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História Sempre Tem Um Lado Bom - Dor e Culpa


Escrita por: PJ_Redfield

Notas do Autor


Boa tarde, povo!
Sei que podem estar bravos comigo, mas estão curiosos para ver no que vai dar... Garanto que vou me redimir mais para frente, eu prometo! Hahahah, toda história precisa de emoção e essa não é diferente e mesmo com todos os altos e baixos e quase infartes que causei em vocês, espero que gostem!
Boa leitura...

Capítulo 44 - Dor e Culpa


* * * Chris * * *

 

Eu não conseguia me mexer... Não conseguia pensar... Não conseguia falar... Eu não conseguia mais saber o que seria da minha vida se eu fosse até aquele carro estraçalhado e encontrasse a mulher da minha vida em um estado em que eu não pudesse mais ajudar.

            -Chris...

Claire puxa meu braço me fazendo acordar do meu devaneio e olho para ela que parece estar prestes a chorar, mas não... Jill... Ela não pode... A Jill não.

Eu tiro o cinto e mesmo com uma dor tremenda no meu braço, eu pulo para parte de trás já que minha porta não abre devido ao outro carro com que eu bati e saio pela porta de trás correndo como um desesperado para lá.

            -Chris, espera!

            -JILL!

Eu cheguei e abri a porta dela com força porque estava um pouco amassada e ao vê-la ali com a cabeça sobre o volante e o cabelo todo espalhado e com sangue nos braços, meu coração gelou, esquentou e estremeceu.

É minha culpa...

            -Jill?

Senti meu rosto esquentar e um desespero começar a inchar no meu peito até que o motorista do caminhão se aproxima.

            -Ela está viva?

Eu me ajoelhei ao lado dela com medo de tocá-la e responder a pergunta dele da pior forma possível, então permaneci ali sem saber o que fazer. Claire se aproximou com as mãos trêmulas e checou o pulso dela.

            -Ela está viva... O senhor pode chamar uma ambulância?

            -Sim, vou chamar...

Ele saiu para alguma direção e me aproximei dela puxando levemente seu corpo para o banco e vendo seu rosto machucado e sangue misturado ao cabelo.

A dor em meu peito foi tão grande que senti uma lágrima sair involuntariamente de meu olho por aquela cena e levantei tirando o cinto dela e a pegando com cuidado no meu colo a fazendo sair do carro.

            -Não mexe nela, Chris...

Eu sentei no chão com ela em meus braços e sentindo a pulsação leve dela meu peito se contorce me gerando uma dor cruel e parecendo interminável.

            -Jill... Por favor... Me perdoa.

            -Não é sua culpa.

          -Eu devia ter te contado dela... Me perdoa. Mas você vai ficar bem, não vai? Por favor, não faça isso comigo... Por favor. Não posso sem você.

Eu a puxei para mais perto de mim e senti o perfume doce e delicado de sua pele que aos poucos parecia deixar de brilhar... Sua expressão desacordada, seu corpo sem força, seu sorriso e olhar intensos e sem vida me acertaram com tudo em minha alma.

Senti meu rosto esquentar mais e as lágrimas saírem sem eu poder controlá-las e nem querer me esforçar para isso.

            -É minha culpa... Por favor, me perdoa.

            -Não é sua culpa.

            -COMO PODE DIZER ISSO, CLAIRE?

            -Não é sua culpa, Chris!

            -Ela não sabia que você era minha irmã, achou que era outra mulher!

            -Bobagem...

            -Não, eu sou um estúpido! Eu não mereço ela, olha o que eu causei para mulher que eu amo, Claire!

Ela se abaixou ao meu lado e passou as mãos em meu rosto limpando minhas lágrimas e meu suor.

            -Ela vai ficar bem... Ela vai ficar bem.

Eu abaixei o rosto e olhei para o rostinho meigo da minha pequena... Minha Jill... Afastei algumas mechas de cabelo e vi um corte em sua testa e queixo e o sangue espalhado em seu rosto e braços.

Ela continuava linda, mas parecia tão sem vida... Parecia tão frágil e vulnerável caída em meus braços, mas ainda era angelical.

Um barulho alto de sirene se aproximou e ouvi passos rápidos se aproximando e eles a puxaram de meus braços a colocando no chão e trazendo a maca.

Foi minha culpa...

