História Seguir em frente - Aquele do feriado parte 1

Estranho seria se eu conseguisse chegar na hora marcada nos compromissos. Eu estava entrando no táxi em frente ao meu prédio sendo que pelo horário já deveria estar no aeroporto. Olhei a rota no celular e marcava 25 minutos até lá. Tudo bem, Maitê, agora não adianta chorar pelo leite derramado. Vai dar tudo certo.

No caminho comecei a lembrar-me das viagens que fazíamos em família quando eu era adolescente. Meus avós eram nordestinos e nós costumávamos ir até lá em praticamente todas as férias. Nosso hobby era conhecer todas as praias possíveis e eu sempre me encantava mais ao visitar cada uma delas, uma mais linda que a outra. Era maravilhoso. Agora, estou indo à Ilha de Scilly, mais exatamente na praia de Great Bay. Andei pesquisando e o mar é cor de azul-cobalto e brilhante. A areia branca me lembrou o clima tropical do Brasil. Estou animada, faz tempo que não viajo para me divertir.
(...)

Assim que coloco meus pés no aeroporto, um vento incrivelmente gelado passa por mim. Malditos ar-condicionados. Pego a jaqueta de couro que estava na minha cintura e a visto. Agora estou com uma calça jeans clarinha, meu coturno preto, uma blusa básica de manga com a jaqueta. Coloquei meu ray-ban arredondado, claro, pois minhas  olheiras deveriam estar enormes essa hora da manhã. Fui direto à sala VIP onde eles estavam me esperando, segundo informações da Ludy.

Ao entrar na sala, avisto Ludmila e Oscar, David, Azpilicueta, Willian e Vanessa e uma loira-desconhecida-porém-muito-bonita. Primeiramente pedi desculpas pelo atraso e fui cumprimentar um por um. Falei tranquilamente com o David, se é isso que você quer saber. Ele me tratou como se fosse uma conhecida qualquer e eu dei o máximo para não parecer que me importei com isso. Respira e vai, Maitê.
 
- Oi, gente. Desculpem a demora, tive um imprevisto e.. 

- Tudo bem, Mai. Acabamos de chegar por aqui também. - Ludmila disse

- Vou pegar café antes de irmos, alguém quer? - David falou aleatoriamente e eu até pensei em dizer que queria mas acabei ficando na minha. Melhor assim. 
 

Meia hora depois já estávamos na pista de pouso onde o jatinho que eles alugaram estava. Pelo tamanho daquilo o diminutivo "inho" com certeza não era adequado para denominá-lo. Tinha assento para 10 pessoas e o corredor era enorme. As pessoas foram se acomodando e sentei em uma parte que só tinham duas cadeiras. Eu planejava dormir durante o trajeto e esse espaço me possibilitaria ficar mais confortável. Ou pelo menos foi o que eu achei que faria, pois, assim que consegui ajeitar-me, o Azpilicueta perguntou se podia sentar ao meu lado. O que eu iria fazer? Negar?

- E aí. Nos conhecemos naquela festa do Oscar mas nem conversamos direito -ele disse para puxar assunto.

- Foi. Você já estava bem alterado quando eu cheguei -falei em tom brincalhão

- Tem razão - ele riu bastante- mas você não ficou com aquela imagem de mim, não é? Eu sou um rapaz sério. 

- Que isso. Eu acredito em você. 

- E você também passou dos limites né? Pensa que eu esqueci... - ele disse e eu acabei lembrando daquele dia e de coisas que deveriam ser esquecidas

- É... -falei tentando encurtar a conversa. Eu precisava dormir.

- Se quiser dormir, - ele pareceu ler meus pensamentos - pode encostar aqui no meu ombro. Eu sou um ótimo travesseiro improvisado - ele disse e nós rimos por fim

Antes de fechar os olhos, não pude deixar de perceber que aquela loira-desconhecida-porém-muito-bonita que agora já tem nome e é Bárbara, sentou-se ao lado do David. Aposto que vai dar em cima dele. Tão previsível. Ele tem todo o direito de ficar com ela, se quiser. Mas precisa ficar tão na cara assim?! Que coisa desnecessária. Preferi tentar ignorar aquela cena e voltar ao que eu estava fazendo.
(...) 

O voo deve ter sido tranquilo visto que só abri os olhos umas 2 vezes quando me ofereceram comida e eu só fiz um singelo "não" com a cabeça. Só acordei realmente quando o Azpilicueta ficou me cutando para avisar que já tínhamos aterrissado. Dois carros também alugados da Mercedes estavam a nossa espera do lado de fora pois ainda teríamos que percorrer 20 minutos até chegar ao local da casa. Não seria nada mal considerando a vista linda daqui até lá. Sol, matas e a praia no fundo.

Como saí por último do jatinho, todos já tinham se acomodado e em um carro já estavam Oscar, Ludy, Willian e Vanessa, que chamou a prima Bárbara para ir com eles. Menos mal. O que posso dizer dessa loira que eu mal conheço e já não gosto pacas?

Dê o play na música
 

Para minha alegria ou tristeza, não sei ainda, sou a única mulher para ir com os outros dois. David disse que ia dirigindo então o Azpilicueta falou que para não me deixar sozinha, iria no banco de trás também. Na mesma hora, David retrucou e disse que não era o motorista para ir sozinho na frente. Enfim, acabou que eu fui a única no banco de trás mesmo. Depois de arrumarmos as coisas, ele deu partida no carro. 

