1. Spirit Fanfics >
  2. Sempre Foi Você >
  3. Sensation

História Sempre Foi Você - Sensation


Escrita por: Barbarideadi

Notas do Autor


Mais um galere!
BOA LEITURA

Capítulo 2 - Sensation


31 de dezembro de 1999
 

A mala já deveria ter aparecido. Ela olhou a esteira de bagagem passar por ela, carregando malas de todos os tipos. Talvez sua surrada mala marrom estivesse com vergonha de ser vista entre as Louis Vuitton e Henk.
Camila conhecia a sensação.

Ela estava roendo as unhas de novo. Elas já estavam comidas, e o esmalte preto que tinha passado apenas dois dias atrás já estava descascando. Sua madrasta não conseguia entender por que ela não optava por uma francesinha “muito mais elegante”, e por que ela não ia regularmente ao salão. Por fim, vendo sua mala descer pela esteira, Camila tentou passar por uma cansada mãe de dois filhos à sua frente. A mulher segurava uma criança pequena em um braço, a outra estava movendo um carrinho ritmicamente para a frente e para trás, como se ninasse um bebê.

– Com licença – murmurou Camila, inclinando-se para apanhar a alça da mala. Ela endireitou o corpo enquanto a puxava até o chão cinza de ladrilhos. Estava pesada, cheia de equipamentos de esqui e casacos de inverno. Ela mal tivera tempo de usá-los. Camila não devia estar viajando hoje. Ela devia estar no chalé de seu pai em Val D’Isere, junto com a madrasta e as meias-irmãs de onze anos. Mas o pai estava decepcionado com ela desde o início. A primeira vez que a olhara bem, tinha torcido o nariz de desgosto.

– Você fez alguma coisa diferente com o cabelo? – o olhar dele estava cheio de decepção raivosa.

Camila tentara disfarçar um sorriso em resposta ao eufemismo da frase dele. Desde a última vez que o vira ela tinha se tornado gótica. Tingiu o cabelo de preto e mudou a maquiagem. Agora tinha a pele pálida e os lábios escuros. Completava o visual com uma saia preta esvoaçante e um espartilho preto apertado.

A lembrança da expressão furiosa de Alejandro enquanto examinava seu novo estilo fez os lábios de Camila se curvarem em regozijo. Ela ergueu a mala para um carrinho de bagagem, e o peso deixou seus movimentos desajeitados. 

Alejandro estivera quase apoplético com seu novo estilo, e Olivia tinha decretado que Camila deveria ficar dentro do chalé o tempo todo, temendo que um dos amigos deles pudessem vê-la. Camila deveria ser o segredinho deles durante a semana. Mas depois de dois dias lendo e se empanturrando de chocolate, ela estava entediada. 

Ela descobrira que Alejandro, Olivia e suas irmãs estavam planejando passar o ano-novo na casa de campo de um amigo, a cerca de oitenta quilômetros de Val D’Isere – e ela não estava convidada. Uma briga enorme se seguiu, o que resultou no banimento de Camila do chalé e a colocou no próximo voo para Londres (um gasto considerável para Alejandro).

Ela jurou para si mesma que, agora que tinha quase dezoito anos, nunca mais se submeteria à tortura de outro feriado alpino. Se seu pai queria passar tempo com a filha mais velha – e, na mente de Camila, isso não era uma certeza –, então teria que ir a Londres para vê-la.

Camila e a mãe eram “pobres de Londres”. Em qualquer outra parte do país teriam vivido confortavelmente, numa casa de tamanho razoável com jardim e garagem. Mas a renda de Sinuhe com planejamento de festas lhes permitia pagar apenas um flat apertado de dois quartos perto de Putney. Desde o momento em que fugira do casamento com Alejandro Cabello e da sociedade de Manhattan, Sinuhe recusara todo o dinheiro vindo dele. Não se importava que ele comprasse coisas para Camila, mas não aceitava um único centavo para si mesma.

Quando Camila chegou em casa no fim da tarde, estava escuro lá fora. A rua estava iluminada pelo suave brilho laranja dos postes, ladeada por casas vitorianas com varandas de tijolos vermelhos e ornamentadas, com acabamento descascando e paredes decrépitas. Camila amava a fachada requintada daquelas varandas antigamente grandiosas, com seus pórticos brancos e caminhos de azulejos pretos e brancos – elas faziam um contraste nítido com o barulho e a modernidade da vida londrina.

Ela vasculhou a bolsa em busca das chaves, sabendo que Sinuhe estivera fora o dia todo, organizando a festa anual dos Jaureguis. Embora Camila nunca os tivesse conhecido, sabia que eles estavam entre os melhores clientes de sua mãe. O réveillon era sempre a noite mais atarefada do ano. E o fato de ser a entrada do ano dois mil só deixava as coisas piores.

Camila não estava no flat nem dois minutos quando o telefone começou a tocar. Uma olhada para o visor mostrou que já havia três mensagens na secretária eletrônica. Alguém obviamente estava com pressa para falar com ela ou sua mãe. Ela sinceramente esperava que não fosse o pai. 

– Alô?

– Camila? Graças a Deus você está em casa! Está tudo bem? O voo foi bom? – Sinuhe quase não parou para tomar fôlego. – Querida, três das meninas pegaram aquele vírus de inverno e estão vomitando. Preciso que você coloque um uniforme e venha me ajudar. A festa vai ser um desastre! – ela abaixou a voz para a última frase, e Camila se perguntou quem mais estava no cômodo com ela.

– Certo, me dê o endereço – Camila apoiou o telefone entre a orelha e o ombro enquanto pegava um pedaço de papel.

– Cheyne Walk, número cinco. Em Chelsea. Pegue um táxi e eu pago depois. Ah, e Camila…– a voz de Sinuhe baixou mais uma oitava. – … você pode maneirar no visual? – Camila recitou, sabendo exatamente o que a mãe ia dizer.

Depois de tomar um banho, remover o esmalte e suavizar a maquiagem, Camila conseguiu encontrar um táxi livre. Seu cabelo estava preso num coque apertado, e os cosméticos em seu rosto eram suaves e mal perceptíveis. Ela estava usando um uniforme
típico de garçonete: saia preta curta com uma camisa branca simples. 

Quando chegou à casa, bateu a aldrava pesada de bronze na elegante porta preta algumas vezes. Um homem de uniforme abriu. Ela não o reconheceu, então não podia ser um dos empregados de Sinuhe. Os Jaureguis eram ricos o bastante para manter empregados em tempo integral.

Quando entrou, o esplendor a fez perder o fôlego. O saguão se abria para os três andares da casa, com uma escada de mármore subindo numa curva para o segundo andar. Bem no meio do chão ornado de azulejos estava a maior árvore de Natal que ela já vira. Luzes brancas discretas brilhavam até a estrela no topo. Devia ter pelo menos seis metros.

– Viu algo que gostou? – a voz arrastada, com sotaque americano, era muito irritante. Ela virou a cabeça e viu uma jovem ao pé da escada. Sua calça jeans larga e escura pendia quase obscenamente de seus quadris estreitos. Ela usava uma camiseta preta apertada, em que se podia ler Columbia em letras azuis.
 





 


Notas Finais


Até amanha, nao se esqueçam, comentem, favoritem... @qbarbarisch


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...