Eu não tinha forças para reagir, apenas os observava agirem depressa sabendo que o estado dela era grave. Eles a amarraram na maca, um homem disse que ela estava viva, mas deveria ser levada com urgência.

Minha cabeça martelava, tudo girava e minha consciência pesava mais que qualquer coisa naquele momento.

Quando a levantaram, eu fui de atrás reunindo todos os resquícios da minha força porque agora ela precisava de mim mais do que nunca. Embarcaram na ambulância e eu entrei junto, mas o médico me olhou com desagrado.

            -O que você é dela?

            -Namorado.

            -Tudo bem...

Ele me olhou meio com desaprovação e a Claire surgiu antes que fechassem as portas.

            -Chris!

            -Chama o Barry, Claire.

Fecharam as portas e dirigiram com rapidez enquanto o médico a analisava e olhava preocupado ao relógio parecendo saber que cada segundo a mais era um a menos para minha Jill.

Eu prendi meus olhos nela, mas a cada troca de olhares dos homens ali dentro meu peito se torcia dentro de mim me fazendo sentir a dor da minha alma se rompendo com o peso da minha culpa em saber até onde aquilo poderia ir.

            -E-Ela... Vai fi-ficar bem, n-não vai?

Mesmo com minha pergunta engasgada, o homem principal me olha preocupado e seu olhar me conta a verdade mesmo com sua boca tentando amenizar.

            -Esperamos que sim.

Sinto minha garganta virar do avesso com aquilo até que as portas se abrem e rapidamente eu levanto saindo do caminho deles que a tiraram as pressas da ambulância e seguiram correndo empurrando a maca para dentro do hospital e pelos corredores.

Eu corri para acompanhá-los cada vez mais para dentro, mas é claro que antes de uma última porta uma enfermeira se colocou na minha frente.

            -Só até aqui, senhor...

            -É minha namorada.

            -Sinto muito, senhor, mas não pode... Ela será atendida e depois falam com o senhor, vá até a sala de espera e aguarde.

Mesmo com a vontade de torcer o pescoço dela, eu sabia que apenas fazia seu trabalho. Então com a dor me devorando por dentro a segui até a sala de espera e sentei no sofá com a cabeça entre minhas mãos. Cotovelos nos joelhos. Olhos fechados, espremidos. Sentindo uma falta de ar tremenda e uma dor... Uma dor cruel.

É minha culpa...

O sorriso dela invadiu minha cabeça, seu olhar brilhante ao me ver, seu jeito meigo de falar, de mexer no cabelo, de se espreguiçar, de estar distraída, de estar pensativa... Cada traço, cada característica me vieram na cabeça e aquele brilho que eu via ao redor dela foi se apagando e minha cabeça começou a tinir com flashes dela em minha memória.

Quando a conheci, quando treinamos juntos pela primeira vez, quando sorriu para mim pela primeira vez, quando ouvi sua risada calorosa pela primeira vez, quando trocamos um olhar... Quando ela aceitou sair comigo... Quando confessamos um ao outro o que sentíamos, quando nos beijamos... O sabor doce e suave de seus lábios vieram a minha boca e pude imaginar por um momento que ela estava ali comigo.

Mas não. Ela está em uma cama de hospital entre a vida e a morte. E pode deixar de respirar a qualquer segundo e estou aqui, inútil, sem poder fazer nada para ajudá-la, sem poder fazer nada... Nada...

            -Chris?

Uma voz conhecida invade o lugar, mas não tenho forças de sair dali ou simplesmente libertar meu rosto culpado para alguém.

            -Chris, como ela está?

A voz preocupada do Barry me faz doer mais a culpa em minha alma e apenas balanço a cabeça e o escuto respirar fundo. Sinto uma mão em meu ombro e sua voz temerosa, mas tentando me passar força sai meio tropeçando nisso.

            -Ela vai ficar bem... Ela tem que ficar bem, garoto.

Eu abaixo mais a cabeça, agora a mantendo perto de minhas pernas e sinto as lágrimas arrancarem pedaços de dentro de mim quando saiam e ao mesmo tempo acumular meu desespero e angústia.

            -Irmão, se acalme...

Sinto um abraço desajeitado da minha irmã, mas ainda não levanto o rosto porque não consigo encarar ninguém ali.

É minha culpa... E eles sabem disso.

            -Não é sua culpa, Chris... – Barry disse.

