"Certos segredos jamais devem ser desvendados"
– Qual o problema, docinho? — deu um passo á frente, erguendo a mão até o meu rosto. Um calafrio logo se abrange em mim — Não me diga que ainda estamos nessa fase? — mantive-me imóvel — Não vai dizer nada? Nenhum protesto ou relutância?
– Papai, eu acho que ela não quer ser uma boa menina.
Eu estava ouvindo meu coração se acelerar a cada dedilhada que ele fazia sobre o meu cabelo.
– Sua amiga Candice está no banheiro, não está? — meus olhos quase saltaram quando ele a citou — Calminha, amor. Ariel vai dar um jeito de tirar ela de lá. Sem nenhum arranhão, eu lhe asseguro.
– Eu vou o que? — Jack virou a cabeça dando um olhar matador para a figura bizarra de filha — É, eu vou. Hum... Irei procurar algum modo de tirá-la mais rápido possível, papai. Com licença.
Eu estava temendo pela Candice, mas eu não sabia o que era pior, deixar ela lá dentro ou aqui fora comigo.
– Venha comigo, sweetheart. — colocou a sua mão ao redor da minha cintura.
– Não. Me. Toque.
– Eu irei conseguir te domar, amor. Mas por hora, lhe darei esse direito.
Balançou as mãos em direção a uma porta acinzentada perto do banheiro. Eu não tinha muitas opções ao meu favor, tinha que o seguir. Tinha medo de que se eu não me mantivesse no meu lugar, ele descontaria na Candice.
Ele abriu a porta e deu uma leve impressão que lá era o seu escritório. E o pior, era uma coisa super tradicional, com algumas poltronas vermelhas, uma em cada lado da mesa entulhada de papéis, estantes com os mais variados livros, dentre vários outros objetos.
Eu pensei que iria encontrar corpos quando atravessasse a porta, mas ele sabia como esconder seus rastros. É claro que sabia.
– Aceita uma xícara de chá? — neguei — Mas beberá assim mesmo, não é? — estendeu-me a xícara.
– Eu já disse que não quero. — virei à cara. Grande erro.
– Nikolina, Nikolina... Beba. — com a outra mão livre ele virou a minha cabeça para a sua direção, e não foi nada delicado — Mais uma vez, você aceita uma xícara se chá? — respirei fundo e a peguei — Boa garota. Perdão pelos meus modos, eu prefiro te cortejar a ter que tomar tais medidas, mas você não é uma garota muito fácil de lidar.
Tudo nele me assustava. Seu tom de voz com um nível de sempre ter tudo ao seu dispor, o modo que agia... Tudo nele era perigoso, mas atrativo. Eu não entendia, era assim que eram os psicopatas? Camuflados em meio às pessoas "comuns"?
– Não acha interessante a teoria da água quente e o sapo? — não me arrisquei a responder sobre — Nikolina... Amor, não me teste.
– Não. Eu nunca ouvi falar sobre tal coisa.
– Pois bem, deixe-me lhe contar. — bebeu um pouco do chá e descansou a xícara sobre um criado mudo ao seu lado — Se colocarmos um sapo direto na água fervente, ele irá pular. Porém, se deixarmos o sapo na panela cheia de água e depois acendermos o fogo, à medida que a temperatura da água vai subindo, o sapo vai se ajustando. E quando a água finalmente começa a ferver, ele não possui mais forças para pular, pois está muito cansado, devido a tantos ajustes para continuar ali.
Eu não compreendi muito bem o que ele acabara de dizer. Isso foi complexo e profundo.
– Para quem deseja fazer psicologia, isso já seria o básico para você começar. Você é a minha água quente, Nikolina.
– Como é? — indaguei-o surpresa por tal afirmação — Eu nunca o fiz mal.
– Não? Certeza que não? Você com esse jeitinho de santinha, mas por dentro se queimando para me ter. Provocando-me sempre que possível.
O quê? Como... Como assim? Esse cara é doente e eu preciso sair logo daqui.
– Eu nunca o desejei. A única coisa que sinto ao te ver é repulsa! — cuspi as palavras num ato insano.
Arrancou um sorriso cínico de seu rosto e começou a se acabar de rir.
– Você é doente...
– Lembra-se do seu afogamento? — não... não pode ser — Você me irritou bastante dormindo na mesma barraca que aquele pivete, Nikolina. Foi uma traição e tanto.
