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História Sempre Foi Você - Hope


Escrita por: Barbarideadi

Notas do Autor


MAIS UM CAPITULO PRONTINHO PRA VOCÊS
Boa leitura

Capítulo 29 - Hope


9 de fevereiro de 2010 

Camila não sabia como tinha acabado a noite, sentada no canto de um bar sujo, servindo-se dos restos de uma garrafa de vinho. Sua taça estava bem usada, manchada de batom, com marcas de dedos e gotas vermelhas na beirada. Ela fez um sinal para o barman trazer outra,pensando que podia muito bem terminar o dia como havia começado. 

Completamente acabada. 

Ela nem tinha percebido o significado da data até estar no metrô, erguendo-se com a ponta do pé para agarrar um apoio e não voar para cima de outro passageiro. O homem ao seu lado estava lendo o The New York Times, dobrado para não perturbar ninguém, e foi então que os olhos dela tinham caído sobre os números no canto da página. 

Fazia anos desde a última vez que ela tivera um ataque de pânico, mas Camila reconheceu os sintomas imediatamente. Seu coração acelerou, sua respiração tornou-se superficial, e ela sentiu que estava prestes a desabar e convulsionar no chão empoeirado do trem. Parecia o pior lugar do mundo para se ter uma convulsão. Essa ideia era o único fio de sanidade que podia agarrar antes que o metrô chegasse à próxima parada. 

Ela nem se importou em saber onde estava, só saiu correndo assim que as portas se abriram. Saiu da plataforma e entrou em pânico outra vez, quando o bilhete não abriu a cancela, de primeira. Suas mãos estavam tremendo, a náusea revirava seu estômago; ela só tinha se afastado alguns passos da saída quando se curvou e manchou o chão com os restos do seu café da manhã. 

O rush da manhã continuou ao redor dela. As pessoas entrando na estação mantiveram distância, imaginando que ainda estava bêbada da noite anterior ou que era algum tipo de louca, murmurando consigo mesma enquanto se encostava na parede suja. Ela era só uma pequena inconveniência – que eles provavelmente esqueceram quando entraram no trem. Apenas mais uma entre os milhares de excêntricos que povoavam a grande cidade. 

Em momentos como aquele, Camila queria estar em Londres. Ela poderia ter ligado para Natalie ou Shawn, talvez pegado um táxi até a casa de Clara e se jogar nos braços dela. Clara teria lhe dado chá e abraços até que Camila tivesse chorado tudo que tinha para chorar, devidamente preparada para enfrentar o dia. 

Em vez disso, ela estava isolada lá, em Manhattan, com um celular cheio de números de colegas de trabalho e conhecidos, mas nenhum amigo com quem conversar ou pedir ajuda.  Ninguém que entendia exatamente por que esse dia era tão difícil para ela. 

O tempo passou mais rápido do que ela imaginou ser possível. Café da manhã numa lanchonete e horas em uma livraria foram seguidas por um jantar antecipado no canto de um bar sujo, no Soho. Como tinha chegado lá ela não sabia, mas se sentia mais em casa naquela parte da cidade do que em qualquer outra. 

Ela passou as últimas horas da noite se afogando numa taça de vinho e rejeitando os caras que achavam que ela seria uma conquista fácil. Mesmo no seu estado inebriado, a última coisa que queria fazer era tentar esquecer sua mãe com uma transa sem significado. 

E aqui estava ela, fechando o ciclo, pensando sobre os últimos cinco anos e como ela tinha fodido completamente sua vida. Olhou para o relógio tentando descobrir – através da névoa do álcool – que horas seriam em Londres. Era tarde demais para ligar para Clara ou Taylor. Ambas já estariam confortáveis e quentinhas em suas camas. 

Restava apenas outro número. Ela discou antes de pensar, como se tivesse deixado todo o bom senso no fundo da última garrafa. Só precisou esperar dois toques antes de ela atender. 

– Camila? – a voz de dela era suave e calorosa, com uma nota de preocupação. 

