História Seguir em frente - Aquele do azul infinito

Não sei por quantos minutos ficamos ainda abraçados sem sair do lugar. Perdi a noção do tempo quando comecei a pensar, recostada em seu peito, no meu sentimento por ele e tudo o que nos trouxe até aqui. Quem diria que eu, que até então estava fechada para homens, me apaixonaria por David e que ele mudaria toda minha concepção de vida, seria aquela pessoa que tiraria meu chão em um só segundo ao passo que me levaria até o céu na mesma intensidade. Os ventos frios daquela noite londrina me trouxeram de volta a realidade quando passaram por meu rosto como forma de rajada e eu me desvencilhei de seus braços por um instante. Foi aí que vi que David também estava com o pensamento longe, pois foi preciso alguns segundos o encarando para que ele percebesse e retribuísse meu olhar. 

- Tava pensando em quê? -resolvi quebrar o silêncio

- Em nós dois. -ele disse em uma fração de segundo

- Tá, eu também... -dei um selinho nele- mas em quê, especificamente?

- Em como vai... hã, quer dizer... -David parecia procurar as palavras certas- eita, eu quase ia esquecendo! Vamos para o meu apartamento? Tem uma coisa que eu preciso te dar.

- Não pode ser depois, David? Aqui tá tão bom... Como se só existíssemos nós dois no mundo. -falei e só depois percebi o quanto essa frase soou anti social

- Não. Tem que ser agora. -ele disse, firme

Eu realmente não queria sair dali, mas eu não começaria uma discussão depois do que aconteceu essa noite. Apenas concordei com ele e fomos até o seu carro ainda em silêncio. Eu não estava entendendo muita coisa, nós estávamos como dois bobos abraçados no parque e de repente ele pareceu lembrar-se de alguma coisa importante e nos trouxe na maior rapidez até o seu apartamento. Quando chegamos na porta, ele tirou uma venda preta do bolso e pediu que eu colocasse nos olhos. O que esse David tá pretendendo? Duas surpresas em um só dia? Fiz o que ele pediu e esperei parada em frente a porta. Pelo barulho vi que ele entrou em casa e demorou cerca de cinco minutos para voltar.

Seu perfume inconfundível anunciava que ele já estava perto de mim novamente e finalmente pediu para que eu tirasse a venda dos olhos e eu não acreditei no que via na minha frente. David segurava um cachorrinho da raça Lulu da Pomerânia, eu tinha quase certeza. Lembro de ter comentado alguma vez com ele quando nos conhecemos que queria ter um e eu não sabia nem que ele tinha prestado atenção nisso, quanto mais se iria lembrar algum dia. Ele me olhava com a maior cara de expectativa do mundo e eu só abri o maior sorriso que podia dar. Peguei o cachorrinho no colo e percebi que ele não se mexia por estar dormindo. Passei a mão por seu pelo sedoso e senti aquela pontada de alegria (que vem quando uma coisa maravilhosa está para acontecer) me consumir por inteira.

- E aí, gostou? - David perguntou animado

- O que? Eu a-m-e-i! -falei a última palavra entre pausas enquanto me aproximava dele dando um "beijo de esquimó"- eu não imaginaria nunca que você me daria uma coisinha dessa! Obrigada, de verdade! 

- Você não desconfiou que eu ainda te daria alguma coisa? Digo, um presente de verdade... Eu cheguei ontem na sua casa puto por não ter conseguido trazer seu presente e era esse moleque aqui -passou a mão na cabeça do cachorro-...eu já tinha tudo planejado e na hora de trazê-lo deu um problema no sistema lá do pet shop e tive que esperar até hoje. Mas, pela tua cara de felicidade acho que valeu a pena, né? E aí, já tem um nome?

- Claro! Já que é macho, vai ser Luke Skywalker. 

- Luke Skywalker? -David deu uma risada- Sério? Do Star Wars?

- É, ué. -me virei para o cachorrinho ainda sonolento nos meus braços- seja bem-vindo, Luke. Você tem um papai cabeludo igual a você e não ligue se ele falar besteiras de vez em quando, tá bom? No fundo ele é uma boa pessoa. -David pigarreou em protesto e eu ri- eu sou a sua mamãe e vou te dar todo o amor desse mundo, tenha certeza. 
(...)
***

Um mês e meio tinham se passado desde o meu aniversário e o mês de dezembro chegou, trazendo com eles algumas -várias- novidades. O trabalho na empresa ia maravilhosamente bem, diga-se de passagem. Fui promovida a nível 3 e me tornei a terceira funcionária da história da SDox a conseguir esse feito em menos de um ano. Eu adorei a parte de receber um salário ainda maior, mas isso me pedia mais responsabilidade e tempo na empresa, o que prejudica uma pessoa que, no momento, quer ter dois empregos. Sim, dois. Confesso que passei a minha vida inteira sabendo o que queria: ser publicitária. Consegui um trabalho numa das maiores empresas de  entretenimento da Europa e tudo parecia normal e progressivo até que recebi uma proposta de ser modelo. Sei que não estava no meu melhor juízo quando aceitei tal proposta e pior ainda quando eu gostei de fazer isso. De algum jeito, aquilo acabou se tornando uma válvula de escape. Quando tinha algum problema ou estresse na empresa, tudo era aliviado quando ia modelar. Não sei explicar exatamente o por que, mas aquilo me fazia bem. Ao mesmo tempo,  eu sabia que não poderia levar essa situação por muito tempo e isso estava começando a me preocupar.