– Você não... — o meu corpo pesou a ponto de eu não conseguir sentir as minhas próprias pernas — EU MORRI NAQUELE DIA! EU PENSEI QUE ESTAVA MALUCA! VOCÊ ME FEZ PENSAR ISSO! — era doloroso pensar nisso, era de enfurecer imaginar a monstruosidade desse homem. Eu demorei a notar o quanto chorava nesse instante — EU NUNCA TE FIZ NADA! VOCÊ É DOENTE!
Atirei a xícara de chá no chão, mas ele não pareceu muito surpreso, na verdade, demonstrava ate animação.
– Qual é o seu problema, cara? Por que não deixa a mim e a minha mãe em paz?! SAÍA DA MINHA VIDA, SEU ASQUEROSO!
Corri para a saída, porém, ele se colocou entre o meu corpo e a porta.
– Eu admito, foi um exagero da minha parte. Mas não é pra tanto, amor. — eu estava apenas concentrada no medo que eu sentia nesse momento — E além do mais, não vai sair daqui antes de ouvir o que tenho a dizer.
– Fique longe de mim, SEU MANÍACO! — cambaleei para traz, derrubando o criado mudo junto à xícara.
– Eu quero você, amor. Eu quero poder sentir você, ouvir você gemendo meu nome para os quatro cantos do mundo. Eu ando me aliviando com Ariel e sua mãe, mas elas nunca serão você. — então é na sua casa que Sophie anda se escondendo.
– Você transa com a sua... — gaguejei por alguns instantes — própria filha?
– Qual o problema? É natural essa união de corpos.
Eu chorava tanto, eram lagrimas de medo, pavor e tristeza. Eu não conseguia compreender a mente daquele homem. Era absurdo o modo que lidava com tudo e com todos.
– Por favor, não faça nada comigo... Por favor. — supliquei em meio a tantos choros — Por favor.
– E por que eu faria, amor? — se aproximou de mim — Você não entende, não é mesmo? Eu não quero te machucar, amor. — mas não retirou a suposição de que irá — Eu apenas quero você. Sua mãe já foi um dia uma ótima companheira, mas você? Está apenas começando a vida, posso lhe dar tudo o que sempre sonhou, apenas seja minha e só minha. — seu hálito fedia a whisky, eu rezava que não fosse ele falando e sim a bebida — Por favor, Nikolina. — não hesitarei em machucá-lo se ele tentar algo — Pois bem, como prova dos meus sentimentos por você — isso não é nenhum tipo de sentimento afetuoso, e sim obsessão — Deixarei você ir, mas nos veremos muito em breve, sweetheart.
Colocou seus lábios sobre a minha testa e eu recuei.
– Ah, eu já ia me esquecendo, pode ver se a adorável Mary não teria um terno para mim em sua boutique?
Eu entendi o recado, mas preferiria não o ter entendido.
Assim que ele abriu a porta e corri para fora, ainda estava atordoada e visivelmente abalada, mas Candice ainda estava aqui, e pior, totalmente indefesa.
**
Quando eu cheguei a minha casa eu só tive um pensamento, desabar. Porém, eu tinha que suportar mais um pouco essa incansável noite, precisava conversar com a Sophie, agora mais do que nunca. Eu iria ter que apelar para algum lado materno nela, se é que ainda existe.
Eu não sabia como conversar com ela ou se ela me escutaria, só sei que eu tenho que tentar.
Respirei fundo e dei duas batidas na porta de seu quarto.
– Pode entrar. — Sophie parece bem surpresa quando eu abri a porta. Ela estava prestes a ir dormir, a julgar pela camisola desarrumada e os rolinhos no cabelo — Ah, hum... O que você quer?
– Eu preciso conversar com você, e espero que alguma parte sã sua me ouça.
– Eu estou ouvindo. — sentou-se de forma formal sobre a cama, com o queixo erguido e as pernas cruzadas — Deve ser bastante urgente, para vir conversar comigo.
Eu tentei três vezes recitar um pedido de socorro, mas entalava na garganta, assim como o choro engasgado.
– Nikolina... Diga.
– Por favor, Sophie. Por favor, vamos sair dessa cidade, por favor. Eu não posso continuar vivendo aqui e muito menos você. — eu segurei o choro até certo ponto, mas era impossível mantê-lo trancado por tanto tempo — Eu não posso mais ter essa vida. Me escute, se sairmos da cidade, eu posso tentar perdoar você, podemos recomeçar...
– Chega! Chega! Você está agindo como uma desequilibrada. Tome modos, Nikolina! — tentou dar um basta, mas eu não iria me calar.
