Quando a boca de Kely encontra a minha é como os fogos de artificio do ano novo. Tudo explode em um colorido vibrante.
Sinto cada parte do meu corpo se enchendo de energia assim que ele me toca. Apenas continuo me agarrando a ele e falando, pelo movimento da minha língua com a sua, que ele não deve parar de me tocar.
E sinto que ele escuta meu pedido quando seu corpo deita o meu sobre a mesa, sinto isso quando sua mão prende firme minha nuca e o peso do seu corpo, depois de anos, volta a esmagar deliciosamente o meu, acredito nisso quando sinto seu coração acelerado em contato com a minha pele. E ele parece tão faminto e sedento quanto eu...
Kely me beija e me toca como se eu não fosse real... Me faz sentir tão plenamente completa que começo a acreditar que talvez eu não seja.
Mas não importa... nada além dos nossos corpo entrelaçado sobre a mesa me importa.
Bem... Talvez só todas as nossas roupas também me importem. Porque me pego querendo muito me livrar delas...
E é o que começo a fazer.
Quando Kely deixa minha boca e começa a explora meu pescoço, forço minhas mãos a entrarem no espaço quase inexistente entre nós e começo a tirar, em meio a arrepios, os botões da sua camisa das casas...
Kely entende o que quero fazer e envolta os braços na minha cintura, me fazendo sentar novamente. Ainda totalmente colado em mim, ele liberta brevemente minha boca e encosta a testa na minha, sua respiração pesada e arfante, me dando espaço o suficiente para continuar desabotoando sua camisa e para que ele próprio suba as mãos para meu rosto e possa acariciá-lo antes de descer ao meu pescoço e lentamente começar a me livra de seu terno...
Mas então, antes mesmo do tecido chegar a metade dos meus braços, sinto Kely parar. Todo ele.
Seus movimentos param, sua respiração para... tudo tão bruscamente que posso jurar que, por um segundo, até mesmo seu coração pula umas batidas.
Mas os seus olhos se abrem.
Kely me encara e, bem no fundo daqueles vulcões em erupção, vejo uma enorme nuvem de medo ameaçando acabar com todo o calor.
- Não podemos fazer isso... - Ele diz, com a voz alarmada como se não acreditasse no que estávamos fazendo.
Em reflexo as suas palavras, levo minhas mãos a seu rosto, deixando metade dos botões de sua camisa abertos, numa tentativa desesperada de não deixá-lo se afastar.
- Ei... Nós podemos sim, é claro que podemos!!! - E tento puxá-lo novamente pra mim. Mas seu maxilar trava sob as minhas, e ele colocar as suas próprias mãos sobre as minhas e de formas firme e agressiva as afasta de seu rosto. Repete o mesmo tratamento com as minhas pernas que ainda estavam em sua cintura.
- Isso NÃO VAI acontecer. - Diz de forma bruta, antes de dar a volta e sair do interior da mesa.
Fico paralisada por alguns segundos, chocada pela subta mudança, ainda processando. Olho para Kely... Ele remexe freneticamente nas chaves ao meu lado. Mas ainda sem sorte.
- Não pode continuar fingindo que não quer is-sso... - Tento ser firme, mais minhas voz vacila.
- Eu não quero nada disso... - Diz e nem mesmo me encara. Sinto que ele não pretende fazê-lo.
Pego o terno e volto a cobrir meus ombros para reprimir um tremor, consequência do seu subto afastamento, um frio que começa a aumentar quando suas gélidas palavras me atingem.
- Não era o que suas mãos pareciam dizer... - Me levanto da mesa e viro de frente para encará-lo.
- Não seja idiota... - O veneno em sua voz me faz sufocar. - Isso não era nada. Apenas desejo... porque você provocou. SE acontecesse algo, Seria SEXO... nada além disso... - E por vários minutos, eu não tenho o que responder. De qual outra forma ele podia me quebrar ainda mais do que com essas palavras?
