História Would You? - Convite

Would You?

Aquilo era realmente inesperado. E como ele ainda tinha a coragem de aparecer na porta de seu prédio como se fosse a coisa mais normal e tranquila do mundo? Seus batimentos cardíacos pararam por um momento enquanto ficava parado ali na mesma posição. Entre dar de cara com um jacaré e Seungkwan, Vernon preferia o jacaré. Claro, o bichano poderia ter fugido da mata – ou sabe-se lá de onde, o mundo é uma coisa maluca mesmo e não se pode esperar nada dele – e ter parado ali, mas Seungkwan era outra história.

– Oi – Vernon disse enquanto Seungkwan ia a sua direção. – Desculpe, eu estou um pouco ocupado agora e...

– Não tem importância, só quero sua companhia – ele o interrompeu, causando irritação. – Só quero ficar um pouco com você.

– Ah, sim... – outra coisa estranha. Quem iria querer a companhia de Vernon? Não que ele se achasse insuportável ou coisa do tipo, mas ele nunca recebeu aquele tipo de abordagem.

– Está indo pra casa? – ele se virou para o prédio não tão alto. – Você tem cara de quem mora ali naquele ali cheio de plantas – ele apontou para a janela com algumas plantas escorregando pra fora como uma cachoeira.

Poderia Vernon confirmar o fato? Ou estava sendo stalkeado?

– Olha, o que você quer comigo, afinal? Ontem você foi todo grosso e hoje tá assim – disse irritado. Embora fosse uma pessoa bem calma com as outras em questão de falar, ele não suportava que elas ficassem mudando de humor o tempo todo. – E como descobriu onde eu moro?

– Eu sabia! – ah, que droga... – Então você é o cara das plantinhas de quem os vizinhos tanto falam.

– Como é? – Vernon arqueou uma sobrancelha.

– Eu moro em um prédio pouco mais distante daqui e as pessoas falam muito de um cara que fica colecionando umas plantas estranhas e que de noite tem muito mosquito por causa disso – Seungkwan falava tão rápido que Vernon mal conseguia acompanhar. – É verdade isso? Não que na minha casa tenha mosquitos, só queria matara a curiosidade mesmo.

– É sim... Embora eles estejam enganados – Vernon confirmou, esperando ansiosamente para ser deixado sozinho e se jogar em sua cama logo de uma vez. – Você não me respondeu.

– Eu já te vi entrando aqui – Seungkwan disse em um tom meio avoado, como se tentasse se lembrar de algo. – Faz uma semana, eu acho.

– Você me seguiu? – agora sim Vernon estava desesperado. O que mais Seungkwan estaria fazendo a seu respeito? Criando fanfics? Cadernos personalizados? Era demais para que pudesse suportar. – Olha, não me leve à mal, mas a gente mal se conhece e você está passando dos limites.

Seungkwan pareceu chocado, colocando a mão no peito.

– Eu achei que eu fosse ser gentil em te fazer companhia... – ele arregalava os olhos na medida em que terminava a frase, mas isso acabou ficando oculto. Ele fez uma cara despreocupada e revirou os olhos, bufando. – Tudo bem, se quiser ficar sozinho em seu mundinho rude, eu não vou te impedir.

Era a vez de Vernon ficar chocado. Como aquele cara podia ser tão abusado? Acabara de dizer que eles nem se conheciam e ele já falava naquele tom de voz. Àquela altura Vernon desejava que nunca mais se vissem.

– Sim, eu prefiro – retrucou, andando em direção ao seu prédio. – Dê-me licença.

– Depois não venha correr atrás de mim buscando respostas... – Seungkwan disse num tom provocativo enquanto distanciava-se também. – Espero nunca mais te ver, então.

Vernon pensou em dizer que queria respostas sim, mas ele não queria ceder aos caprichos de Seungkwan outra vez. Aquilo estava invasivo demais e a última coisa que queria era alguém tentando entrar em sua zona de conforto.

Subiu as escadas do prédio lentamente enquanto viajava sobre ter sido grosso demais com Seungkwan. E se ele voltasse a encher a paciência no dia seguinte? E se fosse pedir desculpas pela ação inesperada?

Mas por que Vernon se incomodava tanto com isso e ficava tão ansioso quando o assunto se tratava do rapaz de bochechas grandes?

Grande merda.

Foi direto em direção ao seu velho companheiro computador pra ver se conseguia fazer algo produtivo no resto daquela noite estressante e cansativa – depois do que havia acontecido, claro. Caso não ele estaria muito bem, obrigado.

