15 de junho de 2016
Todas as tardes eu preciso estudar para a matéria mais endemoniada e desnecessária desse mundo: matemática. Cara, onde eu vou usar pitágoras? Até parece que eu vou ao mercado comprar meu chocolate matinal, e na hora de pagar irei sacar um caderno e calcular o quanto devo dar ao caixa. Pitágoras, eu te abomino.
Onde eu estava? Ah sim, estudando. Ou quase isso. Na verdade eu sempre pego no sono de tanto ver números e gráficos, parece que é automático.
— Im ChangKyun! — esse tom de voz... você sabe muito bem que está morto quando seu superior te chama pelo seu nome inteiro.
— Fala, pai. — pareço controlado, mas só falto suar de nervoso.
— Nada, era apenas para saber se estava ou não capotado novamente. — a dureza de sua voz se foi, ele adorava me causar ataques cardíacos ás vezes. Á essa altura deveria estar rindo da minha cara.
— Aish, ora essa. — a verdade, é que eu realmente tinha dormido, mas graças á meu deus (a.k.a Batman), eu ressussitei e me livrei se um baita sermão.
Após uns minutos silenciosos — pareciam uma eternidade pois eu estava desenhando super heróis naqueles planos cartesianos ridículos — ouço barulho de passos pelo corredor. Mais e mais próximos, eu conhecia aquelas solas de sapato que mais pareciam uma pata de cavalo de tão barulhenta, era Hyunwoo. Claro que eu corri e escondi o fruto dos meus vários nadas no caderno e fingi estar estudando seriamente.
— Filho. — meu pai disse ao abrir um pouco a porta e colocar a cabeça pra dentro do meu quarto. — Seu pai vai ter que sair para uma reunião de emergência... talvez eu tenha de passar a noita em um hotel no centro. — ouvia um incômodo e hesitação em sua voz, já que ele sente se sentia culpado ás vezes em ter que fugir de casa de noite para resolver as papeladas da empresa.
— Pode ir pai, ficarei bem. — virei para fitar seu rosto e lhe passar alguma confiança.
— Quer que eu contrate uma babá por hoje? — o sarcasmo ecoava em cada canto daquele, eu sofria sendo filho daquela figura.
— Ah, mas o que é isso agora? Eu tenho 16 anos, posso me cuidar. — queria passar uma idade adulta, mas o biquinho que eu fiz com os lábios denunciavam o contrário. — Se quiser, eu chamo JooHeon para passar a noite aqui comigo.
— Não sei... dois adolescentes bobões no controle da minha casa? E se colocarem fogo nela? — coçava seu queixo, pensativo.
— Posso ser apenas um adolescente, mas não fui eu quem queimou uma panela fazendo lámen instantâneo... — filho de cobra, cobrinha é.
— Shiiu! — levou seu dedo indicador á seus lábios enquanto sibilava, pedindo silêncio. — Prometemos não comentar mais sobre isso. OK, chame JooHeon. Mas atenção! — deu uma pausa enquanto endureceu seu rosto.
— Sem festas, bebibas alcóolicas, drogas e nem garotas de programa? Já sei. — me antecipei para poupar o trabalho dele falar.
— Na verdade, sem vídeo-game até o amanhecer. — me olhou com deboche. — Porque dois nerds como vocês iriam bolar uma festa aqui? Até parece né, ChangKyun. — terminou com um riso fino.
— Chega! Vá logo ou irá empacar no meio do trânsito. — virei para o lado contrário novamente, dando as costas para o mais velho e olhando para fora da minha janela.
— Não se irrite. — ouvi sua lamentação enquanto se aproximava de mim lentamente. — Se cuide, eu te amo muito. — senti seus braços grandes me envolverem por trás e seu queixo repousar no topo da minha cabeça.
— Estou bem. Eu também te amo. — levei uma de minhas mãos ao braço do mesmo. — Agora vá. Logo irei ligar para JooHeon.
— Tudo bem então. — desfez o abraço e foi andando até a porta. — Até amanhã. E durmam! — antes que eu pudesse dizer algo, ouvi a porta batendo atrás de mim.
— Até. — respondi mesmo ciente que ele não ouvira. — Agora vamos ligar para aquele rabugento. — resmunguei baixinho e alcancei meu celular. Logo diquei o número do Lee, o qual eu já sabia de cór e o levei até a orelha.
Chamou... chamou... chamou... atendeu.
— Fala parça. — o moreno atendeu.
— Oi embuste. — nosso modo de tratamento era bem... diversificado?
— O que ‘cê quer? — a impaciência era algo normal dele, deveria estar jogando quando eu liguei.
— Meu pai saiu e eu ‘tô sozinho. Vem dormir comigo. — só depois que eu falei, percebi que formulei mal o convite.
— Ixiii, sai fora ChangKyun, eu sou hétero. Sei que sou impossível de resistir, mas tente se controlar. — se não tivesse zombado, não seria Lee JooHeon.
— Vem logo cara, deixa de graça. E traz seus jogos, meu pai confiscou os meus. — disse enquanto comia um canudinho recheado com chocolate que achei encima da mesa.
— Tá bom, tá bom. Em uma hora eu tô aí. Vou passar na lojinha pra comprar mantimentos. — ah, a nossa valiosa lojinha de R$ 1,00.
— Falou, tô te esperando então.
— Eu vou desistir se você continuar pervertido desse jeito, e se abusar de mim? — mas esse hyung...
— Ah cara, me erra. Tchau. — desliguei antes que soltasse um palavrão com aquele velhote e decidi arrumar as coisas para quando ele chegasse.
