Eu estava no quarto do Joseph e ele fuçava no guarda-roupas dele para pegar roupas para os meninos e para mim. Até que ele se virou com um sorriso no rosto e surpreendentemente me mostrou um vestido curto meio esverdeado e florido.
-- Eu sabia que eu ainda tinha isso guardado.
-- De alguma ex? – Eu ri.
-- Não, não, de uma prima minha que veio há mais de um ano e esqueceu isso aqui, mas eu deixei guardado aí no caso dela voltar.
Ele o estendeu para mim e indicou o banheiro, me fazendo olhar para lá.
-- Pode ir tomar um banho se quiser. No banheiro tem toalhas limpas, escova para cabelo e acho que tudo que precisar... Menos maquiagem. – Ele riu.
-- É, eu achei que não teria.
Ele riu e foi para a porta olhando para mim com um sorriso.
-- Fique a vontade, Jill... Pode se trocar tranquila aí, o quarto é seu.
-- Obrigada.
Ele fechou a porta e senti um calafrio que me fez tremer... Nossa essa roupa molhada pode me fazer pegar um baita resfriado.
Fui ao banheiro e pensei por um momento se eu tomaria um banho ou não, mas com mais um calafrio, eu tranco a porta e ligo o chuveiro sem molhar mais os cabelos e só fico ali por um minuto para me aquecer, então desligo. Encontro uma toalha na cômoda e me enxugo, pensando o que eu faria em relação a minha roupa íntima... A calcinha não estava molhada, então a coloquei de volta, mas o sutiã meio úmido, dou uma sacudida e o recoloco, sentindo um friozinho. Então visto o vestido e vejo que ele ficou um pouco mais curto do que os outros que eu tenho, mas nada extremamente visível, então me conforme, porque pelo menos é algo seco. Pego a escova de cabelo e tento ajeitar os fios meio rebeldes pela chuva e surpreendentemente consigo deixá-los no lugar. Também dou uma limpada na lateral do rosto por causa de uns pequenos borrões da maquiagem e acho que está razoável.
Volto ao quarto e pego a jaqueta do Chris de novo a vestindo e sentindo aquele perfume irresistível impregnado nela e sorrio como boba. Me olho no espelho mais uma vez e não fico muito satisfeita, mas era o melhor que eu podia fazer.
Saio do quarto e escuto vozes enquanto caminho e inevitavelmente escuto os cochichos dos três na sala.
-- Pense pelo lado bom... Depois de meses você a convidou para sair, agora só esperar mais uns meses que você cria coragem para se declarar. – Joseph riu.
-- Foi mal, Chris... – Brad pareceu entristecido – Não tínhamos visto que ela estava com você, se não, não teríamos entrado no carro.
-- Pois é, agora já está feito... – Chris falou normalmente – Mas não importa, acho que agora está se encaminhando.
Eu sorrio e mesmo antes com passos lentos, ainda preciso dar mais alguns chegando na sala e vejo o Joseph com o telefone no ouvido parecendo esperar alguém atender e os outros dois na sala, sentados no chão ao redor da mesa de centro. Vou até eles e antes de sentar, o Chris coloca uma almofada fofa para mim e apenas dou um sorriso de agradecimento.
Noto que ele encara a jaqueta dele em mim e ao virar para ele eu sorrio e ele retribui antes de eu falar.
-- Você quer ela de volta?
-- Não, pode ficar.
Reparo rapidamente que ele estava com uma roupa seca, mas que a camisa era meio pequena e os músculos dele eram mais evidentes, mas desvio antes de corar ou de deixar que ele note o calor súbito que me causou.
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-- É a sua vez, Jill.
Olho para as minhas cartas que tinham tudo para vencer mais uma vez e reparo o olhar tenso dos outros, então rio e jogo mais fichas no centro da mesa.
-- Aumento a aposta.
-- De novo? – Brad me encarou.
-- Ela quer nos sugar até o último centavo... – Chris sorri.
E mesmo com as reclamações, eles aumentam e sem me surpreender, ganho novamente e eles respiram fundo, jogando as cartas na mesa.
Joseph tinha pedido uma pizza que agora já estava quase no fim e as horas passaram harmoniosamente com nossas rodadas de pôquer. Eu fui a que mais ganhou, logo atrás de mim o Joseph, Chris e por último o Brad que não ganhou nenhuma.
-- Vocês são muito amadores.
Eles me encararam e eu ri deles que se entreolharam com um sorriso e se espreguiçaram onde estavam.
-- Mas e aí... – Joseph pareceu malicioso – Vocês já arrumaram par para festa da delegacia?