Eu me tornei uma nova pessoa. Aberta, solicita e extrovertida. Tudo bem, eu posso ter exagerado um pouco nesse último adjetivo, mas em comparação a pessoa que eu era, me parece extremamente adequado. Esse meio tempo me trouxe novas amizades e fortaleceu as que já existiam. Kate, Carol e Ludmila eram meus tesouros e estavam prontas para me ajudar quando eu precisava de um ombro amigo e David não podia estar por perto, porque era isso que ele fazia no tempo livre: sempre estava ao meu lado. Por falar nele, o Chelsea foi campeão da Premier League dessa temporada (sim, aquela competição que ele quase foi eliminado por "minha culpa") e foi uma alegria total. Era a primeira conquista na carreira dele em que eu estava presente e ainda tinha um gostinho especial por ser a única competição europeia que ele não tinha ganho na primeira passagem pelo Chelsea. Detalhe que David fez um gol de falta na partida final e apontou para essa pessoa que vos fala que estava assistindo o jogo na arquibancada.  Foi lindo.

Namorar com David é no mínimo... mágico. Claro que nós temos umas brigas de vez em quando (normalmente causadas por ciúme) mas nada que não seja resolvido no quarto, se é que você me entende. Ele me faz sentir a melhor pessoa do mundo quando estamos juntos e acho que essa é a melhor parte e a que me faz acordar todo dia agradecendo a Deus por te-lo comigo. Por conta das duas últimas campanhas que fiz (produzindo e fotografando) juntamente com a agenda apertada dele por conta do fim do campeonato, nossos encontros foram poucos essa semana. Ele viajou com o time na segunda-feira para Sunderland, onde ocorreu a final, e ficou por lá para cumprir uns protocolos de times europeus e está por lá até agora. Eu voltei no mesmo dia por conta dos compromissos aqui e estamos a exatos três dias sem se ver, o que pode parecer pouco para alguns, mas quando você está acostumada a acordar praticamente todos os dias com uma cabeleira enorme -e linda- te dando bom dia, esse tempo parece uma eternidade. Ele agora teria o final de semana de folga e combinamos de viajar. Eu estava muito animada por ser a nossa primeira viagem como namorados só que, infelizmente, não poderíamos ficar todo o final de semana, pois eu tinha que fotografar para uma campanha no domingo a tarde. Esse negócio de modelo está tão sério que eu tive que contratar um agente, acredita? 

Deixei Luke dormir já essa noite com Ludmila e Oscar para ele se acostumar já que eu vou passar duas noites fora e preciso me certificar que ele ficará bem antes. Vou aproveitar agora que o sono chegou depois dessa pequena reflexão sobre minha atual situação e ir dormir logo. Amanhã será uma sexta-feira corrida no trabalho para dar tempo de organizar tudo antes de viajar e combinei com David de nos encontrarmos já no aeroporto, já que ele chegará em Londres quase em cima da hora do nosso voo.
 (...)

O dia, que pensei que passaria rápido, passou arrastado. Deve ter sido a ansiedade em ver David junto com a vontade de fugir um pouco da rotina. Felizmente não tive nenhum contratempo na empresa e segui o resto do dia sem nenhum estresse e agora estou saindo de casa rumo ao aeroporto com aquela sensação de estar esquecendo de algo, como sempre. Me certifiquei que estava com o passaporte e o vaucher e parti. Cheguei no local e o vento frio vindo do ar-condicionado me arrepiou. Fui até a sala VIP a procura de informações sobre David, que ainda não havia chegado e soube que o voo dele já tinha aterrisado e logo os passageiros desceriam da aeronave. Sentei em uma das poltronas e lembrei de ligar para Ludmila para perguntar se estava tudo bem com o Luke e quando finalizei a ligação, senti uma mão quente em meu pescoço. Eu conhecia bem aquele toque.

- Amor! -foi a única coisa que eu disse antes de abraçar David com todas as forças que tinha. Enquanto o abraçava, mesmo não vendo seu rosto, eu sabia que ele sorria por sentir suas bochechas maiores que o normal contra o meu rosto.

- Que saudade eu tava desse seu cheirinho... -ele dizia enquanto me dava repetidos selinhos depois de cheirar meu pescoço como sempre fazia.

- E eu? Até desse bafo de manhã eu tava com saudade... -falei brincando e fechei o sorriso quando ele me olhou feio

- É assim, né? -ele fazia bico- fica desdenhando mesmo... 

- Eu só estou brincando, bobinho... Só você pode fazer as piadas aqui, é? Olha que eu tô aprendendo! 

