1. Spirit Fanfics >
  2. Sentimentos não são á prova de balas >
  3. Escute o meu lado da história

História Sentimentos não são á prova de balas - Escute o meu lado da história


Escrita por: MADP13

Capítulo 30 - Escute o meu lado da história


- Desculpe, com tudo isso nem te ofereci nada. - falei me levantando.  

- Não quero nada. - ele sorriu. - Aliás, eu acho melhor ir embora. Daqui a pouco fica tarde e você tem que voltar pra universidade... Se é que você vai voltar..   

- Eu também não sei... creio que sim... é o jeito..

- Qualquer coisa me liga, ok?   

- Vou te acompanhar.. - fui com ele até o portão - Obrigada, de novo...  

 - Não tem de quê. Com essa correria eu não posso te garantir nada, mas... A gente se vê, certo? 

- Claro, também não vai se livrar de mim tão cedo.  

 - O mesmo..  

Ele deu um passo a frente e segurou minha cintura, apertando um pouco, se despedindo falando ao meu ouvido e me dando um beijo em minha bochecha. Observei ele se afastando e depois que fechei o portão, bem mais aliviada do que antes, fui ao quarto para falar com meus pais.

- Ele já foi? - minha mãe perguntou. 

 - Sim. 

 - Foi rápido. O que ele queria? 

 - Nada, Sook, só falar comigo. Vai me levar de volta? 

 - Você quer ir?

- Vai ser melhor que ficar aqui pensando no que poderia acontecer, ou vai.. 

- Nós vamos levar você, daqui a pouco, como sempre.

- Obrigada... 

Voltei para a sala e continuei assistindo seja lá o que estava passando na televisão até o tempo passar. Mais tarde, quando eu estava indo de volta para a MADCS, me despedi de Kwan e minha mãe com receio no coração, e durante o caminho todo foi um silêncio sufocador, já que ninguém sabia o que dizer. 

Me despedi do Sook e subi para o meu dormitório, onde Mi-Cha já estava arrumando suas roupas. Provavelmente também tinha acabado de chegar. Coloquei tudo em cima da cama, sem dizer nenhuma palavra e organizei as coisas para o dia de amanhã. Em seguida, sentei na cama e coloquei meus fones de ouvido para não correr o risco de que Mi começasse a falar o como seu final de semana com seus pais e seu pequeno Pug foi maravilhoso. 

....

 Acabei dormindo muito cedo e acordei alguns minutos antes do despertador tocar. Eu não estava com a mínima coragem para levantar, o que já era rotineiro. Nunca me acustumaria a acordar antes do galo.  

Tomei uma banho demorado, coloquei uma roupa qualquer e prendi meu cabelo em um coque encharcado.  

- Você está péssima. 

Muitas pessoas diriam isso ao longo do dia, seja na minha cara ou pelas minhas costas. 

Desci para tomar café e naquele dia os ruídos infernais dos alunos me deixaram mais nervosa do que nos outros. Pareciam um bando de macacos confusos brincando e rinchando, pulando em cipós, catando piolhos uns nos outros, imitindo sons ensurdecedores. 

A primeira aula seria anatomia, mas ao invés de estudarmos os cadáveres frios colocados sobre aquelas mesas geladas, a professora nos deu a maior surpresa de todo aluno; prova surpresa. Mastiguei muitas das minhas canetas e minha cabeça não estava centrada em nenhuma daquelas questões. Eu não fazia a mínima idéia do que estava passando na minha mente, mas com certeza não estava centrado no conteúdo que indicava aquele monte de letras. Eu não era a única nervosa. Os alunos do fundo, que se importavam ao mesmo tempo que não, balançavam as pernas e batiam os dedos na carteira em um ritmo constante. Alguns deles já estavam com as pontas dos dedos avermelhados. Outras pessoas, como as meninas com risada de hiena nas primeiras fileiras, mexiam e remexiam seus cabelos, mordiam seus lápis cor de rosa, coçavam o nariz e passavam a mão pelos braços arrepiados de frio. Uma delas, que estava no canto da sala, não sabia se focava no teste ou em mim. Ela não parecia ir muito com a minha cara. Às vezes me olhava e entreolhava, dizia alguma coisa e fazia gestos com as mãos. Seja lá que código era aquele que ela usava, eu dava graças a Deus por não saber falar.

Uma aula passou, e 55 minutos pareceram anos. Duas aulas então, quase 2 horas, se transformaram em uma eternidade. 

Farmatologia era a próxima. Eu não estava nem aí para saber o nome dos remédios, suas composições, indicações ou qual era mais concentrado que o outro. Mas aquilo era nescessário, ou eu acabaria tratando um paciente com câncer com dipirona ao invés de morfina.  

Eu esperava não cometer esses erros. Eu não podia me dar esse luxo. Nós nunca podemos, apesar de errarmos. Mas eu não queria fazer isso. Na faculdade, no trabalho, na vida. Não queria errar como "meu pai" ou errar com os meninos. Mas quem sou eu para não trupicar de vez em quando? Quem sou eu para não me dar ao luxo de fazer uma coisa extremamente burra às vezes? Não sou a única com medo de ir pra frente.    