– Não! Dessa vez não! Como você pôde deixar as coisas tomarem esse rumo?! Como? Você está me entregando de mão beijada para aquele psicopata! Que tipo de pessoa é você? — eu não conseguia parar, precisava tirar aquele peso do meu peito, só que a cada palavra minha, minhas poucas lembranças da minha mãe sumiam.
– O quê? O que está insinuando?
– Não se faça de desentendida, sempre é assim. Aparece algum problema e você age dessa maneira.
– Jack nunca a tocaria. Não o coloque na sua rixa comigo, garota. Ele não tem nada a ver com as suas mentiras.
Ela sempre irá acreditar nele, não importa o que eu fale ou faça, sempre será ele.
Mas eu não podia mais suportar isso, eu estava acabada. Sempre tentando me reerguer, e tendo uma queda pior a cada vez. Eu fui assediada, ameaçada, perseguida, morta, e dentre outras coisas, mas essa rejeição dela á mim é algo insuportável.
– Você não... Não pode... Não faça isso. Eu estou lhe dando uma chance de se redimir, não me quebre dessa maneira. Tem que haver alguma parte materna em você, mesmo que seja bem lá no fundo.
– É você quem está acabando comigo, Nikolina. Sempre se metendo entre mim e Jack.
Eu não estava me metendo, eu estava esticando o meu braço para puxá-la disso, só que ela me levava para o fundo junto. Ela não queria ser salva, mas eu sim.
– Pois saiba que eu prefiro a morte a ver ele mais uma vez. — arregalaram-se os seus olhos no mesmo momento — Me diga que eu sou adotada e eu iria ser a pessoa mais feliz nesse mundo, porque eu jamais irei me conformar em ter saindo do seu ventre.
– Saía daqui, agora! Saía! — gritou desesperada.
Eu corri para fora imediatamente.
Eu não tinha mais esperança. Estava com a minha sentença laçada a minha sepultura.
**
Duas semanas depois
– Você anda estranha, Nina. — eu estava perturbada.
Duas semanas sem ligações, duas semanas sem ver a Sophie. — o que me levava a pensar quem estava sendo a vítima da vez — Duas semanas sem ver os meninos. — graças às aulas que haviam acabado — Duas semanas com risadas a todo o momento vindo da Ariel. Eu ficava ouvindo sempre ela rindo, Candice achava que eu estava paranoica, e quer saber? Talvez eu possa estar, mas há uma pequena chance de eu estar mais lúcida do que nunca.
– Acho que é só o medo de me formar. — apoiei-me sobre a sacada e suspirei — Sabe, eu vou sentir falta de você na faculdade. — depois do que aconteceu há duas semanas, eu tratei logo se escolher a minha faculdade, Yale — Mas eu sei que você vai se sentir bem em Duke. Isso já me acalma.
– Sobre isso... — deu uma coçada atrás da cabeça — Eu fiz a minha inscrição em Yale, não queria te deixar sozinha. Eu fiz uma promessa, se lembra?
– Candice, não deveria ter feito isso. Era o seu sonho entrar em Duke. — eu estava feliz por tê-la por perto, mas não era justo ela se sacrificar por mim.
– Ei, é só uma faculdade. Não é o fim do mundo. Eu não mereço nem um abraço? — ela tinha razão. Agarrei-a em um abraço apertado, até esquecendo que estávamos à beira de uma sacada — Agora sim, garota. — deu uma risada.
– Ninguém nunca fez algo do tipo por mim, a não ser a minha avó...
Eu se lembrava dela todos os dias, ainda mais tão perto do aniversário de sua morte. Era uma dor constante.
– Ah, eu sinto muito, Nina. Não queria ter feito te lembrar disso. Desculpe-me.
– Tá tudo bem, não foi sua intenção.
Os olhos da Candice estampavam um arrependimento. Era impossível de ter algum desentendimento com ela. Nunca conheci uma garota tão dócil como ela. Era uma amiga maravilhosa e eu tinha sorte de tê-la em minha vida.
– Eu te amo, viu? Muito, muito mesmo. — pareceu espantada;
– Você nunca disse isso. Não me faça chorar. — mas ela já estava chorando — Eu também te amo. — acho que até eu soltei algumas lágrimas, não negarei — Nina! Nina! Limpa essas lágrimas e olhe lá para baixo!
Esquivei um pouco do pescoço dela e forcei um pouco a vista. Não dava para acreditar quem estava descendo de uma moto encostada na calçada da minha casa. Ian.
– O que está ele fazendo aqui? Isso é obra sua, não é? — negou — Candice...
– É sério, não fui eu.