            -Como saberíamos que ela ia aparecer lá? – Claire perguntou – Afinal, por que ela estava lá?

Apesar de ser uma excelente pergunta, eu não conseguia me fixar nessa ideia agora, apenas me torturar mais porque é o que eu mereço... Eu mereço a dor, eu mereço a culpa e tudo de ruim que vier.

            -Seja forte, Chris... Ela vai precisar de você quando acordar.

            -E se ela não acordar, Barry?

Eu pergunto entre minhas mãos e não escuto resposta imediata vindo dele, mas sinto que ele encara a Claire. Então levanto minha cabeça para encará-lo e vejo que mesmo com uma voz calma, ele tem uma expressão angustiada.

            -Ela vai acordar, garoto... Tenha fé nisso.

            -É minha culpa.

            -Você não tem culpa disso.

            -Não tente me defender, Barry...

Eu levanto me afastando dos dois e olho para o corredor esperando que alguém apareça, alguém que me diga que ela está bem e que posso vê-la.

            -Chris, se começar a se culpar vai enlouquecer...

            -E VOCÊ QUER O QUE, CLAIRE? EU DEVIA TER CONTADO PARA ELA, ASSIM JAMAIS SAIRIA DEQUELE JEITO!

            -Você ia me levar na casa dela amanhã, como saberia que ela ia para montanha?

            -NÃO IMPORTA! DE QUALQUER MANEIRA É MINHA CULPA!

            -Ela está certa, Chris... Você não tinha como saber que ela ia para lá ou você contou para ela?

            -Não... – Minha voz falhou.

            -Então como ela sabia? – Claire perguntou.

            -Não importa... Ela estava lá e nos viu juntos, pensou bobagem, saiu nervosa e não viu o sinal vermelho.

Eles trocaram um olhar, mas eu ignorei sentindo minhas pernas tremerem a cada olhar que eu dava para o corredor.

Quando eles vêm falar alguma coisa dela?

Meu coração parecia estar parado pela pressa com que ele batia, eu não podia distinguir mais as batidas e sentia um nó em minha garganta, um mal estar completo e minha angústia me fazia andar para lá e para cá com os olhos grudados no corredor.

Meu desespero crescia, parecia gostar de brincar comigo porque fazia eu me lembrar de coisas que eu não tinha forças para lidar agora... Seu sorriso, seu olhar, suas lágrimas e o acidente. A batida que está gerando toda essa queimação em minha carne, que parece estar se rasgando aos poucos a cada minuto que passa e não sei nem se ela continua viva.

            -Senhor?

Quando ouço uma voz perto eu viro e vejo um médico me encarando, então corro até ele e sinto minha respiração aumentar e meu coração estar prestes a ter um ataque cardíaco dependente da resposta dele.

            -É o namorado da moça que sofreu o acidente?

            -Sim, sou eu... C-Como ela está?

            -Está viva...

Pelo menos uma tonelada se desprende de mim e solto um suspiro junto com Claire e Barry atrás de mim, mas o médico não sorri, apenas observa calado.

Isso não é tudo, não é?

            -Ela vai ficar bem, não vai?

            -Ela está... Estável.

            -O que isso quer dizer se não significa que vai ficar bem?

            -Sinto muito, mas sua namorada entrou em coma.

O quê?

Eu dou dois passos para trás e sinto uma falta de ar tremenda, então me encosto de costas para parede e coloco as mãos em meu rosto sentindo uma dor que não queria me deixar viver mais.

Não, não, não, não, não, não, não, não... Não pode ser.

Por favor, Jill... Por favor, minha pequena, não faz isso comigo.

            -Quanto tempo ela vai ficar assim, doutor? – Claire pergunta.

            -Não dá para saber... Pode ser horas ou anos. Ou pode não acordar mais.

A dor em meu peito é como se ele tivesse enfiado uma faca em meu peito e a torcido cheia de espinhos até perfurar cada pedaço do meu corpo.

Isso não pode estar acontecendo... Não pode estar acontecendo.

            -Meu irmão pode entrar para ver ela?

Eu rapidamente olho para o médico que mesmo com uma expressão de desaprovação, concorda me dando um sinal.

            -Venha comigo...

            -Chris, se acalme, por favor. – Claire fala.

Sigo com ele até outro corredor e chegamos a um quarto onde ele para antes de entrar para me olhar.

            -Não posso deixar que fique muito tempo.

