-Jill!
Eu parti para cima daquela mulher a prendendo entre minhas pernas e a acertando no rosto sem piedade nenhuma enquanto ela tentava me empurrar aos berros e gemidas de cada tapa que levava.
Sinto braços agarrando os meus para me fazer parar, mas eu o empurro e volto a esbofetear aquela miserável na minha frente que já tinha começado a chorar.
-Jill, para!
Agora sinto braços se entrelaçaram pela minha barriga e me puxarem bruscamente me tirando de cima dela que ficou sentada no chão, toda descabelada, com sangue no rosto e lágrimas enquanto segurava as mãos no rosto. Mas com um olhar frio de raiva ela levanta e vem na minha direção aproveitando que eu não podia avançar, então mesmo com suas mãos em mim eu acerto uma na cara dela que dá um estralo alto. Forest surge de atrás dela e a segura, mas com meu sangue ainda fervendo eu tento me soltar para ir até ela porque ainda não era o suficiente.
Eu me debatia e me esticava até que consegui agarrar a alça da regata dela e a puxei bruscamente para perto de mim e a acertei de novo.
-Forest!
Chris berra bravo de atrás de mim e vejo Forest puxar a Micaela para longe, mas como não larguei a alça dela, ela se rasgou me fazendo perder o contato.
-Tira ela daqui, Chris! Amanse essa leoa!
Sinto que ele me arrasta para longe dali, mas eu me debato ainda querendo estapear muito mais aquela sem vergonha. Mas sem condição de lutar contra ele, ouço que abre a porta e ao me arrastar para fora a perco de vista e fico mais irritada, me debatendo outra vez.
-Se acalma, Jill!
Ele abre meu quarto e entra comigo fechando a porta e apesar do silêncio eu sinto minha raiva se libertar pela minha respiração irritada e meu nervosismo ao querer me soltar dele, mas ele me abraça por trás e encosta o rosto em meu pescoço.
-Se acalma...
Eu paro de me debater, mas minha raiva ainda está ali esperando aquela mulher reaparecer. Minha respiração ainda está acelerada e meus olhos correm de um lado para o outro mantendo minhas mãos prontas para ela se aparecer.
-Se acalma, Jill... Se acalma.
Aquela voz em meu ouvido, a respiração lenta em meu pescoço e o abraço quente e carinhoso dele me fizeram lentamente ir me acalmando. Abraço seus braços ao meu redor e sinto que me puxa para mais perto, me dando um beijo leve entre meu pescoço e meu ombro.
Levemente, ele solta um pouco os braços e me vira para ele me olhando profundamente com aquele olhar que revelavam mil sentimentos escondidos... Amor, mágoa, tristeza, saudade... Um pouco de tudo.
Ele encosta a testa na minha e fixo os olhos nos dele sentindo algo me puxando para ele, algo me atraindo, me fazendo chegar mais e mais perto... Olho para sua boca e meu peito se contorce com a saudade de sentir o sabor e o calor dos seus lábios.
Não posso fazer isso... Se controle, Jill.
Meu coração controla meu corpo agora e coloco minha boca na dele... Sinto uma corrente elétrica passar por meu corpo, como se toda a poeira e a escuridão acabassem. Sinto a onda de felicidade se aproximar e o calor da minha alma voltar.
Mas ele para e se afasta. Tira a boca da minha subitamente e me encara parecendo tentar ler meus pensamentos, mas uma dor volta a me dominar ao perceber que aquela atitude provavelmente significa que tudo realmente acabou e ele jamais me perdoará.
Talvez um minuto se passou dele ali me encarando, mas de repente ele desvia com aquele sorriso torto e eu não entendo mais nada. Ele volta a me olhar de um jeito divertido e penso se vai me repreender pela minha atitude, mas ele suspira e coloca a mão de atrás da minha nuca.
-A minha tigresa precisa de um agrado para se acalmar, então?
Eu concordo com a cabeça sendo inevitável meu sorriso e de repente o Chris apaixonado surge em minha frente com aqueles olhos brilhantes e aquele sorriso perfeito. Mas não consigo mais admirar a vista e sim o gosto de sua boca quando me beija... Um beijo real, molhado e apaixonado.
Ele me puxa para ele com desespero, mas não com desejo ou tesão, mas com uma saudade enlouquecida dentro dele. Seus lábios fazem eu me perder completamente em volta de seus braços, seu beijo apaga tudo em minha mente deixando apenas o amor incontrolável que sinto por ele.
Chris... Como pude ficar tanto tempo longe de você?
Ele me guia até a parede me abraçando forte enquanto me pressiona nela, parecendo com medo de que eu tente escapar de seu toque. Suas mãos me apertam contra ele e passeiam livremente pelas minhas costas enquanto sua língua penetra minha boca e sinto a ardência do desejo que nos envolve.