Durante o almoço, comi na lanchonete e passei o resto do tempo no banheiro, sabendo que a Ki estaria debaixo da árvore, e a última coisa da qual eu precisava era de contato humano.

Quarta, quinta e sexta aula se passaram. Eu estava lotada de dever de casa, pesquisas e matérias para revisar, e pronta para colocar a mão na massa, até que sou convocada na diretoria. Claro, era o que eu faltava! 

Cheguei a frente daquela porta de madeira com uma pequena janelinha de vidro, onde muitas digitais eram visíveis, tanto ali, quanto na maçaneta de metal barato. 

- Por que me convocaram? - perguntei a secretária.

- Desculpe, nome?

Expliquei tudo, e no meio de tantos outros alunos esperando um sermão, fiquei alguns minutos sentadas, até que fui atendida. 

- Senhorita Milla, tudo bem?

- Sim, senhora, como vai?

- Bem.. - ela dizia segurando a maçaneta da entrada de sua sala - lhe explicaram por que está aqui?

- Não exatamente.

- Tem uma pessoa querendo falar com você, que insistiu muito. Eu só peço que sejam rápidos, pois como pode ver, temos muitas pessoas para atender e muitos país esperando também.

- Ah..  tudo bem...

Talvez seja o fato de que ele seja muito atarefada, mas conseguia ser extremamente seca de vez em quando, embora no dia da visita tenha me parecido alguém simpática e pulso firme.

Entrei na sala rodeada de plantas e sofás e cadeiras de couro escuras. Dei de cara com uma delas ocupadas por alguém qualquer. Não reconheci as costas do sujeito, nem mesmo seus cabelos um pouco grisalhos.

- Ah.. oi? - chamei.

- Ótimo... - ele se colocou de pé - aqui podemos conversar.

Aquele frio na barriga veio a tona, junto com um morro no mesmo lugar. 

- Tá fazendo o.. o que aqui? - perguntei tentando na gaguejar. - Como sabe onde eu estudo?

- Acha mesmo que eu só apareci? Sei muito sobre você.

- Não sabe nada sobre mim, cretino, desgraçado!

- Calma, não precisa ficar nervosa! Muito menos gritar. Eu vim em paz e só peço que me escute.

- Então me diz a que veio...

- Se sente, por favor... Eu juro que vai ser só um minuto. Nem podemos ficar muito, até porquê, a diretora parece ocupada.

- Estou bem aqui. - encostei na parede.

- Imagino que deve ter ouvido coisas horríveis ao meu respeito.

- Minha mãe nunca fez questão de falar de você.

- Então, não sabe nossa história?

- História? Que mané história! Foi um romancezinho de verão de meia tigela! Afinal de contas, o que você quer?

- Que me escute. Que escute o meu lado..

- Ah claro, eu já sei o que você vai dizer; "Me desculpe, eu era um adolescente idiota que se apavorou diante da idéia de ser pai"... - afirmei tentando imitar sua voz.

- Na realidade... Foi isso mesmo, mas nada justifica o que eu fiz. Por isso eu estou aqui, tentando consertar tudo..

- Sabe, te imagino de manhã, sentando cama, pensando "Ah, é, eu tenho uma filha, que tal tentar falar com ela?"..

- Não.. não foi nada disso.... Sua mãe não te contou?

- Não contou o que?

- Eu já havia feito contado antes.

Meu coração parou, minha mão gelou e por um momento eu seria que tudo ia cair sobre a minha cabeça.

- Isso foi há uns dois anos... - ele se sentou - Eu quero muito te contar essa história, mas tem que ser do começo, e aqui não é o lugar adequado. Podemos sair? Conversar pacificamente?

- Se você tá achando que vai vim aqui e esperar que eu corra para o seu colo, como se tudo isso fosse a coisa mais natural do mundo, está enganado! 

- Eu sei que não vai ser fácil, tá!? Eu sei que errei, que fui um cafajeste, mas tudo o que eu quero é que me dê uma segunda chance.

Eu não ia gastar saliva com aquele homem. Não mesmo, e se eu ficasse ali mais um minutos, eu cometeria uma assassinato. 

- Acredite, eu queria poder voltar no tempo, clicar em um botão e fazer tudo de novo. Mas eu não posso. - ele disse - se mudar de idéia estarei te esperando amanhã, nesse mesmo horário, perto do restaurante aqui da frente.

Girei a maçaneta a ponto de quebra-la e me retirei daquele recinto pisando forte no chão e atropelando o que estivesse na minha frente.

Mi-Cha e Min-Jee estavam deitadas na cama repletas de livros e cadernos coloridos por marca textos.

- Tava onde?

- Em lugar nenhum. - respondi seca.

Sentei na cadeira e abri os livros em quaisquer páginas, tentando fracassadamente parecer uma pessoa normal que estava tendo um dia colorido, como se um unicórnio tivesse vomitado arco-íris em minha cabeça.