*40 minutos depois*
Estava quase tudo pronto: tinha levado meu vídeo-game para a sala e conectado na televisão; peguei cobertores e travesseiros para nos concentrarmos melhor enquanto estivéssemos jogando, já que quando jogamos, era pra valer (já até brigamos por isso, ele roubou e ficamos sem nos falar por uma semana. Mas como só temos um ao outro, nos redimimos); abri o sofá-cama e fiquei vendo vídeos no youtube até o insolente chegar.
*20 minutos depois*
Ouço batidas violentas na porta, eu já disse para esse idiota tentar não quebrar aquilo de madeira, mas ele é bruto demais pra isso.
— Já vai, já vai. — resmunguei algo enquando andava até a porta principal.
— Demorou demais. Tava batendo uma? — ele disse logo após a porta se abrir e revelar sua cara de pastel queimado.
— Ah cara, para de me encher e vamos jogar logo. — virei e voltei ao sofá, deixando ele na entrada. Ouvi o barulho da porta se fechar e meu deus, parecia um terremoto.
— Se meu pai souber que você anda querendo cometer assasinato contra essa porta que ele pagou caro, você é um garoto morto. — eu disse ao me jogar no sofá e o ver vindo em minha direção com duas sacolas cheias de besteiras.
— Você não deixaria ele me matar, sou seu único amigo. — pesado, porém verídico.
— Talvez não mesmo, você me traz comida e jogos. — puxei as sacolas de sua mão para encontrar alguma coisa para mastigar, enquanto ele ia arrumando nosso jogo.
— Morto de fome, interesseiro. — após conectar os controles, veio deitar no sofá também, já sem sapatos (quando ele tirou esses negócios fedorentos?). — Nem sei porque ainda sou seu amigo.
— Porque eu te deixo ganhar, sou piedoso demais. — provoquei, por que eu quero ver sangue. Claro que no jogo, por que em um mano-a-mano eu iria ser esmagado.
— Ah é? É o que veremos seu dongsaeng atrevido. — disse isso e apertou o "play".
*3 horas mais tarde*
Jogamos quinze partidas. Eu ganhei sete, e o JooHeon oito. Fiquei magoado? Sim. Tive que aguentar provocações por mais de meia hora? Claro que sim, é o JooHeon.
— Tô com sono cara. — disse depois de encher minhas paciências por ter ganho por um ponto a mais. Então se aconchegou perto de mim.
— Sai fora JooHeon. — tentei empurrar sua cabeça do meu ombro. — SAI CARA! — agora vamos partir para a violência.
Ele ria, e ria, e eu só senti meu rosto esquentar com um misto de vergonha e raiva.
— Calma ChangKyunnie, nunca ouviu falar em ‘brotheragem’? — tentou fazer uma voz manhosa, mas era horrível seu modo de ser fofo, me fazia vomitar.
— Que brotheragem o quê. Me respeita. — voltei a encostar no sofá e fechar meus olhos.
Ele voltou a deitar, mas agora mais afastado. Foram alguns minutos silenciosos, mas nada de incomôdo porque eu e JooHeon tínhamos essas brincadeiras (bem homoafetivas) ás vezes. Não era nada demais.
— ChangKyun... eu queria desabafar sobre algo... — ele cortou o silêncio com sua voz falhante.
— Fala. — eu sabia que era a única pesoa com quem ele poderia desabafar, já que só tinha a mim como amigo e sua família era meio... desestruturada.
— Minha sexualidade. — quase dei um pulo. — Tô em dúvida com relação á ela faz um tempo.
— Não faz mal gostar de meninos, do mesmo que não faz mal gostar de meninas. Só sei lá, foda ou seja fodido e fique feliz com isso. — juro que tentei ser o mais sensível possível, mas esse era meu jeito de me importar.
— Ah, também acho isso. Mas gostaria de ser o ativo numa relação homo. — olha as conversas que temos ás 3:30 da madrugada.
— Apenas ache um passivo e pronto. — eu sabia que nada que JooHeon falava era em vão, 6 anos de amizade né queridos. — Espera. Lee JooHeon, você já tem alguém em vista? —tive que me levantar e encará-lo, mesmo que o escuro não contribuísse muito, vi sua silhueta encolhinha nas cobertas.
— NÃO! Eu apenas... estava pensando se MinHyuk era passivo... — já entendi tudo.
— VOCÊ GOSTA DE LEE MINHYUK? — gritei sim, desculpem vizinhos.
— Pare de escândalo ChangKyun! Eu apenas acho ele muito bonito e educado. — voltou á sua postura de "intocável".
— Eu gosto.
— Gosta do quê?
— De MinHyuk. Ele é uma boa pessoa, talentoso, inteligente, me ajuda em exatas, é doce e tudo mais. Deveria apostar nele. — senti ele se mexer como se estivesse sendo atacado por formigas.
— Ah pare com isso. Eu nem sei se gosto mesmo de garotos.
— É uma boa tentativa para descobrir isso. — encorajamento com Im ChangKyun.
— Fique quieto e vá dormir, esqueça isso. — se virou para o outro lado e eu suponho que depois tenha dormido, já que podia ouvir seus roncos. É impossível que aquilo saia dele, parece um hipopótamo.
Então resolvi me virar para o meu lado e cair no sono também, pois teria que estar de pé antes do meu velho chegar em casa. E dormimos, como dois cavalos procurando espaço no sofá, mas dormimos.
E eu só não conseguia tirar da minha mente o por quê de JooHeon vir com isso agora, ele sempre foi certo de sua sexualidade. Mas tudo muda né, estou curioso de saber o que isso vai dar.
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