– Lauren – ela tomou outro gole de vinho. – Só queria ligar pra dizer como sinto muito… 

– Você está bem? 

Ela podia ouvir vozes ao fundo. Camila mordeu o lábio e se perguntou se tinha interrompido alguma coisa, talvez afastado Lauren de um jantar com Meredith. 

– O jeito como deixei você depois da morte da minha mãe. Não devia ter sumido sem explicar por quê. Pensei nisso o dia inteiro, e…

– Deus, eu nem tinha percebido que dia é hoje. Sinto muito… – Lauren parecia agitada, e Camila podia visualizá-la passando a mão no cabelo grosso. Agora ela era provavelmente a única outra pessoa pensando sobre o dia da morte da sua mãe, cinco anos atrás. 

Ela riu sem humor. 

– Eu não devia ter ligado. Sei que você está com Meredith agora, e estou muito feliz por vocês terem se encontrado. Você merece ser feliz – as palavras saíam arrastadas da boca dela. 

– Você andou bebendo? 

– Um pouquinho. Mas vou deixá-la voltar pra sua noite. 

– Você está em casa? – Lauren perguntou. 

– Estou num bar. 

– Sozinha? 

– É. 

– Merda – ela xingou baixinho. – Vou mandar Jack levá-la pra casa. Onde você está? 

Ela olhou ao redor procurando o nome do bar, não encontrando nada do lado de dentro. Então olhou para baixo, viu o apoio de copo e sorriu.  

– Murphy’s. No Soho. 

– Não saia daí – as palavras eram uma ordem, e ela levou muito a sério. Não queria nem mais uma gota do clarete na garrafa à sua frente. Tudo o que desejava era o calor do seu edredom e o esquecimento purificador do sono. 

Ela ficou um pouco mais sóbria durante os quinze minutos de espera. O bartender trouxe a conta e um copo d’água e ela o bebeu de uma vez, esperando limpar seu organismo do álcool. Daí, ela entrou no bar, carregando um casaco de lã preto sobre o braço. 

– Lauren! – assim que a viu, ela pulou de susto. – Achei que fosse mandar Jack.  

– Decidi vir com ele – Lauren respondeu em voz baixa, os olhos examinando o rosto dela com preocupação. – Foi uma boa desculpa pra sair mais cedo do jantar. 

Ela parecia cansada. Na pouca luz do bar, ela podia ver linhas ao redor dos seus olhos, secas e profundas. Camila mordeu o lábio, percebendo que Lauren só estava sendo gentil. 

– Meredith está com você? – ela engoliu com força. Saber que Lauren estava com outra mulher era uma coisa, ver as duas juntas quando ela estava num ponto abaixo era outra. 

– Ela está visitando os pais. Era só eu e trezentos e cinquenta membros da elite novaiorquina – Lauren fez uma careta. – Então acredite, você me fez um favor – ela pegou o casaco de Camila do gancho ao lado da cabine. – Agora deixe-me levá-la pra casa. 

Camila ergueu-se e se virou, colocando os braços nas mangas enquanto Lauren segurava o casaco, permitindo que ele o acomodasse sobre seus ombros. Ela manteve as mãos em Camila por um tempo um pouco longo demais. 

 

 

Soltando um pouco de ar, Lauren virou-se e ajudou-a a fechar os botões grandes do casaco. Não era como ela tinha imaginado terminar a noite. Tinha planejado um jantar agradável e civilizado, talvez seguido por um whisky ou dois, e então dormiria cedo. Em vez disso, estava ali. Seu corpo estava eletrizado, como se vê-la a revivesse. Seus nervos a apunhalavam como milhares de pequenas agulhas. 

Ela hesitou um pouco antes de pegar a mão de Camila. Mas então viu dois dos caras no bar olhando-a com decepção em seus rostos, e sentiu a necessidade de marcar território – mesmo que ela não a pertencesse. 

– Você realmente não precisa fazer isso – ela murmurou, tropeçando no próprio sapato. Lauren tentou reprimir uma risada, que saiu abafada, fazendo-a olhar para ela indignada. – Isso é engraçado pra você? 

