--- Saudade, amor...
--- Vem, minha manhosinha...
Deito ao seu lado sentindo seus braços envolverem meu corpo que gritava por ela, mas não daquele jeito. Era mais como uma necessidade de sentir-me de volta ao lar. É por isso que afirmo com toda a certeza de meu coração que eu fui a única a ser salva entre nós, sou eu a verdadeira dependente aqui.
--- Camz?
--- Oi...
--- Olha pra mim.
Ela abaixa a cabeça prendendo nossos olhares e tudo o que vejo é o mais leve carinho mesclado à preocupação. Isso não está certo. Sou eu quem precisa cuidar dela.
--- Eu amo você... Amo você com todas as minhas forças. Eu amo o seu cuidado comigo, amo seu jeitinho de ser, amo seus olhos, amo seu cheiro, seu gosto... Tudo em você...
--- Eu não sei o que aconteceu, mas só posso dizer que eu te amo ainda mais, Lauren.
Não era necessário nenhuma palavra mais. Toda a verdade de sua alma transparecia nessa simples frase.
--- Me abraça, amor. Me abraça bem forte, por favor!
Sua resposta vem através de um aperto grande ao redor de minha cintura que corresponde ao mesmo que trago no peito.
Aqui é o meu lugar. Com Camila e nosso bebê.
Sempre...
***
--- Tá lembrada que a ultra é hoje, né, Lo?
Eita!
--- Claro, amor... Eu vou estar lá...
--- Acho bom estar e não se atrasar...
Concordo e pouco depois já estou a caminho do meu trabalho buscando lembrar dá hora que deveria estar na consulta. Naturalmente eu não perguntaria para minha esposa, a menos que desejasse não ter acordada nesta manhã.
Encotro Ally ao chegar na universidade e depois de explicar detalhadamente tudo sobre minha conversa com Alexia ela aceita me ajudar a descobrir quando devo estar na clínica para “ver” meu bebê. Não preciso dizer que as horas se arrastaram até finalmente estar sentada numa sala branca e fria à espera de minha mulher.
Já disse que odeio hospitais? Odeio o que representam, odeio o cheiro, odeio as cores, odeio tudo! Não posso imaginar como alguém consegue permanecer nesse ambiente por mais tempo que o estritamente necessário, pois, poucas horas bastam para deixar-me angustiada, sufocada mesmo.
--- Amor, tá tudo bem?
Olho para Camila à minha frente com a testa franzida e expressão curiosa.
--- Tá... Tá sim, eu só não suporto esse lugar...
--- Pois vá se acostumando, linda... Você passará muito tempo aqui...
Encaro-a tentando entender, encontrar algum sentido em suas palavras.
--- O bebê, Lauren. Tô grávida, vamos vir aqui muitas vezes ainda, sem contar que nosso filho terá consultas mensais ao pediatra no primeiro aninho...
Por mais que sinta minha pele se arrepiar só por cogitar a possibilidade de vir aqui sempre não estou disposta a perder nada que diga respeito à minha família.
--- Por vocês, eu aguento! – digo tentando soar heróica, mas plenamente consciente de que sai mais como uma criança teimosa.
Somos chamadas em seguida e logo estamos diante do médico que examina Camila fazendo-lhe perguntas sobre seu estado e tudo o que tem sentido.
--- Ela tem ficado bem enjoada, doutor...
--- Mas nem é sempre não...
--- É sim! As vezes você nem consegue comer.
--- Exagerada quase nada hein Lauren!
Revira os olhos e então volta-se para o homem sentado à nossa frente parecendo se divertir.
--- Vê o que tenho suportado, doutor?
--- Ao que tudo indica, a senhora está em ótimas mãos... Sua esposa é muito atenciosa.
--- Ela é intrometida isso sim – mas sua voz demonstrava uma notinha orgulhosa.
--- Bom, vamos ao exame de imagem então...
Indica uma pequena maçã onde ajudo Camila a se deitar ficando de pé ao seu lado enquanto ela reclama baixinho sobre o gel frio que o médico espalha em sua barriga.
Eu confesso não enxergar absolutamente nada, mesmo que o senhor indique e nomeia cada vez borrão bom que surge na tela.
--- Tá tudo bem, né?
--- Humhum... Tudo perfeitamente normal... O feto está se desenvolvendo muito bem..
--- Bebê...
--- Como? – pergunta confuso.
--- É um bebê – repete a latina com um sorriso discreto vendo-o assentir em concordância.
Estou tão abobalhada com aquela tela escura que só volto ao mundo real quando ouço os resmungos do homem que continue com o exame.
--- O que? O que você tá vendo aí?
--- Tem alguma coisa errada?
--- Bom... É, não necessariamente...
Forço meus olhos, mas ainda assim nada daquilo não que ele aponta faz o menor sentido.
--- Diga logo o que você tá vendo aí!
--- Bem, o que posso dizer é que o procedimento deu mais certo do que acreditávamos.
--- Como assim? Lauren, o que tá acontecendo?
--- Doutor...
--- Vêem isso?
Indica com o dedo um ponto onde continuo a não enxergar porcaria nenhuma.
--- Dá pra falar de uma vez o que tem aí?
Ideias já começavam a ser formar em minha cabeça quando ele enfim resolve explicar.
--- Isso aqui – faz um pequeno círculo com um botão de seu teclado que eu nem notei --- É um saco gestacional, ou seja, onde está o fe... Bebê...
--- Tá e daí?
--- E daí que esse aqui – novo círculo --- É um segundo saco gestacional...
Hã?
--- E isso aí é normal?
--- Absolutamente normal numa gestação de gêmeos...
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