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História Sempre Fui Sua - Chapter 33


Escrita por: selenandzayn

Capítulo 34 - Chapter 33


Ben e eu nos separamos na multidão para que Zayn tirasse o carro. K.C. veio ficar ao nosso lado, mas, por alguma razão, não conseguia olhar para ela.

Quando Zayn entrou e ligou o motor, as meninas ao nosso redor começaram a dar pulinhos e gritinhos. Papa Roach retumbava em um nível ensurdecedor nas caixas de som. Ele acelerou o motor algumas vezes para agitar a multidão, com um sorriso brincalhão nos lábios.

O Boss 302 estacionou na pista, e eu quase senti vontade de ir embora. Zayn e eu tínhamos sonhado tanto em correr juntos, e agora eu estava do lado de fora, apenas observando. Ele estava vivendo esse momento sem mim, e odiava o fato de não estar participando.

Roman tinha acabado de chegar com seu Pontiac Trans Am. Apesar de seu carro de 2002 ser considerado antigo em comparação ao de Zayn, ele tinha uma grande chance de ganhar. A quantidade de trabalho e acessórios que Roman investira em seu veículo o tornava uma máquina formidável. Infelizmente, Derek Roman não confiava apenas em suas habilidades de mecânico para ganhar. Houve muitos acidentes aqui quando ele costumava competir no ensino médio.

– Beleza! – O Mestre da Corrida anunciou. – Liberem a pista para o grande evento da noite.

De acordo com K.C., o Loop realizava poucas corridas por evento durante o ano letivo, já que a garotada da faculdade voltava para a escola, então esta era uma noite tranquila com apenas duas corridas.

A música de Zayn preencheu o ar e eu o vi tirar algo de sua mão para pendurar no espelho retrovisor. Não consegui descobrir o que era, apenas percebi que era volumoso e parecia um colar.

A mesma garota que posicionou Madoc e Liam veio para a frente dos carros, rebolando, enquanto andava na frente dos faróis deles.

O cheiro de gasolina e pneus permeava o ar, enquanto o barulho dos motores passava pelas minhas pernas. Zayn estava olhando para frente, fazendo uma expressão estática, esperando pelo sinal.

– Prontos? – gritou a Senhorita Olhe-para-mim.

– Preparados? – Os motores roncaram.

– Valendo! – Ela baixou os braços com tudo e os carros passaram zunindo ao seu lado, erguendo poeira e pedras ao despertarem. Saí correndo em direção à pista com a enxurrada de pessoas para observar por trás, mais assustada do que empolgada desta vez.

Por mais que odiasse admitir, estava preocupada. Roman faria algo maldoso e machucaria Zayn. Mesmo depois de tudo, não queria vê-lo machucado.

Quanto mais perto os carros chegavam da primeira curva, menores as suas lanternas traseiras ficavam. Eram quatro curvas e depois a corrida chegaria ao fim. As curvas eram fechadas, e era aí que um piloto profissional seria mais adequado ao Loop. A pista era pequena, esses carros eram grandes, e as curvas eram um inferno. Por essa razão, não era permitido estacionar carros no perímetro das curvas.

Zayn escolheu a rota do cavalheiro, diminuindo para fazer a curva, enquanto Roman seguia na frente. Ou ele ganharia, ou mataria ambos. Os dois carros derraparam na curva, levantando poeira no ar, para a alegria dos espectadores que gritavam incansavelmente. Tomando a dianteira, Zayn alcançou Roman e eles continuaram lado a lado.

Vai, vai. Apertei as mãos em cima do peito, com os dedos entrelaçados tão forte que minha pele estava esticada. Virei o corpo para acompanhar o progresso deles, e vi Zayn recuar pacientemente toda vez para que Roman pudesse fazer a curva antes.

Meu coração batia acelerado e estava sentindo o estômago apertado por conta do nervosismo.

Chegando à última curva, Zayn encostou atrás de Roman, mas ele não estava desacelerando. Roman derrapou para o canto ao dar a última volta, fazendo Zayn tomar a dianteira. Ambos os carros se recuperaram e ficaram lado a lado ao se aproximarem da linha de chegada.

