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História Sempre Foi Você - Priorities


Escrita por: Barbarideadi

Notas do Autor


voltei com mais um tiro pra vocês ♥
Boa Leitura

Capítulo 35 - Priorities


18 de maio de 2012 

A chuva estava caindo sobre o telhado, batendo como cascos de mil cavalos. Camila suspirou alto, vendo Matty correr de um quarto para outro, desesperado para gastar um pouco de energia. A tempestade de verão tinha começado de repente. O amarelo-azulado do céu
matinal foi rapidamente tingido de cinza, as nuvens ficando mais pesadas até que não puderam mais conter a chuva. Não houve uma queda suave de gotas na janela; a tempestade começou como pretendia continuar: dura e forte. 

Matty não era uma criança de ficar dentro de casa. Ele precisava de ar fresco e grama e areia. Amava explorar, colher flores e correr atrás de animais, gritando de frustração sempre que eles fugiam de seu aperto. Ficar preso dentro de casa era meramente uma contenção. E a pressão da energia não gasta pareceu crescer tanto que Camila sentiu que poderia explodir o telhado da casa. 

Ele estava batendo na porta. Lauren estava lá dentro, trabalhando em seu laptop. Ela tinha murmurado algo sobre uma videoconferência durante uma das conversas tensas delas. Camila puxou o braço de Matty, pedindo silêncio enquanto tentava afastá-lo. 

– Não! – o rosto de Matty comprimiu-se de raiva. Camila engoliu duro e juntou sua coragem de mãe. 

– Saia de perto da porta, Matty – o tom dela foi firme. Era algo que tinha aprendido: se você era firme, era ouvido. 

– Não – Matty balançou a cabeça e virou-se de novo, batendo os punhos na madeira. Camila suspirou e ergueu-o, afastando-o da porta. Por um momento, Matty encarou-a com a boca aberta, como se estivesse surpreso por ela ter ousado desafiá-lo. Seus lábios tremeram e seus olhos se apertaram, enquanto um lamento alto escapou da sua garganta. 

Ela tentou se afastar o mais rápido possível, mas Matty tinha pulmões surpreendentemente fortes. Alguns segundos depois, Lauren abriu a porta, aparecendo no corredor, encarando Camila e Matty com um olhar questionador. 

– Ele está bem? – Lauren disse com gentileza, enquanto olhava o filho. 

– Sinto muito, não queria perturbá-la. Ele está enlouquecendo de tanto ficar em casa. 

Aquilo a estava matando lentamente. Um olhar aqui, uma palavra polida ali. Toda interação com Lauren era uma tortura, desde as manhãs na cozinha alimentando Matty até as noites, quando Lauren passava por ela e ia direto para o quarto. 

Camila estava desesperada para conversar. Estava desesperada para ouvir. Não importava se ela quisesse desabafar, dizendo o quanto a odiava – ela podia gritar o quanto quisesse. Camila suportaria gritos muito melhor do que aquela polidez intensa e inata. 

Lauren estava lá fazia cinco dias. Cinco dias pisando em ovos sobre o futuro delas. Era como se ela soubesse que isso seria uma tortura maior do que gritos e repreensões. 

E era. 

Matty começou a lutar nos braços dela, querendo ser posto no chão, desesperado para correr até a papa. Lauren moveu-se na direção deles, um sorriso curvando os lábios, e quando estava a apenas alguns passos deles, Matty estendeu os bracinhos gorduchos, contorcendo-se no aperto de Camila. 

– Pa – ele estava quase gritando. – Papa! 

Camila congelou. 

O peito dela inflou, pressionando as costelas até ela achar que iria explodir. Ela olhou para Lauren, notando que os olhos dela estavam úmidos. Ela queria enxugar as lágrimas antes que elas se formassem. 

– Ele me chamou. 

Camila assentiu, lágrimas escapando dos próprios olhos. Lauren pegou Matty nos braços, apertando-o com força contra o peito e segurando a cabeça do filho em sua mão larga. 

– Pode dizer de novo, Matty? – ela sussurrou. – Diga “papa”. 

Matty ergueu os olhos para ela, os olhos brilhando quando percebeu que era outro jogo. Ele era bom em jogos. 

– Papa – suas palavras foram recompensadas com um gritinho de Camila e um beijo de Lauren. Elas olharam-se de novo, e Camila notou uma suavidade que nunca tinha visto antes nela. Camila queria se envolver naquilo. 

