganharia com a tal campanha e meus olhos arregalaram-se instantaneamente ao ver a quantidade de zeros no valor total. Eu sabia que modelos ganhavam muito bem com publicidade, claro, mas ainda me surpreendi com aquilo sendo ofertado para mim e daquela maneira. Lembrei que eu tinha adquirido uma nova dívida e ganhar um dinheiro extra não seria nada mal, o problema era vencer a minha timidez.
- Ahm... não sei. Nunca tinha pensado nessa possibilidade... Me dá um tempo para decidir?!
- Claro, minha querida. Aqui está meu cartão, se tudo der certo poderemos tirar as fotos no sábado. Estou esperando o seu contato, ok?
Realmente ser modelo nunca tinha passado pela minha cabeça. Alguns olheiros conhecidos de meu pai já tinham feito propostas lá no Brasil, mas eu nunca tive vontade. Talvez eu possa gostar, né? Quem sabe. Ultimamente eu tenho feito tantas coisas que nunca imaginei e essa poderia ser mais uma.
(...)
Hoje seria a despedida de solteira da Carol e ela marcou um jantar no seu apartamento e do Hazard, que não estaria lá para curtir a sua despedida também. Vesti um vestidinho florido simples e um tênis já que ela me garantiu que estariam poucas pessoas lá, visto que ela ainda não tem muitas amigas por aqui. O apartamento era bem longe do meu e coloquei o endereço no GPS do carro, rezando para que ele não me deixe na mão. Depois de exatos 50 minutos, eu estava na porta do prédio que, por sinal, eles ficariam por lá até o casamento na sexta e depois se mudariam para uma casa, quer dizer, acho que, uma mansão seria mais apropriado para denominá-la.
Estávamos jantando na sala Carol, eu, a irmã dela Alice e umas cinco amigas de infância que vieram a Londres especialmente para o casamento. Fiquei um pouco acanhada no começo da noite, mas sinto que aquela insegurança que eu tinha para fazer amizades tem diminuído bastante nesses últimos tempos. Enquanto Alice, que tem um senso de humor incrível, contava algumas histórias de quando elas eram pequenas, Carol pediu licença e se retirou da mesa. Ela logo voltou com um sorriso malicioso nos lábios e acompanhada de uma sacola de plástico enorme que chamou a atenção de todas nós.
- O que é isso? Eu conheço essa tua cara de quem vai aprontar, Carol... -uma das cinco meninas dizia
- Vocês acharam mesmo que a minha despedida seria um jantarzinho desse? -ela jogou a sacola no chão- nós vamos sair!
A sua última frase foi seguida de um "UHHHH" de todas nós. Eu não queria dizer nada, mas o que estava acontecendo aqui estava bem longe de uma despedida de solteira decente.
- E essa sacola aí? -Alice se pronunciou
- Nós vamos para uma boate! Comprei fantasia para todo mundo.
- Uh! Só entra fantasiado, é?
- Não. Mas não ia ter graça se fosse todo mundo vestido normalmente, né?
Ela entregou primeiro três vestidos das "Meninas super-poderosas" e entregou para Ana, Deborah e Elisa. Em seguida, tirou uma de pirata e outra de marinheira e entregou para Louise e Monica. Deu uma que eu acreditei ser "chapeuzinho vermelho" para Alice e uma de policial para minha pessoa. Olhei incrédula para a que ela tinha escolhido para mim. Aquilo com certeza saiu de algum sex shop.
- Como você compra isso pra mim, dona Caroline? É minúscula! Minha bunda vai ficar aparecendo!
- Relaxa, amiga. Ninguém de conhecido vai estar lá e outra, o que é bonito é pra ser mostrado, não é, meninas?
Eu não teria escolha mesmo e até me senti estranha vestindo aquele pano que chamaram de roupa, mas me serviram a primeira dose de tequila e relaxei um pouco. Era disso que eu estava falando! Carol estava deslumbrante, como sempre, de mulher maravilha. Fomos até a boate numa limousine (nunca tinha andado em uma) que ela alugou para que ninguém tivesse que dirigir. Ao chegarmos lá, me deparei com um lugar realmente mais reservado, com aparência de um PUB. Não tinham muitas pessoas e eu agradeci mentalmente por não ter que pagar esse mico na frente de muita gente.
Subimos até o camarote onde teriam bebidas free e começamos a dançar. A música era um tipo parecido com o funk do Brasil e digamos que, a tequila me deixou mais a vontade. Não me lembro quando saí assim e me diverti tanto. Alice abriu uma roda de dança e todo mundo curtia como se não houvesse amanhã. Era minha vez de ficar no meio e bem, eu desci até o chão. De repente elas abriram a roda e ficaram em fila, achei estranho, mas continuei dançando. Percebi que tinha algo mais estranho ainda quando todo mundo olhava para atrás de mim e foi aí que parei para olhar também e... quem eu menos esperava estava bem ali, olhando fixamente para mim. ELE VIU MINHA BUNDA INTEIRA! ELE NÃO, ELES! HAZARD E TODOS OS AMIGOS, INCLUINDO DAVID!