– Um pouco – Lauren admitiu, colocando o braço sobre os ombros dela para levá-la até a porta. Ela ficava virando para a direita, como um carro cuja direção estava um pouco desalinhada. 

–Vou tentar me conter. 

– Que bom, porque não quero bater em você. 

– Em qual de nós duas você vai bater? 

– Nas duas – ela resmungou, tentando desanuviar a visão. 

Camila tropeçou nela outra vez e Lauren a segurou, decidindo não apontar o óbvio. Quando chegaram ao carro, ela estava com sono, e enfiou a cabeça na jaqueta de Lauren, sua voz lânguida enquanto continuava a falar um monte de bobagens. 

– Você se lembra de quando a gente se conheceu? – ela perguntou. – Você estava toda elegante no seu terno, e eu era um desastre. 

– Não é assim que eu me lembro – Lauren estava murmurando no cabelo dela, inspirando o aroma do xampu. – Você estava super-sexy naquele uniforme de garçonete – lembranças do cabelo preto e olhos maquiados assaltaram os sentidos dela. – Mal podia esperar pra te mostrar meu PlayStation. 

Ela riu, e então deu um soluço. 

– Isso é uma metáfora? 

– Não tenho certeza – Lauren admitiu, passando o braço ao redor dela e esfregando o braço dela com o dedo. 

– Me lembro de ter ficado impressionada com seu… ardor. 

Jack parou o carro. Mesmo às onze da noite de uma terça-feira, o trânsito estava intenso. Lauren se perguntou se Camila conseguiria ficar acordada durante o trajeto. 

– Vou considerar isso um elogio. 

– Deveria mesmo. 

O silêncio preencheu o carro, e Lauren deixou a cabeça cair para trás, pensando no que fazer em seguida. Ela queria ter certeza de que Camila chegaria bem ao apartamento. Lauren sabia que aquele dia, entre todos, era muito difícil para ela. Se pudesse colocá-la na cama e ver que estava dormindo, sentiria-se melhor. Tentou conter a raiva que sentia de si mesmo e dos amigos dela por deixá-la enfrentar aquilo sozinha. 

Vinte minutos depois, Jack estacionou fora do prédio dela, no Upper East Side. Camila estava tão quieta que Lauren pensou que ela tivesse adormecido. Mas assim que o carro parou, ela ergueu a cabeça e a olhou. 

– Obrigada pela carona. 

Lauren ficou confusa por um momento, então percebeu que ela pretendia entrar sozinha. Por algum motivo, Lauren não podia aceitar aquilo. 

– Entro com você pra ver se você está segura. 

Ela riu. 

– Acho que os drogados e assassinos já foram pra casa. A coisa mais assustadora vai ser a sra. Van Kemp encarando meus sapatos com desprezo e me falando que estou rebaixando o nível do prédio de novo. 

– Faça isso por mim. 

Ela assentiu rapidamente, e se atrapalhou tentando soltar o cinto de segurança. Lauren mordeu o lábio para não rir, inclinando-se para soltá-lo para ela. 

– Pare de rir de mim – ela deu um tapinha de leve no braço dela. – Não é engraçado. 

Lauren passara tempo o suficiente no apartamento do pai para conhecer o porteiro, e deu um aceno para ele enquanto praticamente carregava Camila até o elevador. Através do grosso casaco de inverno, ela parecia magra e vulnerável, e Lauren se perguntou se protegê-la era só uma reação natural ao seu tamanho. Talvez, como acontecia com Taylor, quisesse afastá-la do mundo e mantê-la a salvo.  

A ideia animou-a, e Lauren pegou a chave na bolsa dela e enfiou-a na fechadura. Acendendo as luzes com uma mão, apoiou Camila com a outra, o braço ao redor da cintura dela. Ela chutou os sapatos para longe, que caíram no chão com um baque. 

– Quer investigar o apartamento pra ter certeza de que Ted Bundy não está escondido na máquina de lavar? – um brilho divertido passou em seus olhos. 