– Que menino esperto – ela estendeu a mão e acariciou a cabeça dele, sentindo as mechas suaves na sua pele. 

Lauren continuou a encará-la, e Camila sentiu o rosto ficar mais quente. Ela era atraída por Lauren como um ímã, seus olhos fixos nos dela. Emoções borbulharam dentro dela como uma garrafa de champanhe recém-aberta. Ela não estava perdoada – sabia disso e, pior, podia entender – mas não podia esmagar a esperança de que um dia pudesse ser. 

– Preciso terminar minha conferência – Lauren estava engasgado de emoção. Havia um tique no seu maxilar, e ela queria pôr a mão em torno de seu rosto e aliviar a tensão. 

– Eu fico com ele – Camila ofereceu, estendendo os braços. Matty lutou e agarrou-se em Lauren, fazendo ambas sorrirem. 

– Ele pode vir comigo, se você não se importar. Só deve levar alguns minutos – elas tinham voltado a ser educados. 

Um passo de cada vez, ela se lembrou. 

– Sem problemas. Estarei na cozinha se precisar de mim – me convide pra ir com vocês. Por favor, me convide. 

– Estamos bem – virou-se e voltou para dentro da orangerie, abrindo a porta para que ele e Matty pudessem entrar. Camila mordeu o lábio inferior enquanto via Lauren indo embora, lembrando-se da mensagem de texto que recebera de Taylor naquela manhã. 

Dê um tempo a ela. Ela vale a pena.

 

Quando a noite caiu, o corpo de Camila doía de tanto abrir sorrisos educados e de andar na ponta dos pés com Lauren. Nos últimos dias, elas tinham caído numa rotina de jantar com Matty, dar banho nele e colocá-lo para dormir. Lauren participava avidamente, seu rosto brilhando enquanto brincava com o filho, correndo pela casa e evitando a questão que ambos sabiam estar lá. 

– Ele está dormindo – Lauren sussurrou quando saiu do quarto de Matty. 

Camila sorriu e passou por ela, sabendo que Lauren iria direto para o quarto. Ela parou no berço de Matty e inclinou-se para acariciar o rosto tranquilo dele, seus dedos se demorando sobre a pele gordinha das suas bochechas. 

– Boa noite, meu anjo – ela beijou os dedos médio e indicador antes de pressioná-los contra a testa dele. A hora de dormir sempre era melancólica; parte dela ficava aliviada, sabendo que era o fim de um dia correndo atrás dele e que enfim ela teria uma noite de descanso. A outra parte sentia falta dos sorrisos e risadas dele, e da sensação dos seus braços amorosos envolvendo-a com carinho. 

Ela saiu silenciosamente do quarto, fechando a porta atrás de si. Estava tão perdida em pensamentos que não percebeu que Lauren ainda estava lá, encostada na parede. Ela tinha enfiado as mãos nos bolsos, e os tendões dos braços estavam tensos e definidos. 

– Você quer conversar? 

O estômago de Camila se revirou. Era o momento pelo qual ela vinha esperando a semana toda, mas agora que tinha chegado a hora, ela estava tremendo de medo. 

Ela assentiu, incapaz de falar por um momento. Lauren desencostou da parede e foi para a sala de estar. Camila a seguiu, sua mente num turbilhão de pensamentos e preocupações. 

Havia uma garrafa de vinho tinto aberta na mesa de centro, junto com duas taças meio cheias. Camila se perguntou se era uma boa ideia beber com Lauren por perto. Ela já sobrecarregava seus sentidos até ela achar que explodiria. Quão pior seria enfrentá-la com a coragem falsa que o vinho lhe daria? 

– Achei que isso poderia ajudar – Lauren ergueu uma taça e ofereceu-a para ela. Camila tomou-a pela haste, sentindo a fragilidade do cristal. Ela se perguntou se o quebraria se ficasse ainda mais tensa. 

– Obrigada – Camila murmurou, sentando-se à frente dela. A mesa de centro estava entre elas, uma barreira bem-vinda. Levando a taça aos lábios, ela tomou um gole, deixando o fluido em temperatura ambiente dançar em suas papilas gustativas antes de engolir. 

Lauren limpou a garganta. 

– Nosso filho é lindo. 

Camila assentiu de novo, o nó na garganta crescendo. 

– É mesmo. 

– Ainda estou arrasada com tudo que aconteceu, mas precisamos nos concentrar em Matty – Lauren estava passando o dedo pela beirada da taça. – A felicidade dele é a coisa mais importante. 