Eu preciso dele... Preciso desse homem para mim.
-Me agradeça, porque eu... Opa!
Um barulho súbito da porta se abrindo e uma voz surgindo logo com uma gargalhada de atrás faz com que nós nos afastemos subitamente e minha raiva volte.
Olho para o Forest parado na minha porta e sinto meu sangue borbulhar outra vez, se não fosse por ele, nada disso teria acontecido. Ele foi o início dessa desgraça toda quando começou a empurrar o Chris para cima daquela sem noção.
-Já pode me agradecer, cunhadinha... Convenci a Micaela de manter em segredo o que aconteceu porque caso o contrário as duas provavelmente seriam expulsas daqui.
-Saia do meu quarto!
-Salvei sua pele, um agradecimento não vai te machucar!
-VOCÊ FOI O PRIMEIRO CULPADO POR TUDO ISSO! SAIA DAQUI!
Eu fui até lá e o empurrei bruscamente para fora, batendo a porta quase na cara dele quando escuto um riso baixo de atrás de mim. Me viro ainda com raiva e vejo o Chris se desmanchando em risadas e sentando na minha cama ao me encarar.
-O que é?
-Nada, não...
-Está rindo da minha cara?
-Estou, sim...
Ele volta a rir e eu reviro os olhos desviando dele que logo para e o escuto suspirar parecendo animado.
-E pensar que eu era o descontrolado da relação...
É, ele tem razão... Eu agi tão irracional quanto ele ou pior. O que isso quer dizer? Que realmente devemos nos desapegar ou devemos nos apegar de vez?
-Você quer ficar com ela?
-O quê?
Eu viro para olhá-lo com dor na resposta que poderia me dar.
-Você quer alguma coisa com ela?
-Claro que não.
-Me desculpe... Eu não tenho direito nenhum de me meter na sua vida.
-Não, não tem mesmo... – Ele suspirou.
Ele levanta da cama me fazendo encolher pela sua resposta, mas ele para na minha frente segurando minha mão e erguendo meu rosto para ele.
-Mas acho que nenhum de nós se importa com isso... Você acha que eu não faria o mesmo no seu lugar?
-Tenho certeza que sim.
-Pois é... – Ele ri – Por mais que possamos tentar, nunca vamos conseguir nos desligar do jeito que pediu, minha pequena.
Eu tremo com o jeito que ele me chama e me sinto completamente vulnerável com isso.
-Não dá... É mais forte do que nós.
Ele tem razão. Está cheio de razão. Assim como ele, eu fui completamente irracional em todas as minhas atitudes desde que a vi dando em cima dele. Cada ofensa, cada início de barraco e agora voar para cima da garota... Eu não sou assim. Nunca fui assim. Eu poderia jurar que jamais me rebaixaria assim, mas eu não suporto sequer cogitar a possibilidade de outra mulher com as mãos nele.
Com a mão na minha, ele me puxa para cama, me fazendo sentar ao seu lado e com um lenço pequeno que não sei de onde tirou, esfrega em minha nuca me fazendo sentir dor e quando passo a mão ali vejo sangue.
-Ela te arranhou... Talvez por isso Forest conseguiu um acordo, as duas levariam a culpa mesmo com você tendo batido mil vezes mais.
Eu abaixo o olhar e ele limpa delicadamente minha nuca enquanto me sinto um fracasso profissional, mas ele parece ler meus pensamentos.
-Todos podem ser irracionais de vez em quando, relaxa... Você só descobriu que é tão ciumenta e impulsiva quanto eu.
-Não sou tão impulsiva assim... – Eu ri.
-Quando se trata de mim, parece que é.
Eu desvio ouvindo o sorriso dele e olho para as minhas mãos com um pouco de sangue e penso que talvez eu tenha batido demais.
-Será que eu machuquei demais?
-Bastante... – Ele ri – Acho que vai ficar com medo de você agora.
Ele para de me limpar e quando olho para ele vejo que tem um sorriso leve e parece me admirar antes de falar.
-Foi a primeira vez que alguém brigou por mim... A primeira vez que alguém me defendeu assim.
-Nunca a mulherada brigou por você?
-Não assim... – Ele riu – Você me entendeu. Obrigado, minha pequena tigresinha.
Eu ri do meu novo apelido e ele começou a passar o lenço um pouco em meu rosto enquanto eu fixava meus olhos nele sem cerimônias.
Como é possível existir um homem assim tão próximo a perfeição? Ou eu estou me iludindo demais ou me tornei a mulher mais sortuda do planeta em conseguir roubar o coração dele para mim.
