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História Senilidade - Um em que a lucidez não falhou


Escrita por: neighbourscat

Notas do Autor


Essa história conta brevemente a vida de um senhor de idade, inspirada em fatos reais.

Capítulo 1 - Um em que a lucidez não falhou


A idade pode maltratar um homem em muitos sentidos, mas não ele. Apesar das doenças e complicações, a lucidez não lhe falhou. Os ouvidos já não atentavam com a mesma exatidão, é verdade, e ainda assim concebia com a clareza do coração a nitidez do discurso. A visão, há muito se descumpriu e após tantos nasceres-do-sol não mais se encaixava no pútrido perceptível do ser.
Não só de anatomia a deteriorar é feito o homem. A família, ah, essa era o caso do ocaso. Na infância consentiu com muito, e por militarismo se escoltou aos padrões. A mulher, pobre de cortesia, não obstante a todo o montante que ele lhe obteve, durante anos servindo o Batalhão local até o topo, General. Uma filha, abandonou-o para longe persuadir a liberdade e ele quase não a reconhece se não pela voz. Será que a conta de telefone de todos esses anos não paga uma passagem?
Outra filha, para compensar a andorinha sem asas cortadas, essa outra o orgulhou. Seguiu os caminhos do pai, desequilibrou a má vibração da casa de infortúnio.
Ele se empolgou, ou a mentira da mulher não lhe atinou, e um outro filho expectou. Não lhe ocorreu da maldição universal de toda família: há de haver uma ovelha negra. Na família dele, houve um carneiro. O homenzinho pode tomar exemplo da mulherzinha irmã que tomou exemplo do pai, não pode?, se perguntou ele. Mas o filho não o fez. Não exatamente. Uma mente brilhante como em todos os outros filhos, mas esse filho a desperdiçou, fez mau uso; ou, uso nenhum.
Então os filhos tiveram filhos. Os netos dele. Uns mais outro menos acanhados. Uns mais outros menos destacados. Naquilo que ele considerava sucesso, ele também considerava que não era virtude para todos, mas contava os esforços.
Se atormentou pelo mal, se reergueu, foi levado pelo voto de saúde e doença do casamento e sofreu com a mulher. Ela mandava-o e usava-o como instrumento de seus desejos. Na tranquilidade de seu lar, foi obrigado a se aquietar em outro lugar, por ela, a amada.
Noutro lar ele estava. Noutro canto desagarrado com suas estantes e a impossibilidade de ver o outro lado daquela peça de madeira pois tinha idade e a coleção era grande. No novo canto aprendia francês, e não se cansava. Trabalhava a mente sem hesitar, sem buscar a invalidez.
No fundo, Olavo só queria tornar o mundo naquele lugar melhor que ninguém sabe como seria mas insiste em tentar, como um cego na luz. Sem saber, ele tornou.



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