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História Sempre Você... (Camren) - " Já estava na hora "


Escrita por: Camren_Yes

Capítulo 51 - " Já estava na hora "


Camila

Nem mesmo a respiração tranquila de Allyson consegue me fazer desacelerar. Talvez quando Lauren vier se deitar eu consiga enfim adormecer, contudo, algo me diz que essa será uma noite longa e insone, visto que mesmo cansada fisicamente, meus pensamentos se recusam a colaborar para meu descanso. Dou as costas para a loirinha forçando meus olhos a ficarem fechados, concentrando-me em minha própria respiração.

Inspirar...

Expirar...

Inspirar...

Expirar...

Inspirar...

A corrente de ar gélido avisa sobre a chegada de minha esposa que logo se ajeita entre nossa amiga e eu, seus braços envolvendo meu corpo ao seu, seu rosto escondido, eu sei mesmo sem ver, em meus cabelos, o nariz gelado arrepiando minha nuca.

--- Tá frio,Lo...

--- Desculpa.

Algo em sua voz acende uma lanterninha em minha cabeça e eu me viro, ficando de frente para seus marejados e brilhantes.

--- Ei, o que foi? Você tá chorando, Lo!

Sua resposta é juntar nossos lábios por um breve instante.

--- Lauren – lembro que Ally dorme bem aqui e quase sussurro – O que aconteceu?

--- Nada. Eu só estava conversando com as meninas e fiquei um pouquinho sentimental. Sabe que sou chorona...

--- Humm... Então tá tudo bem? Mesmo?

--- Tudo bem mesmo, lindinha...

Passo meus dedos em sua bochecha rosada pelo frio num carinho leve e sou recompensada com seu sorrisinho de menina que tanto amo.

--- E você? O que ainda faz acordada?

--- Sei não...

--- Sabe não, bebê? Tá sentindo alguma coisa? Frio?

--- Saudade.

--- Saudade, amor? De quê? Ou de quem?

--- Você.

--- Bobinha...

Deito minha cabeça em seu peito, bem acima de seu coração e fecho meus olhos enquanto sinto seus dedos iniciarem um carinho gostoso em meus cabelos.

--- Ouvir seu coração batendo é tão bom... De longe o meu som preferido.

--- Pensei que fosse o coraçãozinho do bebê.

--- O dele só bate por você, amor, assim como o meu. É uma coisa só.

--- Faz sentido.

Belisco de leve sua barriga ouvindo sua risada rouca.

--- Você me deixa dormir assim? Desse jeitinho?

--- Você manda, Camz...

Eu queria poder dizer mais, queria conseguir explicar o porquê dessa ânsia repentina de estar tão próxima à ela, mas as palavras simplesmente não pareciam bastar. Se bem que nem eu mesma compreendo de verdade, só preciso estar com ela, sentir seu corpo, sentir que ela está aqui comigo. Tento vencer o medo, a angústia que ameaçam me tomar.

Deus, como eu amo essa mulher! Estreito nosso abraço desejando mais que nunca que o tempo parasse nesse instante.

O movimentar calmo e ritmado de seu peito mostra que minha Lo se deixou embalar num sono mais que merecido. Ela tem feito tanto por mim, tanto por nossa família. Nunca pergunta demais, nunca força meus limites, mesmo que isso signifique abrir mão de sua paz de espírito. Lauren me ama com todas as suas forças, disso eu tenho certeza e só o que tenho feito é buscar retribuir esse sentimento tão puro e único. Nosso amor é assim... Sem egoísmo, sem cobrança, porquê existe a certeza de sua base bem construída e fundamentada. Eu abriria mão de minha vida por ela, mas jamais aceitaria que Lauren fizesse o mesmo. Ela é especial demais para isso...

Meu Deus, o que me deu? De onde veio toda essa necessidade de grudar em minha esposa e não solta-la nunca mais?

