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História Sempre Foi Você - Panic


Escrita por: Barbarideadi

Notas do Autor


Desculpa a demora, but, eu voltei ♥

Capítulo 20 - Panic


2 de fevereiro de 2004 

– Parece que temos nossos momentos mais românticos em aeroportos – Camila enfiou o rosto na camisa de Lauren, os olhos úmidos misturando-se com o rímel e deixando uma mancha de tinta no algodão branco. 

– Nem todos – ela disse, trazendo os lábios aos dela. Ela pressionou-os com suavidade, enxugando as lágrimas ao redor dos olhos dela. – Ontem à noite foi bastante romântico. 

Camila riu. 

– Você está confundindo romance e sexo. Os dois não estão necessariamente interligados. 

– Com a gente, estão sim. 

Lauren beijou-a de novo, dessa vez sem se conter, e os joelhos de Camila começaram a tremer com a investida. O fato de que estavam fazendo aquilo no aeroporto de Heathrow não importava. A cada poucas semanas, elas tinham que enfrentar aquela despedida de novo, e não se tornava mais fácil à medida que o tempo passava. A cada vez, ela achava mais difícil se lembrar exatamente o motivo de relutar tanto em mudar-se para Nova York. 

Então algo a trazia de volta à realidade. Como aquela vez que ela formalmente a apresentara à mãe, e Camila tinha sido recebida com uma frieza clara. Naqueles momentos, ela percebia que não tinha nascido para a vida em Manhattan. A única parte de Nova York que queria por perto era Lauren.

Os beijos delas estavam ficando mais exigentes, e ela sentiu-a deixar a mala cair e envolver sua cintura. Lauren enfiou os dedos na pele macia enquanto a apertava sobre sua camiseta preta, passando os lábios da boca para o pescoço. A cabeça dela caiu para trás, dando-lhe acesso à pele sensível da seu pescoço.  

– Se não tomarmos cuidado vou dar uma de Justin em você – Lauren murmurou. Na noite anterior, elas tinham assistido ao Super Bowl e rido quando Justin Timberlake puxou o top de Janet Jackson, revelando um mamilo. 

– Se não parar de me beijar aí, vou deixar que faça isso

– Sabe, nunca assisti futebol no meio da noite antes, mas tem suas vantagens – a sensação do sorriso dela contra sua pele revelou-lhe que Lauren estava se lembrando de como elas tinham inventado o próprio entretenimento no intervalo do jogo. Entretenimento que não envolveu piercings de mamilo. 

– Você vai se atrasar – ela ainda estava sem fôlego

– Eu sei – as mãos dela  desceram para os quadris de Camila, movendo-se para trás do seu corpo enquanto ela a sentia responder ao abraço. Ela precisou de cada grama de força de vontade que tinha para o empurrar para trás. 

– Você vai demorar um século pra passar pela segurança – ela indicou a longa fila de viajantes, dando voltas no aeroporto. – A American Airlines não vai te esperar se você chegar atrasada. 

Lauren deu um risinho e ela estreitou os olhos, fazendo um gesto com as mãos para afastá- la. 

– Ligo pra você do lounge, ok? – Lauren deu um beijo no nariz dela.

– E da pista, e do aeroporto, e do carro, e do seu apartamento… – Camila provocou.  

Ela inclinou-se e beijou-a mais uma vez.

– Te vejo em um mês, combinado? 

– Estou contando as horas. 

– Não tem que contar nada. Venha comigo – Lauren dizia aquilo toda vez.

– Não posso. 

– Não existe “não posso”, querida. Só “não vou”. 

– Então fique em Londres – ela estava sorrindo atrás das lágrimas, a familiaridade da conversa de algum modo a reconfortando. 

– Eu gostaria… 

– Mas não pode – ela terminou a frase por Lauren e beijou seu rosto mais uma vez. – A gente arranja um jeito. 

– Vamos ter que arranjar, porque isso está me matando – ela abaixou-se para apanhar a mala, notando a mancha de rímel na camisa pela primeira vez. Suas sobrancelhas ergueram-se enquanto ela lançava um olhar recriminador a Camila. 

– O quê? – ela tentou parecer inocente, mas não conseguiu conter um sorriso. – Eu estava triste, não posso? 

– Me lembre de te comprar uns lenços da próxima vez – Lauren a olhava com uma expressão gentil. 

– Estou indo agora – ela começou a se afastar, acenando brevemente, os olhos nunca deixando os dela. 

– Sem um beijo de despedida?

– O que você acha que estávamos fazendo na última meia hora? – ela franziu as sobrancelhas com irritação fingida, movendo-se alguns passos para trás. 

– Aquilo foi só aquecimento. Agora eu quero o último beijo de despedida. 

 

Na noite seguinte, Camila saiu correndo dos escritórios da Music Train na Wardour Street e emergiu no úmido ar do Soho. Por estar perto do West End de Londres, a rua estava sempre lotada de pessoas, e ela as seguiu até a Oxford Street, entrando na estação de metrô junto com os passageiros usuais voltando do trabalho. Quando pisou na escada, sentiu o telefone vibrar, e tirou-o do bolso do jeans para ler o texto. 

Já disse hoje que sinto sua falta?

Ela digitou uma resposta apressada.

Estou cinco horas na frente, Jauregui! Eu ganho o jogo. 