– Só me importo com isso – ela concordou, com a voz fraca. 

– Você é uma mãe maravilhosa, Camila. Não quero tirá-lo de você. 

Ela sentiu que podia respirar pela primeira vez desde muito, muito tempo. 

– Mas preciso ficar com ele também – Lauren acrescentou, num sussurro. – Agora que o conheci, não quero me afastar dele. 

– Eu sei – o coração dela se encheu de amor. – Quero que fique com ele. Você é a papa dele e ele a ama – estava claro para ela agora, pelo modo como Matty olhava para Lauren com adoração. – Nunca o vi aceitar alguém tão rápido. 

Lauren virou a taça antes de colocá-la na mesa. 

– Mas o fato é que vivemos em países diferentes. Em continentes diferentes, pelo amor de Deus. 

Lá estava outra vez: a barreira que assombrava havia doze anos, agora com maiores complicações. 

– Podemos dar um jeito – Camila argumentou, sem saber a quem estava tentando convencer. 

– Se estivermos ambas dispostas a tentar.  

Lauren inclinou-se para a frente, e, por um momento, ela desejou que a mesa de centro desaparecesse. 

– Estou disposta.  

A boca de Camila estava seca demais para engolir, e ela podia sentir o coração acelerando quando Lauren manteve os olhos fixos no seu rosto. Os olhos dela estavam escuros na luz ambiente do abajur, mas o halo verde que os cercava a deixava fascinada. 

– Matty e eu podemos nos mudar para Nova York – a boca dela se abriu antes que seu cérebro notasse o que estava dizendo, mas ela não se arrependeu. – Eu procuro um apartamento e a gente pode dividir a guarda dele. 

As sobrancelhas de Lauren se ergueram em surpresa. 

– Você faria isso? 

Camila estava quase tão chocada quanto ela, mas assentiu devagar. 

– Sim, faria. Matty merece ver você não apenas nos feriados, mas à noite e nos fins de semana. Não consigo pensar em outro jeito. 

– Não sei o que dizer. 

Ela abriu um pequeno sorriso para Lauren.  

– Não precisa dizer nada. Estou fazendo isso tanto por mim quanto por vocês dois – ela inclinou-se e pôs a taça na mesa. No mesmo instante, Lauren pegou sua mão. Ela prendeu a respiração quando sentiu o contato, o calor da mão dela e sua pele mais áspera. Era a primeira vez que se tocavam em dois anos. As lembranças invadiram sua alma até se tornarem uma dor constante no peito. 

Ela encarou a mão de Lauren envolvendo a dela, o matiz quente da pele dela contrastando com sua própria pele, mais pálida. Respirando fundo, ela se obrigou a erguer os olhos, querendo ver a emoção que estava por trás do gesto. 

Quando, por fim, olhou para o rosto de Lauren, ela estava olhando-a de volta. Sua expressão era terna. Camila sabia que ela só estava agradecido pela oferta, mas isso não impediu seu coração de acelerar quando viu seu sorriso gentil e as linhas ao redor dos olhos. Os anos não haviam diminuído a beleza dela; ela parecia ter ficado mais bonita com o tempo, e pelo modo como os sentimentos estavam despejando dela, ela soube de um fato inegável. 

Ela ainda era apaixonada por Lauren Jauregui. 

 

Camila tentou não fazer uma careta enquanto atravessava a pista, mas foi uma batalha perdida quando viu a aeronave branca esperando por eles. Estava mais perto do chão do que estava acostumada, a seis passos de metal galvanizado, e as cinco vigias à sua frente brilhavam. 

Ela virou-se para olhar Matty, que estava agarrado ao pescoço de Lauren com um braço, o outro apontando para o avião. 

– Isso? – ele perguntou, e Camila abriu um sorriso. 

– É um avião. Vai nos levar para o céu – ela acariciou a bochecha dele. 

– Até Londres – Lauren acrescentou. 

Ela voltou a franzir as sobrancelhas. 

– Tudo bem? – Lauren perguntou, notando como ela se retraiu. 

Camila assentiu. Ela ficaria bem quando a viagem a Londres chegasse ao fim. Estava com medo de ver Clara e Michael e estava cogitando ficar no hotel enquanto Lauren levava Matty para conhecê-los. Ela sabia que era covarde, mas aquele encontro só poderia terminar de um jeito. 

Em lágrimas. 

– Acho que essa coisa só vai nos levar até Londres – Lauren bateu no avião, emitindo um som metálico. – Precisamos embarcar num avião normal para Nova York. 

