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História Sempre Fui Sua - Chapter 4


Escrita por: selenandzayn

Capítulo 4 - Chapter 4


– E aí, já encontrou com ele? – K.C. perguntou, apoiada no batente das minhas portas duplas, olhando em direção à casa do Zayn. Não precisei nem perguntar a quem ela estava se referindo.

– Não… bem, sim. Um pouco. Vi um cara com jeito de mandão entrando com tudo na garagem dele ontem, tarde da noite. Será que era ele? – Não queria contar para a K.C. que o vi na janela. Queria adiar mais algum tempo até ficar cara a cara com ele, por isso estava tentando manter a calma adquirida durante o ano em que ficara longe.

Continuei tirando as roupas que estavam na mala, separando o que precisava ser pendurado do que precisava ser lavado.

– Sim. Ele vendeu o GT logo depois que você foi embora e comprou esse. Parece que está ficando famoso por correr no Loop.

Segurei o cabide com mais força ao ouvi-la dizer isso. Fui tomada pela decepção ao perceber que as coisas tinham mudado durante o ano em que estive na França. Quando éramos mais novos, Zayn e eu sonhávamos em montar um carro para o Loop.

– É um carro poderoso. – Odiava ter que admitir isso.

Zayn costumava trabalhar com meu pai – e comigo – na nossa garagem, arrumando o velho Chevy Nova dele. Nós éramos alunos atentos que apreciavam a maestria necessária para conseguir deixar um carro em excelente condição.

– Enfim – continuei –, espero que ele esteja com a cabeça muito ocupada com a corrida e o emprego para me encher o saco este ano. – Andei pelo quarto colocando as coisas no lugar, mas meu cérebro pulsava de aborrecimento.

K.C. se afastou da porta e se jogou de barriga na cama.

– Bom, de qualquer modo, não vejo a hora de ver a expressão no rosto dele quando te encontrar. – Ela apoiou a cabeça na mão, me dando um sorriso de provocação.

– Por quê? – murmurei ao caminhar até o criado-mudo para zerar meu relógio.

– Porque você está linda. Não sei o que aconteceu entre vocês dois, mas ele não vai conseguir te ignorar. Não tem fofoca ou trote que vai conseguir afastar os garotos, e o Zayn provavelmente vai se arrepender de ter te tratado tão mal. – K.C. levantou as sobrancelhas.

Não sei o que ela quis dizer com “você está linda”. Pelo que sabia, estava o mesmo de sempre. Continuava com 1,74 m, cabelo castanho até o meio das costas e olhos castanhos-escuros. Os treinos na academia me davam náuseas, mas continuei correndo para ficar em forma para o cross-country. A única diferença era a cor da minha pele. Após viajar no verão e pegar muito sol, estava bronzeada. Só que isso iria desaparecer rapidamente e eu voltaria a ser pálida.

– Ah, ele nunca teve problema algum em me ignorar. Queria que fosse diferente. – Respirei profundamente e sorri. – Tive um ano tão bom. Conheci ótimas pessoas e vi lugares lindos. Tudo isso me deu uma boa perspectiva. Tenho um plano, e não vou deixar o Zayn entrar no meu caminho.

Sentei na cama e suspirei.

K.C. pegou na minha mão.

– Não se preocupe, amiga. Essa merda tem que chegar ao fim, em algum momento. Afinal, vamos nos formar daqui a nove meses.

– Do que está falando?

– Estou falando sobre as preliminares entre você e o Zayn – K.C. soltou, séria, e pulou da cama para ir até o meu armário. – Isso não pode durar pra sempre – disse ela.

Preliminares?

– Como assim? – Preliminares era uma palavra de cunho sexual e meu estômago se revirou ao pensar em “Zayn” e “sexo” na mesma frase.

– Senhorita Gomez, não me diga que isso nunca passou pela sua cabeça. – K.C. espiou para fora do armário, fazendo um sotaque do sul ao franzir as sobrancelhas e colocar a mão sobre o coração. Ela segurava um dos meus vestidos na frente de seu corpo, olhando-se no espelho pendurado atrás da porta do armário.

Preliminares? A palavra povoou minha mente enquanto eu tentava entender o que K.C. queria dizer com aquilo, até que finalmente compreendi.