A campainha tocou.
– O que eu faço? Abro a porta ou...
– Vai lá! — me empurrou até a porta do quarto — Eu vou sair pela porta dos fundos, amanhã a gente se vê.
– Não precisa, não deve ser nada.
Desci as escadas com apenas uma pergunta, o que ele queria aqui? A gente não se via nem conversava há tempos, deve ser algo muito importante.
Abri a porta e um sorrisinho abestado estava em sua cara.
– Ham... O que está fazendo aqui? — a primeira coisa que veio em mente.
– Eu senti saudades, não é óbvio? — gargalhou — Na verdade, é outra coisa. Eu percebi que fui um babaca com você duas semanas atrás. — não só nesse dia — Não só nesse dia, eu sei. Mas a gente já vai se formar nesse sábado e logo vai todo mundo seguir um caminho. Eu já deixei claro para você o que eu sinto e você já falou como se sente, mas eu preciso arrumar algumas coisas antes de deixar essa cidade.
– Uau. — meus olhos pareceram que iriam saltar a qualquer momento. Ian obviamente tem um irmão gêmeo, não é possível — Você tá bem? Quero dizer, há tempo para todo mundo se redimir, mas é que você não age assim.
– Me deixa terminar e só ai você vai poder começar os julgamentos. O que eu disse naquele dia sobre a Dakota foi cruel e eu repensei bastante sobre isso.
– Ian, eu te adoro, mas aqui fora está um forno de tão quente. Vá direto ao ponto.
– Você me adora? — arqueou a sobrancelha — Ok. Ok. Bom, eu queria perguntar se não queria ir comigo ver a Dakota, agora...
– Uou. — está sendo uou atrás de uou hoje — É, bom, claro. Eu só vou me trocar. — eu já estava indo fechar a porta na cara dele, mas lembrei do calorão que estava fazendo lá fora — Não quer entrar? — hesitou por um instante, mas cedeu.
– Obrigada, mas sua mãe não vai reclamar?
– Ela está fora da cidade.
**
– Oi, Dakota. — segurei sua mão e dei um breve olhar para Ian — Faz alguns dias que eu não venho te ver e peço mil desculpas por isso, mas hoje veio alguém comigo. — ele ficou calado — Diga alguma coisa, Ian.
– Eu não sei o que dizer. — rolei os olhos — Tá bem. Oi, Kota. Lembra que no primeiro ano eu te chamava assim? Você era fanática por uma série de livros que tinha um personagem homem com esse nome, quase me jogava pedra por esse apelido.
Ele continuou a falar sobre coisas, algumas aleatórias e outras não. Não parecia o Ian que eu conhecia, nem de longe. Eu estava feliz por esse crescimento dele, antes tarde do que nunca. Sorria feito uma boba a pensar que até agora não disse nada estúpido.
– Eu sinto muito por tudo o que aconteceu e eu acho que você tem uma amiga maravilhosa aqui. Nina não vai te dar paz tão cedo, mas eu acho que é isso que a faz ser tão extraordinária. Jamais vai te abandonar, mesmo que talvez algumas pessoas mereçam ser abandonadas.
Meus olhos simplesmente encheram de água. Eu fiquei perplexa ao ouvir tal coisa. Jamais achei que ouviria isso de alguém, muito menos dele.
Foi algo tão sentido e verdadeiro. Incapaz de ser falsificado.
– Ian... — toquei seu ombro e logo se afastou.
– Até mais, Dakota. Vou te esperar lá fora, Nina.
Passou feito um furacão por mim. Rapidamente enxuguei as lágrimas e me despedi da Dakota.
Eu estava confusa, muito confusa. Com um bilhão de coisas passando pela minha cabeça, e o motivo era o cara escorado na moto logo a minha frente.
– Ian, o que foi aquilo?
– Eu te amo. Minha nossa! Eu te amo, que droga! Te amar dói, machuca. Me causa dor, angústia. Fico doente, de saudades, de carência, de amor. Te amar me faz mal, um mal que me faz bem.
Uma lágrima escorreu e a minha falta se saber como reagir o fez parecer um abestado apaixonado.
Eu sabia que ele gostava de mim, mas não tão fundo assim. No dia que eu me afoguei, ele disse tudo o que estava preso em seu coração, só não era recíproco. Não até agora eu acho.
– Por favor, diga alguma coisa. Qualquer coisa. — levantou as mãos para o alto, com dezenas de lágrimas escorrendo pelo seu rosto — Qualquer frase, Nina. Eu não sei mais o que fazer. Não pode dizer que não sente nada! Não é possível!
