História Sempre Você... (Camren) - Karla

Mais um dia. Só mais um dia e Camila e eu podemos voltar para nossa casa. Sei que ela tem se esforçado para não cair nas provocações de minha mãe, que, eu preciso admitir estão mais leves do que eu esperava, contudo, é visível que isso não perdurará por muito mais tempo.

Ambas estão beirando seus limites cada qual por suas próprias razões as quais eu prefiro não tomar conhecimento.

Sei perfeitamente que na noite passada acabei, mesmo que de forma inconsciente e nada intencional, chateando minha latina. Acabei descontando nela minha frustração por ter discutido com dona Clara e por mais que tenha me desculpado eu vejo que ela está um tanto mais arredia comigo. Prova disso é que nesta manhã ela se levantou bem cedo e ao contrário do que fez nos dias anteriores não me esperou para descermos juntas para o café (que, aliás, ela havia recusado, de acordo com a moça que trabalha aqui) e desde então seu celular tem estado desligado.

Não me preocupo que algo possa lhe acontecer, Camila conhece bem essa cidade e sabe se virar, além disso, ainda é muito cedo, porém, tenho medo do que possa estar passando em sua cabeça nessas horas em que ela não deu noticias.

Embora não tenha me dito eu notei que durante o jantar, mais precisamente quando Alexia se levantou para atender uma ligação, minha esposa me encarou de forma perscrutadora por alguns instantes. Tudo bem que devo ter deixado transparecer minha expressão confusa, mas certamente não pelos motivos que deviam estar rondando seus pensamentos. Anos atrás, retirar-se da mesa durante uma refeição era inconcebível para minha ex-namorada, por isso meu estranhamento.

Você devia ter conversado com ela!

Agora, já passada em muito a hora do almoço, aqui estou eu andando em círculos esperando até que ela resolva voltar para então lhe dar qualquer explicação que ela queira enquanto sinto minha cabeça girar com o fluxo de incógnitas que se esbarram por minha mente.

―Acho que sua mãe não vai gostar se tiver de receber as visitas numa sala esburacada não é?

Levanto meus olhos encontrando outros castanhos que me sorriem divertidos.

—Está aí há muito tempo?

—Tempo suficiente pra estar tonta com o número de voltas que você já deu ̶ descruza os braços e caminhando até meu encontro deixando um beijo leve em minha bochecha―Aconteceu alguma coisa?

Posso ouvir uma nota de verdadeira preocupação em sua voz.

—Nada. Eu só estou aqui até Camila voltar.

―Ah...

—É. Ela foi dar uma volta sabe? Rever alguns lugares eu acho.

Só então percebo que ela não havia me perguntado coisa alguma e que minhas palavras foram ridículas além de desnecessárias.

—Curioso isso. Pelo que me lembro ̶ senta-se no sofá como se estivesse em sua própria casa—Ela nunca gostou muito daqui. Obviamente que você a conhece melhor, então...

A imito sentando-me no canto oposto ainda com meu celular em mãos.

—Enfim, isso não é da minha conta...

Seguro minha vontade de concordar.

—Minha mãe não está.

—Eu sei.

Seu sorriso se alarga e sinto um arrepio percorrer minha coluna.

―O que quer aqui então?

—Conversar com você.

—Simples assim?

—Porque devemos complicar? Não nos encontramos há muito tempo Lauren, que mal pode haver em passarmos algumas horas juntas?

Apreendo bem suas palavras buscando em cada uma delas algum significado que eu possa ter deixado passar a principio.

—Camila não gostaria disso.

—Claro. Karla jamais soube se divertir.

Meu corpo todo se enrijece ao ouvi-la pronunciar o primeiro nome de minha esposa e ela sabe bem disso.

―O que? É o nome dela não é?

—Minha mulher não gosta de ser chamada assim, Alexia, assim como eu também detesto que me chamem de Michelle.

—Lamento se os pais de vocês não pensaram nisso ao registra-las.

Seu ar debochado é demais para mim que me coloco de pé já demonstrando meu desejo de me retirar.

—Ei calma. Também não precisa disso é só uma brincadeira.

—Ela não gosta disso e eu também não. Se não tem mais nada a dizer...

—Você já foi mais educada hein? O que? Esses anos ao lado de Camila foram o bastante pra esquecer sua excelente criação?

—Essa é a Alexia que eu conheço! Sarcástica e sempre com esse arzinho superior! Onde estava todo esse tempo?

Reconhecendo talvez que a conversa tomava rumos perigosos ela logo trata de recompor sua expressão serena e se desculpa por ter me irritado pedindo em seguida que eu voltasse a me sentar.

Ela de fato se sente muito mais à vontade que eu nessa casa.

—Eu só quero falar um pouco com você Lauren, saber como estão às coisas. Não é porque terminamos que a gente precisa se odiar não é verdade?

Eu até entendia e concordava com ela, entretanto, se Camila sonhar que estou sentada de conversa com essa garota... Bom, prefiro nem pensar no que poderia acontecer.

―Porque isso? Qual a razão desse súbito interesse?

—Não sei. Apenas quero saber o que fez nesse período que estive fora, como vai seu casamento, a vida... Essas coisas de amigas...

―Eu estou trabalhando numa Universidade. Sou professora, mas isso você já deve saber, claro. Meu casamento está ótimo como sempre esteve consequentemente minha vida não poderia estra melhor e, para que saiba, não somos amigas.

—Ai, essa doeu. Porque tão grossa hein?

Reviro os olhos demonstrando o tédio que sentia com esse assunto.

―Jura? Olha, eu não tenho nada contra você, de verdade, mas Camila não gosta nem de ouvir seu nome e eu não estou disposta a arranjar uma briga por sua causa.

—Eu entendo. Não parece, mas ela é bem ciumenta né?

Não imagina o quanto!

—Eu posso só te mostrar uma coisa antes de ir embora?

―Que coisa?

Levanta-se vindo até mim mexendo em seu celular mostrando em seguida uma foto de um garotinho pequeno de rostinho gorducho e olhinhos levemente puxados, de um formato um tanto mais arredondado nos cantos, e um sorriso tão gostoso que logo me faz imita-lo.

—Quem é?

―Liam...

—E ele é...?

—Meu filho.