Nossa, até tinha me esquecido disso... Pensei que talvez o Chris fosse me convidar e acabei esquecendo porque não comentou nada e esse pensamento me deixou para baixo, mas tentei manter a aparência.
-- Putz... – Chris fala – Tinha esquecido completamente disso.
-- Não diga...
Chris o encarou, mas o Joseph voltou os olhos em mim ainda com um sorriso malicioso e finjo não entendê-lo.
-- E você, Jill?
-- Eu estou sem par ainda, também.
-- Cara... Nem sei o que fazer da minha vida sobre essa festa. – Brad bufou – Quem eu vou convidar?
-- Não sei, mas tenho certeza de que no fim de segunda-feira todas as garotas bonitas já estarão convidadas... Então é melhor nos três agirmos antes disso se já tivermos alguém em mente.
Joseph encarou significativamente o Chris e eu desviei me fingindo de boba para não constrangê-lo, então escuto Brad rir.
-- Mas não esquente, Jill... Sexta-feira tinham acabado de receber a notícia e tenho certeza de que você será a mais convidada da delegacia.
Eu ri com ele e o Joseph, mas vejo o Chris desviar deles mostrando que não gostava da ideia. Então olho para o relógio e percebo que já é uma hora da manhã... E embora a chuva tivesse parado por umas duas horas, agora ela tinha voltado com mais força.
Vejo que o Chris repara meu olhar e então me cutuca me fazendo virar para ele que fixa um sorriso nos lábios.
-- Quer ir para casa?
-- Você é quem sabe...
-- Eu te levo quando quiser, Jill, é só dizer.
-- Tudo bem... Pode ser.
Ele levanta e eu pego o dinheiro das apostas com os outros dois de bico e eu rio com o Chris me acompanhando.
-- Sinto minha carteira extorquida. – Joseph emburrou.
-- Foram vocês que insistiram...
Eles levantam e Brad pula ao nosso lado, com clara certeza de que pediria carona ao Chris para voltar para casa e vejo que com a mesma percepção, ele disfarçadamente revira os olhos.
-- Por mim, podíamos rodar a noite jogando. – Joseph sorri.
-- É, eu seria muito lucrativo. – Respondo.
-- Para você, Jill...
-- Fazer o quê... Ah, Joseph, e o vestido?
-- Ah, pode ficar.
-- Não, imagina... Posso devolver na segunda?
-- Como quiser.
-- Digo o mesmo. – Chris falou.
Brad sorri e vai até a porta e o acompanhamos com o Joseph acenando, então nos despedimos e saímos. A chuva não estava muito grossa agora, mas aquela garoa chata e persistente continuava.
Corremos ao carro e Brad se enfiou no banco de trás e o Chris se sacudiu antes de ligar o carro, mas ele não sorria mais. Então saímos de lá em direção a rua e o silêncio prevaleceu...
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Chris ainda estava sem sorrir e encarava a estrada parecendo pensativo. Ele só pode estar assim porque com esse tempo e a essa hora não vai poder me levar no lugar em que queria e também porque não estamos sozinhos no carro... E pelo caminho que tomou, vai me deixar em casa primeiro e depois o Brad, já que a casa dele é no caminho depois da minha. Por isso ele deve estar ainda menos amigável.
Quando noto, ele estaciona o carro na frente da minha casa e por um momento me lembro que meu carro está na casa dele, mas não digo nada. Ele sai do carro e viro para trás acenando para o Brad.
-- Até segunda-feira, Brad... Boa noite.
-- Até, Jill, durma bem!
-- Obrigada.
Eu saio com o Chris tendo aberto a porta e corremos até a minha varanda, então quando vou tirar a jaqueta dele, ele faz um sinal para eu parar.
-- Não, pode ficar com ela... Está frio ainda. Me devolve outra hora.
-- Mas não quero que você passe frio... Eu já estou em casa.
-- Não discuta, Jill...
Ele deu aquele sorriso brilhante para mim e não consigo resistir a volta desse estado dele... Simplesmente lindo.
Ele me olha por alguns segundos e eu a ele, então ele desvia e olha para o carro dele perdendo o estado sorridente e noto que ele se sente preso por causa do Brad que com certeza declararia ao mundo todo o que visse aqui.
-- Eu... Posso te ligar amanhã?
-- Claro que sim.
-- Eu queria vir te ajudar amanhã com o trabalho que o Wesker te deu...
Abro um sorriso súbito com a ideia de passar mais um dia inteiro com ele, mas ele frustra minha expectativa com as próximas palavras.
-- Mas amanhã tenho um compromisso que não posso adiar, e...
Qual compromisso?