Eu gostava dele, muito mais do que deveria. Eu só não sabia se era realmente amor, pode até ser, mas tem um grande problema. Jack. Ele me ameaçou e deixou bem claro sobre a presença do Ian na minha vida, e eu jamais me perdoaria se acontecesse algo com ele por algum vacilo meu.
– Ian... — me aproximei dele, mas ele entendeu logo de cara o que eu estava prestes a dizer — Por que agora?
– Eu não posso começar um novo capítulo da minha vida amando alguém que nunca irá corresponder, Nina. Antes tinha o Chris, eu entendia, mas agora? Não tem nada que impeça você. — eu queria que fosse verdade.
– Ariel...
– Eu sou homem, Nina. Eu preciso me aliviar e ela era uma distração.
– Eu não sei o que você quer que eu fale. — provavelmente isso doeu nele. Eu queria dizer algo, mas não podia .
– Escute, na próxima segunda eu irei para Rússia passar as férias lá, então irei direto para a faculdade. Eu não voltarei mais, Nina.
– Está me dando um intimado?
– Se quer interpretar dessa forma, então sim. — passou a mão pela bochecha tirando quaisquer vestígios de lagrimas — Eu não posso continuar amando uma mulher que nunca será minha. — subiu sobre a moto — Nos vemos na formatura.
Ligou o acelerador e partiu em direção ao vento.
Escorei sobre a pilastra chorei baixinho. Não havia ninguém para mim aqui. Eu estava perdida.
**
– Você sabe rodopiar como ninguém, amor. — eu era girada para todos os lados do salão. Meus pés apenas obedeciam ao som da música.
– Não acha que o amor cura qualquer coisa? Veja bem, eu estou tão feliz aqui com você. — segurou minhas costas e me levou até o chão, com o meu pescoço a sua mercê, distribuiu mordidas pelo mesmo, me causando arrepios pelo corpo inteiro.
– Você está tendo o seu final feliz, querida.
Rapidamente ele me levantou. Nossos olhos estavam em perfeita harmonia.
– Eu já disse o quanto eu te amo? — perguntou.
– Não, mas eu saberei quando você me beijar.
Então, assim o fez. Selou nossos lábios. Eu adorava sentir o gosto dele. Isso me transmitia uma sensação inigualável.
– Você é uma ótima dançarina. Dança conforme a música, sweetheart.
Então eu acordei, aos gritos. Não totalmente acordada, pois não conseguia abrir os olhos e estava com dificuldade para respirar, mas sentia alguém me sacudindo e ouvindo alguma voz.
Com muita luta, consegui quebrar a paralisia e pude sentir meus pulmões entrarem o ar novamente.
– Nina? Ei? — Candice balançava a minha cabeça de um lado para o outro — Tá acordada? Por que está chorando?
– Eu não sei. Foi um pesadelo. — eu estava fungando e meu corpo parecia que não tinha descansado um minuto essa noite.
– Está tudo bem? — sentou-se do meu lado na cama — Você está péssima.
– Não, não está nada bem, Candice. Hoje já é sexta, amanhã é a formatura, segunda se aproxima e eu não sei o que fazer. — de terça para cá a única coisa que eu fazia era chorar e chorar. Nada mais.
– Nina, eu acho o Ian um idiota, não nego, mas ele sente algo muito maior do que se pode imaginar por você, não deixe isso escapar da sua mão assim. Você merece ser feliz, nem que seja por alguns minutos.
– Não é tão fácil assim, Candice.
– Pode ser se você quiser. Não há barreiras para o amor, e se por acaso tiver, quebre-as. Você é forte, você consegue.
O problema é que essa barreira tem nome e sobrenome. E tem um coração maléfico.
– Tudo bem, sem lágrimas hoje. Amanhã é a formatura e nem acredito que consegui te convencer a ir. — ela passou as últimas duas semanas me torrando a paciência com isso, até que, por fim, eu disse que iria — Vai ser tudo tão lindo e mágico. Mal posso esperar.
Me chamem de pessimista, mas eu estava com um pé atrás sobre a noite de amanhã. Ainda não tive mais notícias de Jack, e isso me apavorava até o último fio de cabelo meu.
– Eu não tenho um bom pressentimento sobre essa formatura.
– Você é muito pessimista. Amanhã iremos fechar um ciclo e começar outro. Seremos donos do nosso próprio nariz.
"Seremos donos do nosso próprio nariz". Sim, começando por mim procurando algum emprego.
