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História Sempre Foi Você - Enough


Escrita por: Barbarideadi

Notas do Autor


MAIS UM CAPITULO PRONTINHO PRA VOCÊS
BOA LEITURA

Capítulo 28 - Enough


28 de agosto de 2009

 Já era quase noite quando entrou no estacionamento de cascalho. Lauren precisou parar um momento para controlar sua expressão, lembrando-se de que tudo caminhava conforme os planos. 

De todas as iniciativas de caridade que a Fundação Memorial Maxwell apoiava, o Acampamento Leon era sua favorita. Não era sobre roupas brilhantes ou ver e ser visto. Era sobre as crianças, os filhos daqueles que tinham morrido e dos que mal tinham sobrevivido.
Por seis anos, ela as vira crescer. Algumas se transformaram em adolescentes cheios de raiva, que não conseguiam entender seu lugar no mundo. Outras tinham amadurecido, tornando-se homens e mulheres incríveis que voltavam ao Acampamento como conselheiros. Todos tinham um lugar especial no seu coração.

A Fundação tinha comprado o acampamento abandonado em 2002. No primeiro ano, reconstruiu os chalés, tornando a área segura e limpando o lago há muito abandonado. Em 2003, puderam oferecer os primeiros acampamentos gratuitos às crianças do 11 de setembro.
Para algumas delas, essa era a única chance de escapar do ar introvertido da cidade; para outras, era a única oportunidade de agir como crianças. A diferença entre o Acampamento Leon e os outros acampamentos era que eles empregavam vários psicólogos para ajudar as
crianças a se abrirem e discutirem suas perdas em um ambiente seguro. 

– Lauren, você veio! – Taylor correu até ela e abraçou-a com força, um enorme sorriso em seu rosto.  – Está ouvindo a música? As crianças estão adorando! 

O show era uma atração nova naquele ano. Em março, durante uma visita ao escritório nova-iorquino do The Buzz, ela tinha admitido a Camila que alguns dos adolescentes estavam cansados das atividades típicas de acampamento. Eles já tinham passado por seis anos de
canoagem, escalada e natação, e Lauren queria oferecer a eles alguma coisa diferente. Só não conseguia imaginar o quê.

Camila a surpreendera ao sugerir um acampamento musical só para adolescentes, oferecendo-se para planejar as atividades e os participantes. Cinco meses depois, usou sua influência para organizar um show no último dia do acampamento, assim como vários workshops ao longo da semana. E tirou uma semana de férias do trabalho para poder coordenar o acampamento. O único arrependimento de Lauren era que o trabalho a tinha mantido na cidade até aquele dia. 

– Que bom – Lauren abraçou a irmã, tentando não repreendê-la pela combinação de minissaia e regata. Fazia mais de trinta graus, afinal. Ela lembrou a si mesmo que a mais nova tinha vinte anos.

– Meredith não vem? – Taylor perguntou, sem saber que estava tocando num ponto delicado. Lauren mordeu o lábio, relembrando a briga que elas tiveram antes de ela ir para os Hamptons.

– Ela está viajando – a resposta foi curta, mas ela ofereceu um sorriso a Taylor para suavizar seu tom. 

Taylor sorriu de volta, mas seus olhos estavam sérios. 

– Que pena, ela vai perder um show incrível.

Lauren tentou não rir. Amava Taylor profundamente, e sempre se impressionava com o modo como ela via o melhor nas pessoas. 

– Depois mostro algumas fotos pra ela – Taylor acrescentou. 

– Você está se divertindo? – Lauren perguntou. O rosto de Taylor iluminou-se enquanto ela se lembrava dos últimos dias. Era seu primeiro ano como conselheira, e ela não podia estar mais satisfeita com a confiança que ele tivera nela. Lauren ficou feliz por ter ouvido Camila quando ela sugeriu que ela falasse com Taylor. 

– Está sendo incrível! As crianças são ótimas, e Camila me envolveu em toda a organização. Ela não para de correr pra todo lado, e quando não está falando com as bandas, está sentada com as crianças ou jogando softball com elas. 

Ela não sabia como, mas pressentiu que Camila estava por perto. Talvez a tivesse visto com o canto do olho, ou os pelos do braço tivessem se arrepiado com a proximidade dela. De qualquer modo, quando ouviu a cadência familiar da risada dela, ela se virou. 

Camila estava entusiasmada conversando com um conselheiro, agitando os braços e sorrindo loucamente. Seus movimentos eram exagerados, e a vitalidade dela a fez querer correr até lá e tomá-la nos braços. Como Taylor, ela estava vestida para o tempo quente. Shorts jeans curtos agarravam-se às suas pernas, e ela tinha amarrado uma camiseta preta de banda acima do umbigo, revelando uma faixa de pele. Mesmo daquela distância, Lauren podia ver que ela estava bronzeada. 

