História Sempre Foi Você - Coming Home

Durante cinco dias, Lauren se juntou à rotina delas, lendo em voz alta enquanto elas terminavam Harry Potter e escolhendo seu personagem preferido enquanto elas encenavam trechos do livro. Sem o terno e a gravata, Lauren Jauregui parecia outra pessoa. 

À noite, depois de pôr Taylor na cama, elas se sentavam juntos e assistiam tevê. Um programa novo tinha começado em um dos canais, algum tipo de reality show. Dez pessoas eram forçadas a viver juntas numa casa trancada. Camila achou fascinante. 

– Não é muito como 1984, na verdade, é? – Lauren se perguntou, oferecendo outro cookie de chocolate do pacote que estavam compartilhando. – Quer dizer, o Grande Irmão faria com que eles fizessem continência e jurassem lealdade a ele. Não deixaria que ficassem deitados no jardim, conversando com as galinhas.

Quando os comerciais começaram, Camila foi até a cozinha. Abriu a geladeira e pegou duas garrafas de Becks, tirando as tampas com um abridor de garrafa enquanto voltava para a sala. Quando olhou para Lauren, notou que os olhos dela tinham escurecido quase imperceptivelmente quando ela encarou as pernas nuas dela. A intensidade do olhar a fez perder o fôlego.

Com a rotina de pôr Taylor na cama, um programa de tevê preferido e o compartilhamento de cerveja e cookies, elas estavam se tornando a paródia de um velho casal…

Tirando a parte do sexo.

Na última noite de Lauren no chalé, elas decidiram ir ao vilarejo comprar o jantar num restaurante de peixe e batatas fritas. O ar noturno estava agradável e perfumado quando se sentaram na grama, comendo a última ceia direto do papel-manteiga. Taylor estava sentada nos degraus de concreto do Memorial de Guerra, jogando batatas para pombas toda vez que elas desciam tentando roubar comida dos seus dedos. Viram o sol se pôr com os dedos cobertos de vinagre, sal e gordura.

Uma gota de ketchup caiu no canto da boca de Camila. Lauren inclinou-se para limpá-la com o dedão. Ela sentiu uma vontade súbita de mover o dedo um pouco para a esquerda e enfiá-lo na boca macia dela, só para ver qual era a sensação. Em vez disso, pôs o dedo nos próprios lábios e lambeu o molho. Camila a encarou com sua boca em formato de rosa levemente aberta, e Lauren podia ver um pedaço da sua língua logo atrás dos lábios.

– Está deixando seu cabelo crescer com a cor natural?

– Estou tentando me reinventar pra faculdade. Quero encontrar um visual mais roqueiro. Gótico é tão século passado.

Lauren riu do entusiasmo idealista dela, da crença de que era possível se reinventar simplesmente com uma mudança na cor do cabelo. Não era tão fácil assim.

– Roqueiro? – Lauren olhou para ela, cética.

– Sim, estou cansada de só usar preto. Até eu preciso de um pouco de cor de vez em quando. 

– Bem, estou ansiosa para conhecer a nova Camila Cabello. Talvez você possa me mandar uma foto.

– Talvez você possa ir pro inferno, sua pervertida – ela respondeu, batendo com o ombro no dela. Lauren bateu de volta e ela escorregou do banco de madeira, caindo na grama dura e seca com um baque surdo. Sua expressão indignada a fez gargalhar.

Na manhã seguinte, Lauren saiu cedo do chalé para pegar o primeiro voo para Nova York. O avião estava lotado, mas a família Maxwell sempre viajava de primeira classe. Mesmo que Lauren fosse uma Jauregui, seu padrasto não deixaria que ela viajasse de outra forma.

Um Lincoln preto o aguardava no portão de chegada. O motorista pegou as bagagens e Lauren o seguiu até o estacionamento. Sentou-se no banco de trás enquanto o motorista se preparava para enfrentar o trânsito de Nova York. Levou mais de uma hora até eles estacionarem na frente da casa de pedras marrons.

Ela estava de volta ao lar, embora essa fosse uma palavra estranha para descrever o lugar. O interior da casa era muito limpo, muito austero. Muito parecido com sua mãe. Mas, de todos os lugares do mundo, esse era o que deveria ser considerado seu lar. Afinal, Lauren tinha passado a maior parte dos últimos quinze anos ali. 

Assim que entrou na casa, foi para a cozinha, na qual podia ouvir Consuela cantando enquanto limpava o chão. Ela trabalhava para os Maxwell havia muito tempo e já morava na casa bem antes de Lauren e sua mãe se mudarem para lá.

– Lauren – um sorriso iluminou o rosto dela. – Você está em casa. Venha aqui e me dê um beijo. 

Lauren a ergueu e a girou enquanto ela batia nos seus braços, tentando fazer com que ela a soltasse.

– Onde está todo mundo? – ela perguntou, colocando-a no chão. 

– Sua mãe está com os Hampton. E Daniel teve que ir trabalhar com o pai. Ele não está muito feliz com isso também.

Daniel era o meio-irmão de dezessete anos de Lauren, o único filho e herdeiro de Leon Maxwell. Com um império multibilionário englobando de imóveis a serviços de consultoria financeira, Leon Maxwell tinha uma vasta gama de investimentos em todas as partes do mundo.

Lauren contornou Consuela e pegou um pão ainda quente da bandeja. Ela deu um tapinha em sua mão.

– Temos convidados hoje? – perguntou, mordendo o pão.

– O sr. Maxwell convidou os Brooke para jantar com você.

– Às oito?

– Sim, senhora – quando falava com ela, o “senhora” sempre era acompanhado por um sorriso brincalhão. Era diferente de quando tratava Leon ou Daniel assim.

– Bem, nesse caso, estarei no meu quarto, dormindo pra curar o enjoo da viagem – Lauren piscou e saiu da cozinha. 

Quando subiu, não ficou surpreso ao ver que seu quarto estava mais limpo e mais cheiroso do que quando o deixara mais de uma semana atrás. Consuela tinha realizado a missão com garra durante a ausência dela. Jogando a mala num canto e tirando os sapatos, ela se deitou em cima do edredom, fechando os olhos assim que sua cabeça atingiu o travesseiro.