Eu tinha conseguido uma bolsa em Yale, minha avó tinha deixado uma boa herança para mim, mas esse dinheiro poderia se esgotar algum dia.
– Sua mãe teria algum emprego disponível na boutique dela, Candice?
– Eu posso ver com ela, mas por quê? — indagou curiosa.
– Vou precisar de um emprego no verão.
– Eu estava torcendo que viesse comigo para Nova Iorque. — fez beicinho – Eu quero estudar moda, assim como a minha mãe. E que lugar melhor para começar a se informar sobre do que a cidade que nunca dorme?
– Você é meio doidinha, mas muito sonhadora.
– Você e eu iremos morar em alguma cidade desse nível. Seremos inseparáveis. — eu não prestei atenção que estava de meia e me apoiei no chão, caindo de bunda no colchão — Isso tudo para fugir de mim?
– Não, não. É que, você quer que eu more com você?
– Nina, você é como uma irmã para mim, suas tentativas para fugir de mim serão inúteis. — sorriu — Mas então, você vai comigo para Nova Iorque, não vai? — começou a choramingar.
– Eu preciso de dinheiro, Candice. Não posso sair gastando assim. — levantei do colchão e abri as cortinas. O Sol estava mais forte do que ontem — O verão de vocês é insuportável, em Florença não era tão quente.
– Dinheiro é o de menos. Eu posso pagar a sua passagem.
– De jeito nenhum! Não precisa. Vamos fazer o seguinte, eu fico uma semana com você lá e volto para Phoenix, ok?
– Já é alguma coisa. E em relação ao verão, comece a usar roupas mais frescas, não precisa se esconder tanto.
Ela estava com uma pitada de razão. Eu usava calça o tempo inteiro.
– Eu nunca cheguei a comprar roupas aqui. Todas as que eu tenho são de Florença.
Ela logo deu um pulo da cama e abriu o guarda roupa, jogando todas as roupas no chão.
– Vamos dar uma limpa nesse guarda roupa hoje, minha querida amiga.
Fez um olhar meio psicopata para mim e tive a certeza que essa manhã seria prolongada com o resto do dia.
**
– Meu Deus do céu, Candice! Tenha dó de mim!
Já eram quase cinco da tarde. Ela me fez experimentar milhares de roupas, eu nem sabia que tinha tantas. Fez dezenas de penteados no meu cabelo, fez do meu rosto um treinamento para a maquiagem de amanhã.
– Essa pilha — apontou para um montinho de roupa perto da penteadeira — é a que não serve nem para Nove Iorque nem para aqui. A outra é a que é aceitável.
Dei uma travesseirada na cara dela.
– Vadia! — bufou — Isso não é justo. — jogou de volta em mim, mas o que ela não sabia é que eu era campeã da guerra de travesseiro — Que diabos?
– Eu sou a rainha nesse quesito. — franziu a boca.
– Agora é pra valer, Nina. — pegou dois travesseiros e jogou pra cima de mim sem nenhuma coordenação motora.
No meio daquela tentativa frustrada de me acertar, eu conseguir sair por debaixo deles sem ela notar. Ficando bem atrás dela sem ela notar.
– Candice? — a cutuquei e ela caiu para trás no mesmo momento — Aha! — joguei um bem no meio de sua testa —
– Isso não é justo, sua doida. — ela estava prestes a pular em cima de mim quando o meu celular começou a tocar — Eita!
Quem tem que dizer "eita" sou eu. O celular por pouco não caiu da minha mão quando eu vi quem era.
– O que eu faço? — perguntei sem saber o que fazer — Candice!
Ela estava se contorcendo para não rir.
– Desculpa. Atende! Vai!
– Ah, oi, Ian. — eu estava ofegante pela guerrinha com a Candice.
– Tá tudo bem?
– Está sim. Aconteceu algo? — Candice parecia mais animada do que eu uma formiga perto de açúcar.
– Lembra que você queria saber mais sobre a minha família e a sua?
– O que tem?
– Eu estava pegando algumas malas no porão e encontrei algumas coisas aqui. Acho que podem te ajudar. — ele sequer tocou naquele assunto, e eu não sabia se isso era bom ou ruim — Pode vir aqui olhar, se quiser.
– Agora? — fez uma espécie de "aham" do outro lado da linha — Tudo bem. Já já chego ai.
Desliguei o telefone e tratei de tampar a boca da Candice, que deu um grito abafado.
– Não é sobre aquele assunto. São coisas da época de colégio da Sophie e do irmão dele.
– O que uma coisa tem haver com a outra?