Lauren foi até eles, notando com prazer que, quando Camila ergueu os olhos para ela, um sorriso genuíno se abriu em seu rosto. 

– Você veio! – o sol da tarde refletia em sua pele bronzeada. – O que achou? 

– Você fez um trabalho fantástico. O diretor não para de me ligar pra perguntar se pode fazer o mesmo ano que vem. 

Camila riu, uma risada rouca e sexy que fez todo o corpo dela doer. 

– Sabe, eu adoraria. Estou encantada com as crianças, elas são tão corajosas. 

– Não sei como agradecer você por tudo que fez – Lauren queimava com a necessidade de abraçá-la, mas desde a reconciliação elas mantinham certa distância, como se estivessem ambas cientes de que pisar nas águas turvas do contato físico romperia a barragem delicada que tinham criado. 

– Não podia ter feito sem Taylor – Camila abraçou sua irmã, e por um instante, Lauren  sentiu uma pontada de inveja. – Ela tem sido minha mão direita. Estou pensando em contratá-la pra ser nossa gerente em Nova York – seu tom era leve e provocador.  

O efeito colateral positivo do fracasso de Camila em encontrar um candidato decente para gerir o escritório era que ela tinha ficado em Manhattan mais tempo do que planejara inicialmente. Ela não sabia se Camila ainda continuava procurando, mas Lauren ficaria feliz se
ela cancelasse os contratos com a agência e concordasse em ficar na cidade de vez.  

Ela gostava de tê-la por perto. Era fácil conversar e trocar ideias com Camila, que era a primeira pessoa para quem ela ligava quando estava tendo um dia ruim – ou um dia bom, na verdade. Era uma amiga – provavelmente sua melhor amiga –, e poder vê-la a deixava feliz. 

– Tenho que falar com a próxima banda – ela sorriu e Lauren sentiu o coração acelerar. – Falo com você depois, ok? 

– Claro – ela concordou rápido, sabendo que precisava circular e conversar com as crianças. – Te encontro antes dos fogos. 

Camila estava falando com um grupo de doadores quando a última banda terminou, parecendo deslocada em sua roupa de festival entre os vestidos de linho e os ternos elegantes. Mas isso não parecia incomodá-la enquanto ela respondia a questões e aceitava os elogios deles. 

Lauren observou-a por um tempo, gostando do fato de que Camila não sabia que ela a estava olhando. Meredith uma vez a descrevera como “excêntrica”, uma definição tão boa quanto qualquer outra, embora provavelmente tivesse tido o efeito oposto do que Meredith esperara. As peculiaridades de Camila só a tornavam mais querida para ela. 

Talvez Lauren só estivesse agitada por causa do casamento. Mesmo que ainda faltasse mais de um ano, Meredith estava trabalhando arduamente na cerimônia, passando fins de semana com o organizador e tentando convencer Lauren a testar diferentes buffets e confeitarias. 

– De jeito nenhum vou fazer um discurso – a voz de Camila soou claramente através do ar noturno, uma vez que a música tinha parado. Os lábios de Lauren curvaram-se quando pensou nela de pé, o corpo magrinho no enorme palco principal, balbuciando uma longa lista de agradecimentos. 

– Você merece os elogios – Mimi Flynn, uma doadora rica e viúva do 11 de setembro, estava dizendo. – Meu filho diz que conseguiu chamar várias bandas ótimas. 

Camila soltou uma risada. 

– Acho que Sean pode ser um tanto parcial – Lauren não tinha que olhar para saber que ela estava corada. – Mas obrigada, de qualquer modo. 

Cansada de ser apenas espectadora, ela foi até o grupo, sua presença desviando os olhares deles de Camila. Mantendo um olho nela, Lauren falou com os doadores, sorrindo e agradecendo-os pela ajuda. Conhecia a maioria deles – pelos laços que tinham com a Fundação, além de encontrá-los com frequência em outros eventos – e era difícil manter a conversa formal. Eles eram amigos.

Camila terminou de falar com Mimi e então olhou para o resto dos doadores.

– Acho que os fogos vão começar. Algumas bebidas vão ser servidas fora da barraca dos doadores. 

As palavras foram recebidas com murmúrios de aprovação. Em segundos, o champanhe e os canapés tinham espalhado o grupo, e Lauren os viu se dirigirem até a tenda branca. 

E então sobraram as duas. 

– Ei – Camila estava esfregando os braços, e Lauren podia ver que sua pele estava arrepiada. O ar da noite ainda estava agradável, mas as roupas dela não eram apropriadas para o pôr do sol. 

Ela queria ter uma jaqueta para colocar sobre os ombros dela, mas tinha deixado a sua no banco de trás do carro, junto com a gravata. 

