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História Sempre Foi Você - My Girl


Escrita por: Barbarideadi

Notas do Autor


Voltei

Capítulo 21 - My Girl


30 de novembro de 2004

Joe Garfield reclinou-se na cadeira de couro e cruzou os braços. Seus olhos cor de chocolate examinaram Lauren com interesse. As rugas ao redor deles aprofundaram-se quando ele falou. 

– Você fez bem em tomar a decisão tão rápido, Lauren. Ao se encontrar um câncer, deve-se extraí-lo antes que ele tenha tempo de se espalhar. Lauren estremeceu com a menção à doença – ela parecia estar no centro da vida dela e de Camila. Não que o câncer a que Joe se referia fosse físico. Era, na verdade, uma metáfora para a descoberta de que o chefe da divisão imobiliária vinha recebendo subornos de uma série de empresas de construção. Mesmo assim, ouvir a palavra foi o bastante para enviar sua mente para o outro lado do Atlântico.

As coisas também não estavam fáceis do seu lado do oceano. Demitir metade da equipe executiva da divisão imobiliária não tinha sido sua tarefa favorita, e procurar substitutos estava se provando ainda mais difícil. Ele tinha marcado aquela reunião com Joe para discutir os planos de curto prazo. 

– Precisamos reconstruir a divisão com rapidez – Lauren levantou-se e foi até a ampla janela que dava para o distrito financeiro. – Vou nomear um chefe provisório enquanto deixamos o RH fazer seu trabalho.  

– Parece um bom plano – Joe assentiu, analisando a planilha que Lauren deixara na mesa. – Não podemos tirar os olhos de um mercado tão promissor. 

Eles haviam tido aquela conversa dezenas de vezes. Estavam ambos chocados com os preços dos imóveis aumentando exponencialmente, e a inflação excessiva dos valores dos terrenos deixara-os desconfiados. A Maxwell Enterprises tinha concordado em perseguir uma estratégia de investimentos a curto prazo, ao mesmo tempo que manteria um olho no mercado, pronta para recuar rapidamente se houvesse a ameaça de uma queda. 

O maior medo de Lauren era que, quando isso ocorresse, fosse tarde demais. Ela estava tentando diversificar os interesses da empresa o máximo possível, mas não era tola o bastante para acabar com uma parte tão lucrativa da empresa. 

Era por isso que encontrar a pessoa certa para liderar a divisão era tão importante. 

– Você teve notícias do Daniel? – Joe olhou para a foto da família Maxwell que Lauren deixava em sua mesa, apanhando-a e passando os dedos sobre a moldura dourada. 

– Consegui encontrá-lo num resort perto de Miami. Ele se recusa absolutamente a voltar para a reabilitação, e não temos como obrigá-lo a ir – Lauren esfregou a testa, cansado. Tinha sido um mês infernal, e não parecia que as coisas fossem melhorar. 

– Ele está se tornando um grande risco para essa empresa – Joe comentou, pondo a moldura de volta na mesa de carvalho de Lauren. – Vamos precisar de uma estratégia para nos livrar dele; não é bom ficarmos à mercê dele para sempre – Joe entrelaçou os dedos, inclinando-se para apoiar os cotovelos na mesa de Lauren. – Ele é um viciado, Lauren, e você sabe tanto quanto eu que ele nunca vai mudar. Não quero que daqui a alguns meses estejamos numa reunião de emergência porque ele vendeu suas ações para comprar drogas.

– Os advogados fizeram um contrato de direito de preferência de compra, então ele não pode vender nada sem me dar a opção de comprar – Lauren suspirou, esfregando os dedos com mais força nas têmporas. – Consigo resolver a parte financeira sem problemas se ele realmente quiser vender.  

– Talvez você precise fazer uma oferta que ele não possa recusar.

Lauren riu. 

– Você está agindo como se estivéssemos em O poderoso chefão. Estamos falando de Daniel, não de Sonny Corleone. 

– Só precisamos estar preparados para o pior. Não existe lugar para sentimentalismo nos negócios. Agora vou pra casa beijar minha mulher e me preparar para essa maldita gala.

– Você parece tão animada quanto eu. 

– Acredite, Lauren, provavelmente sou o único em Nova York que está menos animado com isso que você.