Sofro calada tempo o suficiente para que ele consiga achar finalmente a maldita chave. Solta um suspiro de alivio assim que à ergue.
- E agora você vai pegar suas coisas e ir embora... - Fala em tom de ordem, não perdendo mais tempo e indo abrir a fechadura.
Eu o sigo calada, mas só vou até minha mesa. Então paro e cruzo os braços... Uma parte teimosa de me não me permite desistir.
- Eu não vou sair daqui até que admita o que sente... - Digo, quando o som da porta destrancando soa em meio ao silencio. Kely suspira.
- Eu me sinto cansado. Quero simplesmente que você suma da minha frente. Quer fazer isso por si própria ou quer que eu a arraste? - Suas palavras rudes me machucam. Mas só pego minha bolsa e sigo para a porta por medo da suas ameaça. Minhas mãos ainda doem por causa de seu aperto para se livrar de mim.
Kely abre a porta, lindo com os cabelos bagunçados e a camisa desabotoada, tudo obra minha. E ao me lembrar disso, na minha extrema burrice, eu não saiu.
Paro a um passo da abertura e o encaro. Prometo pra mim mesma que é minha última tentativa...
- Por favor... Fala comigo. Não me manda embora... - eu imploro, porque é tudo o que me resta. Porque quero que ele pelo menos me olhe... quero pelo menos ter a chance de ver aquilo que ele não quer me deixar ouvir.
E funciona. Ela me olha... Mas não vejo nada do que queria ver. Em vez disso eu vejo surpresa, eu vejo incredulidade, eu vejo raiva, e o pior... Eu vejo tanta mágoa. E a dor que isso me trás não se compara a nada.
Porque sei que mereço isso.
- O QUE?? - Me pergunta com a voz alterada, me fazendo estremecer... - NÃO QUER QUE EU A MANDE EMBORA? DO MESMO JEITO QUE FEZ COMIGO? QUER QUE EU LHE ESCUTE?? DO JEITO QUE NÃO ME ESCUTOU? COMO PODE SER TÃO HIPÓCRITA? - Ele grita, cospe sua dor sobre mim sem dó... Ele nunca falou assim comigo... - NUNCA MAIS SE ATREVA A COLOCAR AS MÃOS EM MIM NOVAMENTE!! EU SOU SEU CHEFE E NOSSA RELAÇÃO NUNCA VAI PASSAR DISSO, ENTENDEU? VOCÊ ACABOU COM QUALQUER COISA QUE PODERÍAMOS TER A SETE ANOS. E NÃO TEM VOLTA!!! - Meu corpo inteiro treme agora. Lágrimas descem quentes e involuntárias pelo meu rosto.
Passo pela porta apressada, não querendo que ele perceba o poder que tem sobre mim.
Já estou bem perto dos elevadores que, com tudo, nem me importo em pegar, quando sua voz ecoa uma última vez no corredor vazio.
- Espero que já tenha entendido isso até amanhã, Srta. Marie. - Diz mais calmo e ainda firme, antes de bater a porta atrás de mim.
Logo o som morre, assim como qualquer esperança que eu ainda tinha.
Assim que cambaleio soluçando para fora do elevador e avisto o balcão da recepção, começo a tirar compulsivamente o terno dele dos meu ombros.
Jogo o tecido em cima do balcão e caminho, o mais firmemente que posso, para a porta de entrada.
Mas, a dor que sinto por ter deixado o tecido com o cheiro dele, faz com que nem mesmo minha dignidade mantenha minha cabeça erguida durante o trajeto até o carro.
Assim que entro no carro jogo minha bolsa no banco de trás e dou partida. Não acho que vá conseguir sair do lugar por umas duas ou três horas se eu parar pra pensar, então continuo dirigindo mesmo chorando, mesmo tremendo, mesmo com tontura, mesmo sem ver quase nada atravéz da camada embaçada de lagrimas nos meus olhos. Mesmo quando pensamentos começam a entrar na minha cabeça e por um segundo me esqueço até da pista...