"Eu já havia feito contato antes"

Não, ele nunca apareceu lá em casa. Eu me lembraria! Um telefonema? Correndo o risco que Sook atendesse?..

E minha tia? Onde ele se encaixava neste quebra-cabeça? Se é que algo iria se encaixar.

Mas por que minha omma nunca me disse nada?

Eu tinha tantas perguntas, e não sabia qual fazer primeiro.

Oi? Vocês leram isso também? Qual fazer primeiro? Eu realmente estou cogitando ouvir qualquer coisa que aquele homem tinha a dizer? 

A tarde foi passando e eu estava quebrando o recordo de palavras menos ditas. Eu não atendia as ligações, nem dos meus pais, muito menos da Sun Hee, do Suga ou dos meninos.

Fui dormir cedo novamente. Era isso o que eu fazia quando estava triste, com raiva ou machucada, tanto física quanto emocionalmente. Era a cura temporária perfeita.

....

Pulei da cama de novo. E vocês podem imaginar. Banho. Primeira aula. Segunda aula. Terceira aula. Almoço... Mas eu ia fazer algo diferente. Minha omma me devia satisfações.

Enquanto o telefone tocava eu me sentia uma ingrata apontando o dedo na cara de quem me deu casa e comida a vida toda.

- Alô? - ela atendeu.

- Oi, omma..

- Filha, tudo bem?

- Tudo sim, e com vocês?

- Sim.

- Tudo mesmo? Os meninos estão bem?

- Kwan está um pouco mal humorado, o que você sabe, não é lá a novidade da semana, e Sook está dormindo como uma pedra. Foi dormir tarde ontem.

- Entendo... Manda um abraço para eles.

- Mando sim.

- Mãe... Nem sei por onde começar...

- O que foi?

- O... O homem, meu suposto pai... no DNA... Apareceu aqui.

- Como?!

Eu conseguia imaginar os olhos dela pulando para fora naquele momento, como os meus.

- Ele veio aqui, ontem..

- Ontem? E você não me contou por?

- Porquê eu também fiquei surpresa, é muito confusa... Ele disse que já havia feito contato...

Um silêncio pairou na linha, e eu tinha medo que isso confirmasse que ele havia dito a verdade.

- Me disse que já está aqui a um tempo, que sabe coisas sobre mim.... No mínimo dois anos..

- O que mais ele disse?

- Queria me encontrar no lanchonete aqui da frente amanhã. Disse que queria que eu ouvisse o lado dele.

- Eu já te contei.

- Eu sei... Mas ele disse a verdade? Por que não me contou?

- Milla, isso não importa.

- É claro que importa... Importa muito.

- Por quê? Ta querendo ir atrás dele?

- Não, só quero entender o que está acontecendo...

- Olha, se você quer saber, ele tentou entrar em contato sim! - sua voz já estava demonstrando uma raiva nítida - Quando exatamente, eu não lembro. 

- E o que ele queria?

- Eu não sei como, mas ele descobriu onde eu morava, que eu estava casada, e tinha outro filho. Aquele cafajeste simplesmente disse que "queria falar com a filha dele". 

- Isso tudo quando?

- Foi naquela viajem que eu fiz a trabalho. 

- E por que ele não veio atrás de mim direto?

- Mal falava coreano direito naquela época! Ele simplesmente brotou aqui, queria te ver, que isso, que aquilo e eu não deixei! 

- Acha que ficou me observando esse tempo?

- Milla, se isso passar dos limites, eu ligo para a polícia! Me diz que não está pensando em ir encontrar com ele!

Aquela história estava muito mal contada. Haviam muitas lacunas. Vastas lacunas.

- Tchau, mãe.

Desliguei.

Eu sei o que vocês estão pensando. Uau, que grossa! Mas eu não sabia ao certo a resposta, e ela me encorralaria na parede até que eu dissesse o que ela queria ouvir. Mas eu não podia fazer isso.

Eu enfrentei o dia tentando prestar atenção nas aulas, mas na minha cabeça haviam muitos sinais de interrogação.

Eu magoaria minha mãe se fosse, mas eu precisava saber. No final das contas, ele não mentiu. Foi um cafajeste, um desgraçados, abusado, mas não um mentiroso. Eu magoaria o Sook também? Eu o considerava meu pai e não queria fazer com que ele pensasse o contrário, jamais! 

Mas eu não podia deixar que eles tomassem a decisão por mim. Era a minha vida, e eu teria que enfrentar aquele monstro sozinha.

Quando o sinal tocou, fui ao meu quarto, coloquei um moletom cinza e voltei para a diretoria. Pedi minha permissão para sair.

Eu não sabia se estava pior ou muito pior que ontem. Só tinha certeza de que estava certa.

Atravessei a rua olhando para a faixa. Eu não queria nem saber. Pulei de cabeça desse lago. 

Ele estava mesmo me esperando, sentado em uma mesa brincando com um guardanapo. Cheguei de repente e sentei a sua frente.

- Você tem 5 minutos para dizer seja lá o que for antes que eu volte correndo para o meu lugar.

- Tudo bem - ele sorriu - é tudo o que eu preciso.





Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...