            -Tudo bem...

Ele abre a porta para mim e entro rápido, mas paro ao ver ela. O quarto era pequeno, com uma cama ao centro onde estava a minha pequena deitada parecendo apenas dormir tranquilamente podendo acordar a qualquer momento, mas infelizmente meu coração sabia que não era bem assim.

Me aproximo dela e permaneço ao seu lado olhando as máquinas que mostravam seus batimentos tranquilos e a que estava lhe ajudando a respirar.

A cena era demais para mim... Ver minha Jill nesse estado, ver a mulher da minha vida nesse estado por causa de algo que eu mesmo causei é doloroso demais. Mas necessário, eu mereço ver o que eu causei.

Ela era feliz antes de eu me enfiar na vida dela tentando ser o cara que ela merece... Achei que eu podia dar a ela a felicidade que merecia, pensei que eu podia ocupar o coração dela e fazê-la sorrir todos os dias, mas agora vejo que não sou capaz disso.

Querendo fazê-la sorrir, quase tirei seu sorriso para sempre... E ainda tenho chance de conseguir isso, porque a qualquer momento seu coração pode parar e sei que o meu para junto porque não haveria mais um lugar nesse mundo para mim sabendo que ela não pertence mais a ele.

Me aproximo mais e seguro em sua mão que mesmo rezando que ela corresponda, fica sem se mexer. Não reage. Nada.

Meu coração murcha sentindo uma solidão inigualável em meu peito e não sinto forças para nada, apenas dou um beijo leve em sua mão e acaricio seu cabelo com cuidado desejando que abrisse os olhos e me desse aquele sorriso perfeito que só ela tem.

            -Acorda, Jill... Você tem que acordar...

Sinto as lágrimas vindo novamente e sei que não posso evitar isso. Não me lembro de ter chorado em minha vida, antes de conhecê-la. A primeira vez que experimentei isso foi quando saí da casa dela depois que terminou de vez comigo. E agora isso... O pavor em perdê-la torna-se incontrolável dentro de mim e de alguma maneira ele tem que sair e penetrar em minha pele tornando-se ainda mais doloroso.

            -Me perdoa... Me perdoa por isso.

Tentei limpar meus olhos na tentativa de poder vê-la melhor através das lágrimas.

            -Você tem que acordar, minha pequena... Por favor. Não me deixa. Não desista de mim, não posso sem você.

Eu deixei sua mão encostada em minha testa tentando sentir seu leve calor e passar minha vida a ela. Ela precisa viver, eu não... Como faço para dar minha vida a ela? Ela merece mais do que qualquer outra pessoa e desgracei a chance dela ser feliz quando me meti na vida dela achando que eu poderia ser o homem ideal... Que bobagem. Depois disso ficou claro que não tenho capacidade de fazer alguém feliz, ainda mais uma mulher tão especial quanto Jill Valentine.

Mas agora de nada adianta chorar por isso... Não adianta eu me arrepender de me enfurnar na vida dela que ia tão bem antes de eu começar a falar o que eu sentia, eu devia ter permanecido calado, assim ela estaria bem, sorrindo, feliz.

Eu a olharia de longe, mas ela estaria bem... Como eu faço para voltar atrás? Como faço para voltar no tempo e me manter a quilômetros de distância dela? Assim nada aconteceria e ela estaria em casa, saudável e feliz. E talvez com o cara certo que com certeza não sou eu.

Mas agora é minha responsabilidade e ficarei do lado dela até estar sorrindo de novo, até estar bem novamente e assim devolverei sua vida normal... Eu não a mereço. E nem ela merece tamanha desgraça na vida dela.

            -Eu vou cuidar de você... Eu prometo.

Eu vou cuidar... A cada dia vou cuidar para que volte ao que era antes e poderei ver seu sorriso de novo, seu olhar brilhante. Longe de mim, mas verei.

Longe... De novo... Mas eu poderei ver ela sorrir novamente.

Vou poder, não é?

Sim, porque ela vai ficar bem... Vai acordar.

            -Senhor, tem que sair agora.

O médico entra olhando no relógio e dou mais um beijo em sua mão e um suave em sua testa esquivando os machucados ao acariciar seu rosto também.

            -Quando poderei entrar de novo?

            -Amanhã... Amanhã estará liberado, mas hoje a deixaremos sossegada.

            -Tudo bem... Até amanhã, minha pequena.

