Era uma bela noite na cidade de Berlim. Tudo estava muito calmo, podia-se dizer que até demais; principalmente na casa dos Beilschmidt. Havia se passado uma semana desde que as duas garotas haviam se mudado para lá; no entanto, Ludwig ainda não havia voltado de sua viagem.
Enquanto isso, no quarto das estrangeiras, a garota de Veneza rolava em seu pequeno colchão, bagunçando a roupa de cama, o que de certa forma deixava o local mais confortável e aconchegante. Estava entediada, não sentia sono e deveria estar por volta das duas horas da madrugada.
Mais uma vez cogitou acordar a amiga que dormia num colchão há poucos passos de distância do seu; porém, a moça havia passado o dia na rua fazendo sabe-se lá o que, deveria estar cansada. Então o melhor a fazer seria ficar quieta e não incomoda-la.
Rolou mais uma vez, ficando de costas para o teto e fechou seus olhos com força numa tentativa de pegar no sono. Ficou assim por três minutos até que um barulho no andar de baixo a fez abrir os olhos rapidamente.
Pensou que poderia ser Gilbert, mas logo ficou tensa ao se lembrar que ele foi dormir na casa de um amigo e que só voltaria quando amanhecesse.
Tentou se manter calma com a idéia de que ele apenas voltou mais cedo e se levantou da cama, abraçada ao seu travesseiro. A passos lentos caminhou até a mesinha de madeira próxima à janela e pegou a lanterna que sua amiga usava quando saía durante a noite.
Abriu e fechou a porta do quarto com cuidado para não provocar nenhum ruído que acordasse a húngara e então desceu as escadas. Seus pés estavam descalços, suas pernas tremiam dificultando a descida. Com a mão direita se segurava com força no corrimão tentando evitar uma possível queda, já com a esquerda abraçava o travesseiro contra sua barriga e segurava a lanterna, a qual mantinha a frente de seu corpo.
Ao chegar na sala, pegou o travesseiro com a mão direita para poder iluminar cada canto daquele local, um de cada vez de forma lenta para então derrubar tudo e cair ao notar uma silhueta masculina que obviamente não pertencia a Gilbert.
-Você está bem? -A voz dele era forte e grossa, apenas comprovando que não era Gilbert, soava de forma preocupada e pode perceber que o homem se aproximava.
-Por favor, não me bata! -Implorou começando a chorar de forma alta, sempre fora muito medrosa.
-O que? Não vou te bater! -Sentiu a mão dele tocar seu ombro e se ajoelhar para que pudesse ficar cara a cara com a menina. -Qual é o seu nome?
-Fe-Felicia... -Respondeu ainda chorando.
-Sou Ludwig Beilschmidt.
-Você é da família do Gilbert? -Perguntou enxugando suas lágrimas com a mão esquerda.
-Sim, sou irmão dele. Você é uma das garotas estrangeiras não é?
-Sou. -Tentou forçar um sorriso. -Muito prazer.
-Igualmente. -O rapaz se levantou e andou até suas malas, pelo que pode ver através da luz da lanterna eram grandes e pareciam pesadas, no entanto Ludwig as carregou com facilidade. -Sabe onde está meu irmão? -Perguntou voltando sua atenção para a moça no chão mais uma vez.
-Ele foi dormir na casa de um amigo, se não me engano se chama Antônio. -Falou finalmente se levantando e pegando suas coisas.
-Ah, sim, era de se esperar. Muito obrigado senhorita e perdão por tê-la assustado.
-Não, eu que devo pedir desculpas; a casa é sua, o senhor apenas estava entrando e eu vim aqui te atrapalhar, me perdoe. Mas se o senhor quiser eu poderia te ajudar com as malas. -Caminhou se aproximando dele, não sentia mais medo, mesmo com um jeito de "durão" ele parecia ser uma boa pessoa.
-Não precisa, estão pesadas, eu mesmo cuido disso.
-Eu insisto. -Pegou uma das malas da mão do alemão mas logo a derrubou no chão devido ao peso. -Desculpe. -Levantou a mala com dificuldade e caminhou de forma lenta até a escadaria.
-Você não vai conseguir, vai acabar caindo. Deixe que eu levo. -Tomou a mala das mãos da moça e subiu as escadas de forma rápida, sendo seguido pela italiana.
Felicia se apressou em ultrapassar o alemão e abriu a porta do quarto que acreditava que seria dele, logo acendendo a luz e dando passagem para que ele pudesse entrar.
Quando o homem adentrou o local, finalmente pode ver seu rosto com nitidez, o que a fez dar um pulo para trás e por a mão direita sob a boca, abafando o "Ooh" que havia soltado.
-Algum problema? -Ele encarou a veneziana enquanto colocava as malas no chão e depois cruzou os braços esperando uma resposta.
-Na-não, nenhum. É que... você apenas me lembra muito alguém que já conheci.
-Hum... -Comentou perdendo o interesse no que a moça dizia.
