--- Alexa?
Não. É muito azar pra um único ser humano, meu Deus.
Sem nem me notar ela avança e levanta o pequeno chorão abraçando-o forte enquanto sussurra palavras que dessa vez sim o acalmam. É uma cena bastante... Bonita.
Será que conseguirei fazer isso por meu filho?
Antes que possa aprofundar meu diálogo silencioso, a dor forte em minha têmpora me faz lembrar da razão que me trouxe até aqui.
--- Lauren!
--- Ah... Oi.
--- O que faz aqui?
--- Como assim? Eu moro aqui.
Revira os olhos impaciente.
--- Mora nesse hospital?
--- Ahh...
--- Ahh – imita – Então?
--- Então o que?
--- Você está sendo obtusa de propósito, certo?
--- Tá falando de quê, hein?
Balança a cabeça montando um sorriso divertido.
--- Aconteceu alguma coisa? Digo, você não suporta ambientes assim, então, o que te trouxe aqui?
--- Ahh isso... É, não, tá tudo bem. Só tô com um dor de cabeça.
--- Sei. E onde está Camila?
--- Em casa. Esse é seu filho, não é?
--- Humhum... Liam...
Sorrio para o pequeno que tem o rosto escondido no pescoço da mãe.
--- Ele é muito lindo.
--- É o meu príncipe. Ficou um pouquinho adoentado e resolvi trazê-la ao pediatra
--- Tá certo.
--- Porque sua esposa não veio te acompanhar?
--- Ela nem sabe que eu vim.
--- Humm... Olha, não quero me intrometer não, mas, eu te conheço, Laur e sei que, com o pavor que você tem de qualquer coisa que envolva jalecos e injeções, você não viria se consultar por uma simples dor de cabeça, ainda mais sozinha.
--- Bom, estou prestes a me tornar mãe, preciso ser adulta de verdade. Já imaginou se meu filho precisa de um médico, como vou fazer? – ofereço um sorriso tímido torcendo pra que seja o bastante para mudar o tópico da conversa.
--- É, eu fiquei sabendo. Então, Camila já está com quanto tempo de gestação?
--- Quase quatro meses – respondo orgulhosa.
--- Então logo teremos o herdeiro chorando a plenos pulmões!
--- Ou a herdeira, ainda não sabemos.
Uma nova pontada, dessa vez mais aguda, me arranca um resmungo contrariado.
--- Já tô aqui faz um tempão e nada de me chamarem, que saco.
--- E ainda vem me dizer que é só uma dorzinha...
--- Você não disse que ele está doente? Não deveria esperar pelo médico?
--- Ok, eu sei quando não sou bem vinda, já tô indo – sua expressão de falsa ofensa fazendo-me lembrar de tempos menos complicados para ambas.
--- Desculpe, não quis ser rude.
--- Eu sei que não, esse é o seu charme natural...
Apenas continuo sorrindo.
--- Uma última coisa, Laur.
--- Pode dizer.
--- Eu só... Só quero que saiba que... Que eu não concordo com as atitudes de sua mãe. Clara e eu somos amigas, mas o que ela fez foi muito errado e eu disse isso à ela.
Talvez seja estranho, contudo, sinto sinceridade em cada uma de suas palavras.
--- Obrigada, Alexa.
--- Só mais uma coisinha. Não é da minha conta, porém, afastar Michel e Taylor por um erro que eles não cometeram é injusto.
E eu não sei?
--- Tem razão. Isso não é da sua conta. Acho que estão me chamando.
Saio sem esperar por uma resposta deixando-a seguir meus passos. Sei disso porque posso sentir seu olhar queimando minhas costas.
***
--- Lauren? Que droga, onde você se enfiou?
Deixo a chave do carro em cima de uma mesinha e afundo no sofá, grata por finalmente estar em casa.
---Lugar nenhum, Camila.
--- Você estava logo atrás e dê repente manda uma mensagem mudando o caminho, demora é diz que não foi pra canto nenhum?
Massageio minhas têmporas, agradecida por estarem somente doloridas e não latejantes.
--- Eu só dei uma passada lá no hospital, minha cabeça tava me matando.
Sua postura muda de imediato e ela chega ao meu lado, ficando de joelhos na almofada.
--- Lo! Você não me disse nada, eu teria ido com você!
--- Eu não queria te preocupar. Mas, acho que fiz justamente o contrário, né?
--- Lauren, nós somos um casal, precisamos partilhar tudo, amor. Eu sei como você detesta esses lugares, deveria ter me falado.