– Parece que você está com frio. 

– É a ausência de calor corporal – ela brincou. – Eu estava bem enquanto ficava rodeada de pessoas. Sou como uma criança pobre roubando leite do vizinho. 

Ela começou a tremer. Não que seus dentes estivessem batendo, mas todo seu corpo tremia o bastante para Lauren querer fazer alguma coisa. Lauren ficou parada por alguns segundos, dizendo a si mesmo que, se fosse qualquer outra amiga, ela não hesitaria em trazê-la para perto e envolvê-la com os braços. Talvez esfregar as mãos sobre sua pele até que os tremores passassem. 

Ela não parecia uma outra amiga qualquer, no entanto. Parada à sua frente, seu rosto estava iluminado pelas luzes no gramado. Ela parecia a Camila que conhecia, a que babava nela em parques e que flertava com ela em festas. Parecia a Camila dela. 

– Vem cá – era uma exigência, não um pedido, e Lauren não esperou uma resposta. Um passo para a frente e ela estava com os braços ao redor de Camila , inspirando a fragrância do seu xampu enquanto apertava o corpo dela contra o seu. 

Jesus, ela estava gelada. Sua pele estava fria e ela estava se chutando internamente por não ter feito aquilo antes. Não era um abraço sexual, era uma gentileza de uma pessoa para outra, uma oferta de calor e conforto. 

Ou pelo menos era o que ela estava dizendo a si mesmo. 

Camila abriu a boca para dizer algo, mas sua voz foi abafada pelo estrondo dos primeiros fogos de artifício explodindo no céu. Fogos roxos e verdes se espalharam pelo ar, fazendo a multidão soltar exclamações de surpresa. 

Ela estava rígida em seus braços. Como se estivesse com medo de se mover ou pôr o braço ao redor de Lauren, o que só o fazia segurá-la ainda mais firme. Ela parecia um animal selvagem, curiosa o bastante para se deixar apanhar, mas nervoso uma vez que estava capturado. Lauren queria que ela relaxasse, deixasse que ela a aquecesse, porque, no momento, ela parecia um cubo de gelo, rígida e inflexível. 

Quando os próximos fogos explodiram, ela ergueu a cabeça para olhá-los, o rosto congelado numa expressão maravilhada. Talvez fosse por isso que Lauren a considerou muito mais fascinante do que o espetáculo pirotécnico no céu. 

– Você arrumou isso também? 

Camila suprimiu um sorriso. 

– Quando você menciona “crianças” e “11 de setembro”, é incrível como as pessoas podem ser generosas. 

Camila encarou-a por um instante e foi o suficiente para fazê-la se contorcer. À medida que o corpo dela ganhava calor, a necessidade de protegê-la foi substituída por algo mais forte e primitivo. Lauren andava sobre uma corda bamba. Tinha se esquecido como era se envolver num turbilhão de emoções, o coração batendo acelerado e o sangue correndo rápido. Seria aquilo preferível à segurança calma e reconfortante que Meredith lhe oferecia? 

Lauren não tinha certeza. 

– É incrível como você tem sido generosa – ela pôs uma mão no rosto dela, e os olhos de Camila arregalaram-se em surpresa. – Você passou os últimos meses organizando tudo, e sei que sacrificou grande parte do seu tempo livre, pra não mencionar suas férias. 

Camila estava imóvel nos braços dela, e ela pensou que pudesse estar em choque. Queria saber se ela estava com medo, assim como ela estava, de romper a barragem que elas tinham construído tão cuidadosamente. Ambas tinham feito pactos separados com o diabo, prometendo não ultrapassar aquele limite invisível se aquilo lhes permitisse fazer parte da vida uma da outra. Elas tinham cometido o erro de ser amantes um dia, e aquilo não tinha acabado bem. 

– Eu gosto de ajudar… – a voz dela era só um sussurro, as palavras sumindo quando a próxima série de fogos começou. Dessa vez ela não os viu, apenas olhou para Lauren enquanto seu rosto refletia as cores das explosões no céu. Ela passou de laranja para verde e para vermelho, e ela umedeceu os lábios secos, tentando decidir o que fazer em seguida.

Lauren nem considerou soltá-la. 

– Camila… – ela murmurou, tão baixo que ela não o ouviu. Lauren não sabia se queria que ela a ouvisse. Ela abaixou a testa até encostar na de Camila, e os olhos dela arregalaram-se quando viram sua expressão. Ela pensou em sua analogia do animal selvagem outra vez. Camila nunca seria dela, mas era suficiente vê-la de longe e saber que ela estava segura e feliz. 


Notas Finais


Beijinhos até amanhãaa
SE PREPAREM PARA O PRÓXIMO


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