-Haha -Forçou uma risada. -Deixe-me te ajudar a organizar suas coisas, sim? -Não permitiu que o outro respondesse e abriu sua mala, começou a guardar as roupas do alemão em sua gaveta, cujo logo correu para a ajudar.
-O senhor trabalha para o exército? -Perguntou em meio ao trabalho, devido ao fardamento conhecido por ela dentro da mala.
-Sim. -Respondeu de forma curta e fria.
-Então trabalha para Hitler?
-De certa forma.
-O senhor gosta do que faz? -Perguntou sem olhar para o rapaz, mas como sua resposta não veio, se virou para poder encara-lo. -Desculpe, acho que estou sendo invasiva.
-Não, não gosto do que faço. -Soltou um suspiro conformado. -Acho que é só isso que posso te dizer.
-Não contarei sobre o que me disse a ninguém, prometo. -Deu um leve sorriso.
-Sei disso.
Ambos continuaram com o trabalho por um tempo, pelo que parecia Ludwig passou muito tempo longe de casa. Felicia, que já era acostumada com o trabalho doméstico fez tudo de forma rápida, já Ludwig tinha dificuldades para dobrar as roupas e fazia o trabalho de forma mais lenta.
-Bem... Terminou, tenha uma boa noite. -A garota sorriu e caminhou até a porta do quarto, pronta para deixar o local quando o loiro chamou sua atenção.
-Muito obrigado pela ajuda, irei te recompensar depois.
-Não precisa, trabalho com isso há anos, já estou acostumada.
-E por favor, me perdoe por tê-la acordado.
-Ah, eu já estava acordada.
-Falando nisso, onde você está dormindo? Pelo que me lembre não há nenhum outro quarto preparado para ser utilizado aqui.
-Eu e Liz estamos em um quarto que pelo que saiba estava vazio antes, Gilbert conseguiu dois colchões para nós duas.
-Colchões? Então está dormindo no chão?
-Sim, mas não tem problema, é bem melhor que o lugar que eu dormia antes.
-Verei o que posso fazer em relação a isso. Você está cansada não é? Pode ir.
-Está bem. Eh, eu... posso te chamar de Lud?
-Hum?! Fa-faça como quiser...
-Está bem, boa noite Lud! -Se despediu dando um beijo no rosto do alemão e se retirando do quarto, fechando a porta atras de si.
~
Na manhã seguinte a húngara acordou cedo, tentou chamar Felicia porém a jovem tinha o sono pesado e parecia não ouvi-la. Resolveu desistir e desceu para cozinha, onde faria seu trabalho. Pouco tempo depois Gilbert entrou pela porta da frente, cumprimentando a moça com um beijo na testa.
-Onde está Felicia? -Falou sentando-se em uma cadeira.
-Está dormindo, tentei acorda-la mas não funcionou.
-Gilbert! -Ludwig o chamou enquanto descia as escadas.
-Lud! Veja só Liz, ele voltou! -Gritou enquanto se levantava quase em um salto da cadeira.
-Ludwig! Meu deus! Como você cresceu! -A moça falou impressionada.
-Ah, oi Liz, você também cresceu. -Deu um sorriso forçado e a cumprimentou com um breve aperto de mãos.
-Lud, estou tão feliz que voltou! -Gilbert, mais uma vez gritou e se jogou encima do irmão, abraçando-o.
-Me solte Gilbert! -Tentou afastar o irmão, mas o outro se recusava a solta-lo.
-Bom dia. -Dessa vez quem anunciou sua presença foi a italiana, que descia as escadas de forma sonolenta enquanto esfregava os olhos.
-Por Deus Felicia! Parece que você não dormiu nada! -A húngara comentou a repreendendo.
-Desculpe, eu tive insônia.
-Hum... Mas e você Lud? Por que veio sem avisar? Se soubesse teria feito um bolo!
-Não queria incomodar.
-Pois não adiantou, farei um bolo da mesma forma. -Falou decidida, cruzando os braços.
-Não precisa se preocupar com isso.
-Você gosta de bolo de que?
-Por favor, não.
-Chocolate! Todo mundo gosta de chocolate!
-Liz!
-Feli, pega uma panela.
-Está bem. -Correu até o armário onde estavam as panelas. -Liz se você quiser eu posso fazer.
-Não, não. Eu cuido de tudo só.
-Nesse caso eu faço biscoitos. -Comentou sorrindo.
-Está bem, bolo e biscoitos então.
-Já que é assim daremos uma festa! -Gilbert se intrometeu.
-Gilbert pelo amor de Deus! -Mais uma vez o loiro gritou, incomodado com a situação.
-Chamarei sua noiva e alguns amigos meus.
-Gilbert você não consegue ficar quieto? -Gritou, já impaciente.
No final das contas Ludwig acabou conseguindo convencer o irmão a não chamar ninguém de fora e os quatro fizeram a festa entre si. Não pode-se dizer que foi uma festa digna para Ludwig Beilschmidt, foi apenas uma festa simples que de certa forma conseguiu divertir o alemão, ao contrário das grandes festas que ele frequentava apenas por obrigação.
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