--- Eu só me decidi depois, aí te mandei a mensagem. Desculpe.
--- E o que te falaram? Porque tá sentindo tanta dor?
--- De acordo com o médico, preciso relaxar. Ele disse que tudo se deve a muita tensão. Me deu um comprimido lá e daí eu vim embora.
--- Só um comprimido? Isso você poderia ter tomado aqui!
--- Na verdade ele queria que fosse uma injeção, mas eu não deixei...
--- Lauren!
--- Camila!
--- Você é impossível!
--- Eu sei. Mas o remédio deve ser mais forte que os que nós temos aqui, já nem dói mais.
--- Que bom – beija minha testa – Você vai fazer o que esse médico mandou, vai tirar uns dias e descansar.
--- Eu bem gostaria, mas, da não. Daqui a pouco esse bebezinho nasce e vai precisar de leite e fraldas e isso custa muito, muito dinheiro, o que significa que terei de trabalhar muito, muito pra conseguir dar conta.
--- Boba...
Seus braços finos envolvem meu pescoço e por fim, passa as pernas por minha viatura, sentando sobre minhas pernas.
--- Você não gostou da Susana.
Não foi uma pergunta.
---Nem ela de mim.
--- Amor, ela é bastante simpática, sabe?
--- Ahh eu pude apreciar um pouquinho daquela docilidade.
--- É sério, Lo.
--- Camila, aquela mulher ignorou totalmente a minha presença, foi grossa comigo, sequer te falou que eu estava ali pra te ver.
--- Olha, eu oriento que vou falar com ela, chamar a atenção, entretanto, tenho certeza de que ela só fez isso porque eu mesma disse que não atenderia ninguém.
--- Você a esta defendendo – afirmei.
--- Claro que não...
--- Então porque tá dizendo que era só o trabalho dela. Eu vou te fazer uma surpresa e sou tratada dessa forma.
--- A culpa é minha, tá? Vou deixar bem claro que você sempre tem passagem livre até mim... Tá bom?
--- Eu não gostei dela! Me pareceu muito abusada.
--- Lo...
--- É isso mesmo! “ Mila “. Vou dar o Mila na cara dela se te a ouvir te chamando assim outra vez, tô avisando!
--- Aiii que bebê mais bravo!
--- Olha bem pra mim. Acha a que tô brincando, Camila?
--- Acho que você tá exagerando, é diferente.
--- Pois muito bem – tento me levantar, mas ela se mantém firme em meu colo – Vou aceitar que meus alunos me tratem por Lauren, então.
--- Você nem brinque com isso!
--- Oras... Qual o problema?
--- O problema é que você tá querendo fazer isso pra me provocar.
--- Se não dou essa liberdade à eles, você também não deve permitir menos dos seus funcionários.
--- Todos me chamam de senhora, amor, Susi é a única a usar meu nome.
--- Susi! Até esse nome me dá enjôo!
--- Eu não quero brigar, Lauren, muito menos por uma bobagem dessa.
---Bobagem porque não é com você!
---Vai mesmo insistir nisso?
--- Vai continuar aceitando essa intimidade toda?
--- Lauren, pelo amor de Deus, eu trabalho diretamente com ela, acho que o fato de nós tratarmos pelo nome não é nenhum pecado!
--- Tá certo, faça como você quiser.
Finalmente consigo deixa-la sentada no sofá e caminho para nosso quarto, mais precisamente, ao banheiro.
--- Eu fiz o jantar, não demore.
--- Tô com fome não.
Tranco a porta antes que ela me alcance e passo um bom tempo debaixo do jato forte de água morna, torcendo pra que meus pensamentos sejam levados pelo ralo, o que, naturalmente, não acontece.
--- Lauren! Lauren, a Vero tá no telefone!
--- Diz que retorno depois.
--- Ela tá falando que é importante.
A muito contra gosto fecho o chuveiro e deixo o box respingando por todo canto, já prevendo a bronca de mais tarde.
--- Cadê?
Seus olhos escurecem minimamente ao fitarem meu corpo e só então me dou conta de que nem me lembrei da toalha. Mas, não é como se ela nunca tivesse me visto assim. Notando que meu humor não é dos melhores ela me entrega o celular e se afasta poucos passos, fingindo não me olhar ali, de pé, na porta do banheiro.
Claro que Verônica não tinha nada de interessante para me falar, queria somente me encher o saco e marcar alguma espécie de acampamento no fim de semana próximo. Levei a conversa de modo que a garota ali não descobrisse seu teor, deixado em aberto aceitar o convite ou não. Tentava encerrar a ligação quando vejo minha mulher caminhar passando por mim e para minha surpresa, voltar com minha toalha em suas mãos.