Assim que digitou a senha e deu Enter, abriu o navegador e foi direto para a página de seu Facebook. Vernon Sorriu animado ao ver os famosos vídeos de bichinhos fofos, plantinhas e dicas de como cuidar delas. Aproveitou para sair um pouco e regar suas plantinhas e dar boa noite para o pezinho de feijão companheiro – coisa que havia se esquecido de fazer de tão cheia que sua cabeça ficara – para então voltar à tela de pira luz azul.

Checando suas notificações e rindo um pouco dos vídeos de sua mãe com sua irmã mais nova brincando de rainha e princesa, Vernon se depara com algo um tanto inesperado: um pedido de amizade.

E adivinha quem era? Ele mesmo. A causa da confusão emocional de Vernon naqueles dias: Boo Seungkwan. E ele só confirmou porque era a foto do rapaz de bochechas grandes na miniatura ali. E era uma boa foto, aliás.

Aceitava ou não? Como sempre prezava a educação, resolveu aceitar. Ele só esperava que Seungkwan não estivesse online àquela hora pra lhe encher o saco mais uma vez.

Mas é claro que isso não aconteceu. Nada acontecia de acordo com a vontade de Vernon.

Boo Seungkwan: mas que coisa, não?

Vernon teve vontade de atualizar o apelido de Seungkwan para “garoto chato da faculdade”, mas como sabia que iria aparecer na conversa resolveu deixar pra lá.

Hansol Vernon Chwe: pois é
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Boo Seungkwan: achei que não fosse aceitar, pelo o jeito que você ficou...

Hansol Vernon Chwe: não quis parecer mal educado

Mas é óbvio que ele tinha que esclarecer isos, não? Não queria que Seungkwan achasse que estava perdoado ou coisa do tipo.

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Boo Seungkwan: eu não me lembro de saber seu nome todo

Era verdade. Vernon nem ao menos sabia como era conhecido pelas pessoas ao seu redor. Ele só tinha conhecimento que elas usavam “choi” em vez de “chwe” com a razão de que a segunda opção enrolava a língua. Como? Era questão de saber pronunciar, mas ele nem ligava pra isso.

Hansol Vernon Chwe: tenho dois nomes por causa do meu sangue
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Boo Seungkwan: ah sim, também não sei essa parte... como assim?

Vernon suspirou, cansado demais pra entrar em detalhes daquilo.

Hansol Vernon Chwe: nasci em Nova Iorque e vim pra cá com mais ou menos cinco anos
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Boo Seungkwan: puxa, por isso sua pele é diferente... e uns traços seus também

Hansol Vernon Chwe: é
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Seungkwan não respondeu depois disso e Vernon não sentiu aquele mesmo vazio de antes. O que era aquilo e por que estava se manifestando de maneira tão esquisita? Não era como se fosse paixão. Ora, eles mal se conheciam! Como algo como paixão podia estar tão evidente assim?

Vernon era frio demais para essas coisas, ainda mais quando se tratava de alguém do mesmo sexo. Tinha plena consciência de como era a sociedade coreana e seria absurdo duas pessoas do mesmo sexo se apaixonarem ali, ainda mais quando uma era mestiça e a outra de sangue puro.

Só que, por um momento, Vernon se sentiu confortável. Seungkwan era extrovertido, mas ele falava baixo, era calmo e, mesmo que não parecesse durante suas ações, ele sempre permanecia longe da zona de conforto de Vernon quando era necessário. Nada de muito contato físico ou coisa do tipo. Triste imaginar, mas por um momento ele pensou em como seria se ele e Seungkwan estivessem ficando.

Não, não, não! Negativo!

Por impulso, o rapaz mestiço fechou rapidamente a tela e balançou com força a cabeça, agarrando os cabelos ondulados e macios. Bufou, levantando-se rapidamente dali para tomar um longo banho e preparar algo rápido pra comer. Céus, ele nem pensava mais em estudar para as provas! E tudo por causa do maldito garoto de bochechas grandes.

Se por um acaso ele estivesse mesmo a fim de Seungkwan, tentaria ao máximo jogar esses sentimentos fora. Não pensava naquilo, por que estaria o fazendo justo num momento como aquele? De jeito nenhum. Pode esquecer.

E foi com isso em mente que ele infelizmente sonhou como se os dois estivessem realmente juntos.