Quando ouso afastar meu ouvido de seu peito para encarar seu rosto, encontro o biquinho característico... Tão fofa! Suas sobrancelhas bem desenhadas, o nariz reto, sua pele sempre tão clara e impecável... Lauren sabe fazer o estilo mulherão, forte, decidida, mas é desse jeito, seus traços delicados e quase infantis relaxados durante o sono que eu encontro a garota pela qual me apaixonei. A pessoa pela qual decidi que valia a pena tentar mais uma vez e dar outra chance à mim mesma. Como disse minha irmã naquela bendita carta, eu devia buscar uma nova forma de ser feliz. Lauren era naquele tempo e ainda é essa única forma. Meu porto seguro e inabalável. Minha Lolo...

***

--- Camila... Dói...

--- Tô aqui, Lo. O que tá doendo?

Levanto meu rosto e percebo que Lauren está falando durante o sono, bastante agitado, em minha opinião.

--- Dói....

Abraço seu corpo tentando acalma-lo com minha presença. Ela, naturalmente, não diz, mas sei que essa dor toda que tem sentido se deve ao preocupação excessiva comigo, o que me deixa louca da vida.

--- Eu tô aqui, Lo... Já vai passar....

Beijo sua testa repetindo essas palavras vezes sem fim até que ela volta a se acalmar e sei que está dormindo outra vez.

Somos tão diferentes...

Lauren sempre foi impulsiva, imediatista até, sempre querendo as coisas ao seu modo. Impaciente, sempre querendo estar um passo adiante, enquanto que eu penso milhares de vezes antes de me decidir pelo caminho eu devo tomar. Ela costumava dizer que eu pensei demais e que esse era o problema... “ Quem pensa demais acaba por não fazer coisa nenhuma, Camz “. Sua impetuosidade x Minha calma inabalável. Ao menos era o que eu buscava mostrar, contudo, hoje eu já não tenho certeza de que essa seja a melhor saída.

Percebendo que o sono me fugira de vez, calmamente passo o moletom que Lauren usou ontem à noite visto antes de encarar o vento frio que me desperta por completo.

As estrelas que pontilhavam o céu há algumas horas já não brilham, cobertas agora por uma camada de névoa densa e ao longe uma luz suave e tingida de laranja ameaça tomar aquela imensidão enegrecida, evidenciando que hoje será um dia tão lindo quanto o anterior.

Sem que me desse conta, minhas pernas levam para mais perto do rio onde encontro uma pedra de bom tamanho para me sentar, olhos fixos nas águas aparentemente tranquilas e então uma lembrança distante começa a se formar em minha cabeça, quase como se acontecesse novamente bem aqui, à minha frente. A lembrança de uma outra manhã de domingo, num outro acampamento....

“ --- Explica de novo, papa!

Meu pai da uma risada gostosa que me faz sentir bem quentinha por dentro.

--- Outra vez, filha?

--- Sim! – grito empolgada para só então me lembrar de que minha mãe e irmã ainda dormem na barraca ali pertinho --- Opa! Desculpe...

Ele sorri e eu sei que não estou encrencada.

--- Sente aqui perto do seu papai.

Ele senta sobre uma pedra bem grande e me coloca em seu colo, abraçando meu corpo trêmulo e então aponta para que eu esteja atenta.

--- Se jogarmos uma pedra sobre a superfície desse lago, mas jogarmos direitinho e bem rente, ela vai “ andar sobre a água “ dando pulinhos antes de afundar.

--- Então se me jogar nesse rio, eu vou dar pulinhos também?

Outra vez sua risada precede a resposta.

--- Não, filhota, não é assim que funciona. E já disse, isso é um lago, não um rio.

--- Ah, mas não é tudo igual?

--- Não senhora – aperta meu nariz entre seus dedos grandões --- São duas coisas bastante distintas. Um lago é só uma porção de água num mesmo lugar, como esse aqui. Já os rios tem sua nascente e estão sempre mudando.

--- Qual o melhor, papai?

--- Eu não sei, filha, isso dependente do gosto de cada pessoa.

--- E o você prefere?

--- Rios, sem dúvida.

--- Porque?

--- Acordou cheia de perguntas, hein!

--- Diz, papai!

