“ Filha, ao menos me dê a chance de tentar me redimir, explicar, qualquer coisa, Lauren. Por favor! “
Esse é o terceiro recado que minha mãe me deixou na última semana, o segundo desde que Dinah resolveu me dar um chá de cadeira à sua espera.
--- Você deveria ir.
--- Sei não, Mani.
É claro que esperar que DJ não dissesse nada sobre esse assunto à Normani seria demais. O mesmo se aplica com Verônica e Lucy.
--- Não tô dizendo que você tem que aceitar ou perdoar, mas, só ouvir, sabe? Talvez ela precise disso.
--- Você não estava lá. Não ouviu o que Camila e eu ouvimos. Não posso simplesmente perdoar.
--- Olha, não posso imaginar como tenha sido doloroso, porém, é a sua mãe, Laur e você queira ou não, ela acha que tá te protegendo, ela acha que sabe o que é o melhor pra você. Esse é o erro de todos os pais, será o seu erro, o meu, entende?
--- Tentar escolher por ele, obriga-lo a aceitar minha vontade nem que precise engolir isso goela abaixo? Não, não vou fazer isso. Nunca. Eu terei um filho, não uma propriedade.
--- Quer apostar que vai? Queira Deus que não seja como sua mãe, mas a seu modo, você também limitará as opções dele ou dela. Diga, quem vai escolher a roupa e o sapato?
--- Camila.
--- E quando ela não estiver?
--- Eu peço pra ela deixar separado.
A bela morena revira os olhos.
--- OK... Então me diga, quem escolherá o colégio? O material? Quem vai ficar em cima pra que ele estude, frequente as aulas e mais tarde, pra que chegue em casa na hora combinada? Quem vai dizer em qual festinha será levado ou não? Só a Camila? Pensei que as duas fossem mães.
--- Mas é claro que eu sou mãe!
--- Pois então responda. Você aceitaria que sua menininha fosse para uma festa com uma garotada bem mais velha, numa festa quem tem hora somente para começar?
--- Claro que não – dessa vez sou eu quem responde em tom óbvio.
--- Aceitará que ele leve a namorada em casa? Ou que ela durma debaixo de um teto que não o seu?
--- Lógico que não! Tá louca?
--- E porquê não?
--- Porque... Porque não, porque eu não deixo e pronto!
--- Mas, eles vão insistir, teimar, fazer birra, brigar...
--- Não interessa, eu sou a mãe, eu mando!
---E quais seus motivos pra negar isso tudo? Sim, porque, você vai precisar de argumentos.
--- Porque eu os criei, eu sei o que podem ou não fazer bem à eles.
--- E como você sabe disso assim, com tanta certeza?
--- Porque sou a mãe, já disse, eu sei o que é melhor para o meu filho!
É então que seu sorriso cresce, orgulhoso e triunfante, deixando-me sem ação.
--- Touché, Jauregui.
Essa é Normani Kordei, a maior psicóloga que você respeita...
***
--- Vai Lo! Eu quero!
--- Eu não sei se isso é bom. E se você sentir alguma coisa? Passar mal? Não, Camila, o melhor é ficarmos em casa.
--- Mas, Lauren, pode ser a última vez que fazemos uma viagem com nossas amigas assim, só a gente! Eu quero tanto!
--- Você sabe que terá de dormir no chão, né? Sabe que não terá banho quente, que vão sobrar mosquitos, sabe que não terá energia elétrica nem água encanada...
--- Eu sei é eu quero muito, muito, muito! Por favor!
--- Tá vendo o que vocês me arrumam? – pergunto à Vero que escutava toda nossa “ discussão “.
--- Qual é Laur? Vocês conversaram com o médico, ele liberou. Você tá sendo chata.
--- Ééé.
--- Que é o quê...
Camila cruza o quarto e senta na ponta da cama, braços cruzados e um bico fofo nos lábios.
--- Eu não sou médica, mas não vou correr riscos, de jeito nenhum.
--- Lo...
“ Não “, digo como resposta para ambas.
--- Você é um porre, Michelle. Eu tentei, Mila.
--- Humhum...
--- Tchau Vero, divirtam-se.
Olho para minha mulher ainda emburrada.
--- Não fique assim, Camz... Depois que o bebê nascer, aí sim nós vamos pra onde você quiser...
--- Como, Lauren? Enfiando ele na mochila?
--- Não faz assim, vai...
--- Você não entende... Eu queria aproveitar justamente porque depois que ele nascer vai tudo ser muito mais difícil. Enquanto ele tá aqui dentro, eu o levo pra onde for, mas, e depois? Acha que eu vou ter coragem de deixar esse pinguinho de gente pra ir pra qualquer canto? E você? Por acaso vai confiar em alguém pra cuidar desse anjinho? Hein?
Passo meus dedos entre os cabelos pensando, pensando e pensando...
--- Por favor...
--- Você vai me obedecer? Vai comer direitinho o que eu levar e me dizer se sentir qualquer coisinha, por mais boba que possa parecer!
--- Vou! Eu vou, faço tudo o que você quiser!
--- Vai usar repelente e muito protetor e se hidratar bastante, tá me ouvindo?
--- Tô! Ai, eu nem acredito!
--- Se acontecer qualquer coisa, eu mato Dinah e Verônica!
--- Eu ajudo!
--- Tá bom... Eu não consigo te negar nada mesmo...
O grito de felicidade fez doer meus ouvidos, mas arrisco dizer que nunca, nunca senti meu coração tão contente só por ver a alegria estampada em seu rosto.
--- A gente vai mesmo?
--- Siiiiim... Vamos.
--- Eu vou ligar pra Ally!
--- Não corra! Camila!
Em sua empolgação, ela se esqueceu que poderia usar o celular que a pouco estava em minhas mãos.
--- Eu esqueci!
Sorrio estendendo o aparelho em sua direção, o que ela ignora para deixar um selinho longo em meus lábios.
--- Você é a melhor....
Levo alguns segundos para me recuperar desse gesto tão singelo e carinhoso.
--- Concordo...
Sua risada baixa e infantil reverbera em meu peito, fazendo com que toda a preocupação extra que eu terei ao longo do fim de semana valha a pena.
--- Quero nem ver no que isso vai dar...
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.