A multidão esvaziou a pista com uma rapidez enlouquecedora e ficou observando enquanto ambos os motores passavam estrondosamente. Os carros estavam tão próximos que não consegui descobrir quem havia ganhado.

Quando os dois carros chegaram na linha de chegada, todo mundo correu até eles numa bagunça agrupada de empurrões e gritos. Ninguém parecia saber quem ganhou.

Virei o pescoço procurando pelo Mestre da Corrida. Ele parecia estar conversando com outras pessoas, provavelmente tentando chegar a uma decisão.

– E aí, você viu quem ganhou? – perguntou K.C. com ar de confusa, enquanto andávamos até os carros.

– Não, e você?

Ela negou com a cabeça.

– Aí está você! – Ben veio ao meu lado e pegou minha mão. – Acho que eles não têm certeza de quem ganhou. Ótima corrida, né?

Soltei uma risada.

– Roí as unhas até não dar mais.

– Fala sério. Vamos ver o Zayn. – K.C. me pegou pelo pulso e nós três fomos até a pista.

Ao me aproximar dos carros, percebi que os motoristas estavam se estranhando entre os veículos. Estavam com os lábios apertados e muito próximos um do outro. Parecia que transformariam o evento numa briga.

Chegando mais perto, escutei o que eles estavam falando.

– Você estava se jogando dentro da minha pista! – gritou Roman entre dentes. – Ou talvez você apenas não saiba como lidar com o seu carro. – Seu cabelo preto estava arrumado para trás, e ele vestia um jeans e uma camiseta branca que o deixavam igual aos rebeldes dos anos cinquenta.

– Não há pistas no trajeto – riu Zayn. – E nem vamos falar sobre quem não consegue lidar com a própria força.

Roman apontou o dedo perto do rosto de Zayn ao falar:

– Vou te falar algo, Princesa. Volte depois que tiver um pouco de coragem e tirar suas rodinhas de criança. Aí você será homem o bastante para competir comigo.

– Homem o bastante? – Zayn arqueou uma sobrancelha como se aquilo tivesse sido a coisa mais ridícula que já ouviu na vida. Ao se virar para a multidão, colocou as mãos ao lado de seu corpo, com as palmas para cima. – Homem o bastante? – perguntou sarcasticamente.

A morena vagabunda da festa de Zayn, Piper, subiu e se esfregou nele como uma cobra. Ela segurou sua bochecha com uma mão e apertou seu bumbum com a outra. Enfiando a língua na boca dele, ela o beijou devagar e profundamente, entregando todo seu corpo ao processo.

A porcaria da multidão gritava muito alto.

Um calor escapou de meu nariz, orelhas e olhos, antes que eu pudesse desviar o olhar.

Ele havia me beijado daquele jeito há dois dias.

Foda-se ele.

Olhei para K.C., que estava com uma expressão de surpresa.

– Você está bem? – perguntei. Se eu realmente me importava? Provavelmente não, mas pelo menos isso fez com que a minha mente parasse de se focar na dor do meu peito.

– Bem pra cara/lho – rosnou ela. – Liam acabou de ver isso. Legal.

Quase ri ao perceber que a única coisa que a estava deixando pu/ta era a reação de Liam. Se Liam não achasse que Zayn tivesse algo sério com K.C., ele não se sentiria ameaçado.

Ela não se importou nem um pouco com o Zayn. Disso eu tinha certeza. E acabou fazendo eu me sentir um pouco melhor sobre o fato de tê-lo beijado escondido dela.

– Ok! – O Mestre da Corrida veio cortando pela multidão. – Saiam do caminho, saiam do caminho.

Ele olhou as pessoas, esperando que todos ficassem quietos. Piper saiu de cima de Zayn e voltou para seus amigos, secando os lábios enquanto andava tropeçando.

– Escutem. Temos boas e más notícias. As más notícias são que estamos considerando isso um empate. – A multidão começou a reclamar e a xingar, já que apostas tinham sido feitas, e todos ficaram irritados. – Mas a boa notícia é – continuou ele – que temos um jeito de resolver o impasse.