– Você define a implicância dele comigo como preliminares? – quase gritei para ela. – Sei. Foram preliminares quando ele contou pra escola toda no primeiro ano que eu tinha síndrome do intestino irritável, e todo mundo começou a imitar barulhos de pum quando eu andava pelo corredor. – Meu tom sarcástico não conseguiu disfarçar minha raiva. Como ela pôde pensar em tudo isso como preliminares? – E, claro, foi completamente erótico o modo como ele encomendou uma pomada contra candidíase na farmácia e mandou entregar durante a aula de matemática no segundo ano. Mas ele realmente me deixou excitada, pronta para ficar de quatro pra ele, quando colocou folhetos para tratamento de verrugas genitais no meu armário, por mais ultrajante que seja contrair uma DST sem nunca ter feito sexo!

Toda a indignação que eu deixara de lado durante este ano retornava agora com um instinto de vingança. Não havia perdoado ou esquecido nada do que acontecera.

Piscando longa e pesadamente, lembrei-me das férias lá na França. Queijo Port Salut, pão francês, bombons… Ri ao perceber que não foi da França que realmente gostei, mas sim da comida.

K.C. estava me encarando, os olhos bem abertos.

– Ah, não, Sel. Não acho que ele está a fim de preliminares sexuais. Eu realmente acho que ele te odeia. O que estou querendo dizer é: será que não chegou a hora de você se vingar? De entrar no jogo? Se ele te empurrar, empurre-o também. – Tentei assimilar o que ela dizia, mas ela continuou. – Sel, os homens não maltratam mulheres bonitas sem razão. Na verdade, a maior parte dos adolescentes usam toda a energia que têm com o único objetivo de transar. Eles não querem diminuir suas opções, então raramente ficam putos com garotas… a não ser em caso de traição, é claro – refletiu ela.

Eu sabia que K.C. tinha uma certa razão. Zayn agia daquele jeito por alguma razão. Eu já tinha quebrado a cabeça milhares de vezes tentando entender. Ele era frio com quase todo mundo, mas comigo ele era completamente cruel.

Por que só comigo?

Levantei e continuei pendurando minhas roupas, os cachecóis apoiados no meu ombro.

– Bom, eu não traí o Zayn. Já te disse mil vezes, nós fomos amigos durante muitos anos, aí, antes do primeiro ano, ele viajou por algumas semanas durante o verão. Quando voltou estava diferente. Ele não queria mais saber de mim.

– Bom, você não vai entender nada até entrar na luta. Como aconteceu antes de você ir pra França. Você reagiu naquela noite, é isso que precisa continuar fazendo – K.C. aconselhou, como se eu não tivesse pensado nisso ano passado. Minha raiva sumiu na noite da festa da Tori Beckman, mas eu não ganharia nada me rebaixando ao nível de Zayn.

– Olha – falei com uma voz mais baixa para parecer calma. Nem a pa/u eu ia continuar sendo arrastada para o drama com esse cara, droga. – Vamos ter um ano maravilhoso.Espero que o Zayn tenha me esquecido. Se esqueceu, então nós dois poderemos nos ignorarem paz até a formatura. Se não, aí farei o que achar melhor. Tenho coisas mais importantes pra pensar agora. Ele e o idiota do Madoc podem me cutucar e me alfinetar o quanto quiserem. Já cansei de ficar dando atenção a eles. Eles não vão acabar com meu último ano. – Parei para olhá-la.

K.C. parecia pensativa.

– Tudo bem – disse ela, complacente.

– Tudo bem?

– Sim, eu disse tudo bem.

Ela parou de discutir. Meus ombros relaxaram. Ela queria que eu fosse o Davi para o Golias de Zayn, e eu apenas queria me concentrar em entrar para Columbia e ganhar a Feira de Ciências na primavera.

– Tudo bem – respondi e rapidamente mudei de assunto. – Então, meu pai não vai voltar pra casa nos próximos três meses. O que posso aprontar? Você acha que eu devia desencanar do horário de voltar pra casa enquanto ele está longe? – Continuei organizando as roupas.

– Ainda não consigo acreditar que seu pai vai te deixar sozinha por três meses.

– Ele sabe que é ridículo tentar me fazer ficar com minha avó, começar numa escola nova e depois voltar pra cá quando ele vier para o Natal. É meu último ano. É importante e ele entende. – Minha avó sempre fica comigo quando meu pai está viajando, mas a irmã dela não está bem e precisa de ajuda constante. Então, estou sozinha desta vez.

