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História Separated by the war - Defunto que ainda vive


Escrita por: Cccn

Notas do Autor


Charles foi o nome que escolhi para o Sacro Império Romano, pois não sei qual é o nome humano dele.

Capítulo 5 - Defunto que ainda vive


Sexta-Feira 05/03/1937  15:20

 

Mais uma tarde normal na cidade de Viena na Áustria. Várias pessoas andavam por sua estação, algumas voltando ou indo para seu trabalho, outras indo visitar familiares ou passear em alguma outra cidade. Várias pessoas diferentes com histórias mais diferentes ainda. Mas hoje irei contar a história de apenas uma dessas pessoas: A história de uma jovem garota italiana.

Felicia Vargas, uma bela moça de Veneza que andava de mãos dadas com sua amiga de infância: Elizaveta.

A jovem tinha um grande sorriso em seu rosto, qualquer um que a visse pensaria que havia acontecido algo muito bom naquele dia, mas, na verdade, nada aconteceu. A verdade é que a jovem já havia morrido por dentro há muito tempo, seu sorriso foi a única coisa que restou de si. O mesmo só estava em seu rosto para que as outras pessoas não perguntassem o que estava acontecendo e ela tivesse que contar toda sua vida para terceiros.

As duas moças entraram no trem e logo se sentaram em seus respectivos lugares. Felicia estava ao lado da janela, onde podia observar as várias pessoas que passavam pelo local se distanciarem enquanto o trem começava a andar.

Mais uma vez a italiana mudava de cidade. Iria conhecer novos lugares, novas pessoas, novos costumes; mas ela só pensava em uma coisa no momento: Nas novas decepções. 

Veneza, Roma e Viena.

As três cidades nas quais morou, e em cada uma delas várias decepções.

Tudo começou em Veneza, quando sua mãe estava no quinto mês de sua gravidez. Seu pai estava muito doente. Felicia não sabia o que ele tinha, só sabia que estava à beira da morte, e foi exatamente isso que aconteceu: Ele morreu antes mesmo dela nascer.

Sua mãe entrou em uma forte depressão, o que tornou a grávidez bastante arriscada.

No dia de seu nascimento sua mãe não resistiu. Felicia já havia ouvido a história de seu parto, e a mesma a fez chorar.

Depois que nasceu sua mãe a pegou nos braços, arrancou do pescoço um colar com corrente de ouro e um pingente de rubi em formato de coração. Colocou o colar em seu pescoço e disse "Me perdoe Felicia... Eu tentei". E logo em seguida seus olhos se fecharam para nunca mais abrirem.

Aquele colar fora dado a sua mãe por seu pai, como presente pela segunda grávidez, e desde o dia de seu nascimento até hoje Felicia o carrega em seu pescoço.

Quando a veneziana completou três meses de idade, seu avô paterno a levou para Roma, cidade onde morava.

Ela viveu com ele e sua irmã Chiara durante quatro anos, os melhores anos de sua vida.

Quando tinha quatro anos seu avô morreu e ela e sua irmã tiveram que morar com sua tia, irmã de sua mãe, que morava em Viena.

As duas pegaram um ônibus para poderem ir para a cidade, mas enquanto passavam por uma cidade da Alemanha o mesmo capotou. Felizmente ninguém se feriu, mas todos foram levados  para um hospital. Depois de dois dias conseguiram um novo ônibus, onde embarcariam durante a noite. Na hora do embarque, o motorista do ônibus foi ao quarto em que estava com sua irmã, a pegou nos braços enquanto dormira e a levou para o ônibus; mas acabou se esquecendo de sua irmã que ainda dormia. 

Quando a pequena acordou, percebeu que já estava na casa de sua tia. Não era exatamente uma casa, era uma mansão. A pequena correu pelos inúmeros corredores a procura de sua irmã, mas não a encontrou. Logo se jogou no chão e começou a chorar. Ao ouvi-la, uma mulher se aproximou e passou os dedos por seu rosto, secando as lágrimas. "Onde está minha irmã?" "Não sabemos, ela foi esquecida na Alemanha."

Ela ainda podia se lembrar da pontada que sentiu em seu peito ao ouvir aquela frase. A mulher que estava ao seu lado era apenas uma empregada, queria dizer para a menina que iria ficar tudo bem e que logo teria sua irmã de volta; mas ela conhecia bem sua patroa, sabia que ela deveria estar adorando o fato de não ter mais que bancar duas crinaças.

Durante as primeiras semanas a italiana não conseguia parar de chorar, mas depois de algum tempo se conformou com sua triste realidade.

Com o tempo descobriu que ela não era a única criança que morava na mansão, haviam mais três.

Annaliese: Filha única de sua tia. 10 anos.

Elizaveta: Filha da empregada que a confortou em seu primeiro dia e durante os outros. 09 anos.

Charles: Filho de outra empregada. 05 anos.

Logo a menina fez amizade com os três. Todas as tardes eles se reuniam no jardim para brincarem e as noites a mãe de Elizaveta lia estórias para eles.

Cinco anos se passaram e Charles começou a gostar de Felicia. Era algo infantil e podia-se dizer bobo, mas ele realmente gostava dela e fazia de tudo para ficar ao seu lado.

Um dia os dois foram para um parque que ficava perto da mansão. Quando estavam voltando para casa se depararam com um tiroteio. Charles tentou tirar Felicia do local, mas a mesma estava paralisada pelo medo.

Ao perceber que uma bala vinha na direção da menina, o garoto se jogou na frente dela, assim recebendo o tiro em seu lugar. 

Quando caiu no chão olhou nos olhos da italiana que estava ajoelhada ao seu lado, chorando.

"Por favor... Me de um beijo."

Fez seu último pedido e sem pensar duas vezes, mesmo sem entender o porquê, Felicia deu um breve selinho em seus lábios e depois que se afastou ouviu a frase que a tormenta até hoje.

"Eu te amo."

Isso a chocou, ela apenas conseguiu dizer "Charles...", o pequeno alemão sorriu e se foi alguns segundos depois.

E foi aí que a vida de Felicia acabou. Durante cada dia que se passava ela se sentia culpada pelo que aconteceu e dizia "Deveria ter sido eu."

Já havia perdido a conta de quantas vezes pensou em se matar, mas sabia que Charles deu a sua vida pela dela, não deveria desperdiçar seu "presente". 

A partir daí ela passou a viver de pensamentos; imaginava como seria se ele estivesse com ela e criava diversas situações em sua mente. E então, ela acabou se apaixonando.

Ela ainda se lembrava do que ouviu da mãe dele naquele dia "Não... Mais um não!". Nunca entendeu o que significava o "mais um", mas talvez fosse melhor não perguntar, poderia ser algo doloroso de seu passado, e Felicia sabia o quanto doía ter que falar sobre o passado.

Todas aquelas lembranças ainda doíam. Não ter seus pais, seu avô, sua irmã e seu amado ao seu lado doía. Mas se engana quem acha que ela chora todas as noites por isso.

Suas lágrimas já secaram, tudo que ela tinha para chorar já chorou faz tempo, tudo que restou foi seu sorriso. Um sorriso que aparenta ser tão feliz, mas na verdade esconde a triste história de um defunto que ainda vive.

-Felicia. -Ouviu Elizaveta a chamando. -Nós chegamos.

 

 


Notas Finais


É, foi isso. Agradeço a quem leu até aqui e peço desculpas por qualquer erro. Comentários são sempre mais do que bem vindos. Bem, até o próximo.


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