– Que terrível – Camila abriu um sorrisinho. – Odeio voar como pobre. 

Os lábios de Lauren curvaram-se levemente para cima. 

– Não é de você que eu estou com pena, e sim dos outros passageiros, quando soltarmos o nosso menino no avião. 

Camila fechou os olhos e tentou imaginar Matty correndo pela primeira classe, derrubando bebidas e perturbando executivos. Talvez uma parada de três dias em Londres não fosse uma ideia tão ruim assim. 

Eles subiram os degraus. Camila tirou Matty dos braços de Lauren enquanto ela parava para conversar com o piloto, discutindo o plano de voo e a estimativa de chegada. Entrando na cabine principal, ela perdeu o fôlego – era muito diferente da classe econômica em que normalmente viajava. As cores brilhantes da companhia aérea tinham sido substituídas por couro bege discreto e verniz escuro. Elas criavam um efeito tranquilizador e, quando se sentou com Matty no colo, ela se permitiu relaxar. 

– Vamos decolar em dez minutos, eles estão fazendo a verificação final – Lauren explicou quando entrou na cabine. Matty imediatamente virou a cabeça quando ouviu a voz da papa, os olhos procurando Lauren enquanto ela se aproximava. – Ei, garoto, está animado pra voar? – ele olhou para Camila. – Você trouxe uma garrafa para as orelhas dele? 

– Ali – ela apontou para a mesa à frente deles. – Enchi de água.

Ambos temiam que Matty tivesse herdado os problemas auditivos de Camila. Ela tinha dificuldades sempre que voava, e a ideia de que seu filho enfrentaria a mesma dor era demais para suportar. Elas tinham trazido garrafas e chupetas, esperando que ele pudesse chupar e aliviar a pressão nos canais auditivos. 

– Se suas orelhas doerem, eu fico com ele – Lauren prometeu, ajudando Camila a fechar a extensão do cinto de segurança ao redor de Matty. Ele era pequeno demais para ficar sozinho num assento. 

– Estou torcendo para que não doam, já que é um voo mais curto. É com o de sexta que tenho que me preocupar. 

Lauren esfregou o braço dela e Camila ficou tensa. Ela não queria que Lauren visse como sua gentileza a afetava. 

– Veremos. Estarei aqui para ajudar. 

Novamente, Lauren demorou mais para passar pela imigração. Camila aproveitou para trocar a fralda de Matty e se recompor, tentando não olhar muito de perto seu rosto cansado no espelho enquanto aplicava gloss. Quando emergiram, Lauren os esperava, os olhos tão cansados quanto os de Camila. 

– Se o faz sentir-se melhor, quem vai ser interrogada em Nova York serei eu. 

– Você tem passaporte americano – Lauren lembrou. 

– Eu tenho, mas Matty ainda não. 

Lauren tirou o filho dos braços dela, colocando-o sobre o carrinho que estava empurrando. 

– O que você pôs na certidão de nascimento dele? – seu tom era leve, mas ela podia sentir a tensão por trás da pergunta. 

– Só o meu nome – ela tinha registrado Matty no consulado na França. 

– Precisamos mudar isso também – Lauren franziu a testa, olhando para Matty. – Ele precisa ter meu nome lá. Vou falar com meus advogados. 

Camila olhou para ela, vendo a preocupação em seu rosto. Obviamente, aquilo era importante para ela. 

– É claro. Precisamos arranjar algum tipo de visto para ele, se formos ficar em Nova York. 

– Lisa já está providenciando. Tudo deve ficar pronto na quinta. 

Lauren montou o carrinho de Matty e Camila ergueu-o gentilmente, fechando o cinto no colo e fazendo-o rir quando a alça tocou suas pernas. Ela não tinha perguntado a Lauren onde ficariam ou como chegariam lá, mas de repente estava desesperada para saber.
Eles iam para Londres. Era a cidade dela, o terreno dela. Ela estava encantada por estar em casa, mesmo que só por alguns dias. 

– Onde vamos ficar? – ela manobrou o carrinho de Matty sobre o chão polido. Lauren acompanhou o ritmo dela, empurrando o carrinho de bagagem. Estava empilhado com malas cheias de roupas e brinquedos e a parafernália normal de bebês. 

– Reservei uma suíte para a gente no Dorchester – Lauren disse. – Com dois quartos. Pedi que um berço fosse colocado no seu. 

Camila sorriu. Ela não gostava da ideia do filho sozinho num lugar estranho. Era muito melhor tê-lo com ela. 