- Aprendeu com um humorista muito ruim, pelo visto -ele ria enquanto eu me aninhava ainda mais em seus braços, de uma forma que o local público permitia, claro. 

Ficamos naquele chamego por tempo suficiente até que desse o horário do nosso voo para Bora Bora. Pra quem não sabe, Bora Bora é uma ilha do grupo das Ilhas de Sotavento do arquipélago de Sociedade na Polinésia Francesa, um território ultramarino francês localizado no Oceano Pacífico. Ela encontra-se rodeada por uma laguna delimitada por um recife de coral de onde sobressaem algumas pequenas ilhotas, em que uma dessas fica o resort que vamos nos hospedar. E não, eu não fiz um curso de guia ou algo do tipo, essas informações estavam num anexo que a equipe do hotel enviou para o meu e-mail após confirmamos as reservas.

Nosso voo durou pouco mais de duas horas e David dormiu boa parte desse tempo, já que estava cansado da viagem Sunderland-Londres. Quando chegamos à Polinésia Francesa, pegamos um Jeep Wrangler que já estava alugado por nós para passar esses dias. Após chegar no Resort, deixamos o carro um pouco longe do nosso bangalô por motivos de que até lá só se chega de barco. Durante o caminho velejando, apesar de já estar escurecendo, eu ficava admirada com a beleza daquele lugar. Confesso que já conheci muitos lugares do mundo, mas nada se comparava aquilo ali. Toda aquela imensidão azul parecia cena de filme e não de vida real. Depois de uns dez minutos no barco, chegamos no nosso bangalô e David deu uma gorjeta (bem gorda, por sinal) ao funcionário que nos trouxe com o maior cuidado e atenção. Se eu já estava apaixonada pela beleza daquele lugar, depois de ver nosso quarto por dentro todo feito de madeira, minha admiração ficou ainda maior. David também parecia abismado com toda aquela beleza que seus olhos brilhavam em consonância com os meus. Deixamos a bagagem no closet ainda em silêncio até que David resolveu quebrá-lo.

- Sabe, amor... -ele me abraçou por trás e foi nos guiando até os outros cômodos- eu tô cansadão da viagem e super precisando de uma ducha.

- Eu também -virei para ele e dei um selinho rápido em seus lábios- pode ir tomando seu banho enquanto eu desarrumo nossas malas... 

- Poxa, Maitê, você já foi mais ágil para pegar as coisas no ar! -ele disse e eu franzi o cenho- eu tô a quase quatro dias sem te ver e você acha mesmo que eu vou tomar banho sozinho? -ele deu aquele sorriso de quem queria aprontar que eu amava

- Eu só tava jogando pra ver se você ia me chamar, bobinho -passei a mão em seu rosto- sabe, eu sempre quis fazer amor numa banheira virada para o mar mesmo... -eu disse e apontei para a banheira que estava em um degrau perto da nossa enorme cama

Não foi preciso mais que um segundo depois que eu disse a última frase para que David me agarrasse como se o mundo fosse acabar amanhã. Eu amava quando ele fazia isso. Por mais que já tivéssemos feito diversas vezes, o arrepio na espinha ainda era como o da primeira vez. David sabia bem como me deixar nas nuvens e assim fazia todas as vezes.
(...)


- Toda vez que você me olha assim, eu tenho um arrepio em um lugar bobo... -eu disse quando nos deitamos na cama depois de terminarmos nossa obra de arte, sim, aquilo tinha que ser chamado de obra de arte. Digna de um Da Vinci!

- Assim como? -ele dizia enquanto passava a mão tão usual por meu rosto

- Assim como está agora. Sorrindo com os olhos. 

- Ah é? Como é esse lugar bobo? -ele falava querendo fazer um charminho

- Começa na ponta dos meus pés, passa pela barriga e me faz enrugar o nariz. É como se eu soubesse que para onde for, você sempre me fará sorrir. -falei sincera

Ele se aproximou ainda sorrindo e deixou nossos narizes colados.

- Eu te amo, minha louquinha. -ele sussurrava

Dessa vez eu não respondi. Não precisava, na verdade. Meus olhos já poderiam dizer tudo. 

Depois de passarmos um tempo nessa posição, David lembrou de ter visto uma garrafa de Champanhe no quarto e foi procurá-la para brindarmos. Antes que fizéssemos tal coisa, peguei meu celular e tirei uma foto das duas taças para postar no instagram. Eu ainda não tinha postado foto nossa desde que começamos a namorar por medo da avalanche que poderia vir até mim por ele ser uma pessoa tão pública. Eu já tinha ouvido falar dos ataques que algumas namoradas de famosos sofriam e sinceramente, tinha receio daquilo acontecer comigo. Mas, David já vinha me cobrando uma posição e achei que aquele era o melhor momento para compartilhar nossa felicidade.

@maitecalheiros -
Pra brindar o infinito de nós dois. <3 @davidluiz_4

E, no mesmo instante que meu instagram borbulhava de notificações como nunca antes, o celular vibrou com uma notificação do whatsapp vindo de uma pessoa que nem eu, nem muito menos David, esperava.
(...)