História Sempre Foi Você - Night of Truths

O banho estava morno e perfumado e ela demorou para se convencer a sair. Seus olhos estavam relaxados e pesados; seus membros soltos, como se alguém tivesse tirado seus ossos. 

Ela inclinou-se e apagou as velas, finalmente se sentando. A água balançava ao redor da sua cintura, as gotas secando no seu corpo. Camila pisou no tapete felpudo, puxando uma toalha bege macia ao redor do peito. 

Ela escolheu um vestido preto simples; curto o suficiente para mostrar suas pernas ainda jovens da melhor maneira possível, mas longo o bastante para não constrangê-la, se é que Lauren notaria. Secou o cabelo rapidamente, cansada de se arrumar, e prendeu-o num coque antes de aplicar um pouco de maquiagem natural. 

Uma batida na porta do quarto a fez levantar do banco de veludo e atravessar o tapete macio do quarto. Ela olhou no espelho na parede ao lado da cama, notando como as sombras sob os olhos estavam profundas, e se perguntou se eram da exaustão ou um sinal da idade. 

Quando abriu a porta pesada de carvalho, viu Lauren usando uma camisa azul-clara e uma calça cinza-escura. Sua camisa estava aberta no pescoço e seus olhos percorreram a pele dela onde o pescoço encontrava o peito.

Ela engoliu. Com força. 

– Pronta? – o canto esquerdo da boca de Lauren curvou-se num sorriso torto. – Ou ia me convidar para um café? 

Camila deu uma gargalhada. 

– Vai ser esse tipo de encontro? 

– Sinceramente espero que sim – ela pegou a mão de Camila. – Mas primeiro preciso alimentá-la. 

Lauren levou-a para o corredor, e ela caminhou com pés descalços sobre o chão de madeira claro. Lauren ergueu as mãos e colocou-as sobre os ombros dela, os olhos correndo pelo seu corpo. 

– Você está linda. 

Ela sorriu. 

– Obrigada. Você não está mal também – repreendeu-se pelo eufemismo do ano. A camisa de algodão agarrava-se ao corpo de Lauren, revelando os músculos em todos os lugares certos. A calça caía dos quadris de um jeito delicioso. 

– Obrigada – parecia que Lauren queria dizer mais alguma coisa, mas, em vez disso, virou-se, guiando-a até a sala de jantar, o braço sobre os ombros dela. Camila inclinou-se para ela, e o corpo dela a esquentou através do tecido fino das roupas. 

Uma toalha branca e pesada tinha sido posta sobre a mesa. Os talheres estavam arrumados com cuidado, duas taças de vinho à frente de cada prato. No meio, um candelabro de prata segurava três velas, a haste refletindo a luz das chamas. Lauren puxou a cadeira dela e Camila sentou-se, deixando que ela a empurrasse para a frente. 

– Isso está incrível – Camila olhou ao redor da sala, os olhos arregalados de animação. – Você não tinha que fazer tudo isso. 

– Eu queria – a voz de Lauren estava embargada. Ela foi até o aparador e tirou os pratos do aquecedor. – Disse pra você que queria fazer isso direito. 

Quando se sentou à frente dela, Lauren estendeu a mão para uma garrafa de Merlot, enchendo a taça de ambos. Camila se perguntou quem Lauren pretendia deixar bêbada.

– Matty dormiu rápido? – Camila perguntou, erguendo o garfo e espetando um pedaço de cenoura. 

– Sim. Ele já estava dormindo antes que eu chegasse à segunda página do livro. Deve ter ficado esgotado no parque. 

Ou talvez soubesse que suas mães precisavam de um tempo a sós. 

– Você é tão boa com ele – ela olhou para cima. – Obrigada. 

Lauren deu de ombros. 

– Sou a papa dele. 

– Eu sei, me lembro de quando o concebemos – imediatamente, ela sentiu o rosto queimar. 

Queria se bater na cabeça pelo comentário inapropriado. Ela pegou a taça de vinho e inclinou a cabeça para beber um longo gole. 

– Eu também – Lauren respondeu suavemente. 