- Rãm rãm. O que vocês estão fazendo aqui? -Carol falava e eu não conseguia prestar atenção em nada mais, não quando David me secava inteira.
- O que VOCÊS estão fazendo aqui. Não acredito que não combinamos os lugares para não nos encontrarmos, amor! -Hazard dizia para ela
- Não pensei ser possível a gente se encontrar com Londres desse tamanho! Que droga! -ela dizia
- Besteira, gente. Já que estamos todos aqui vamos curtir, né? Vocês já devem estar aí faz tempo e nós já estamos vindo de outro lugar também. Só não vamos perder o resto da noite! -Azpilicueta apareceu do nada. Onde esse cara tava que eu não vi?
Contrariando alguns, acabamos ficando todos juntos mesmo. Eu não sei o que deu em David porque ele não parava de me olhar e nem se dava o trabalho de disfarçar. A tequila já pesava minha cabeça e eu continuei o que estava fazendo antes. Dançando.
(...)
David P.O.V
Eu já senti que a noite ia dar errado quando chegamos no camarote da outra boate e dei de cara com a bunda da Maitê dançando até o chão e o melhor, não só eu, mas todos os caras que estavam comigo. Ótimo! Eu fiquei até nervoso na hora, sem saber o que fazer e acho que fiquei um bom tempo olhando para ela, mas sem que desse para perceber, claro. A verdade é que eu não a via desde aquele dia no apartamento de Oscar e não esperava vê-la aqui, principalmente com essa fantasia de policial que chamaria a atenção de qualquer homem. Tentei não me importar que ela praticamente ignorou minha presença ali e me peguei pensando se alguém já tinha chegado nela e...
- Se toda policial for assim, eu vou querer ser preso todo dia! -Azpinha falava para nós alto o suficiente para a Maitê ouvir e eu pude sentir todo o sangue do meu corpo ferver. Porra!
Ela olhou para ele e deu um sorrisinho sem graça. Estava escuro, mas eu tinha certeza que ela estava corando, porque não sabe lidar muito bem com elogios. Eu quis dizer umas verdades a ele sobre ela não ser qualquer uma e se pretendia conquistá-la desse jeito, estava fazendo errado. Bem errado. Só que, a minha única reação foi dar as costas e me afastar. Eu pretendia ir para o mais longe possível até que Hazard me segurou pelo braço.
- Que foi isso, mano?
- Eu vou embora! Se eu ficar vou dar nesse cara e em quem entrar no meio!
- Calma, cara. Você sabia que isso ia acontecer alguma hora, né? É minha despedida, não faz essa desfeita comigo...
- Era sua despedida, né? Porque deixou de ser a partir do momento que sua noiva também está aqui e... ele tá fazendo de propósito, você não vê? Ele sabe que eu sou louco por ela, que eu enlouqueço quando alguém chega perto faz isso! Se eu ficar vou acabar passando dos limites e não quero isso. Não posso, na verdade. -corrigi.
- Então quer dizer que ele não está interessado nela? É só pra te provocar? Porque ele mesmo já me disse que...
- Não! Ele já deu em cima dela outra vez, quando não sabia que a gente... ahm... tipo, estávamos quase juntos. Só que a gente já não se dá bem há um tempo, você deve ter percebido nos treinos, e já que agora ele fez questão de que eu ouvisse, só posso pensar isso.
- Ahm... acho que não, David. Ele me disse que sente algo diferente quando está perto dela, só tem medo de chegar e acho que fez isso por causa da bebida, pra marcar território, entende?
- Sério? -olhei para onde eles estavam e depois para Hazard. Novamente para onde eles estavam e depois para Hazard.
Não vou nem dizer que o Hazard não ia parar de falar até que eu aceitasse ficar. O pessoal já estava indo embora mesmo, porque era meio de semana e todo mundo tinha compromisso amanhã. Tentei ignorar tudo que acontecia para ficar na paz e pelo que me parece, o Azpinha ainda tentou se aproximar dela, mas sem sucesso. Sabia que aquele narizinho petulante da Maitê não ia dar papo assim tão fácil. Eu quase quis rir da cara daquele otário. Enquanto o tempo não passava, tomei alguns coquetéis -sem álcool- já que diferente de muitos por aqui, eu tinha noção por conta do trabalho. Agora estávamos todos na porta da boate e chegou aquele momento de todo mundo se despedir para ir embora. Shit.
Eu e os meninos estávamos divididos em dois carros e as meninas em um só. Falei com a Carol, com as outras que eu nunca tinha visto na vida e falei com ela por último, se é isso que você está se perguntando. Dei um abraço rápido como se fôssemos velhos amigos que ela correspondeu e, bem, me deixou com aquele cheiro do cabelo dela impregnado no nariz. Como se não bastasse, quando virou para entrar na limousine, foi meio que automático dirigir meus olhos para o bumbum dela que estava totalmente marcado pela fantasia. De novo. Porra, David! Se segura.
(...) CONTINUAAAA
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