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História Ser a pessoa certa - Vergonha


Escrita por: Annissima

Capítulo 10 - Vergonha


Naruto tinha a impressão que seu apartamento estava menor.

Sabia que isso não era possível, considerando que seu quarto havia sido reconstruído com as mesmas dimensões daquele que possuía antes de Konoha ser destruída por Pain. Ainda que a vovó Tsunade estivesse inconsciente nos dias posteriores ao ataque, seus subordinados haviam tratado de se empenhar na recuperação de arquivos, tais como, fichas cadastrais de ninjas, fotografias e plantas das construções. Claro que tudo fora refeito com acréscimos de modernidade, considerando que grande parte da antiga Konoha remanescia da época do Shodaime. E já que foi preciso refazer, então que fosse refeito com vistas ao progresso.

Contudo, para Naruto, seu apartamento estava pequeno. Não porque era menor que o anterior, e sim porque ele havia crescido e, nem todos os moldes de sua infância se adequavam ao ‘eu’ adulto dele. Ele não acreditava que fosse deixar de ser um pouco tolo, de vez em quando, afinal, se o heroi mudasse, se tornaria uma nova história, não havia sido isso que ele mesmo dissera ao Nagato?

No entanto, várias coisas tinham mudado e outras tantas iriam mudar, e se fosse franco, estava muito contente com isso. Se lhe pedissem para escolher entre ser o garoto imaturo de antes ou ser uma pessoa com amigos que se importavam, entre ser um sozinho a estar com a Hinata, ele certamente escolheria, para o presente, o que tinha hoje.

Com esses pensamentos, ele jogou-se na cama, vestido apenas com uma bermuda. E foi tocar o lençol com as costas para ver uma pequena nuvem de poeira rodopiar pelo ar. Era sempre assim quando retornava de uma missão. Poeira que se acumulava e quase nada de comida perecível em sua cozinha. Teria que limpar a casa e fazer compras.

Sua barriga roncou, avisando que ele teria que sair, em breve, atrás de uma tigela de ramen para suprir toda a abstinência das últimas semanas. Na verdade, ele precisava ver a Hinata, primeiro. Aí, se ela quisesse, poderiam ir juntos comer ramen, já que ela tinha parecido gostar tanto quando foram no Ichiraku, na primeira vez.

Enquanto Naruto pensava sobre aquele dia, sorriu lembrando do quanto Hinata se encaixava em sua vida com perfeição. Quem imaginaria que a doce Hinata comeria mais tigelas de ramen que ele? A cada nova atitude, ela conseguia encantá-lo ainda mais.

Pelo que o tio Teuchi tinha dito enquanto estavam lá, garotas quando iam com seus namorados, comiam a menor porção possível porque ficavam com vergonha de comer normalmente na frente deles e a Ayame completou que essas mesmas garotas também tinham o costume de deixar o cabelo crescer ao máximo, só para chamar a atenção dos garotos, o que, na opinião dela, era uma grande besteira.

Essa era uma coisa que ele nunca tinha notado. Não que fosse lá muito observador acerca de práticas femininas, mas era verdade, agora pensando direito, que quando eram novinhos, todas as garotas que rodeavam Sasuke possuíam cabelos compridos. A Sakura-chan mesmo só tinha cortado, pelo que ele soube depois, para proteger Sasuke e ele durante o exame chunin.

Da turma deles, somente a Hinata possuía o cabelo curto, naquela época, e só quando ele tinha retornado à vila, após seu longo treinamento com o Ero-sennin, que ela estava com os cabelos longos.

Será que a Hinata começou a usar o cabelo comprido por minha causa? Pensou e sorriu com um pouco de vaidade. Precisava mesmo vê-la. Se ela não quisesse comer ramen, ele iria de bom agrado a outro lugar que ela escolhesse. Desde que estivessem juntos, o cardápio não era de tanta relevância assim.

Quando Naruto ia se levantar a fim de se preparar para sair, ouviu duas batidas na porta de sua casa.

- Droga! – Falou baixinho porque não gostava que viessem à sua casa quando não estava preparado para atender a porta. Resolveu que se ficasse bem quieto, a tal pessoa acabaria indo embora.

E mais três batidas, seguidas de outras duas, fizeram essa expectativa cair por terra e, considerando a insistência, a pessoa só podia ser um de seus amigos ou alguém mandado pelo Kakashi-sensei.

– Quem é?

- Naruto-kun, sou eu, a Hinata! Posso entrar?

Merda. Tinha que ser justamente a Hinata? Ele não podia deixar que ela entrasse agora, não quando ele tinha acabado de sair do banho e nem tinha se vestido totalmente. Isso! Vou dizer a ela que não estou vestido, aí ela ficará com vergonha e irá embora.

- Hum... Hinata, eu acabei de sair do banho. A gente chegou agorinha da missão e eu já estava pensando em passar na sua para convidar você para comer ramen ou outra coisa que quisesse comigo, mas eu realmente ainda não estou pronto... – Deixou a frase no ar. Hinata era bem perspicaz e nada invasiva, aquilo bastaria para que ela fosse.

- Kiba-kun me disse que você tinha sido ferido na missão e que tinha vindo direto para casa. Então, eu usei meu byakugan para confirmar se você estava aqui mesmo. Você está bem? – A voz dela demonstrava que Hinata parecia bem preocupada com ele. Naruto se sentia um pouco mal por querer que ela saísse dali, em especial, quando tudo o queria era dar-lhe um forte abraço para abrandar a saudade que sentiu durante aqueles dias. Apenas não estava pronto para aquilo. Ainda não.