– A mãe dele não gosta muito de mim, e eu estava bastante intrigada para saber o motivo. — deu os ombros — Bom, eu vou tomar um banho e você.... — fez uma carinha sapeca — O que foi?
– Nada, nadinha... — falou com a voz manhosa — A sua inocência me comove.
– O que quer dizer com isso? — alargou um sorriso malicioso — Ah, não. Nem vem.
– Eu não disse nada, oras.
Peguei minha toalha e entrei para o banheiro, deixando assim, ela falando sozinha.
**
– Era a Candice lá no carro? — afirmei.
– Ela foi pegar nossos vestidos e a boutique fica na mesma direção que a sua casa, então ela me trouxe até aqui.
– Entendi. Venha, eu coloquei tudo o que eu achei no meu quarto. Lá em baixo está bastante empoeirado.
Ian estava com apenas um calção e nada mais. — é claro que é a casa dele e ele deveria ficar o mais confortável que conseguisse, mas era difícil me concentrar nas palavras assim — Seu cabelo bagunçado como sempre e o rosto com alguns pelinhos. Parecia ter acabado de acordar.
– Ali está. — empurrou a porta e eu me assustei com tantas fotos e papéis espalhados sobre uma mesinha — Bom, espero que não tenha planejado nada para hoje, porque isso aqui vai demorar.
– Aquilo ali é um diário? — apontei para um livrinho em meio às fotos.
– Na verdade, um álbum. — pegou e o abriu — Está vendo essa foto? — era a Sophie o irmão dele, Josh — Essa foto é de 17 anos atrás. Agora, olhe essa. — era visivelmente a Sophie, mas beijando um cara com o rosto tampado.
– A Sophie estava saindo com dois caras? — deu os ombros — Posso pegar as outras? — balançou a cabeça positivamente — Obrigada.
Algumas horas depois...
– Isso não faz nenhum sentido. A linha temporal de cada foto é uma bagunça!
– Não fazem mesmo. — deu uma golada em seu whisky.
– Já está bebendo? — pareceu não ouvir. É como se ele estivesse em qualquer outro lugar, menos aqui — Ian? — estalei os dedos em frente aos seus olhos para tentar acordá-lo dessa "hipnose" —
– Me desculpe, eu não consigo mais.
Ele rapidamente se levantou e então nossos olhos se cruzaram, fomos lentamente, nos aproximando, até que numa dose de doce paixão nossos lábios se encontraram, foi como se meu corpo não me obedecesse mais, não resistia aquele encontro de desejos.
De repente, eu sabia que nunca havia sentido algo tão forte por outra pessoa como acontecia naquele momento. Ao retribuir o olhar dele.
– Ian... — desceu sua mão até um pouco acima do meu quadril e me prendeu mais firme á ele.
Os lábios dele apertaram os meus mais uma vez, parando o meu protesto.
Ele me beijou raivosamente, a sua outra mão apertando a minha nuca com força, tornando impossível escapar.
Se eu pensava que a voz dele era incrível com o jeito que ela me envolvia em silencio, se eu achava que o toque dele era incrível na forma em que acordava minha pele, bem, o jeito que ele beijava era de outro mundo. E embora eu não seja expert, tendo apenas beijado alguns antes, eu ainda estou disposta a apostar que um beijo assim, um beijo tão completo e transcendente, é uma coisa única na vida.
E quando ele se afastou e olhou para meus olhos, não tive duvidas, eu o amava.
– Nina, eu não posso controlar os acontecimentos a seguir.
Eu acho que não entendi bem o que ele disse, porque de um minuto para o outro, estávamos em sua cama.
Ele mordeu meu rosto, não todo de brincadeira. Logo afastei sua face, depois ele se reaproximou e mordeu com força meu lábio inferior. Ian beijou-me no pescoço, forçando-me encostar a cabeça nas prateleiras dos livros por cima da cama. Eu puxei-lhe o cabelo e apertei o rosto dele contra meus seios.
– Você tem certeza? — perguntou-me ofegante.
– Eu sinceramente não tenho certeza de mais nada.
Eu estava pronta para isso? Estava deliberadamente preparada para me entregar dessa forma? Eu não sabia, mas queria descobrir até que ponto meu corpo iria.
Então, ele desceu uma das alças de meu vestido, e de um segundo para o outro, tudo pareceu desabar. Deu um grito imensurável e saiu da cama.
Eu tinha feito algo de errado?
– Não. Não pode ser! Não!
Começou a gritar e jogar todas as suas coisas no chão.
