Observo seu sorriso enquanto coloca um copo de suco e um prato com uma torrada mais perto de mim e seu jeito feliz cravado em seu rosto me faz sorrir e derramar uma lágrima, então desvio.
A limpo rapidamente e quando olho para ele, me pega no flagra diminuindo o riso e meu coração se parte em mil pedaços.
Então ele levanta sua mão e acaricia meu rosto me dando mais vontade de chorar e inclino o rosto para ganhar mais do seu toque gentil e amoroso que só ele tem e que só ele me faz sentir tudo o que sinto.
-É só um mês, minha pequena...
-Eu sei.
-Vamos nos encontrar depois, eu prometo.
-Eu sei...
-Então não fica assim, porque vou perder a coragem...
-Estou bem... Só vou sentir sua falta.
Ele sorri do jeito doce dele e vem sentar ao meu lado para me abraçar e sinto o perfume bom de sua pele vindo para mim e permaneço ali para guardar seu cheiro e decorar seus traços enquanto passeio com meus dedos pelo seu rosto e pelo seu abdômen.
-Vai passar rápido... Só um mês.
-Espero que sim.
-Depois que for me ver, não vamos mais ficar separados... Nunca mais existirá essa fase em nossa vida.
-Nunca mais...
-Sempre juntos.
-Sempre...
-Sempre.
Ele puxa meu rosto para um beijo leve e sorrio quando se afasta e acaricia meus cabelos. Então pega a fatia de torrada e traz para perto de mim para eu morder e ele sorri, já dando uma mordida também.
-Só tinha suco para tomar...
-Tudo bem.
Continuamos a comer ainda abraçados e ele que me dava as torradas para morder e o suco para tomar, porque eu apenas mantinha meus braços ao seu redor, sentindo sua respiração e ouvindo seu coração.
-Não podemos nos falar durante esse mês?
-Desculpe...
-Como vou saber onde vai estar para te encontrar?
-Barry estará comigo em alguns dias, aí pedirei para ele te avisar.
-Tudo bem.
-E de qualquer jeito, você vai ficar aqui agora...
-Sim.
-Tenha muito cuidado, Jill... Eu não queria te deixar sozinha, me apavoro com a ideia de que podem vir atrás de você de novo.
-Serei mais cuidadosa.
-Sim, por favor... Não saia se não houver necessidade.
-Mas e minhas noitadas por aí agora que estou livre?
-Quem disse que está livre?
Ele me olhou com cara feia e eu ri dele, já com meu Chris apaixonado retribuindo e me abraçando com aquele som maravilhoso de seu riso doce de menino.
-Vou sentir muito a sua falta...
-E eu sentirei a sua, minha pequena tigresinha.
Eu sorri ainda abraçada nele e depois que peguei meu copo com suco e o esvaziei, peguei o olhar dele em mim e sorri.
-O que foi?
Ele deu um sorriso malicioso e puxou a coberta de mim me deixando exposta completamente e me cubro de novo resmungando e ele ri.
-Ei!
-O quê?
-Não olha para mim pelada!
-E o que eu já não vi aí, hein?
-Viu tudo...
-E então? Deixa eu apreciar...
-Então fica pelado também!
-É um convite para alguma atividade em especial?
Eu ri e ele me acompanhou daquele jeito dele. Então levantou e pegou uma camisa dele e me estendeu ainda com um sorriso.
-Coloca...
-Por quê?
-Quero ver você com uma camisa minha...
-Já usei uma camisa sua.
-Não só a camisa.
Eu ri novamente dos desejos dele e a coloquei me sentindo melhor agora e levantei da cama sendo agarrada subitamente por um abraço que me fez sorrir e depois me apertou o coração.
-Eu amo você... Não esqueça disso, pequena.
-Não vou esquecer.
-Vou te esperar...
-É bom mesmo... E juízo.
-Sem noitadas para mim também?
-Nem pense...
Ele riu e me deu um beijo nos lábios... Nada caloroso, apenas afetuoso e carinhoso enquanto acariciava minha bochecha. Então sinto uma lágrima escorrer e mesmo tentando ser forte, sinto a vontade de desmoronar e implorar para que fique.
Não, Jill... Ele tem que ir. E estará mais seguro longe daqui.
Vamos nos reencontrar em um mês...
Tenho que me agarrar a isso.