-- Bom, me desculpe... Eu queria vir, mas...
-- Tudo bem, Chris, não precisa fazer isso.
-- Mas eu queria te ajudar.
-- Você já me ajuda sempre que pode e quando não pode também... – Eu sorri.
Será que ele vai sair com alguém? Como assim um compromisso? Talvez eu deva perguntar... Não, não, vou parecer uma psicótica, não tenho direito nenhum de perguntar.
-- Que compromisso vai ter amanhã?
Antes de eu perceber, minha boca já tinha agido por vontade própria e tento esconder o tamanho da minha curiosidade, mas ele ri daquilo.
-- Claire... Minha irmã. Ela vem passar o dia comigo e não posso deixar a fedelha na mão.
-- Sua irmã?
-- Sim.
Eu sorri extremamente aliviada e continuo calmamente.
-- Como ela é?
-- Ah, extremamente chata... Mas a melhor irmã que existe. – Ele sorriu.
-- Vocês se dão bem?
-- Muito bem... Bom, às vezes brigamos como quaisquer irmãos, mas como só temos um ao outro, sempre estamos presente quando o outro precisa.
-- Que legal...
-- Sim, ela é incrível... Chatona, mas uma irmã espetacular. – Ele sorriu – Queria que ela conhecesse você.
-- Um dia podemos resolver isso.
-- Sim, eu ia gostar.
Ele voltou a me olhar daquele jeito de antes, mas desviou novamente olhando para o carro dele e respirando fundo.
Acho que ele não vai evoluir muito a conversa agora, parece bravo pela presença do Brad e pelo jeito não consegue nem falar o que devia ter planejado... Será que eu digo alguma coisa? Hum...
-- Eu gostei muito de hoje...
Ele me olha e abre um sorriso torto “daquele” e me seguro para não cair.
-- É mesmo?
-- Sim... Ah, e cadê o meu urso?
-- Ah, é... Posso te entregar ele na segunda-feira? É que seu carro está na minha casa e não queria que viesse sozinha a essa hora, por isso te trouxe direto para cá. Mas se quiser, eu o pego, mas é que acho que vai molhar mais.
-- Tudo bem, mas...
-- Daí nós podíamos... – Ele parou.
Ele pareceu sem jeito, mas meus olhos brilharam com esse início de frase dele e esperei pacientemente ele recuperar o Chris mais direto da tarde de hoje e conseguir falar.
-- Eu podia te dar carona na segunda-feira de manhã para ir e na volta vamos lá em casa e pega seu carro.
E o “nós” para onde foi?
-- Isso se não for te atrapalhar, não é... Bom, digo, amanhã vai precisar?
-- Não, acho que não.
Meu desânimo pela perda do “nós podíamos” me invadiu e não olhei para ele, mas senti que sua tensão aumentou provavelmente pela mudança do meu humor, mas não consegui disfarçar.
-- Quando voltarmos segunda-feira...
Eu olhei para ele mais rápido do que devia e ele sorriu, então ficou me olhando daquele jeito doce e meigo dele e encolhi os ombros pelo que me fazia sentir assim, mas não desviei.
-- Você podia ficar lá em casa para comermos alguma coisa e... Talvez poderíamos ir no lugar que eu tinha dito, já que hoje o tempo não ajudou.
Eu sorri com a ideia e concordei com a cabeça o fazendo sorrir mais e parecer voltar a ser mais confiante.
-- Legal...
-- Legal.
Ele ficou ali calado e me perguntei se ele tentaria alguma coisa se o Brad não estivesse aqui e acho que apesar do jeito dele, acho que faria sim... Minha consciência se frustra com a ideia de que eu estava perdendo a chance de sentir o gosto maravilhoso da boca dele com um beijo intenso e bem demorado.
-- Eu acho que eu... Tenho que ir.
-- Pois é...
-- Boa noite, Jill... Durma bem e tenha bons sonhos.
-- Obrigada... E você também, Chris.
Eu olhei para ele e seus olhos verdes brilhantes me encaravam de um jeito que eu sentia que ele me chamava para mais perto... Sentia o que ele sentia e aí eu percebi como ele deixava claro a maioria dos pensamentos dele. E percebi como eu fui burra em não ter percebido isso antes.
Que droga... Eu quero tanto que ele... Que ele... Chris.
Sinto uma vontade extremamente súbita em esquecer o Brad naquele carro para fechar a noite com o gosto dos lábios desse homem que me vira a cabeça, tira a minha sanidade e faz com que meu coração quase ultrapasse minha garganta.