– É, mas sua avó mora a umas duas horas daqui, então tenho certeza que ela vai dar um jeito de dar uma passada aqui de vez em quando – mencionou K.C. – Será que poderíamos arriscar dar uma festa?

Ela sabia que eu era muito insegura, então falou com um tom de voz cauteloso. Meus pais me ensinaram a ter opinião própria, e também a ter bom senso. K.C. muitas vezes ficou decepcionada com minha falta de irresponsabilidade.

– Assim você não estaria descumprindo o horário de voltar pra casa! Porque já estaria… em… casa – explicou ela, rapidamente.

Meu peito se apertou ao pensar em uma festa não autorizada, mas tinha de admitir que eu gostaria de fazer algo assim qualquer dia.

– Acho que dar uma festa enquanto os pais estão fora de casa é tipo um ritual de passagem para os adolescentes – reconheci, mas engoli em seco ao lembrar que tinha apenas pai. Apesar de minha mãe ter falecido há tanto tempo, ainda doía todo santo dia. Olhei para a nossa foto no criado-mudo, a última tirada em família. Estávamos em um jogo do White Sox, e meus pais beijavam minhas bochechas, cada um de um lado, e eu estava fazendo bico igual a um peixe.

 K.C. me deu um tapinha nas costas.

– Vamos devagar com você. Podemos começar a flexibilizar as regras antes de quebrá-las. O que acha de trazer um menino pra casa antes de ter uma multidão enorme aqui? – Ela pegou uma blusinha preta de seda que comprei em Paris e a levantou.

– Até parece. Acho até que meu pai julgaria mais ameaçador um cara aqui do que uma casa cheia de adolescentes festeiros. Mas eu quebro, sim, as regras às vezes, tá? Sou culpada por dirigir rápido e por atravessar a rua fora da faixa e… – Minha voz foi ficando mais baixa conforme meus lábios abriam um sorriso. K.C. e eu podíamos ser aventureiras, mas nunca me interessei em perder a confiança do meu pai. Normalmente, sempre cumpro as regras. Respeito muito meu pai.

– Sim, tudo bem, Madre Teresa – murmurou K.C. desdenhosa, quando começou a dar uma passada de olho nas fotos que eu havia tirado ano passado. – Então, agora você fala francês fluentemente?

– Sei algumas palavras que podem ser úteis pra você – falei, demonstrando indiferença. Ela pegou um travesseiro na minha cama e jogou em mim sem parar de olhar as fotos em sua mão. Após três anos de uma fiel amizade, conseguíamos trocar insultos inofensivos tão facilmente quanto trocávamos de roupa.

Ao caminhar até o banheiro da minha suíte, falei alto:

– Então, você pode ficar pra jantar? Podemos fazer pizza.

– Na verdade, hoje tenho que ir pra casa – gritou ela de volta. – O Liam vai jantar lá. Minha mãe está ficando um pouco preocupada com nosso “relacionamento” e quer conhecê-lo melhor – ela usou aspas de duplo sentido para definir o relacionamento.

Liam e K.C. namoravam há dois anos e faziam sexo há algum tempo. A mãe dela com certeza desconfiava que o “relacionamento” deles progredira.

– Nossa, a Sargento Carter está em cima de vocês? – grunhi enquanto arrastava minha mala vazia para debaixo da cama. Eu chamava a mãe da K.C. de “Sargento Carter” por causa de seu cuidado maternal autoritário. K.C. tinha pouca privacidade e costumava ter que contar tudo. No entanto, isso fez com que ela quisesse guardar ainda mais seus segredos.

– Tenho certeza que sim. Ela encontrou minha camisola e ficou doida. – K.C. levantou e pegou a bolsa da cama.

– Adoraria te ver escapar dessa. – Apaguei a luz do quarto e desci com ela.

– Se meus pais fossem iguais ao seu pai, talvez eu não ficasse tão nervosa em contar as coisas para eles – murmurou K.C.

Tenho certeza que não contaria para o meu pai sobre a minha primeira vez, independentemente de quando isso fosse acontecer.

– Bom, podemos fazer algo amanhã ou quando quiser. Mas tem que ser antes de as aulas começarem.

– Amanhã, com certeza. – Ela me deu um abraço forte. – Preciso tomar um banho antes do jantar. Até mais! – E foi embora correndo.

– Até.



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