Agora ele apenas mantém a testa na minha e fico com as mãos em seu peito sentindo seu coração bater.
Sei que ele está triste...
Sei que quer vingança acima de tudo...
Mas sei também que tem medo de me perder... Medo de que algo aconteça.
Só que ambos temos medo de falar nisso.
Então alguém bate na porta e sinto que ele espreme os olhos e se afasta abaixando o olhar por um instante e me observando com seus olhos vermelhos.
-Se pedir para eu ficar, eu fico...
-Sei que é difícil para você, Chris... Mas eu te apoio.
-De verdade?
-Sim, acredito que é por uma boa causa... Vamos conseguir fazer com que todos paguem pelo que causaram. E para isso, sua viagem e minha permanência aqui são essenciais.
-Sim, eu sei...
-Vamos nos ver em um mês... E essa certeza me basta por enquanto. Desde que você permaneça bem e seguro.
-E você também...
-Não me importo comigo agora.
-Mas eu sim... Não faça bobagens.
-Nem você.
-Somos cabeçudos, é difícil ter certeza disso...
-Pois é.
Sorrimos um para o outro e com mais uma batida na porta, ele me estende a mão e vamos juntos até a sala, de mãos dadas até vermos o Barry.
Ele entra e o Chris fecha a porta, mas seu sorriso em nos ver de mãos dadas parece sincero e contente.
-Olha só... Finalmente.
Nós sorrimos e o Chris me puxa para perto me abraçando e me dando um beijo nos cabelos enquanto Barry ri de nós.
-Demorou...
-Pois é.
-Desistiu da viagem?
-Não... Ela me apoia.
-Bom... Em um mês estaremos todos reunidos. A Umbrella terá seu fim.
-É o que esperamos...
Só depois de eu desviar que vejo que ainda estou só com a camisa do Chris e mesmo sendo mais comprida, era meio constrangedor demais ficar ali desse jeito, então me esquivo.
-Eu vou lá... No quarto.
Eu saio dali rapidamente e dou um tapa em minha testa.
Claro que ficou óbvio o que rolou, olha o teu estado!
Vou até minha mala e pego o primeiro vestido e a primeira calcinha que encontro pela frente já vendo o Chris entrar e pegar as malas rindo de mim.
-Vem comigo até a porta?
-Sim... Não quer que eu vá até o aeroporto?
-Não, melhor não... Vou perder a coragem se você for.
Depois de acabar sigo para ele e trocamos um beijo rápido enquanto me finjo de forte e volto de mãos dadas com ele e o Barry nos olha agora com o olhar sério e entristecido de antes.
-Avisou a Claire?
-Não falei mais com ela...
-Não acha melhor avisar da viagem?
-Não quero preocupar ela e muito menos a envolver em alguma coisa.
-Sim, você está certo.
-Todos sabem que tenho uma irmã e a última coisa que quero é ela perto de mim para se tornar um alvo mais fácil... Quero ela segura onde está.
-E vai ficar... Damos um jeito e falamos com ela depois.
-Sim.
Ele tem medo que a envolvam, isso é normal... Ele é irmão. Tem que protegê-la.
-Então é isso... Temos que ir.
Com as palavras do Barry, o Chris vira para mim e dou um sorriso tentando ser forte, mas meus olhos me traem e as lágrimas começam a escorrer.
-Te espero no carro...
Barry sai levando as malas e o Chris me puxa em um abraço apertado que retribuo agora me entregando de vez as lágrimas e sentindo uma dor me queimando por dentro.
-Um mês, Jill...
-Um mês.
-Eu amo você, minha pequena.
-Eu amo você, Chris.
Ele vem ao meu rosto e me dá um beijo apaixonado, retribuo no meio das lágrimas e sinto a tristeza e a angústia dentro dele também.
Eu não queria chorar, para não tornar isso pior a ele... Mas não dá. É mais forte que eu.
-Vou te esperar lá...
Com mais um toque em meus lábios, senti a angústia e o medo dele. Mas me soltou e saiu pela porta rapidamente sem olhar para trás.
Minhas lágrimas correm e vou em direção a cadeira da cozinha sabendo as chances de eu encontrá-lo novamente.
Minha Nossa... No que se transformou nossa vida?
Nosso mundo virou de cabeça para baixo... Depois que aquelas mortes aconteceram, foi o começo do fim de nossas vidas.
Vamos ter que viver nos escondendo?
