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História Sempre Foi Você - Too late


Escrita por: Barbarideadi

Notas do Autor


Voltei com o ultimo de hoje

Capítulo 25 - Too late


20 de janeiro de 2007 

A varanda tinha sido decorada com bexigas e serpentinas, como um arco-íris um tanto estranho e extravagante. O nome de Taylor estava escrito em cima da porta em letras rosas. Camila parou ao pé da escada, paralisada pelo nervosismo, apertando uma sacola de presente roxa estampada. Uma música baixa saía da casa, e luzes de discoteca brilhavam na janela, indicando que a comemoração estava começando. 

Ela não tinha certeza se conseguiria fazer aquilo. 

Shawn tinha prometido que estaria lá a noite toda e não sairia do lado dela em nenhum momento. Ele já tinha chegado, pois concordara em tocar para Taylor e precisava montar o equipamento. Camila sabia que só ficaria sozinha por alguns minutos antes de estar sob a proteção dele. 

Mas somente minutos já seriam o suficiente. Ela não via Clara ou Michael desde que voltara para Londres em novembro, e estava morrendo de medo do que eles poderiam dizer.

– Você vai entrar ou o quê? – Taylor abriu a porta, impaciente. – Está parada aí há horas. 

Camila sorriu e subiu as escadas correndo. 

– Feliz aniversário, querida – ela jogou os braços ao redor de Taylor e apertou-a firme.

– Estou tão feliz que você está aqui. Estava com medo de que não viesse.

– E perder o show do Shawn? Mal posso esperar pra vê-la gritar como fã enlouquecida – o rosto de Taylor ficou corado. 

– Não sou uma fã enlouquecida, só acho que ele é um bom cantor.

– É claro que é – Camila deu uma piscadinha e entregou o presente para Taylor. – Não mostre isso para Clara ou Michael. Eu queria te dar algo bonito pra usar na cama.

– É sexy? 

– Não! – foi a vez de Camila corar. – Mas é bonito e sofisticado, apropriado para uma jovem dama. Não sei se seus pais entenderiam. 

Quando entrou no saguão, uma sensação de familiaridade passou por ela. Era como entrar num sonho meio vago. Tudo parecia igual.

– Shawn me disse pra levá-la direto até ele. Ele montou as coisas no porão – Taylor agarrou a mão de Camila e puxou-a para as escadas que levavam ao subsolo. – Ele vai começar o show em meia hora. 

– Ele disse o que vai tocar? – Camila perguntou, imaginando se poderia fazer um post no blog sobre aquilo depois.

– Não, quer que seja surpresa.

Elas chegaram ao pé das escadas, e Camila podia ouvir Shawn dedilhando a guitarra Les Paul. Assim que entraram, Shawn ergueu os olhos através dos cílios dourados e abriu um grande sorriso para ela. 

– Ei!

– Oi – ela se sentia como uma criança que tinha acabado de encontrar seu cobertorzinho. De repente, conseguia respirar de novo.

– Você contou pra ela? – ele virou-se para Taylor, a testa levemente franzida.

– Ainda não, achei melhor contarmos aqui.

– Contar o quê? – Camila perguntou, sentindo uma apreensão súbita. 

– Mamãe e papai querem te ver – Taylor disse depressa, voltando-se para Shawn quando percebeu que tinha revelado o segredo.

– Agora? – de algum modo, ela tinha achado que teria tempo antes de vê-los. Estava completamente despreparada para a reação deles à sua reaparição na vida de Taylor.

Shawn levantou-se da cadeira e cuidadosamente colocou a guitarra no apoio. Então foi até elas e jogou os braços ao redor das duas.  

– Vai ficar tudo bem. Você teria que vê-los em algum momento.

– Mas não estou pronta. Não sei o que dizer… – “desculpe” não parecia suficiente.

– É o lugar perfeito para encontrá-los de novo. É uma festa, você não consegue nem ouvir seu pensamento. 

Camila deu um passo para trás e afundou-se no sofá xadrez, o coração acelerado com a ideia de que teria que explicar a Clara por que havia desaparecido da vida deles. Na terapia, ela aprendera que esse era um passo necessário para reconstruir seus relacionamentos e reabrir o diálogo. Mas agora estava hesitante, querendo adiar o inevitável. Não sabia se conseguiria suportar a rejeição ou o olhar de desprezo que estava fadada a encontrar nos olhos deles. 

– Eles já sabem que estou aqui? – fazia meses que ela não tinha um ataque de pânico, mas reconheceu os sinais imediatamente. Precisava controlar a respiração e se concentrar em tirar os pensamentos negativos da mente. Meu Deus, por que tinha parado de tomar os remédios?