-E a mão?
-Não sinto nada ainda, embora eu tenha tido que segurar uma leoa.
-Desculpe... Mas não devia ter me segurado.
-Achei que se o Forest te segurasse, ele seria o próximo esticado no chão sangrando e chorando.
Eu ri das palavras dele e a minha imaginação daquilo me fez rir ainda mais, com ele me acompanhando com aquela risada gostosa de ouvir e pela primeira vez em muito tempo sinto tanta leveza em meu corpo e consciência.
O Chris aqui comigo, do meu lado, conversando e fazendo piadas. O carinho dele, a gentileza e o jeito espontâneo. Meu Chris apaixonado... Apaixonado por mim. Assim como eu por ele.
Eu desviei e reparei que eu estava um pouco suja de sangue, então levantei da cama para pegar uma camisa limpa e indiquei o banheiro.
-Melhor eu me trocar... Me espera?
-Sim, já devem estar quase servindo o almoço.
-Legal...
Fui ao banheiro e fechei a porta, trocando a camisa e me assustando com meu estado ao olhar para o espelho. Ainda tem um pouco de sangue no meu pescoço e vejo o arranhado na minha nuca... Lavo meu rosto, meu pescoço e um pouco dos meus braços. Desfaço o rabo de cavalo e penteio meu cabelo fazendo uma rápida trança embutida mais para o lado para cobrir o aranhado e pareço normal outra vez.
Saio do banheiro e deixo a camisa suja junto com as demais que preciso lavar quando chegar em casa. Ao virar para o Chris ele me olha com um sorriso de canto e sorrio sem graça do jeito dele.
O que vai ser agora? Nós... O que vai ser?
-Está linda.
-Obrigada...
-Nem parece que encarnou na ninja há meia hora.
Eu ri e ele me acompanhou indo para fora e caminhamos em silêncio até o refeitório. Todos já estavam lá comendo e vi que nossa equipe estava sentada junto com seus parceiros.
O Chris e eu suspiramos juntos ao reparar nisso e fomos em direção a comida para encher nossos pratos. Ele ficava me cutucando na fila e eu ficava reclamando da atitude dele enquanto ria da minha cara... Parecíamos crianças, até que chegamos na mesa e pareceu automático ambos fecharmos a cara.
-Chris, como está a mão? – Enrico pergunta.
-Bem... Não foi nada.
-Vai deixar a competição agora?
A voz do Bruce sentado a minha frente era extremamente interesseira, porque obviamente seria um presente a eles que perdêssemos o Chris. Mas eu o conheço, a teimosia dele e o orgulho jamais o deixariam desistir de nada ainda mais admitir isso na frente dos demais.
-Não.
Olho para os demais que nos encaram e percebo a ausência da piranha do shorts, então sorrio para mim mesma.
-Chris, quero que pense bem se pode continuar... – Enrico disse – Não vou te obrigar a nada.
-Posso continuar e vou continuar, Enrico.
Os integrantes da equipe do Bruce pareceram se surpreender com a atitude do Chris, mas os meus colegas pareciam já ter certeza disso com a troca de olhares e risinhos.
O almoço passou e fiquei muito feliz em o Bruce não falar mais com o Chris. Tanto eu quanto ele nos mantivemos calados enquanto os demais conversavam parecendo estar se dando bem.
Que coisa estranha... Será que o problema realmente está em mim e no Chris?
Depois de acabar, deixamos o refeitório e seguimos para a academia. Mason já estava lá com um sorriso no rosto, o que me assustou... Se está sorrindo, é porque tramou algo “ótimo” para nossa tarde.
-Boa tarde... Espero que não tenham comido demais, vão precisar de agilidade neste treino.
-Boa tarde, senhor!
-Agora, vocês terão uma leve amostra do que enfrentarão amanhã... Você e seu mesmo parceiro da manhã enfrentarão um treino de cinco fases, que espero que nenhum não consiga terminar ou já pode pensar em nem levantar da cama amanhã!
Que sutil... Um carinho imenso. Esse treino deve ser terrível para ele esnobar desta forma, mas pelo menos já teremos uma noção melhor do que vamos encarar amanhã, porque eu não tenho a mínima ideia.
-As fases explorarão seus pontos mais fortes assim como a competição de amanhã, embora hoje seja moleza comparado ao que esperarão vocês na bela manhã de amanhã.
Que ótimo...
-Se preparem com os protetores e as armas e permaneçam com o parceiro o tempo todo! Me sigam!
Ele nos guiou a outra sala grande, cheia de materiais, protetores e armamentos. Balas de tinta como as demais, mas se tinham balas, é porque teríamos alvos.