Seu sorriso malicioso me assustou. Soltei a mão de Ben para me aproximar mais, agora parada no meio da multidão. Zayn e Roman faziam cara de desaprovação.

– Uma nova competição? – perguntou Zayn.

– Algo assim. – O Mestre da Corrida parecia um pouco alegre demais. – Se vocês querem resolver isso, então seus carros correrão novamente, porém… vocês não serão os pilotos.

Murmúrios podiam ser ouvidos no meio da multidão, e meus olhos dispararam para Zayn para ver sua expressão de choque.

– Como assim? – Roman chegou mais perto e questionou.

– Sabemos que são pilotos excepcionais. A corrida esteve perto de provar isso. Vamos ver quem tem a melhor máquina.

– Mas então quem vai dirigir os carros? – Zayn quase gritou, e seu rosto ficou pálido.

O Mestre da Corrida ficou com o rosto inchado ao sorrir:

– Suas namoradas.

Tinha certeza que as risadas no Loop podiam ser ouvidas até mesmo da casa dos Benson.

Algumas pessoas adoraram a solução inovadora do Mestre da Corrida, enquanto outras reclamavam de suas apostas. Mas todos pareciam concordar que uma corrida com duas adolescentes lerdas em máquinas de alto desempenho seria hilária.

– Cara! Não vou deixar isso acontecer! – Roman olhou para a namorada, uma mexicana baixinha com mais peso no peito do que no resto do corpo. Conhecendo Roman, eles podiam estar saindo há dois meses ou há dois minutos. Quem saberia?

– Zack, não tenho uma namorada. Eu nunca tenho uma namorada – declarou Zayn diretamente para o Mestre da Corrida, enfatizando a palavra “nunca”.

– E aquela coisa linda que chegou contigo? – perguntou Zack.

Zayn olhou para K.C., e os olhos dela arregalaram-se.

Tomando coragem, K.C. gritou:

– Ele é apenas um caso. – Todos soltaram um “ohhhh”, e K.C. sorriu com sua própria obstinação. Zayn arqueou as sobrancelhas para Zack como quem queria dizer “não disse?”.

– Ninguém dirige meu carro – Zayn deixou bem claro para Zack.

– Concordo com a Princesa nessa – Roman mexeu a cabeça em direção a Zayn. – Isso é ridículo.

Zack deu de ombros.

– Todo mundo já viu vocês dois competindo. As pessoas querem entretenimento. Se vocês têm algum interesse em resolver essa pontuação para acertarmos as apostas, então terão que jogar do meu jeito. Estejam na largada daqui a cinco minutos ou vão embora. – Ele começou a se afastar, mas parou e virou. – Ah, vocês podem ir no banco de passageiro se quiserem… sabe, pra dar apoio moral. – Ele não conseguiu dizer as últimas palavras sem se matar de rir. Provavelmente estava esperando que as garotas fossem se acabar de chorar antes de terminar a corrida.

Zack se afastou e os sussurros começaram a ser ouvidos na multidão. Roman seguiu para longe, enquanto Zayn andou até nós.

– Isso é ridículo. – Ele passou os dedos no cabelo.

– Ei, cara. Posso dirigir pra você. – Madoc entrou na conversa. – A gente teria apenas que contar a eles sobre nosso relacionamento secreto. – Ele colocou os braços sobre os meus ombros e os de Ben, brincando, mas tirei-os rapidamente.

Zayn o ignorou. As engrenagens de seu cérebro operavam enquanto ele andava de um lado para o outro na nossa frente. Ele estava pensando provavelmente em como sair dessa, mas quando parou e deu um suspiro de derrota, soube que não tinha escapatória.

Olhei para Roman, que estava levando sua namorada até o carro, aparentemente dando-lhe instruções sobre o câmbio manual.

Ah, cara. Contraí minhas bochechas tentando não rir.

– Zayn, não posso correr por você – gargalhou K.C. – Você terá que encontrar outra pessoa.

Ele olhou para o céu e balançou a cabeça. Apesar de não querer ver seu carro ser detonado, eu estava achando a situação superdivertida. Bem feito.