– Ian? O que... O que foi que fiz? — eu estava assustada pela sua reação. Ele parecia devastado.
– JOSH! — saiu do quarto gritando pelos quatro cantos do mundo — JOSH, SEU FILHO DA PUTA!
Eu fui atrás dele e ele estava socando a parede de um dos quartos. Tentei me aproximar dele, mas logo se virou contra mim.
– Não chegue perto de mim, Nikolina! — ele nunca havia falado dessa maneira comigo — Eu não acredito nisso! Isso não é possível!
– O que diabos está acontecendo? — berrei —
– O que está acontecendo?!? Só a pior merda da minha vida. Eu fui idiota de não ter percebido. Meu Deus! Que burro! — voltou a socar a parede com chamas borbulhando em seus olhos — Quer saber o que é? Esse sinal no seu ombro!
Olhei rapidamente e sim, eu tinha um coração de cabeça para baixo no meu ombro.
– O que tem ele?
– O desgraçado do meu irmão tem o mesmo sinal, no mesmo lugar, Nina! Estava tudo estampado na nossa cara!
Não... Isso não pode ser... Dentre tantos homens para ser o meu pai, Josh Somerhalder não poderia ter ajudado a me colocar no mundo.
Eu mal mal pude sentir o estalo que meus joelhos fizeram quando eu caí no chão.
As pessoas só vêem o que estão preparadas para enfrentar, não é o que você vê que importa, e sim o que entende.... Nós não queríamos ver isso, por isso ignoramos todos os sinais, eu principalmente.
– O que está acontecendo aqui? — eu acho que era Madeleine, não consegui ouvir bem a voz — O que essa fedelha quer aqui?
– Nikolina? — Josh arregalhou-se os olhos quando me viu —
Ian foi num piscar de olhos pra cima de Josh. Eu não olhei, mas dava para ouvir os socos e os gritos. E eram horrendos.
– Seu desgraçado! Ela é minha sobrinha, seu filho da puta!
O Grayson tentou intervir dezenas de vezes, só que ele também estava saindo machucado a cada intervenção.
Eu conhecia Ian, ele não pararia. A cede de raiva o completava agora. Ele seria capaz de matar o próprio irmão agora.
– Meu Deus! Foi você quem fez isso, sua peste! — Madeleine me acertou com um tapa na cara, mas eu não tive reação. Não conseguia nem ao menos entender o que realmente estava acontecendo. Era como se eu stivesse drogada — Reaja, vagabunda! Você é igualzinha a sua mãe.
Eu não era minha mãe.
Eu não era o meu pai.
Eu não era igual a ninguém.
Eu era a Nikolina Dobrev, mas minha identidade foi roubada nesse exato momento. Eu não sou ninguém.
Então, eu levei uma pancada ou algo do tipo na cabeça e desmaiei.
Ficar aqui com você tão perto de mim
É difícil lutar contra esses sentimentos
Quando parece tão difícil de respirar
Estou presa neste momento
Presa no seu sorriso
Eu nunca me abri para ninguém
Tão difícil me segurar quando estou com você em meus braços
Nós não precisamos nos apressar
Vamos devagar
Apenas um beijo em seus lábios ao luar
Apenas um toque do fogo tão ardente
Eu não quero bagunçar as coisas
Eu não quero forçar a barra
Apenas um tiro no escuro e você poderá
Ser a que eu vou esperar a minha vida toda
Então, baby, eu estou bem, com apenas um beijo de boa noite
Eu sei que se dermos tempo ao tempo
Só iremos nos aproximar do amor que queremos encontrar
Nunca foi tão real
Não, nunca me senti tão bem
Apenas um beijo em seus lábios ao luar
Apenas um toque do fogo tão ardente
Eu não quero bagunçar as coisas
Eu não quero forçar a barra
Apenas um tiro no escuro e você poderá
Ser a que eu vou esperar a minha vida toda
Então, baby, eu estou bem, com apenas um beijo de boa noite
Não, eu não quero dar boa noite
Eu sei que é hora de partir
Mas você estará nos meus sonhos
Hoje à noite
Hoje à noite
Hoje à noite
Apenas um beijo em seus lábios ao luar
Apenas um toque do fogo tão ardente
Eu não quero bagunçar as coisas
Eu não quero forçar a barra
Apenas um tiro no escuro e você poderá
Ser a que eu vou esperar a minha vida toda
Então, baby, eu estou bem
Vamos fazer isso direito
Com apenas um beijo de boa noite
Com um beijo de boa noite
Um beijo de boa noite
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