--- Os rios, como já disse, estão sempre mudando, hija. A água que te molha hoje, jamais volta, entende? Os lagos não, são sempre iguais.

--- Mas... Papa, isso não é melhor? Porque assim, a gente sempre sabe como a água está.

--- E onde entra a graça nisso, minha pequena? As mudanças são necessárias, bonequinha. Nem sempre são as melhores, mas ela acontecem, a gente quieta ou não.

--- Não sei não...

--- Olha só... Se jogasse muita, muita lama nesse lagoa, ela estaria arruinada pra sempre, porque não tem pra onde a água correr, certo? – concordo com a cabeça --- Mas, num rio isso é muito mais difícil de acontecer, porque há momentos em que está sujo, feio, mas há sempre a possibilidade de no dia seguinte voltar a ficar limpinho e pronto pra enfrentar mais uma tempestade... Essa é um lição pra vida, Karla, precisamos estar em constante mudança, permitindo que o curso de nossos dias se altere de vez em quando pra que no final, tenha valido a pena e estejamos melhores e mais fortes que no anterior. Entendeu? – pergunta deixando um beijo leve na minha bochecha.”

Solto todo o ar preso em meus pulmões sentindo meu coração apertar.

--- Acho que entendi sim, papai...

--- Falando sozinha, Mila?

--- Hey... Bom dia...

--- Boa madrugada você quer dizer. Chega pra lá.

Dou espaço para que ela sente o meu lado e sem nem mesmo pedir descanso minha cabeça em seu ombro.

Estar com Allyson é tão simples. Com ela não há necessidade de preencher cada minuto com uma conversa à toa, pois é o tipo de pessoa com a qual até o silêncio se torna confortável e bem vindo.

Permito-me pensar um pouco mais naquela lembrança longínqua, tentando assimilar seu significado.

--- Você ainda vai aprontar com a Lo, né?

--- Humhum.

--- O que vai fazer?

--- Daqui a pouquinho você descobre.

--- Ally...

--- Relaxa, ela nada bem.

--- Você...?

Apenas da de ombros e volta a sorrir tranquilamente.

--- Vocês não têm jeito...

--- Acho que não...

Outra vez o silêncio se instala.

--- Ally?

--- Hum?

--- Você prefere lago ou rio?

--- Piscina.

--- É sério!

--- Eu sei!

--- Deixa pra lá...

Mais alguns minutos e ela solta:

--- Rio.

--- Porque?

---Preciso de um motivo?

--- Sim...

Parece pensar na resposta.

--- Porque mais bonito. Divertido.

--- Humm... Eu... Eu acho que vou... Eu... Allyson, eu vou... Ah!

--- Já estava na hora...

--- Hã?

--- Eu disse que estava na hora...

--- Hora de quê? – pergunto realmente confusa.

--- De cair em si e procurar resolver todo esse conflito aí - leva a mão ao meu peito --- Esse coração aqui precisa descansar de verdade. Agora é tempo de cuidar de si mesma, Mila, e já estava mais do que na hora de você se dar conta de que ninguém pode viver preso ao passado. Você não pode viver o imutável.

--- Ally... Eu nem disse nada...

--- Não precisa. Eu sinto.

--- E, se eles não quiserem me ouvir? Me perdoar?

--- Ninguém te culpa por nada, Camila. Ninguém a não ser você mesma. Você tomou o tempo que precisava, agora está na hora de voltar e desfazer todas as amarras, não é?

“Essa é um lição pra vida, Karla, precisamos estar em constante mudança, permitindo que o curso de nossos dias se altere de vez em quando pra que no final, tenha valido a pena e estejamos melhores e mais fortes que no anterior. Entendeu? – pergunta deixando um beijo leve na minha bochecha.”

Engulo o nó atravessado em minha garganta, arrancando coragem, força e audácia de lugares há muito esquecidos por mim.

--- É... Eu acho que sim...

Nunca saberei sua resposta, se é que ela me daria alguma, porquê, nesse instante a voz rouca e furiosa de minha esposa nos alcança:

--- ALLYSON! 



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