– Só tem mais uma pessoa em quem confio um pouco para dirigir meu carro. – Ele arqueou a sobrancelha e se virou, olhando para mim.

Soltei todo o ar que estava em meu corpo.

– Eu?

– Ela? – Madoc explodiu, Ben e K.C. repetiram.

Zayn cruzou os braços no peito e se aproximou de mim como se fosse um policial em uma sala de interrogatório.

– Isso, você.

– Eu? – Olhei para ele como se estivesse louco. Se ele achava que eu faria algum favor para ele, estava louco.

– Estou olhando para você, não estou? – O tom de voz arrogante e o olhar de condescendência me fizeram querer dizer “sim” e depois acabar com o carro dele, com a esperança de que fosse ele quem terminasse chorando.

Esquivei-me dele e olhei para o meu companheiro.

– Ben, será que aquela reunião em volta da fogueira poderia começar mais cedo? Estou entediada aqui. – Ao me virar novamente, ignorando o olhar pasmo de Ben, fui até a frente da multidão.

Uma mão segurou meu cotovelo e gentilmente me puxou para parar. Olhei para cima e vi Zayn se esforçando para me olhar.

– Podemos conversar? – ele falou baixo e com uma atitude gentil. Fazia tanto tempo que não o via assim que já nem me lembrava que ele podia agir como um ser humano. Apesar de isso não ser o bastante para me fazer esquecer quão terrível ele foi comigo.

– Não – disse a mesma resposta que ele me deu há duas semanas quando pedi para diminuir o volume da música.

Ele deu um forte suspiro.

– Você sabe o quanto está sendo difícil, para mim, fazer isso. – Ele olhou para o outro lado e depois novamente para mim. – Preciso de você – suspirou, parecendo derrotado.

Inspirei aquelas palavras. Ele precisava de mim? Pelo modo como ele respirava pelo nariz e por não estar fazendo contato visual, podia perceber seu desconforto ao dizer aquilo. Uma parte minha queria ajudá-lo, mas uma outra parte somente queria ir embora. Onde ele estava quando precisei dele no passado?

Eu me odiava, mesmo que por um momento, por ter pensado em perdoá-lo por tudo o que fez depois de ele ter dito aquelas três simples palavras. Tarde demais.

– E amanhã quando você não precisar mais de mim? Vou ser a merda pisada por você de novo? – Minha resposta saiu mais furiosa do que eu havia planejado. Eu me ressentia pela facilidade com que ele me abalava.

– Ela vai competir – K.C. gritou atrás de Zayn. Não tinha notado que ela estava parada perto de nós, mas, ao olhar para cima, percebi Ben e Madoc entrando na nossa conversa também. Meu coração acelerou novamente.

– K.C.! – repreendi-a. – Você não responde por mim. E não vou correr! – falei a última parte para Zayn.

– Você quer – contestou ela.

E ela estava certa.

Queria muito dirigir o carro dele. Queria mostrar para todas essas pessoas o que eu era capaz de fazer. Queria mostrar para Zayn que tinha algum valor.

E foi esse pensamento que me fez querer ir embora. Não precisava provar nada para ele.

Sabia do meu valor e não precisava da aprovação dele.

– Pode ser que sim – admiti. – Mas tenho orgulho. Ele não vai conseguir por/ra nenhuma de mim.

– Obrigado – Zayn cortou K.C. antes de ela ter a oportunidade de responder.

– Pelo quê? – mandei.

– Por me lembrar da pir/anha ruim e egoísta que você é – gritou Zayn, acabando comigo.

Um calor subiu pela minha cabeça quando comecei a sentir que palavras eram inúteis agora.

Meus braços ficaram tesos e fechei as mãos. Estava fantasiando Zayn preso em algemas enquanto acabava com ele no soco.

Antes de eu dar uma resposta aborrecida, Madoc resmungou:

– Já basta. Vocês dois. – Ele entrou no meio de nós, parando de olhar para o Zayn e se virando para mim. – Neste exato momento não me importo com as merdas que tenham acontecido entre vocês dois, mas precisamos de uma bun/da sentada naquele carro. Vai ter muita gente perdendo grana.