Em nossa frente havia uma porta imensa de vidro escuro e ao topo víamos uma passarela lateral que servia para as pessoas assistirem o que se passava lá dentro... Sinistro.
-Cada dupla terá sua vez, assim que acabar, irão subir na passarela podendo observar os demais! Quem terminar em menos tempo, ganha um ponto! Se preparem!
-Boa sorte, Jill.
-Obrigada... Boa sorte.
Chris olhou para mim com um breve sorriso e se afastou. Quando o segui com o olhar vi a piranha me encarando friamente, com o rosto todo roxo e alguns cortes que não identifiquei muito daqui, mas para deixá-la com mais raiva, eu ri na cara dela.
-Quase detonou minha colega, hein, boneca.
Bruce surge e sigo com ele até mesa de materiais com um sorriso fixo, ele que nem pense que vou confessar para ele me entregar para o Mason.
-Não sei do que está falando...
-Micaela ficou em pedaços... Você luta melhor do que pensei.
Eu não respondi, não posso me entregar... Ele pode estar jogando comigo para eu ser eliminada. Não confio nada nele.
-Tudo bem, se quer bancar a desentendida eu não vou forçar.
-Ótimo... Temos que nos concentrar.
-Certo, esposa do Chuck.
-O quê?
-Eu te chamava de boneca porque era certinha e meiga, mas percebi que está mais para a esposa do Chuck... Não, é pouco, melhor a Annabelle, sabe?
-A boneca assassina?
-Sim, ela é assustadora.
Eu o encarei feio e ele riu da minha cara com a piada sem graça dele, mas eu continuei séria sem dar moral.
-Qual é, será que vou viver sem conseguir te fazer rir nenhuma vez, hein?
-Não vou rir de suas piadas...
-Você é muito durona.
-Não sou durona, só não tenho saco para um cara que me tratou como lixo desde a primeira vez que me viu.
-E justamente porque não tem saco e porque é uma policial capaz, que estou te tratando melhor.
Eu dou as costas a ele não suportando mais suas gracinhas com nada de graça e o escuto bufar vindo de atrás de mim e agora permanecendo calado até terminarmos de colocar os protetores.
-Vou dizer a ordem das duplas e decorem para entrar corretamente, porque vou lá em cima para observar! Quando acabar, vocês verão seu tempo no painel e subam as escadas para assistir as demais duplas!
-Sim, senhor.
Depois dele recitar toda a lista e descobrirmos que somos os últimos, fomos nos sentar encostados na parede mais distante ouvindo a primeira dupla entrar e pudemos ouvir os barulhos que ecoavam lá de dentro.
Demorou muito para sala ir se esvaziando e pela voz do Capitão Mason berrando na passarela, soubemos que duas duplas não conseguiram terminar o circuito de fases, me fazendo ficar temerosa com o que havia lá dentro.
Ao chamar a penúltima, recebi um olhar carinhoso que parecia tentar me passar força para continuar... Chris. Apesar de sermos os últimos, ficamos distantes, sem querer causar razões para o Mason tirar pontos já que agora somos todos “adversários”.
Quando ele entrou na sala meu coração se apertou... Claro que não terá nada de perigoso, mas com a mão dele daquele jeito e aquela inútil como parceira, ele tem chance de se machucar ainda mais.
Será que ela me xingou para ele? Não deve ter perdido essa oportunidade... Mas ele deve ter dado um basta antes mesmo de começar direito.
Mas aquele momento me veio a cabeça novamente... Aquele beijo, aquele sabor, aquela sensação... Tudo voltou a minha cabeça e por aquele minuto nos braços dele mais uma vez me senti viva novamente.
O mundo obscuro, sombrio e esquecido que deixei meu coração nesse último mês, com aquele beijo reacendeu tudo dentro de mim. Me senti viva outra vez. Me senti amada outra vez e acho difícil existir algo mais maravilhoso do que isso.
Eu não sei como será agora... Não sei como faremos e nem sei se já estamos de bem, acho que apenas sei que sou uma ciumenta irracional que não suporta vê-lo perto de outra.
-Última dupla siga para a posição!
Eu desvio de tudo e levanto indo em direção a porta enorme de vidro com o Bruce do lado. Ele ficou calado o tempo todo, mas agora com uma expressão séria, me dá um sorriso de canto e uma piscada.
-O que acha de pegarmos esse ponto para nós, Annabelle?
-Se começar a me chamar assim, podemos ser desclassificados porque não terei mais parceiro para ir comigo.
-Certo... – Ele riu – Vamos lá, boneca.
Eu reviro os olhos e me preparo diante da porta que se abre e entramos nos deparando com uma sala grande toda suja de tinta pelas paredes.
Vai ser divertido...
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