- Então, Maitê... O que você faz mesmo? É modelo? - Azpilicueta disse

- Modelo? Ahm... não. Se esse fosse meu sonho com certeza morreria de fome -dei uma risada- eu..

- Ela é publicitária. - David resolveu falar por mim. Quase engasguei com a saliva quando ele disse isso

- Hum... vocês já se conhecem, então? - Azpilicueta perguntou e eu fiquei calada. Se o David me interrompeu que se resolva agora.

- Já. Ela que dirigiu uma campanha que participei. - ele disse. Seco.

- Entendi. - o assunto do carro morreu e eu também. Me limitei a estender o braço e ligar o rádio. A música que tocava era One and Only da Adele.

Eu tenho pensado em você
Me apaixono mais a cada dia
Me perco no tempo
Só pensando no seu rosto
Só Deus sabe porque demorei tanto pra deixar de lado minhas dúvidas
Você é o único que quero

Não sei porque estou assustada
Pois já estive aqui antes
Cada sentimento, cada palavra
Já imaginei tudo
Você nunca vai saber se nunca tentar
Esquecer seu passado e simplesmente ser meu

Te desafio me deixar ser sua, primeira e única
Prometo que sou digna
De estar nos seus braços
Então, vamos lá e me dê a chance
De provar que sou a única que pode percorrer com você o caminho
Até que o fim comece

Se você pensa em mim
Você lembra de cada palavra que disse
E se perde no tempo
Quando mencionam meu nome
Será que um dia vou saber como é te abraçar
E te ouvir dizer que vai comigo para o caminho que eu for?

Péssima escolha. Aquela música se encaixou perfeitamente no meu sentimento por ele e agora tudo parecia mais arriscado. Me peguei pensando se fiz a coisa certa de vir pra cá sabendo que ele estaria perto o tempo todo. De repente me deu um nó na garganta e uma vontade de chorar. Merda.

David pareceu ler meus pensamentos e trocou a música. Obrigada, querido. Eu quis dizer.

Quando vim para Londres jamais imaginei que estaria na situação que estou agora. Eu queria esquecer minha experiência negativa com relacionamentos e começar do zero. A intenção era focar no trabalho, mas nesse meio tempo conheci um cara que me deu a chance de ser feliz de novo e tudo acabou dando errado antes mesmo de começar. Agora estamos a milímetros de distância, respirando o mesmo ar  e não posso tocá-lo. Sequer consigo ouvir aquela risada gostosa que só ele tem. Droga, como eu queria voltar no tempo e evitar toda essa confusão.

Será que eu devo ir embora e evitar tudo isso? Ahm... Tem a Ludy, eu não posso fazer isso. Ela teve tanta consideração em me chamar que eu não posso fazer isso com ela. Nem comigo mesma, já que o David pode suspeitar que eu estaria indo embora por causa dele e eu não quero parecer tão fraca assim, embora seja verdade. Eu vou ficar. Vou curtir esses dias como nunca curti antes. Não posso me tornar escrava de uma coisa que não chegou nem a acontecer de verdade.
(...) 

        David P.O.V
 

Chegamos no aeroporto atrasados por causa do trânsito e por incrível que pareça ainda ficamos esperando a Maitê que não tinha chegado. Ela sempre se atrasava para as nossas reuniões da campanha e agora eu posso afirmar que ela chega atrasada em todos os lugares. Deve ser um dom.

Como estava frio em Londres, coloquei um moletom cinza e um casaco preto por cima, tudo bem mais largo para ficar confortável já que íamos pegar um voo. Seria rápido, mas sempre é cansativo. Quando enfim entramos no jatinho, sentei-me em uma poltrona e a Bárbara sentou ao meu lado. Ficamos conversando por um tempo até que meus olhos começaram a pesar. Não que a conversa estivesse chata, mas a semana tinha sido puxada e eu estava enfadado.

Agora estou dirigindo o carro até a casa e nele está a Maitê e o Azpinha. Esse filho da puta não parou de dar em cima dela desde que entramos no jatinho até agora. Por que o Oscar chamou esse cara? Sinceramente, já tenho que aguentá-lo jogando no mesmo time que eu, nos treinos e jogos. Até nas folgas ele vem me encher o saco? Alguns minutos atrás ele foi perguntar se ela era modelo. Eu quis rir de tão idiota e antiga que essa cantada foi. Ela pareceu não entender e eu fiz o favor de cortar logo a conversa. Cara abusado. Eu heim.

Depois, ela teve a brilhante ideia de ligar o rádio e tocava uma música que lembrou-me tudo que "aconteceu" entre nós. O aconteceu é entre aspas mesmo. Aquilo me incomodou e eu sintonizei em outra rádio antes que piorasse as coisas. Eu não estava nem aí se os dois estavam curtindo a música, simplesmente mudei. Se as coisas continuarem assim, vai ser difícil passar esses dias sem perder a cabeça. O combinado não era de descansar?

Eu sei que fui eu que quis desistir quando a vi beijando outro cara e não quis escutar o que ela tinha para me dizer. Mas a gente não mede as consequências na hora da raiva, né? Porque agora toda vez que ele fica olhando para ela ou querendo insinuar algo, a única vontade que tenho é de quebrar a cara dele inteira. Esse meu sangue quente sempre acaba me atrapalhando. 

Só espero chegar nessa casa logo, ficar o mais longe dela que puder e fazer o possível para não notar a presença dos dois ali.

(...) CONTINUA

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