Eu deixo sua mão aonde estava e saio olhando pela porta antes do médico fechá-la e meu coração esvazia ainda mais.

            -Com sua experiência, doutor... Acha que ela vai acordar?

          -Difícil dizer... Muitas pessoas acordam e outras não. Ela pode abrir os olhos nos próximos segundos, ou talvez amanhã ou nunca mais. Se apenas continuar assim a respirar pelas máquinas, aí desligamos.

            -Como é que é?

          -Se o paciente não reage por muito tempo, pedimos autorização para família para desligar tudo e deixar o paciente seguir o seu caminho de vez.

            -Ninguém vai desligar nada dela.

           -Não estamos falando nisso, se acalme... Apenas se não reagir por meses. Mas vamos ficar esperançosos de que a moça vai acordar e continuará a viver bem... Na verdade foi até um milagre ela estar viva.

            -Por que diz isso?

         -Um acidente com um caminhão... A maioria nem chega vivo até o hospital, ela teve muita sorte e mesmo com o coma, os machucados no resto do corpo foram poucos. O problema foi a cabeça.

            -Mas se... Quando. Quando ela acordar ficará bem?

           -Acredito que sim, mas não posso dar uma resposta totalmente exata porque é necessário fazer vários exames ainda e com ela acordada também. Temos que ver se não prejudicou nada no cérebro também.

            -Como assim?

           -Pode afetar a memória... Ou alguma parte do corpo já que é tudo interligado aos comandos do cérebro, temos que examinar quando acordar.

É claro que o pavor não vai me deixar em paz enquanto ela não acordar e for examinada para me dizerem que ela está completamente bem... Agora só Deus sabe quando terei alívio na minha alma.

            -Não perca a fé, ela é jovem e vocês têm muito para viver juntos...

Para viver, sim... Juntos, já não sei dizer.

           -Agora preciso que preencha essa papelada com as informações dela para ficar tudo ajeitado, depois entregue para moça do balcão.

            -Tudo bem.

Ele me entregou alguns papeis que ignorei a princípio, então colocou a mão no meu ombro me olhando com um sorriso.

            -Vá para casa, descanse e volte amanhã...

            -Não, vou ficar aqui.

            -De qualquer forma não poderá entrar até de manhã.

            -Não faz mal, mas ficarei aqui.

            -Como preferir... Até amanhã, senhor.

            -Chris.

            -Até amanhã, Chris.

            -Até.

Ele saiu e eu caminhei lentamente pelo corredor querendo tropeçar para dentro do quarto dela e permanecer lá... Acho que a dor aqui fora é mais insuportável do que lá dentro, porque mesmo vendo o que causei, estar ao lado dela tudo já fica melhor.

Quando chego na sala de espera, vejo mais rostos preocupados que quando me veem, levantam rapidamente vindo em minha direção.

            -Como ela está, Chris?

Joseph e Brad param na minha frente parecendo aflitos e eu desvio sem ter forças de olhar para alguém ainda sem me sentir culpado. E não sei se isso vai passar, porque eles também já devem saber que a culpa de tudo é minha.

            -Estável...

            -O que isso significa? – Brad pergunta.

            -Que ela está bem desconsiderando o fato de que está em coma e o coração dela pode parar a qualquer momento.

            -Mas também pode acordar a qualquer momento... – Claire fala docemente.

Ela vem com tudo me dar um abraço e eu a aperto em meus braços sentindo a dor que ela sentia em me ver naquele estado.

            -Seja forte, irmão... Ela vai ficar bem.

            -É o que eu mais quero.

            -Ela vai ficar bem e você poderá explicar tudo e então viverão felizes para sempre.

Acho difícil...

            -Espero que sim.

Ela se afasta acariciando meu rosto e limpando a água dele ao mesmo tempo, então percebo que ainda meus olhos não largaram a umidade para me fazer chorar a qualquer momento.

E talvez seja isso que preciso... Um choro desesperado como uma criança de dez anos talvez me fizesse aliviar um pouco essa pressão. Não a dor ou a culpa, mas sinto que meu corpo está segurando algo forte demais dentro de mim e não consigo colocar para fora.

Com mais um olhar pelo local, vejo Forest no sofá... Ele parece nervoso, encara o chão impaciente, com uma expressão angustiada e bate o pé sem parar. A mão dele parece trêmula e contraia as sobrancelhas.