– Eu disse que você estaria aqui daqui a pouco. Eles já viram Shawn…

– Eles estão felizes por você ter vindo, não precisa se preocupar – Shawn acrescentou.

– Não foi você que abandonou a filha deles – Camila lembrou. – Claro que estão felizes em ver você. 

– A gente sabe que você não estava bem, Camila – Taylor acariciou o cabelo dela. Quando é que elas tinham trocado de papéis? – Você não era você mesma, mas está melhor agora. Lauren não guardou rancor, e meus pais também não. 

Fechando os olhos, ela se lembrou de que nada ia machucá-la; ela ficaria bem. Repetiu o mantra que o psicólogo lhe havia ensinado: meu coração ainda está batendo, estou respirando, posso fazer isso. Ela inspirou ar pelo nariz e expeliu pela boca, gradualmente reduzindo a quantidade de ar inspirada até o coração bater num ritmo lento e regular.

– Estou bem – ela tentou abrir um sorriso tranquilizador. – Não tenho um desses faz bastante tempo. 

Taylor parecia assustada, mordendo o lábio inferior enquanto a encarava com olhos escancarados.

– Eu posso falar para eles ficarem longe, Camila. Você não precisa encontrá-los.

Camila virou-se no sofá para olhar Taylor diretamente.

– Vou ficar bem – sua voz estava mais forte e, ela esperava, encorajadora. – Preciso ver seus pais em algum momento. Afinal, somos praticamente uma família.

Ela mal tinha terminado de falar quando Taylor lançou os braços ao redor dela e enfiou o rosto no seu pescoço.

– Estou tão feliz que você voltou de vez! Senti tanta saudade. 

– Senti saudade de você também – os olhos de Camila começaram a marejar enquanto ela abraçava Taylor de volta. – Muito mesmo. 

 

Clara estava na cozinha quando Camila finalmente teve coragem de ir ao seu encontro. Era como se o tempo tivesse voltado sete anos e Camila  fosse adolescente outra vez; insegura sobre si mesma e seu papel na vida, sentindo-se inferior em relação à rica família Jauregui e à confiança social deles. 

A ausência de Lauren era como uma faca no peito. Em toda parte havia lembretes do que ela tivera e perdera. Um amor descartado tão estupidamente. Mais do que nunca, ela queria voltar no tempo e ser aquela garota outra vez, a garota que tinha rido com os Jaureguis e ajudado a mãe em festas. 

– Oi.

Clara virou-se, sua expressão neutra transformando-se num enorme sorriso. Ela pôs a mão sobre o coração.

– Ah, Camila! Não acredito que você está aqui!

Deixando cair o guardanapo que tinha nas mãos, ela contornou o balcão e foi até a porta, envolvendo Camila num abraço. 

Camila ficou congelada no início, surpresa com o entusiasmo da recepção de Clara. Um instante depois, no entanto, abraçou-a de volta, enterrando a cabeça nos ombros da mulher e sentindo as primeiras lágrimas quentes escaparem dos olhos. Ela não conseguia se lembrar da última vez que a tinham abraçado daquele jeito, e aquilo era um lembrete nítido do que ela tinha perdido. Não apenas Sinuhe – embora a morte da mãe tivesse sido terrível –, mas Lauren também. 

Um momento passou antes que ela levantasse a cabeça do ombro de Clara, enxugando as lágrimas do rosto. Clara pousou as mãos nos braços dela e deu um passo para trás, olhando-a com um sorriso triste nos lábios.

– Senti muitas saudades. Nunca mais fuja desse jeito de novo. 

A advertência fez Camila sorrir atrás das lágrimas. Clara puxou-a para dentro da cozinha, fechando a porta para que tivessem um pouco de privacidade e alguma proteção da música que vinha do sistema de som. 

– Sinto muito, Clara – Camila mordeu o lábio para não começar a chorar outra vez. – Não sei em que estava pensando. Ou talvez não estivesse pensando.

– Você estava de luto por sua mãe, não foi culpa sua. Sei que precisava de espaço, mas rezei todos os dias para que voltasse pra casa. 

– Como uma filha pródiga? – Camila tentou brincar, mas os soluços eram reveladores.

– Como um membro amado da família, Camila, e você é muito amada. Espero que saiba disso. 

– Eu estava com tanto medo que você me odiasse por ter fugido.