Camila não podia olhar para ela. Não podia. Mas seus olhos se ergueram como que puxados por ímãs, e ela mordeu o lábio numa tentativa de impedir o fluxo das palavras. 

– Estou tão envergonhada – ela admitiu, fazendo Lauren rir. 

– Não fique. Você sempre foi honesta. É uma das coisas que amo em você. 

Amo. Ela sentiu-se atordoada outra vez, querendo despejar a garrafa inteira de vinho na garganta. Seu corpo estava tenso em antecipação. 

– Sabe, eu estava pensando hoje, entre falar com o advogado e o psicólogo, que somos essencialmente um velho casal – Lauren ergueu a garrafa de Merlot e encheu as duas taças. – Moramos juntas, temos um filho juntas e passamos as noites discutindo até tarde sobre as coisas que nos preocupam – ela olhou-a através de cílios grossos e escuros. – Só falta o sexo. 

Camila cuspiu, babando um pouco de vinho. Ela ergueu o guardanapo para os lábios e enxugou a boca, querendo se esconder atrás dele. 

– E o anel – Lauren continuou. – Também falta o anel. 

– Não se esqueça do álbum de casamento. Podemos olhar e lembrar como nossas famílias brigaram e nos odiaram, e acabaram jogando pratos uns nos outros – ela sorriu para Lauren. – Nenhum casal está completo sem isso. 

Lauren ergueu as sobrancelhas. 

– Não estou brincando. Sei que temos muito o que resolver, mas pretendo me casar com você. Quero que você e Matty sejam Jauregui. 

Camila queria também. Queria tanto que quase não conseguia imaginar. Ela achava que poderia morrer se aquilo fosse tirado dela agora. Podia ver tão claramente: o anel em seu dedo, os beijos antes de Lauren sair para o trabalho, sua chegada em casa, ela pegando Matty nos braços, indo até ela e beijando-a até que ela ficasse sem fôlego. 

Os bebês. 

Ela precisava se acalmar. Estava se adiantando. Elas tinham que ir devagar – pelo bem de Matty e de cada uma. Nenhuma das duas deveria pular no fogo sem se preparar para a queimadura. 

– Eu gostaria que fôssemos seus – era uma noite de verdades. Camila não se esconderia mais atrás das suas inseguranças. A vida tinha lhe ensinado que isso só levava a problemas e tristezas. 

O sorriso de Lauren estava largo, seus olhos tão úmidos quanto os dela quando Lauren a olhou. Ela tocou a mão de Camila, correndo os dedos até seu pulso. Sua pele irrompeu em arrepios, os pelos curtos erguendo-se enquanto ela fechava os olhos, sentindo a intensidade da conexão. 

Elas terminaram a refeição, levando os pratos e talheres para a cozinha e enchendo a lava-louças juntos. De vez em quando, Lauren tirava algo dela, deixando a mão sobre a dela o suficiente para ela saber exatamente como se sentia. 

Era eletrizante. 

Quando terminaram, Lauren pegou as taças e a garrafa pela metade de vinho e levou-as para o sofá, colocando-as na mesa de centro e dando um tapinha no lugar ao seu lado. Seus olhos estavam escuros e intensos enquanto observava Camila, a expressão dela revelando sua trepidação. 

– Em que está pensando? – Lauren murmurou, girando o corpo até que estivesse virada para ela. 

– Estou com medo – ela estava quase impressionada com a própria honestidade. 

– Se a faz sentir-se melhor, não transo no primeiro encontro – Lauren piscou e passou a taça para ela. 

– Eu, sim – ela tomou um longo gole. A risada de Lauren foi encoberta pelo cobertor de atração que cobria a ambos. – Não sei se chegamos a ter um primeiro encontro. Tivemos? 

Lauren torceu o nariz enquanto pensava. 

– Não que eu me lembre. 

– Embora você tenha me levado a um restaurante em Nova York para um encontro há uns dez anos – Camila sorriu. – Acho que me apresentou a uma das suas ex. 

Lauren riu. 

– Aquilo não foi um encontro. 

– Foi, sim! – Camila protestou. – Bem, eu achei que foi. Levei você para um show e você me levou para jantar. Pareceu um encontro para mim. 