Então ele vem em minha direção subitamente e fecho meus olhos, mas sinto sua boca me dar um beijo leve na bochecha e seu braço ao redor de mim me soltar ainda mais rápido.
-- Boa noite, Jill.
Ele sai rápido demais dali e corre para o carro, mas não consigo me mover por alguns segundos. Então me recomponho e destranco a porta, dando um último aceno na direção deles e entro em casa os ouvindo sair.
Jogo minha bolsa no sofá e sento ali encarando a parede mais distante pensando em tudo que havia acontecido hoje: cada gesto, cada palavra, cada olhar, cada passo a mais que demos... Meu sorriso se arreganha e abraço a mim mesma sentindo e perfume da jaqueta dele e fecho os olhos me afundando nela e lembrando que quase ganhei um beijo de verdade dele. E só de pensar nos braços dele me puxando e me prendendo a ele enquanto seus lábios doces, macios e quentes me beijam, sinto algo extraordinário... Mas paro aí mesmo e vou ao meu quarto para tentar dormir.
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Acordei no domingo afundada em minha cama e com a jaqueta dele vestida no meu travesseiro e eu fortemente agarrada aos dois. Eu ri da minha criancice e levantei disposta para meu dia monótono de domingo, pensando que eu poderia ter passado esse dia com ele também, mas é claro que eu jamais pediria para ele deixar a irmã de lado.
Minha manhã foi curta, mas produtiva... Lavei toda a louça que deixei do dia anterior para me arrumar para sair com o Chris, lavei toda a roupa suja que eu tinha e relutei em lavar a jaqueta dele para perder seu perfume, mas lavei.
O dia estava sublime, um sol maravilhoso que ajudou muito no meu trabalho doméstico. Limpei toda a casa com um sorriso no rosto, pois não havia nem um segundo em que eu não me lembrava daquele homem maravilhoso.
Meu almoço foi rápido e eu encarava a todo tempo o telefone... Ele disse que ligaria. Será que aconteceu alguma coisa? Ou simplesmente esqueceu... Faço cara feia encarando meu prato, mas dou um salto quando escuto o telefone tocar e corro até ele, mas paro antes de atender.
Calma, Jill... Não mostre que você veio correndo, faça ele esperar um pouco.
Tocou a segunda vez... A terceira... A quarta!
Atendi rapidamente e tentei parecer normal e não uma desesperada.
-- Bom dia...
Eu me seguro no balcão e abro um sorriso totalmente abestalhado aproveitando que o dono da voz não pode ver eu me derreter.
-- Bom dia, Chris.
-- Como passou a noite?
-- Muito bem e você?
-- Também, mas... Preferia que o Brad não estivesse ontem.
-- É, eu também.
Eu ouvi ele sorrir e ouvi um cochicho do outro lado. A irmã dele já está lá?
-- Sua irmã já chegou?
-- É, ela está aqui esparramada no meu sofá.
-- Manda um “oi” para ela.
-- Ok...
Ouvi ele mexer o telefone, ou esfregá-lo, sei lá e ouvi uma voz clara no fundo dizendo em voz alta “oi, cunhada” e tive que me segurar para rir em silêncio, então escuto um barulho e o Chris volta a linha.
-- Ela disse “oi”.
-- Tudo bem... Muitos planos para o resto do dia?
-- Ah, alguns, mas ainda estamos esperando o almoço. E você, o que anda fazendo?
-- Ah, eu estava dando uma geral na casa e na roupa suja e a tarde vou fazer os relatórios... Não se esqueça de trazer meu urso amanhã.
-- O Júnior?
-- Não, eu só quero o grandão.
-- Que feio.
Eu ri e o ouvi fazer o mesmo, então desejei ardentemente que estivesse na minha frente para fingir um desmaio para ele me segurar com aqueles braços fortes, sarados, tentadores e...
-- Eu vou indo, então... Nos vemos amanhã de manhã?
-- Sim. – Eu sorri – Vem para tomar café comigo?
-- Isso é um convite?
-- Pode ser.
-- Tudo bem... Pode ser.
Ele riu e eu também e me desmancho ainda mais aproveitando que ele não pode me ver como uma boba arreganhada e abestalhada por ele.
-- Então está combinado... Boa sorte aí com tudo e mantenha o café longe quando terminar.
-- Pode deixar.
-- Se cuide e até amanhã.
-- Você também... Até amanhã, Chris.
-- Abração, Jill...
-- Abração, Chris. – Eu ri.
Eu esperei ele desligar e demorou alguns segundos até ouvir um barulho ao fundo e finalmente a linha caiu e coloquei o telefone no lugar ainda suspirando.
Ah, eu pareço uma idiota... Tenho que me conter.
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