Lauren abriu um sorrisinho antes de tirar o casaco dela e pendurá-lo no armário do corredor. 

– A coisa mais assustadora com que você tem que se preocupar é a ressaca que vai ter amanhã de manhã. 

Lauren foi até a cozinha e pegou um copo alto do armário, encheu de água, levou ao quarto de hóspedes e colocou no criado-mudo. 

– Onde você guarda os analgésicos? – perguntou, tentando não olhar enquanto Camila soltava o cabelo, que caiu sobre os ombros. – Vou pegar uns pra você e depois vou embora. 

Camila piscou no espelho, o olhar cruzando com o de Lauren. 

– No armário, em cima da pia. 

Lauren entrou no banheiro, surpresa com a falta de cosméticos e produtos de beleza. Ela apanhou o frasco de ibuprofeno e levou até a cama.  

Camila estava sentada sobre as cobertas, a cabeça apoiada na cabeceira. Lauren abriu o frasco, tirou dois comprimidos e colocou gentilmente na boca dela. Erguendo o copo aos seus lábios, incentivou-a a beber, incapaz de não passar uma mão no cabelo dela enquanto ela engolia. 

– Isso é tão bom – os olhos dela se fecharam, enquanto Lauren acariciava sua cabeça. – Você não pode ficar um pouquinho? 

– Você precisa dormir – Lauren pôs a mão atrás dela e abaixou seu zíper. O gesto pareceu íntimo demais, e ela tentou reprimir sua reação à proximidade.

– Vai se sentir melhor depois de uma boa noite de sono. 

– Você é tão gentil – a voz dela era só um sussurro, e Camila aproximou-se dela, enfiando a cabeça no espaço entre seu ombro e pescoço. – E cheira tão bem. Você sempre cheirava bem, até de manhã. É uma das coisas que mais sinto falta. 

– Sente falta do meu cheiro? – Lauren tentou transformar a frase numa piada, mas ela começou a tirar o vestido.

Lauren ficou imediatamente dura. 

– Feche os olhos, preciso me trocar – a ordem era bastante fraca, e veio tarde demais. 

Porém, Lauren obedeceu ao pedido, apertando as unhas nas palmas das mãos, tentando se impedir de tocá-la. Se visse o arco macio e pálido dos seios dela, estaria perdida. 

A cama ondulou enquanto ela tentava se livrar das roupas. Lauren ficou tão imóvel quanto podia, lutando contra a vontade implacável de abrir os olhos. Será que Camila ainda era como ela se lembrava, com pele macia e curvas suaves? Será que os últimos cinco anos tinham-na mudado no exterior, além de no interior? 

Lauren nunca tinha pensado que trairia. Estava noiva de uma mulher que confiava nela, e queria merecer aquela confiança. Os pensamentos rodopiando na sua cabeça eram completamente indefensáveis, e ela se sentia um merda. 

– Estou decente – Camila deitou-se na cama, o cabelo espalhado sobre o travesseiro branco. – Obrigada por tudo. 

– De nada – mesmo enquanto falava, Lauren podia ver que ela estava começando a adormecer, as pálpebras agitando-se e seu rosto assumindo uma expressão tranquila. Ela estendeu a mão e tirou o cabelo dos olhos dela, sentindo a pele macia com os dedos. Ela suspirou suavemente, e ficou ainda mais dura enquanto encarava os lábios ruborizados e inchados de Camila.  

Só um gostinho. 

Ela inclinou-se e roçou os lábios na boca de Camila, e sua respiração suave banhou a pele de dela. Camila abriu os olhos e encarou-a. Então passou os braços ao redor do seu pescoço e puxou-a para um beijo feroz. Cada centímetro de Lauren despertou, o prazer percorrendo todo o corpo. 

Ao mover a mão pelo corpo dela e passar os dedos contra um seio até ela começar a gemer, Lauren se permitiu sentir a emoção mais assustadora de todas. 

Esperança.


Notas Finais


Amanha posto mais... talvez
Desse capitulo em diante, o livro promete muitas emoções, então, se preparem.


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