Ele dobrou as mangas, como se fosse nos jogar dentro do carro pessoalmente.

– Zayn? Você vai perder muita grana. E, Sel? Você acha que todos te trataram mal antes? Dois terços das pessoas que estão aqui esta noite apostaram no Zayn. Quando ficarem sabendo que a primeira opção dele recusou participar, o resto do seu ano na escola será um inferno sem precisar que eu e o Zayn levantemos um dedo. Agora, você dois, entrem na por/ra do carro!

Todos ficaram lá parados, chocados. Madoc nunca falou coisas com algum significado, mas ele conseguiu fazer com que eu me sentisse imatura e infantil. Muita gente estava contando com a vitória de Zayn e, por mais que eu odiasse admitir que Madoc estava certo, seu ponto de vista era válido.

– Ele tem que me pedir com carinho. – Cruzei os braços, mantendo uma expressão tranquila.

– O quê? – Zayn deixou escapar.

– Ele precisa dizer “por favor” – repeti para K.C., Madoc e Ben, sem querer falar diretamente com Zayn depois de ele ter acabado de me insultar.

Os outros ficaram apenas olhando para mim e para Zayn, como se estivessem esperando para ver qual bomba explodiria primeiro. Zayn balançou a cabeça dando um sorriso amargo e, por fim, deu um longo suspiro antes de responder.

– Selena – ele falou, calmo, mas tinha aquela amargura subjacente –, você dirigiria comigo, por favor?

Olhei para ele por um instante, apreciando aquela rara demonstração de humildade, mesmo que forçada, antes de levantar a mão.

– Chaves?

Zayn jogou-as na minha mão.

Enquanto mordia o canto da boca para reprimir um sorriso, corri até a pista e Zayn me seguiu. Vi Roman pulando para fora do carro, depois de ter estacionado para sua namorada atrás da linha de partida. Corri até o carro de Christopher, e os grupos de pessoas em volta da pista começaram a sussurrar e a assoviar ao me verem indo para o banco do motorista.

Zayn entrou no lado do passageiro e bati a porta com força depois de mergulhar no couro fresco. O impressionante carro estava quase totalmente preto por dentro e imediatamente senti meus braços ficarem arrepiados. O carro de Zayn cantava com força, passando uma sensação de caverna: frio, escuro e animalesco.

Cac/ete.

Ao girar a chave, estacionei na posição certa enquanto o povo se dispersava para as laterais. A vibração que passava pelas minhas coxas fez meu corpo coçar e rapidamente olhei para Zayn, que estava me observando.

Ele estava com o cotovelo ancorado perto da janela, com a cabeça apoiada na mão e me olhava com uma mistura de curiosidade e diversão. Fiquei imaginando o que ele estaria pensando de mim atrás do volante dele.

– Você está sorrindo – apontou ele, quase como se estivesse me acusando.

Movimentei o volante, sem olhá-lo.

– Fique quieto pra não arruinar meu momento, por favor.

Zayn limpou a garganta e continuou mesmo assim:

– Seu pai nos ensinou a dirigir sem direção hidráulica e o Bronco é manual, então acho que você não tem nenhuma dúvida quanto a isso, certo?

– Nenhuma. – Minha pulsação estava martelando nas pontas dos meus dedos.

– Que bom. As curvas são fechadas. Mais fechadas do que parecem. É bom você chegar nelas antes ou deixar ela te passar para você ir em seguida. Não tente ficar do lado esquerdo do carro de Roman, entendeu?

Assenti. Fiquei com os olhos focados para frente, prontos para o início, e batucando o pé, ansiosa.

– Toda vez que for para a esquerda, solte o acelerador antes de virar e só acelere depois de ter pegado a reta. Se você achar que precisa pisar no freio na curva, faça isso, mas o mínimo possível. Não acelere até que tenha feito a curva. Você acabará derrapando e rodando na pista.

Assenti novamente.

– Pise no acelerador entre as curvas. Na última volta, pise fundo – ele falava com um tom de voz mandão.

– Zayn, entendi. – Olhei para ele. – Eu consigo.