– Obrigada por arranjar tudo. 

Lauren encarou-a por um momento, permitindo que um sorriso se abrisse em seus lábios. O coração dela parou de bater por um momento. 

– Sou eu quem deveria agradecer. É você quem está deixando tudo e se mudando milhares de quilômetros. 

– É a coisa certa a fazer – Camila disse simplesmente. Lauren apertou a mão dela, que estava segurando o carrinho. Ela prendeu a respiração com o gesto inesperado. 

– Obrigado mesmo assim – Lauren sussurrou. Ela ergueu a mão e retribuiu o aperto. 

Elas estavam no fim da passarela quando o sorriso de Lauren se desfez e sua boca se abriu. Ela parou de andar, olhando para Camila com preocupação, e ela sentiu o coração acelerado. 

Alguma coisa estava errada. 

– Pedi a eles para que não fizessem isso – Lauren apertava a mão dela com força, como se estivesse com medo de que ela fosse fugir. – Desculpe, Camila, prometo que estarei com você. 

Ela seguiu a linha de visão de Lauren. Um pouco afastados da multidão, encarando-os com a boca aberta, estavam Michael e Clara. Nenhum dos dois parecia particularmente feliz ou contente de vê-las, mas ela notou com alívio que suas expressões se suavizaram quando avistaram Matty. 

Ele estava se mexendo no carrinho, cantando para si mesmo. 

Toda esperança de evitar um confronto pareceu inútil. Ela deixou Lauren guiá-los até seus pais, o aperto em sua mão nunca relaxando. Ela respirou fundo, tentando manter sua respiração regular e controlar sua expressão para tentar esconder o medo. 

– Lauren! – Clara atravessou os últimos metros correndo e lançou os braços ao redor dela. Camila viu-a abraçá-la de volta, antes de se voltar para Michael e apertar sua mão. Todos se inclinaram para falar com Matty. 

Matty ficou assustado e abriu a boca, soltando um lamento alto. Clara e Michael pularam com o som, dando um passo para trás, abrindo um pouco de espaço para eles. Lauren podia sentir Camila ficar tensa ao seu lado, e quando olhou para ela, viu preocupação e agitação em seu rosto. Lauren a conhecia bem o bastante para saber que ela queria acalmar o filho, mas estava com medo de chatear os pais dela se entrasse na frente deles e tirasse Matty do carrinho. Ela apertou a mão de Camila e abaixou-se, abrindo o cinto sobre a cintura do filho, erguendo-o e murmurando palavras de conforto enquanto segurava sua cabeça. 

– Shhh, está tudo bem, está tudo bem. 

Matty enfiou o dedão entre os lábios e começou a chupar a ponta. Soluços silenciosos faziam seu peito subir ritmicamente, seus olhos fechados e apertados. 

– Mamãe… 

Lauren virou-se para Camila, que estendeu uma mão para a bochecha de Matthew, acariciando a pele macia de um modo reconfortante. 

Clara endireitou-se. 

– Camila. 

– Clara. Como está? – Matty agarrou a mão de Camila e ela apertou de volta. 

– Não sei. Realmente não sei – Clara balançou a cabeça. – Não sei dizer como estou me sentindo agora. 

– Eu sei. Estou bem furioso, Camila – Michael interveio, fazendo Clara pôr uma mão no ombro dele. Ele endireitou os ombros, encarando Camila com os olhos gélidos enquanto balançava a cabeça devagar. – No que você estava pensando? 

– Esperem um pouco… – Lauren deu um passo à frente, passando Matty para Camila. Ela segurou-o por baixo e ele jogou as mãos ao redor do seu pescoço, o peito ainda atacado por soluços. – O que aconteceu é entre Camila e eu. Não preciso que vocês intervenham por mim. 

Clara se pôs entre eles, sua expressão ilegível. 

– Ninguém está brigando, Lauren. Só queremos algumas respostas. Acho que temos esse direito. 

Atrás dela, Michael tinha o semblante de um homem no limite. Ele se mantinha imóvel demais, o rosto calmo demais. Pela primeira vez na vida, Lauren sentia que talvez tivesse que enfrentar o pai. Camila ficou em silêncio, e do canto do olho, Lauren a viu tremendo. Ela queria puxá-la para perto e apertá-la em seus braços. 

– Não é nem a hora nem o lugar para isso, Clara. Eu disse que encontraríamos vocês em casa justamente para evitar esse tipo de espetáculo – Lauren indicou o aeroporto lotado. Eles estavam sendo empurrados toda hora por passageiros tentando ir embora. 