Vamos ter que morrer lutando?
Esse é nosso destino agora?
Eu verei mesmo o Chris novamente?
É tão fácil... Tão fácil alguém me encontrar aqui e me matar, ou simplesmente um tiro na rua ou na delegacia.
E ele... Agora sozinho. Sem ter para onde correr. Sem ter para quem correr. Isolado. Sem se comunicar com ninguém.
O mundo tratou de nos colocar em caminhos diferentes que são interligados apenas por fios finos tão fáceis de se romper.
Abaixo minha cabeça e permaneço ali sem ver o tempo passar... Não importava mais. Não agora. Quando amanhecesse um novo dia eu estaria sozinha. Mas teria uma missão, a mais importante. Tenho que arrumar mais provas para auxiliar a todos nós e destruir de vez a Umbrella.
Então ouço uma batida na porta. Levanto a cabeça e olho no relógio.
O Chris já foi...
Engulo o choro com as lágrimas intermináveis ainda teimando em sair de meus olhos e sigo até a porta. Pego a arma sobre o balcão e deixo encostada atrás da porta, mas ao abrir um rosto familiar surge e o deixo entrar.
-Jill...
-Barry.
-Eu queria conversar...
-O Chris já foi?
-Sim.
A dor em minha alma é agonizante e volto a sentar na cadeira em que eu estava antes sentindo um vazio e uma solidão inexplicável dentro de mim.
-Vou embarcar amanhã, Jill.
-Tudo bem...
-A Rebecca vai hoje também.
-Tudo bem.
-Vai ficar bem aqui?
-Tenho o Brad...
Ele riu por um momento e eu forcei um sorriso com ambos sabendo que o Brad servia mais para eu cuidar do que um auxílio em alguma coisa.
Brad não era um medroso de carteirinha, mas não agia sobre pressão e sempre soubemos disso. Ninguém o culpou ou o puniu. Entrarmos naquela Mansão foi um mal necessário para saber o que acontecia ao nosso redor e que não conseguíamos enxergar... Mas o Joseph foi uma perda cruel. Mas mesmo assim, o Brad foi embora depois. Então não mudaria muita coisa.
-Eu me encontrarei com o Chris também daqui há uns dias... Quero ver se minha família está bem.
-Tudo bem...
-Jill... Depois da Mansão nem tivemos tempo para conversar.
Eu desviei meus pensamentos do Chris agora e olhei para o Barry que parecia entristecido ao me olhar e eu já soube o que ele queria.
-Nem pude me desculpar direito...
-Barry... Deixe disso. Sua família estava em perigo.
-Apontei uma arma para você.
-Estava protegendo sua família... Nem por um minuto guardei mágoa de você, entendo o que deve ter passado, não pense nisso.
-Me perdoe.
-Não há o que perdoar...
-Por favor, Jill...
Ele parecia realmente abatido por isso, então fiz o que era mais simples para mim, mas mais importante para ele.
-Se quer assim, eu te perdoo... Mas não tenho mágoa nenhuma para guardar de você.
Eu sorri e ele retribuiu meio sem jeito e eu sabia, que em qualquer lugar do céu onde o Chris estivesse voando com aquele avião, ele ficaria feliz em saber disso.
Mas a minha dor e saudade já me corroíam internamente.
-Obrigado... Eu já vou.
-Boa viagem amanhã.
-Nos vemos em um mês, garota... Se cuida. E olho no Brad.
-Pode deixar e se cuide também.
Ele veio em minha direção e o abracei tentando conter as demais lágrimas por perder mais alguém próximo a mim.
Então assim como o Chris, ele sai dali e tranco a porta indo em direção a janela onde dava para ver parte da rua.
Com certeza essas lágrimas de uma manhã de agosto que não poderia ser pior, vão cravar em meu coração... E a dor da distância de tantas pessoas queridas me farão ver tudo de uma maneira um pouco diferente.
...
E assim foi...
Rebecca foi embora.
Barry foi embora.
Não tive notícia nenhuma do Chris.
Eu não conseguia mais dormir. As imagens ainda estavam cravadas em minha mente, eu ainda ouvia os gritos dos meus amigos, os rosnados das criaturas e sentia o cheiro podre dos cadáveres.
Minhas noites eram marcadas com anotações e leituras de algo que pudesse nos ajudar contra a Umbrella. Então os dias passaram se arrastando, mas eu não olhava no calendário e nem no relógio para não doer mais sabendo que ainda faltava muito para reencontrá-lo.