Ele não parecia acreditar em mim, mas parou assim mesmo.

– Aperte o cinto.

Seguindo seu comando, olhei para a minha esquerda e vi Roman dando ordens para sua namorada enquanto ela concordava, nervosa. Zack andou entre os dois carros para se posicionar na frente. Ainda bem que parecia ser ele quem ia dar a largada, ao invés daquela vaga/bunda menor de idade de antes.

Enquanto olhava pelo para-brisa, mantendo meu olhar em Zack, vi o que Zayn tinha prendido no espelho retrovisor. Estiquei a mão e peguei o pedaço de argila em formato oval, que estava preso numa faixa verde-clara. Um calor subiu pelo meu pescoço e minha garganta se fechou.

Era o colar de Dia das Mães que eu tinha feito para minha mãe depois que ela morreu.

Zayne eu tínhamos feito fósseis de nossas impressões digitais um ano antes para darmos a nossas mães. Usando massinha de argila, fizemos a impressão digital e prendemos o pedacinho oval na faixa, fazendo um colar. Zayn deu o seu para sua mãe e eu coloquei o meu no túmulo da minha mãe. Na segunda vez que fui visitá-la, o colar tinha desaparecido. Pensei que o tivesse perdido ou que o vento o levara.

Mas, na verdade, ele tinha sido roubado. Olhei para Zayn, meio confusa e meio brava.

– Amuleto de boa sorte – falou ele, sem me olhar. – Peguei uns dias depois que você deixou lá. Pensei que ele seria roubado ou que alguém o estragaria. Esteve comigo desde então.

Sem pensar nisso, olhei para fora da janela e tentei respirar calmamente. Acho que estava feliz por ele ainda existir. Mas era da minha mãe e ele não tinha direito algum de roubá-lo.

Mas ele ainda tinha o colar? Mesmo depois de tudo. Por quê?

Anotei mentalmente para me lembrar de pegá-lo de volta após a corrida.

– Estamos. Todos. Prontos? – A voz de Zack me assustou quando ele gritou para a multidão.

Todos berravam com aquela empolgação regada a cerveja.

Zayn colocou no iPod “Waking the Demon” do Bullet for My Valentine. Agarrei o volante, usando a música para clarear minha mente e prestar atenção.

– Prontas? – Zack gritou e liguei o motor, observando a namorada de Roman pular para ligar o motor dela logo em seguida.

– Preparadas? – Zayn colocou uma mão no painel, enquanto aumentava a música com a outra.

– Valendo! – Zack soltou os braços.

Pisando no acelerador, parti erguendo poeira. Enquanto a música preenchia o momento, minhas mãos empurravam o volante, de um modo que as minhas costas se enfiaram no banco. Com os braços cheios de tensão, me concentrei na estrada à frente.

Merda! O carro era muito poderoso.

– A primeira curva vai chegar logo – advertiu Zayn. Não sabia se o outro carro estava ao meu lado ou atrás de mim. Tudo que sabia era que não estava na minha frente e não me importava com mais nada. Iria correr com este carro sem nenhum oponente.

Minhas coxas, umedecidas de suor, raspavam no assento enquanto eu levantava minha perna para empurrar a embreagem. Pisei levemente no freio, preparando para dobrar a curva.

Quando soltei o freio e fiz a primeira curva, a parte traseira começou a deslizar. Rapidamente guiei para a direita, já que o carro deslizava para a esquerda, para evitar que derrapasse para fora. Uma poeira obscureceu a pista e meu coração começou a martelar. Pisei fundo na embreagem e mudei de volta para a terceira marcha. Quando alcancei uma boa velocidade e mudei imediatamente para a quarta, consegui ver o outro carro no espelho retrovisor.

– Pise no acelerador! – gritou Zayn. – E não vire tão forte. Você está perdendo tempo se corrigindo.

Tanto faz.

– Quem está em primeiro lugar? – lembrei-o.

– Não seja convencida. – Zayn alternava entre vasculhar a pista e olhar atrás para o Trans Am.

 Meu rosto estava pingando de suor e meus dedos estavam cansados de tanto apertar o volante. Relaxei e aumentei o som da música, mudando direto para a sexta marcha, pulando a quinta.