Mas continuo, porque, depois de algum tempo pensando, sinto a dor virar raiva.
Sinto ela queimando pura nas minhas veias, levando pra longe o frio que a solidão e a rejeição trouxeram... Eu sinto raiva Dele por gritar na minha cara tudo o que eu mereço ouvir, sinto raiva de Keny por já não ter feito o mesmo, sinto raiva de Márcia por ter me ajudado quando eu não merecia...
Sinto raiva do mundo inteiro e principalmente de mim mesma, por tomar decisões erradas e magoar as pessoas.
E eu contuinuo a alimentando... permito que ela se espalhe de forma perversa por todo meu corpo.
Tudo para que o frio não volte...
Depois de deixar o carro na garagem do prédio, sigo para o saguão. Meu corpo esta calmo, meus passos firmes... percebo que a raiva me deixou forte, e penso friamente em quantos copos de álcool vou precisar antes de desmaiar essa noite.
Assim que passo pelas portas, a primeira coisa na qual meus olhos se focam é no homem sentado sobre as cadeiras da recepção.
Passo um olhar rápido pelo lugar e espio as recepcionistas da noite, entediadas atrás do balcão. Penso em tentar fugir, mas quando volto a encará-lo ele ergue a cabeça e me vê.
Levanta com um sorriso no rosto e sei que esta aqui por mim...
E sinto raiva dele também.
- O que esta fazendo aqui? - Digo, de forma nada simpatia, ignorando a parte de mim que sussurra que ele não tem culpa de nada.
Seu sorriso vacila.
- Boa noite pra você também, Kethy... - Diz irônico, mas ainda irritantemente simpático.
- Não esta tendo nada de boa. - Digo, e quando ele chega perto de mais, dou um passo atrás e estendo a mão para impedi-lo. - O que você quer? - Pergunto impaciente, enquanto ele me estuda.
- Porque chegou tão tarde? Você está bem? Parece alterada... - Diz, pegando minha mão estendida entre as suas.
Faço um movimento brusco para livrar minha mão e recuo mais um passo.
- Primeiro, isso não é da sua conta, e segundo, vou ficar melhor assim que dizer logo o que quer para que eu possa subir... - Sou rude, sim. E estou descontando minha raiva nele, sim. Eu simplesmente não consigo me obrigar a parar...
Sua boca se abri e fecha algumas vezes. Nunca o vi sem palavras antes...
Bem, eu nunca falei com ele assim antes.
- Eu queria... conversar. - Diz, hesitante agora.
Suspiro com desdém.
- Lucas... Não temos nada pra conversar. Falei tudo o que tinha pra falar naquele telefonema... Acabou, OK? - E nem eu mesma sei o que esperava como resposta.
De novo ele passar um tempo, dessa vez mais tempo que da primeira, abrindo e fechando a boca antes de franzi a testa e voltar a falar...
- Por que está agindo de forma tão imbecil? - Pergunta, finalmente perdendo a simpatia.
Dou de ombros.
- De que outra forma eu deveria agir? - Pergunto.
Lucas volta a me estudar de cima a baixo antes de recuar um passo...
- Não sei... - Parece magoado e incrédulo. - E quer saber? - Abre as mãos no ar em sinal de desistência. - Esquece! Eu nem mesmo sei mais quem você é... - Dá de ombros e então se vira e começa a andar em direção a saída.
Eu o observo sumir rapidamente pela porta de entrada e penso que finalmente consegui fazê-lo desistir de mim!
Mas, curiosamente, não me sinto nada feliz com a forma como fiz isso...
Então o óbviu me atinge... Tratei ele exatamente da mesma forma como Kely me tratou!
A magoa de mim mesma que sinto ao perceber isso quebra até minha força de vontade para ter raiva...
Já sentindo as lagrimas voltando aos meu olhos, vou até a cadeira onde ele estava sentado.
Sento...
Apoio a cabeça...
Choro e me pergunto: Quando vou começar a tomar as decisões certas?
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