– Nunca poderia odiá-la – Clara também estava chorando agora. Lágrimas cinzas de rímel deixavam marcas no rosto. Ambas precisariam retocar a maquiagem antes de sair em público outra vez. – Nem se quisesse teria conseguido culpá-la. Você estava tão triste e deprimida, tentando encontrar algo que não sabia o que era. Espero que tenha conseguido alcançar um pouco de paz na Austrália. 

Camila fechou os olhos e pensou sobre seu tempo em Sydney. Primeiro tinha ficado perdida, percebendo que a tristeza da qual estivera fugindo a seguira até o outro lado do mundo. Tinha sido um alerta nítido, que a atingira profundamente. Mas, aos poucos, ela conseguira sair daquele abismo de desespero. Não fora rápido nem fácil, e ela caíra mais vezes do que conseguia se lembrar, mas uma hora foi finalmente capaz de emergir na luz clara do dia.

– Estou trabalhando na parte de encontrar paz – ela admitiu, irônica – mas é mais fácil falar do que fazer. 

– Por que não me conta sobre seu novo emprego? Taylor disse que tem algo a ver com blogs, seja o que for um blog…

Pela primeira vez um sorriso genuíno apareceu no rosto de Camila, iluminando seus olhos enquanto ela começava a falar. 

– Uma colega começou um site de resenhas de música, que ela quer expandir para incluir outras coisas também. Sou a editora de música, o que é fantástico, e mesmo que seja só eu por enquanto, estou recrutando alguns freelancers para ajudar.

Clara apenas a olhou, um sorriso puxando o canto dos lábios. 

 Você fica tão animada quando fala sobre seu trabalho, é lindo de ver.

– Era a única coisa me mantendo sã – Camila admitiu. – Quando todo o resto estava se despedaçando, era algo em que eu podia me apoiar.

– Você podia ter se apoiado na gente também – a voz de Clara estava baixa. – Quero que se lembre disso, caso se sinta mal daquele jeito outra vez.

O nervosismo voltou quando Camila percebeu quanto sua rejeição devia tê-los machucado. Se Clara estava se sentindo tão mal, o que ela tinha feito com Lauren? 

– Vou me lembrar – as pernas dela tremiam, e ela apoiou-se no balcão da cozinha para não cair. – Obrigada por ser tão gentil…

Ela foi interrompida pela porta sendo aberta subitamente e o som da música invadindo a cozinha. Ambas viraram-se e viram Michael, usando uma calça cinza e um suéter azul, o cabelo loiro caindo sobre a testa. 

 – Aí está você! Acho que Taylor está pronta para a gente no porão – Michael sorriu para Clara antes de notar que havia mais alguém lá. – Ah, desculpe, não queria interrom…

Ele parou de falar assim que os olhos caíram sobre Camila, e sua boca abriu em surpresa.

– Olhe, Michael, Camila veio para a festa, como tinha prometido a Taylor. 

Camila olhou para Michael e viu um homem dilacerado por suas emoções. Era como se parte dele quisesse celebrar o retorno dela, mas outra ainda estivesse brava por ela ter sumido. Ela não sabia qual lado ganharia.

– Oi, Michael. 

– Camila – a resposta foi curta.

Do canto do olho, ela podia ver Clara gesticulando para ele, embora não desse para ver o que ela estava tentando sinalizar. Michael ergueu as sobrancelhas e deu um aceno breve.

– Como vai? 

– Estou bem, obrigada – ela soava tão desconfortável e falsa, não era à toa que ele a estava encarando.

– Você nos deixou preocupados por um tempo, especialmente Lauren. 

– Michael! – o tom de Clara continha um aviso.

– Não tem problema, Clara, ele tem razão. Como está Lauren? 

Steven aproximou-se e parou na frente de Camila; ele era tão alto a ponto dela se sentir intimidada. Ele se parecia tanto com Lauren no modo como se portava e como falava que era doloroso tanto quanto reconfortante. 

– Não vou mentir, Camila, foi bem difícil para ela – ele falava devagar, como se estivesse deliberadamente tentando se controlar. – Por um tempo ficou tão deprimida quanto você, mas está bem melhor agora. Parece ter superado e aceitado que você não vai voltar.

As palavras tiniram em sua mente como uma lata chutada num beco. Era tarde demais. No seu esforço de salvar a si mesma, tinha destruído seu relacionamento e qualquer respeito que Lauren tinha por ela. Sentindo novas lágrimas surgirem nos olhos, ela apertou-os outra vez, lembrando-se de que aquela deveria ser uma ocasião alegre. Era o aniversário da sua melhor amiga, e ela faria o máximo para comemorar. 

 


Notas Finais


Amanha eu volto mores
(SE MERECEREM)


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