Camila entrou no metrô e saiu na estação Putney Bridge, sentindo o ar frio da noite. Sua respiração formava nuvens de vapor à sua frente enquanto ela se apressava pelas ruas a caminho do apartamento da mãe. Parecia que elas não se viam há uma vida; ou Camila estava assistindo a shows, ou Sinuhe estava ocupada organizando um evento. Elas tinham combinado de se encontrar aquela noite para pôr a conversa em dia. 

A mãe aguardava-a na porta quando ela chegou, com um grande sorriso no rosto. Ela puxou Camila e envolveu-a num abraço apertado. 

– Ai, querida, é tão bom ver você. 

– Você também, não acredito que faz tanto tempo. A gente mora na mesma cidade, pelo amor de Deus. 

– Você tem estado ocupada com o trabalho e Lauren – Sinuhe piscou, puxando-a para dentro e fechando a porta atrás delas. Assim que Camila entrou no flat, sentiu uma sensação familiar de calma. Tudo naquele lugar a fazia sentir-se em casa.

– Pedi bife com douchi pra você – Sinuhe anunciou, entrando na pequena cozinha. – Quer torrada de camarão? 

– O papa é católico? – Camila gritou de volta, erguendo-se e seguindo a mãe para oferecer ajuda. Sinuhe deu-lhe um olhar incisivo, movendo as mãos para expulsá-la até Camila voltar para a sala de estar.

– Como vai o trabalho? – Sinuhe perguntou, a voz ecoando de leve no chão de azulejos da cozinha. 

– Ótimo. Passei o dia no estúdio com uma banda que está gravando seu segundo álbum. Vai ser um disco conceitual e eles passaram a maior parte do dia tocando as músicas na ordem pra eu poder entender a narrativa. 

– Acho que não entendi uma palavra disso – o rosto de Sinuhe era uma máscara de confusão.

– Eles estão tentando contar uma história com cada música. Começa com um rap sobre um cara perdendo mil libras, daí um monte de coisa acontece até que, na última música, ele encontra o dinheiro atrás da tevê. 

– Parece fascinante. Quando posso ouvir? 

Camila gargalhou. Sinuhe era fã dos clássicos – clássico entendido por Abba, Elton John e Cliff Richard. 

– Vai sair em abril. Eu compro um pra você. 

– Mal posso esperar – Sinuhe disse, sarcástica, carregando duas bandejas para a sala e passando uma para Camila, junto com os hashis. 

– Você não está com fome? – Camila notou o prato de Sinuhe. Só uma pequena porção de arroz e uma ainda menor de frango tinham sido colocadas sobre a porcelana branca. Olhando para a mãe, Camila percebeu que o rosto dela estava ossudo. – Mãe, pelo amor de Deus, quanto peso você perdeu? 

Ela não conseguia acreditar que não tinha percebido assim que entrara pela porta, mas Sinuhe sempre parecia igual para ela – pequena, perfeitamente proporcional, talvez um pouco mais pesada nos quadris que no peito. Sempre que Camila pensava nela, imaginava a mãe com cerca de trinta e cinco anos, ainda usando roupas dos anos 1990, seu rosto sem rugas sorrindo feliz com as últimas escapadas da filha. 

Olhando-a agora, Camila podia ver que seu rosto estava cheio de rugas, a pele esticada sobre os ossos. As olheiras estavam mais escuras e marcadas que de costume. 

Sinuhe baixou os olhos para o prato, mordendo o lábio inferior num gesto familiar. Camila viu uma lágrima escapar do olho esquerdo da mãe, cair no prato e oscilar ao encostar na superfície de porcelana.

– Mãe, o que está acontecendo? Está me deixando preocupada agora – Camilaa pousou o prato na mesa de canto e ergueu-se, fazendo o mesmo com a bandeja de Sinuhe. Ajoelhando-se no chão ao lado da mãe, ela pegou as duas mãos dela nas suas e apertou-as, pedindo à mãe que olhasse para ela. 

– Estive no hospital hoje. Não quero que você entre em pânico e sei que vai ser um choque, mas eles encontraram um caroço no meu peito e vão fazer uma biópsia.

O mundo desabou sob Camila, deixando-a atordoada, enquanto sua mente tentava, sem sucesso, encontrar o sentido das palavras. Ela balançou a cabeça, e o movimento piorou a sensação súbita de náusea. 

– Eu disse para não entrar em pânico. Ainda não – Sinuhe inclinou-se e abraçou-a. – Eles têm quase certeza de que é câncer, mas precisam fazer vários testes e outras coisas antes de me darem um diagnóstico. 

– Por que você não me contou isso antes? – uma onda de raiva subiu pelo peito de Camila. Ela não sabia por que exatamente estava brava; se era o fato de a mãe não ter compartilhado aquilo, o fato de o câncer ter invadido o corpo dela, ou pela vida em geral. Ela agarrou-se à emoção, preferindo-a à sensação de desespero que sentira um instante atrás. 

– Não queria preocupá-la até saber com certeza que havia alguma coisa errada. Seria horrível vê-la toda nervosa desse jeito e depois descobrir que o caroço era benigno, ou pior, só imaginação minha. 

– Eles falaram o que você pode fazer, quais os tratamentos? Queria ter ido ao hospital com você hoje – passar o dia ouvindo um cara cantando sobre perder dinheiro era um péssimo substituto a apoiar a mãe em sua hora de necessidade. 

– Querida, tenho outra consulta na quinta. Espero que me digam algo mais concreto – Sinuhe apertou-a uma última vez. – Agora coma seu jantar antes que esfrie.


Notas Finais


Prometo que volto logo


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