– Se eu a levasse para um encontro, não a apresentaria à minha ex – Lauren respondeu, incisiva. 

– Gosto de pensar que tenho mais classe que isso. 

Foi a vez de Camila rir. 

– Você é inacreditável. Sua memória é tão seletiva que estou com medo de que esteja perdendo a cabeça – ela inclinou-se, colocando a taça na mesa, e então deu-lhe um soco no braço. Lauren agarrou o pulso dela, encarando sua mão. Em seguida, lançou-lhe um olhar significativo, puxando-a para perto até que o rosto delas estivesse a centímetros de distância. 

Camila piscou rapidamente, seu estômago contraindo-se com a intensidade do olhar dela. 

– Eu me lembro de cada momento com você, Camila. Lembro de como você parecia jovem e surpresa na primeira vez que a vi, ao lado daquela árvore de Natal horrorosa na casa do meu pai. Lembro de como seus olhos brilharam quando a vi no pub em Cotswolds, vendo alguma banda de merda desesperada para ficar famosa – os lábios de Lauren curvaram-se num sorriso, tão perto do dela. Ela estava morrendo de vontade de fechar a distância. – Lembro de você embaixo de mim, na primeira vez que fizemos amor. Seus olhos estavam claros e arregalados, e seus lábios tremeram quando eu me movi dentro de você – Lauren fechou a distância, a respiração passando sobre ela. – Lembro de cada minuto, Camila. É você que me faz perder a cabeça. 

Lauren levou sua boca até a boca dela, a mão envolvendo-a por trás da cabeça, inclinando-a até que Camila estivesse olhando para ela. Ela colocou uma mão no pescoço de Lauren.

A língua de Lauren dançou pelo seu lábio inferior. Camila tocou-a com a sua, sentindo-a roçar contra ela e entrar na sua boca. Ela gemeu, os olhos apertados, querendo sentir cada parte do corpo de Lauren nela. Ela puxou Camila para perto até que seus peitos estavam se tocando, mas não era o bastante; o corpo dela exigia mais. Ela subiu no seu colo, pondo as pernas de cada lado dele, e Lauren agarrou-a por trás, esfregando o corpo delas. O peito delas se tocou, e ela arqueou as costas, os mamilos enrijecendo, reagindo à proximidade. 

– Jesus – Lauren afastou-se, os olhos brilhando. – Senti tanta saudade de você – ela moveu-se de novo, beijando-a com força até que estivessem as duas sem fôlego. Camila não queria que acabasse. 

– Quero que me leve pra cama – ela estava desesperada para senti-la nua contra ela, sobre ela, dentro dela. Era como se seu corpo estivesse acordado pela primeira vez em anos. 

Precisava saber que ela se sentia do mesmo jeito. 

– Camila… – Lauren a manteve próxima, os dedos enfiados no cabelo dela. – Também quero. Mas precisamos ir com calma. 

Camila inclinou-se e beijou-a novamente, assumindo o controle dessa vez, deslizando a língua para dentro da boca de Lauren e esfregando-se nela até sentir sua excitação embaixo dela. Lauren apertou-a por trás, erguendo-se e envolvendo as pernas dela ao redor da sua cintura, e ela jogou os braços ao redor do seu pescoço, sem quebrar o beijo. 

– Você me convenceu – ela moveu os lábios contra os de Camila. – Foda-se ir com calma – ela atravessou a sala de estar, dirigindo-se para o quarto, interrompendo o beijo para poder encontrar a maçaneta. Quando estava prestes a abrir a porta, o interfone no corredor tocou, o tom indicando que era o porteiro ligando. 

– Um minuto – Lauren a pôs no chão gentilmente e foi até o telefone, erguendo o receptor. 

Camila viu a excitação intensa desaparecer do seu rosto, e o corpo dela já sentia a ausência do seu abraço quente. 

– Ok, obrigado – Lauren bateu o receptor de volta no aparelho, passando uma mão pelo cabelo bagunçado enquanto a olhava.

– Era a recepção… minha mãe está subindo.