--- O que vai fazer?
--- Como o que vou fazer? Nós vamos fazer, tapada, nós vamos acampar!
---Não é com você, sua anta!
Sem dar a mínima para minha pergunta, Camila se põe a enxugar a pele das minhas costas tão devagar quanto possível.
--- Você tem problema, é?
---Camila?
--- Olha, ou você fala comigo ou com a filhote latina, decida!
A questão é que ter essa latina assim, tão próxima, não me ajuda a pensar direito.
Logo o tecido felpudo é substituído por seus lábios quentes e, sem querer, solto um gemido involuntário e saudoso, que, obviamente, não passa despercebido.
--- Credo, vocês não respeitam nem o filho que ela tá carregando. Vê aí e depois avise, sua pervertida.
Deixo meu braço pender ao lado do meu corpo enquanto busco forças para pedir que minha esposa pare com essa... Brincadeira.
--- Camila, o que você pensa que tá fazendo?
--- Te secando... Literalmente...
Inferno de mulher!
--- Sabe perfeitamente que não podemos fazer isso.
--- Correção... Eu não posso...
--- Como – engasgo quando suas mãos ágeis apertam minha cintura – Chega.
--- Não.
Acho que não tem problema aproveitar ao um pouquinho...
--- Eu te amo, sabe? E tô morrendo de saudade do seu corpo...
A vontade de continuar é quase forte demais pra que eu concorde. Quase.
--- Não.
Consigo dar alguns passos, não sem antes alcançar a toalha enrolando em volta do meu tronco.
--- Não?
--- Não.
Procuro uma roupa leve e vou direto até a sala, ligando a tevê num canal qualquer fingindo prestar atenção.
--- Lauren, o que aconteceu?
--- Comigo nada.
---- Então me rejeitou de graça, é?
Merda!
Sem nem mesmo vê-la, consigo notar sua mágoa.
--- Não é isso, Camila.
--- Então é o que?
Suspiro buscando a paciência que me faltou mais cedo.
--- Vem cá – dou lugar para que ela se sente ao meu lado --- Só não acho justo. Não pense que eu não te desejo, porquê isso sim seria uma loucura. Mas, se você ainda precisa fiar abstinente, é algo que vai servir para nós duas, afinal, essa gravidez foi uma decisão nossa, não é?
Acena positivamente com a cabeça.
--- Não fique pensando besteiras, ok?
--- Você ainda me ama, Lauren? De verdade.
--- Que pergunta absurda é essa?
--- Só me responda, por favor...
--- Eu te amo mais que qualquer coisa, sabe disso.
--- Mais que coca cola?
--- Humm... Talvez não tanto assim...
--- Lo!
--- Tá bom, tá bom... Mais que coca cola.
--- Bom...
--- É? Então vem.
Apoio minhas costas no braço do sofá enquanto ela se recosta em meu peito.
--- Eu ainda tô brava com você.
--- Eu sei.
--- Eu não quero te controlar, mas... Olha, eu vi como aquelas pessoas me olharam. E eu estava vestida quase como uma colegial! Eu sinto muito ciúmes de você e aquela mulher... Camila, ela fez o que fez pra me provocar! Não posso aceitar isso.
--- Eu vou falar com ela, já disse. Prometo que não vai se repetir.
--- Se eu já não gostava de você trabalhando naquele lugar, agora muito menos.
--- Amor, não. A gente tá bem agora, não vamos entrar nisso.
--- Eu não quero saber dessa mulherzinha de gracinhas pro teu lado, Camila. Juro que se desconfiar de alguma coisa, acabo com ela.
---Chega desse assunto.
--- Só tô deixando bem claro. Uma gracinha, Camila, e você nunca mais pisa naquele lugar.
--- Você tá mesmo querendo brigar.
--- Não. Deixando claro.
--- Sei...
--- Você já comeu?
---Não quis jantar sozinha.
--- Então vamos lá, já passou da hora desse bebê aqui ser alimentado – beijo seu pescoço e com um pouco de dificuldade consigo me levantar sem que ela precise se mover --- Fique aqui bem quietinha, eu pego uma prato pra você.
--- Vamos comer no sofá?
--- Não é como se fosse a primeira vez – meu sorriso enfatizando o que eu realmente queria dizer.
--- Lauren!
É... Algumas coisas nunca mudam... Felizmente.
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