Ele não estava gostando muito da Jill nos últimos dias, por que está assim?

            -Forest?

Ele para de se mexer e até parece parar de respirar quando olha para mim e seu rosto empalidece de um jeito muito estranho, então desvia o olhar acenando com a cabeça.

            -Ela vai ficar bem, não vai?

            -É o que eu espero.

            -Foi muito grave?

            -Ela está em coma...

Ele aumenta a respiração e esfrega as mãos no rosto parecendo quase explodir de nervosismo, então me aproximo dele sem entender, mas noto que enrijece quando paro diante dele.

            -O que é que deu em você?

            -Estou nervoso por ela...

            -Você nem gosta dela, por que está aqui?

            -Sou seu amigo.

            -Tudo bem, obrigado... Mas por que está tão tenso assim?

            -Só estou nervoso, Chris, não é porque não nos dávamos bem que eu queria que algo assim acontecesse, eu nunca planejei isso!

Ele se alterou e desviou a cabeça para longe voltando a bater o pé impacientemente no chão e notei que ele escondia alguma coisa... Isso é rancor? Por tudo que fez e falou a ela? Não é para menos... É bom que se torture um pouco, assim quando ela acordar ele agirá diferente.

Fui até o sofá e sentei nele olhando no relógio. Os demais me acompanharam e o silêncio predominou no lugar... Acho que nunca ficamos juntos e em silêncio desse modo. Eu preenchi a papelada e entreguei para mulher que as pediu sem dizer mais nada, mas senti a pena dela ao me ver naquele estado.

Depois de um tempo, Barry se despediu dizendo que tinha que voltar para casa porque não queria deixar a família sozinha, mas voltaria de manhã. Pedi para Claire ir junto, mas ela não queria me deixar sozinho.

Com mais um tempo, Joseph e Brad também foram dizendo que voltariam já de manhã e mesmo eu pedindo para Claire ir junto para dormir no meu apartamento, ela negou novamente.

Mas indiferente das horas passarem e do dia estar amanhecendo na madrugada mais longa da minha vida, Forest continuou ali... Ele não falava nada e sempre que eu via que ele estava me olhando, já desviava, mais nervoso e mais preocupado.

O que é que deu nele?

Ele batia o pé o tempo todo e suas mãos não paravam quietas, além de trêmulas ele as esfregava na testa o tempo todo. Dava para notar que estava prestes a ter uma parada cardíaca se não se acalmasse.

Por que ele está assim?

            -Será que ela vai me odiar quando acordar?

Eu desvio dele agora olhando para Claire... Sei que quer quebrar a tensão e tentar me animar, mas não acredito que isso seja possível agora.

            -Por quê?

            -Porque ela achou que estávamos juntos... É melhor eu não entrar lá até explicar tudo, ou talvez ela piore quando levante para me estrangular.

Ela sorriu sem jeito e mesmo eu tentando forçar algo de resposta, nada saiu, então a abracei e ela fez o mesmo, deitando a cabeça em mim.

            -Como ela é?

            -Ciumenta ao extremo.

            -Notei... Ela bateu no seu carro.

            -Fique feliz por isso, ela poderia ter ido para cima de você.

            -Então vocês são perfeitos um para o outro.

Eu sorri levemente, mas a dor e a culpa intensa se remexeram debaixo da minha pele fazendo isso doer dentro da minha alma já que eu não tenho direito nenhum de esboçar um sorriso ou sentir alegria enquanto ela está naquela cama sem poder se mexer.

            -Como ela é além de ser tão ciumenta quanto você?

            -Ela é perfeita...

            -Isso já me disse, mas quero detalhes dessa perfeição!

       -Ela é doce e meiga... Mas é brava. Ciumenta mesmo, assim como eu. Também é forte, decidida, inteligente, audaciosa, inquebrável... Teimosa. – Eu sorri ligeiramente, mas parei sentindo mais dor – É amorosa, carinhosa, apaixonada e apaixonante... Delicada. Tímida, mas sedutora.

            -Muitas coisas...

            -Por isso eu disse que é perfeita.

            -Quero conhecer ela, sei que depois de tudo ela vai me adorar.

            -Todos te adoram, Claire.

            -Pois é, por isso eu disse que vai me adorar.

Ela sorri, então se afasta por um momento me olhando nos olhos e demonstrando a preocupação intensa dela.