Eu apenas mantinha o pensamento: Ele está bem. E vai continuar bem.
Setembro começou com uma temporada intensa de calor e de mais assassinatos pela cidade. As mortes não paravam. A população estava mais assustada sem saber o que fazer, como agir ou para onde fugir.
Não havia mais crianças na rua, famílias passeando ou sequer cachorros andando despreocupados na luz do luar.
A cidade estava deserta. Os comércios fechavam mais cedo. Os bares mantinham as portas fechadas e trancadas depois de certo horário.
Raccoon City estava se acabando... E a Umbrella estava camuflada.
Eu continuei na delegacia, mas meus olhos eram atentos a todo movimento. Brad ficava distante, conforme o combinado. Mas sua aflição em saber o que poderia vir a qualquer momento o mantinha sempre nervoso e desastrado.
Ninguém entrou em contato conosco... Mas tínhamos conseguido algumas informações ali e aqui que poderiam ser úteis. Mais aliados da Umbrella. Descobrimos que a maior parte da cidade estava ligada a ela. Ou seja... Tudo fazia parte de uma grande teia de mentiras e corrupção.
Essa cidade e essas pessoas não passavam de mera fachada para a empresa poder se esconder e fazer tudo o que tanto cobiçavam com seus experimentos que apenas geravam mortes e destruição.
Mas algo bom aconteceu.
O “um mês” combinado chegou e eu devia embarcar com o Brad para Europa e encontrar Barry no aeroporto segundo o único e-mail que recebi dele... E finalmente reencontrar o Chris.
Eu sentia muita falta dele e os dias pareciam ter adotado mais horas para ficarmos por mais tempo afastados um do outro. Não tive notícia nenhuma. Mas se algo ruim tivesse acontecido, eu já teria ficado sabendo.
Ele está bem... Onde quer que esteja, ele está bem.
E por enquanto isto me basta.
Mas por aqui, tudo estava inquieto. Um silêncio desesperador. As ruas estavam desertas e meu olhar pela janela me diziam que eu devia esperar mais um pouco ali, em pé, observando.
Meus olhos procuravam por algo que eu não sabia direito o que era, mas minha arma continuava sobre o balcão. Meu coração estava acelerado e minhas mãos suavam parecendo que dentro de mim eu esperava algo terrível.
Porém, nada aconteceu...
Respirei fundo me dando um pouco de espaço para esboçar um sorriso por eu poder finalmente embarcar e deixar esse lugar para trás, mas meus olhos são puxados novamente para rua.
Vejo alguém... Um homem. Ele caminhava sobre a rua, em uma parte escura, na sombra. Ele devia estar bêbado, porque cambaleava e andava meio arrastado.
Engraçado, depois de todos os assassinatos até os que gostavam de extrapolar na bebida pararam com isso.
Mas ele continuou a caminhar e não sei porque, eu continuei ali olhando... Esperando. Então mais deles surgiram junto e o primeiro homem finalmente chegou sobre a luz de um poste na rua e eu vi.
Eu vi...
Sangue. Morte.
Não me surpreendi.
Ele estava sujo de sangue, com o rosto deformado e caminhava cambaleando porque já não era mais ele... Quando os demais se aproximaram, vi o mesmo. Mas com um barulho alto, um carro vem acelerado da outra direção e da de frente com o posto fazendo a luz se apagar. Porém com a gasolina vazando, ele explode e desvio sentindo os cacos do vidro da minha janela caírem sobre mim pela pressão da explosão.
Calço minhas botas de cano longo, pego minha arma sobre o balcão e volto para a janela olhar a rua em chamas e com corpos de mortos-vivos prontos para matar e devorar.
Chegou a minha hora de dizer adeus a cidade... Mais do que a hora.
Preciso ir a delegacia, tenho pouca munição para isso e mesmo sabendo que uma bala na cabeça basta, se já chegaram até aqui, é porque existem muitos outros.
Mas por que não estou surpresa?
Por que não estou apavorada?
Eu acho que no fundo eu esperava por isso... Eu já sabia.
Engatilho minha arma, respiro fundo e saio do apartamento sabendo o que eu tinha que fazer.
Não sei se sairei viva disso afinal... Mas não vou desistir. Vou até o fim. E ninguém pode me parar.
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