– Só quero falar com Camila, ok? Não a mãe do seu filho ou a mulher que a abandonou, mas com a filha que eu conhecia – Clara enxugou uma lágrima. – Podemos tomar um café ou algo assim? 

Lauren virou-se para Camila, que assentiu depressa. Matty estava olhando para todos eles, o dedão ainda na boca. As lágrimas tinham secado, deixando uma trilha brilhante em suas bochechas, que se refletia na luz forte do aeroporto. 

– Clara, Michael, esse é Matty – Camila respirou fundo antes de dar um passo à frente. – Matty, essa é… – ela franziu a testa e olhou para Clara. – Como devo apresentá-la? 

– Não tenho certeza. Não tinha pensado nisso – Clara ficou parada por alguns instantes, mordendo os lábios enquanto pensava. – Minha mãe era vovó, então acho que serei também – ela virou-se para olhar Michael. Ele estava encarando Matthew, examinando seu cabelo e rosto. 

– Não há dúvida, ele é a sua cara, Lauren – ele estendeu um dedo e fez cócegas sob o queixo de Matty, fazendo-o soluçar com uma risada trêmula. – Acho que posso ser o vovô, então. 

– Matty, quer dizer oi para a vovó e o vovô? – Camila perguntou, balançando o filho nos braços. 

Matty tirou o dedão da boca com um som molhado e fez um biquinho. 

– Oi – ele acenou com a mão. 

– Garoto esperto – Lauren sorriu, acariciando os cabelo do filho. Matty sorriu e bateu palmas, sem vergonha e muito feliz.

– Ele é lindo – Clara puxou Lauren para um abraço apertado. – Estou tão orgulhosa de você, querida – Lauren afastou-se, corando de vergonha. Ela não sabia bem o que responder. 

– Ele é lindo mesmo – Michael concordou. – Camila, me desculpe pela raiva. Você precisa nos dar um pouco de tempo para superar tudo isso. 

– Você não tem que se desculpar – o sorriso dela sumiu. Ela estava apertando Matty contra o corpo como um talismã. – Sei que tudo isso é culpa minha e nem sei dizer o quanto quero compensar tudo isso pra vocês – ela olhou para Lauren e os olhares delas se cruzaram. 

– Não é tudo culpa sua – Lauren interveio. Ela desmontou o carrinho e colocou-o em cima das malas, então apertou o ombro de Camila. – Nós duas erramos em algum ponto ao longo do caminho. Eu devia ter ligado pra você, minha mãe devia ter me dito que você me ligou…

– Caroline sabia disso? – a voz de Michael estava gélida. Ele ergueu a mão e passou-a pelo cabelo. – Como assim?

– Ela disse a Camila que Meredith estava numa cadeira de rodas e que eu não ia deixá-la – Lauren contou ao pai. Apesar da movimentação no aeroporto, foi como se eles cinco estivessem suspensos numa bolha. As pessoas davam-lhes espaço, passando ao redor deles. 

Lauren não sabia se era por causa da raiva latente no ar ou pelo modo como todos estavam tão rígidos que parecia artificial. 

– Eu liguei para contar a Lauren sobre a gravidez – Camila explicou. – Mas ela não sabia que eu estava grávida. 

– Não interessa se ela sabia ou não. Ela interferiu… – Michael percebeu o que estava dizendo e parou. Do canto do olho, Lauren notou que Clara tentava esconder um sorriso. – Você conversou com ela sobre isso, Lauren? 

– Ainda não estou pronto para falar com ela. Mas quando falar, se falar, transmitirei seus cumprimentos. 

Matty virou-se nos braços de Camila até estar encarando Clara. Ele estendeu a mão e tocou o cabelo dela, fazendo-a rir quando puxou. Pela primeira vez, a expressão de Michael se suavizou, um meio sorriso passando sobre seus lábios. Lauren exalou devagar. 

Eles foram até um café perto da saída, tentando evitar os passageiros em trânsito. Camila e Clara iam à frente, Clara segurando a mão de Matty, um sorriso permanente no rosto. Todos sabiam que a provação ainda não tinha chegado ao fim, que nem todas as diferenças tinham sido resolvidas, mas Lauren podia ter esperança de que um dia fossem. 

Se ela olhasse para o futuro, não havia nada que desejasse mais do que estar cercada por todas as pessoas que amava.


Notas Finais


jaja posto mais um


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