Que demais! A facilidade com que o carro acelerava fazia-o parecer um foguete. Ou pelo menos foi o que achei.

– Está chegando a próxima curva. Você precisa ir mais devagar.

Claro, claro, claro.

– Selena, você precisa ir mais devagar. – A voz de Zayn ecoou em algum lugar lá no fundo da minha mente.

A curva estava a três segundos e as vibrações que estavam reverberando nas minhas pernas me preveniram de soltar o acelerador. Agarrando ainda mais forte o volante, fui decidida.

Tirando o pé do acelerador, mas não pisando no freio, entrei à esquerda fazendo uma curva bem fechada, e então derrapei para a direita, forçando depois a direção para a esquerda novamente até que o volante estivesse endireitado. Mais terra voou à nossa volta, mas me recuperei rapidamente e pisei no acelerador de novo. Ao olhar para trás de nós, vi que o Trans Am tinha rodado naquela curva e estava tentando se recuperar. Eles estavam a mais de trinta metros atrás de nós.

Aê!

– Não faça isso novamente – resmungou Zayn, que agora estava segurando o painel com ambas as mãos enquanto eu olhava para a estrada, pronta para outra. A próxima curva chegou e foi feita certinho, por mais que Zayn ficasse enchendo o saco para diminuir a velocidade.

Apesar de ser um idiota e um rebelde, ele até que se preocupava com a segurança. E para alguém que sempre primou pela segurança, até que acabei me saindo uma bela rebelde.

Enquanto avançávamos na última curva com uma vantagem significativa, diminuí a velocidade para quase cinquenta quilômetros por hora e mudei para a terceira marcha.

Dirigindo pela curva em uma velocidade confortável sem derrapar ou sem levantar poeira, olhei para Zayn, que estava de olhos bem abertos e com uma cara de inocente.

– Está tudo bem, Miss Daisy? – Mordendo o canto da minha boca para evitar o riso, percebi que os olhos dele estavam encarando meus lábios. Ele estava com um olhar caloroso e senti arrepios passando pelo estômago até uma área sensível entre minhas pernas.

– Selena? – Seus olhos se estreitaram ainda mais. – Pare de brincar com seu oponente e ganhe a merda da corrida.

– Sim senhora, Miss Daisy – respondi, brincando com meu melhor sotaque do Sul.

Cruzei a linha de chegada a uma baixa e hilária velocidade de 55 quilômetros por hora ao ver o Trans Am pelo meu espelho retrovisor tentando fazer a última curva. Grupos de pessoas vieram em volta do carro, mas eu e Zayn ficamos lá dentro por alguns minutos.

Colocando o carro em ponto morto e puxando o freio de mão, apoiei minha cabeça no encosto do banco e massageei o volante. Minha pulsação ainda estava a mil por minuto, e me sentia viva. Essa tinha sido a coisa mais legal que já fizera na vida. Parecia que cada nervo do meu corpo estava drogado de açúcar.

– Obrigada, Zayn – sussurrei, sem olhar para ele. – Obrigada por ter me pedido pra fazer isso.

Estiquei a mão e arranquei o colar da minha mãe do espelho, colocando-o no pescoço.

Quando olhei para ele novamente, ele estava apoiado no punho com um dedo nos lábios. O que ele estava tentando esconder? Um sorriso?

Enfiando uma mão no cabelo, ele abriu a porta, e o som da torcida e das pessoas gritando entrou com tudo, como água dentro de um barco que está afundando. Olhando para suas botas, ele balançou a cabeça.

– Waking the demon*… – murmurou para si mesmo, e não entendi muito bem o que ele quis dizer com aquilo.

Antes de sair do carro, ele olhou para mim de novo com lábios caídos.

– Obrigado, Sel – sussurrou.

Fiquei com os pelos do pescoço arrepiados e minhas mãos tremeram.

Ele não me chamava de Sel desde que tínhamos catorze anos.

Nem mesmo quando éramos amigos.


Notas Finais


um dos cap mais longos da fic, aproveitemmmm


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