– De qualquer modo, velho rabugento, vejo você no Astoria às oito. Estarei com fantasia de macaco. 

 E eu serei o homem com a mulher mais linda do mundo no braço, especialmente considerando que você não conseguiu persuadir Camila a acompanhá-la hoje – Joe abriu-lhe um sorriso, sabendo que os últimos meses tinham colocado muitas pressões no relacionamento delas. – Só fico triste por não ter a chance de dançar com ela. Não se esqueça de mandar um abraço meu e de Emily. 

– Mandarei – Lauren acompanhou Joe até a porta de carvalho, fechando-a suavemente depois que o homem saiu. Tirando o celular do bolso enquanto voltava para a mesa, ela verificou o relógio antes de apertar um número na discagem rápida. 

– Ei – a voz suave de Camila através do aparelho a fez sorrir. Ela sentou-se na cadeira de couro, inclinando-a nas rodas até poder apoiar os pés na mesa. 

– Oi, querida. Como vai Sinuhe?

– Está tendo um dia bom, conseguiu tomar um pouco de sopa. Até caminhamos um pouco no jardim – Camila parecia melancólica e Lauren fechou a mão em punho, tendo que se esforçar para não jogar o telefone no chão e correr para o aeroporto mais próximo. Como sentia saudades dela… 

– Parece promissor. Espero te encontrar nas próximas semanas, assim que decidirmos o próximo chefe da divisão imobiliária – não querendo sobrecarregá-la com seus problemas, mudou rapidamente de assunto. – Joe te mandou um abraço. Ele está inconsolável por você não estar aqui para dançar com ele no baile. 

– Ai, meu Deus, esqueci que era hoje, me desculpe – o tom dela ficou choroso, e Lauren mordeu o lábio. – Sinto muito por não estar aí com você.

– Ei, a gente tinha combinado que você não se sentiria culpada por isso – Lauren censurou. – Você só ficaria entediada, de qualquer jeito. O plano é entrar correndo, fazer o discurso, e então correr de volta pra casa.

– Lauren, sabe que não pode fazer isso. O único motivo dos ingressos serem vendidos por aqueles preços é que as mulheres querem dançar com você.

– Só tem uma mulher com quem eu quero dançar hoje, querida. E como você não vem, vou ficar de fora dessa. 

– Eu te amo. 

Lauren quase podia ouvir o sorriso dela.

– Te amo também. Agora tente descansar. 

 

O carro de Lauren parou em frente ao Waldorf-Astoria. Ao passar por baixo do arco dourado e entrar no saguão, ela viu sua assistente esperando por ela, com um vestido longo prateado e o cabelo castanho preso, revelando um sorriso no rosto. 

– Você está atrasada.

– Eu sei – ela ergueu as mãos em desculpa. – Só consegui sair do escritório uma hora atrás. Perdi muita coisa? 

– Sua mãe ficou muito decepcionada por não estar na mesa para o jantar, e tive que dar desculpas a cerca de mil senhoras frustradas e desesperadas para pôr você no cartão de dança delas. 

– Isso ainda existe? – Lauren deu um sorriso irônico. Elas começaram a andar em direção ao grande salão. Lisa ficou mexendo na gravata-borboleta e na jaqueta do terno dela, alisando-os até que ela estivesse perfeitamente arrumada.

– Se existirem, então eu marquei, assim como todos seus outros cartões – ela respondeu, seca. – Seu discurso está pronto na tela do pódio, e Jon Stewart fez um ótimo trabalho aquecendo a plateia. Você só precisa ir lá e fazer seu discurso. 

– Você faz parecer tão fácil – Lauren sorriu, afastando as mãos dela quando Lisa tentou alisar seu cabelo. – E me deixe em paz, estou tentando aperfeiçoar um visual de mendiga. 

– Está fazendo um ótimo trabalho – Lisa murmurou. – E não se preocupe com o discurso, ninguém vai ouvir. Ou já estarão bêbados, ou planejando de quem se aproximar depois. Pense em si mesmo como o equivalente de gala de um filme B. 