            -Não quero que se culpe, Chris...

            -Mas a culpa é minha, Claire.

            -Você não tinha como saber que ela ia para lá...

            -Mas eu devia ter dito.

            -O que será que ela foi fazer lá?

            -Não sei.

            -Será que sabia que estávamos lá?

            -Não tem como...

            -Tudo bem, mas... O que foi fazer lá?

            -Talvez quis voltar para onde a levei um dia, só isso.

            -Não sei, não... Acho muito estranho tudo isso, deve ter uma explicação.

            -Quando ela acordar, ela conta.

           -Sim... E vai ver, isso tudo é só charme dela, apenas quer um sono de beleza prolongado, aposto que ela vai acordar essa tarde mesmo.

Apesar de eu adorar o senso de humor da minha irmã, esse momento não me permitia sorrir sem meu corpo todo doer.

Então ela me olhou daquele jeito preocupada de novo e voltou a me abraçar. Eu olhei para o relógio e o dia lá fora começava a aparecer, mas o olhar do Forest em nossa direção ficou mais tenso e minha curiosidade já estava fluindo dentro de mim.

Por que ele ainda está aqui?

            -Vá para casa, Forest...

Ele olhou de canto para mim e desviou negando com a cabeça.

            -N-Não, eu... Quero ficar aqui...

            -Te aviso quando ela acordar.

            -Não, eu... E-Eu prefiro ficar e saber como ela está...

            -Tudo bem.

Com certeza essa reação dele é estranha... O que é que deu nele?

            -Será que o refeitório abriu? Eu precisava de um café... – Claire sorri.

            -Eu vou ver, preciso esticar as pernas.

            -Tudo bem.

Levanto e olho para o Forest que estava encarando a parede próxima a mim e desvio sem entender nada.

Quando chego ao refeitório peço dois cafés grandes e sigo novamente a sala de espera a passos de uma tartaruga, querendo que o tempo passe mais rápido e eu poder sentir o abraço dela de novo, o carinho de suas mãos, a delicadeza de seu toque e a felicidade em receber aquele sorrisinho doce e meigo que ela tem.

Ao virar no corredor escuto minha irmã aos sussurros com alguém...

            -Minha Nossa, Forest... – Ela disse nervosa – Como pôde fazer isso?

            -Claire, eu nunca quis isso, acredite em mim!

            -E nem é louco de querer! Mas como você pôde, não pensou o que isso podia causar?

            -Não, era só brincadeira...

           -Brincadeira? Parece brincadeira para você ela estar entre a vida e a morte naquela cama? É brincadeira para você o jeito que seu melhor amigo está desmoronando de culpa por algo que você causou?

Como é que é?

Eu apareço entre eles e vejo a Claire gelar ao me ver e o Forest continua do mesmo jeito, parecendo nem conseguir respirar direito de tanto nervosismo.

            -O que você causou, Forest?

            -Precisamos conversar...

            -Estou ouvindo.

Meu coração acelerou de um jeito dentro do peito que senti minha expressão mudar para um frio implacável sem nem querer pensar sozinho no que ele poderia ter culpa.

            -Aqui não, vamos lá fora... Se me matar aqui dentro, não vão te deixar ficar com ela depois.

Ele me deu as costas e foi em direção a saída e quando fui segui-lo, Claire me segurou pelo braço parecendo extremamente nervosa assim como ele.

            -Por favor, Chris... Mantenha a calma.

O jeito dela já me revelava grade parte do que ele queria me contar, então saio rapidamente sentindo minha respiração acelerar e minha cabeça girar com um ódio interminável surgir dentro de mim e quando saio sigo até onde ele estava parado.

Quando chego ele mantém a cabeça baixa e as sobrancelhas contraídas, mas eu espero mesmo sentindo algo me roendo por dentro pronto para o que fosse necessário fazer com ele.

           -Fui eu... Eu disse a ela que você estaria lá... Eu disse que tinha saído com outra mulher e que estaria lá com ela... Eu sou o culpado disso tudo.


Notas Finais


Agora sim dá um quebra pau, hein...
Qual será o nível de explosão do Chris quanto a esta revelação de culpa do Forest?
Estão sentindo cheiro de briga, socos e sangue? Eu também!
Espero que tenham gostado, apesar de ter sido um capítulo mais deprimente... É isso aí!
Até a próxima!
Bjooon :-)


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