Mais tarde, naquela noite, Lauren viu-se no bar, com um copo de whisky na mão e cercado por pessoas que ela mal conhecia. O 3º Jantar Anual da Fundação Memorial Leon J. Maxwell estava angariando fundos para as famílias das vítimas do 11 de setembro. Lauren só pisou no Astoria naquela noite por ser uma causa tão nobre. Com quase mil convidados presentes, a Fundação esperava angariar mais de 3 milhões de dólares durante a noite. 

– Querida, aí está você. Procurei você em todo lugar! Por favor, não me diga que veio sozinha hoje – Lauren voltou-se e viu a mãe aproximando-se, resplandecente em um vestido de noite verde-esmeralda, o cabelo assentado suavemente contra os ombros. 

– Mãe – ela inclinou-se para beijá-la, os lábios tocando o rosto dela de leve. – E sim, vim sozinha, você sabe que Camila não pode sair da Inglaterra agora. 

– Você realmente precisa encontrar uma parceira para momentos como esse – ela censurou, ignorando o rosto cada vez mais vermelho de Lauren. – Não é certo aparecer sem ninguém. 

– Não me incomoda – Lauren virou o resto de whisky, colocando o copo vazio no bar.

– Por quanto tempo isso vai durar, querida? Não suporto vê-la aparecer nesses eventos sozinha. Você precisa do apoio de uma mulher. É ocupada demais para se preocupar com detalhes – Caroline tirou um fiapo da manga dela. – As pessoas estão começando a reparar. 

– Eu não conseguiria me importar menos com o que as pessoas estão dizendo! – Lauren estava irritada, e sua voz saiu mais alto do que pretendia. – Sinuhe está morrendo. O que você espera que Camila faça? Pegue um voo e deixe a mãe sozinha?

– Espero que ela apoie sua mulher.

– Porque as aparências sempre vêm primeiro – disse, amargurada.

– Não, porque quando você está apaixonada por alguém, quer estar com essa pessoa. Quando foi a última vez que você viu Camila? 

– Falei com ela hoje – as palavras saíram firmes e duras, e não convidavam uma resposta. Caroline continuou, ignorando o aviso. 

– Então pense nisso. Se Camila não pode acompanhá-la em ocasiões importantes como essa, ter uma amiga com você seria uma opção melhor – como as palavras de Lauren, as delas foram ríspidas. Ela pegou outra taça de champanhe de um garçom que passava antes de apertar as mãos da filha. – Não quero enchê-la, querida, mas me preocupo com você. Quando não está trabalhando, está num avião ou visitando Camila. Uma mulher como você precisa de alguém que fique a seu lado. 

As palavras dela tocaram um ponto delicado. Sem Camila, ela se sentia incompleta, e ir a eventos como aquele sem ela ao seu lado era difícil. Não era o fato de que mulheres solteiras de certa idade pareciam ir diretamente até ela, porque Lauren conseguia recusar os avanços com facilidade. Era mais o fato de ela sentir a ausência dela profundamente. 

Elas tinham estado juntas – como um casal normal – por pouquíssimo tempo, antes de Sinuhe encontrar o caroço no peito. Nos nove meses desde então, ela tinha passado pelos altos e baixos do tratamento: esperança, medo e, finalmente, desespero. Era compreensível que Camila não quisesse deixá-la por nenhum segundo, porque os médicos lhe tinham dado meses – não anos – de vida. Ela não seria a filha da puta egoísta que a afastaria da mãe moribunda. 

Lauren sentiu um momento nauseante de culpa quando desejou que ela viesse visitá-la, ou que pudessem passar algum tempo em Londres, sem estar com Sinuhe o tempo todo. Uma parte dela ainda mais sombria – e que ela jamais admitiria – sentia falta do contato físico, do romance, do amor, e especialmente, do sexo. Exceto com a própria mão, ela não tivera um encontro satisfatório há um bom tempo. 

– Vocês conversaram sobre o que vão fazer depois? – Caroline perguntou. 

– Depois que Sinuhe morrer? Não acho que Camila consiga imaginar um mundo sem a mãe, muito menos como vai se sentir ou onde vai querer morar.

– Ela vai se mudar para Manhattan algum dia? 

– Não sei – Lauren balançou a cabeça lentamente, não gostando do rumo daquela conversa. – Há muitos “se” e “mas” para começar a pensar sobre o futuro. Só preciso me concentrar no agora, e cuidar da minha garota.


Notas Finais


Prometo que volto logo


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