- Hinata, eu dou a minha palavra que eu estou bem. Eu tenho certeza que Kiba exagerou sobre isso. Aliás, ele pegou no meu pé a missão inteira. Não tem razão para você ficar preocupada.

- Eu posso ver seu ferimento? – Ela disse quase em um sussurro. Naruto se aproximou da porta.

- Eu disse, não estou vestido. – Encostou a testa na madeira que os separava. – Vamos fazer assim, você vai para sua casa e daqui a pouco eu estarei lá. Eu estou realmente bem. Kurama sempre me cura.

- Eu poderia esperar aqui fora até você estar pronto... – A voz dela parecia cada vez mais frágil e, considerando todo o histórico de Hinata, Naruto chegou a imaginar que tipos de pensamentos estariam passando pela cabeça dela.

E, infelizmente, não estava errado. Hinata estava preocupada em porquê ele parecia tão obstinado a que ela se afastasse dali. Só não conseguia entender qual seria a razão daquilo.

- Você ao menos foi ao hospital antes de vir para casa? Se você não quer que eu veja, eu posso chamar a Sakura-san ou a Godaime-sama para dar uma olhada em você?

Naruto ficou em silêncio por alguns minutos, tentando pensar em alguma desculpa para dar a ela. Só que qualquer outra coisa que dissesse seria uma mentira e foi ele mesmo que disse à Hinata que eles teriam um relacionamento franco. Não poderia enganá-la. Suspirou, derrotado. Nem tinham tanto tempo assim de namoro e já estavam nesse ponto.

- Hinata, é verdade que eu fui ferido no braço direito e, por azar, eu caí sobre ele na terra, então, o Sai insistiu que eu tirasse as bandagens que estavam sujas porque o machucado poderia infeccionar, além do risco de outras doenças. Daí, eu tentei dizer para ele que eu não achava que isso era possível por causa do Kurama, mas ele foi bem cabeça-dura quanto a isso. Então, eu tirei.

- E qual é o problema? O Sai estava certo. – Hinata não estava acompanhando onde ele queria chegar com aquela narrativa. Se ele tinha se machucado, se as bandagens estavam sujas, ele fez certo em retirá-las... A menos que ele realmente estivesse com uma infecção ou algo pior. – Posso entrar ou chamar alguém?

- Eu tenho vergonha dele.

- De quem?

- Do meu braço direito. – Ele não gostava de ser obrigado a admitir isso, e agora que usou palavras para verbalizar o sentimento, se sentia mais idiota ainda. Parecia fútil e banal.

- Se você não deixar eu entrar, eu vou ficar sentada aqui, esperando. – Tais palavras fizeram Naruto se afastar um pouco da porta. Não imaginou que Hinata pudesse ser tão obstinada.

- Tudo bem, só deixa eu colocar as bandagens...

- Não, eu quero ver. Se você não deixar, isso vai acabar virando uma barreira entre nós dois. Como se eu pudesse amar você só até as partes que não são compostas por uma prótese. Sabe o Ko, do meu clã? Ele costumava me dizer, quando eu falhava, que eu não devia fugir do problema, mas encará-lo de frente. Só assim ele seria solúvel.

- Hinata?

- Sim?

- O que quer dizer solúvel? – Ele perguntou com uma risada, deixando bem claro que, apesar da situação de estarem conversando com uma porta como intermediador, ele ainda conseguia achar graça de não saber o significado de uma palavra. Hinata ficou mais aliviada por Naruto estar sendo ele mesmo.

- Quer dizer, que pode ser resolvido.

- Então, está certo. – Com um suspiro destrancou a porta – Pode entrar.

Hinata não se fez de rogada e entrou. Ele estava virado de perfil, de modo que, quando ele entrou, viu apenas o lado esquerdo de seu corpo e ficou imediatamente vermelha quando ele fechou a porta porque a situação era a de que estavam sozinhos no quarto dele, com a porta fechada, ele estava sem camisa e ela, muito, muito constrangida.

- Você quer sentar? – Ela olhou para a cama e sentiu o rosto esquentar. Em outros tempos já teria desmaiado. Na verdade, em outros tempos, ela não teria tido a ousadia de insistir que ele lhe atendesse – Tem uma cadeira ali. – Ele apontou para uma cadeira mais próxima da janela e, o gesto saiu sem que ele percebesse, como ela notou pela forma como Naruto começou a passar a mão esquerda pela extensão do braço direito, quase como se tentasse apagar aquela existência.

Hinata, se encheu de coragem para se aproximar dele. Manteve-se olhando diretamente nos olhos do namorado, como que pedindo em silêncio, permissão para se aproximar. Somente estando bem próxima, Hinata deixou-se olhar para o braço do qual ele se envergonhava.

- Posso? – Ela perguntou com a mão estendida. Queria poder tocar aquela pele, ainda que fosse difícil se concentrar em não olhar para o peito nu dele.

Naruto endireitou a postura e olhou diretamente para Hinata, que era toda determinação diante de si. Ela estava certa em tudo que dissera. Só queria ter tido um pouco mais de tempo para se acostumar com a ideia dela vendo aquilo e, não iria negar, estava um pouco tenso com a situação.

- Pode. – Foi só o que ele disse.

Hinata começou a deslizar a palma da sua mão pelo lugar em que pele esbranquiçada se conectava com a pele quase dourada. Existia uma clara diferença entre as duas superfícies. A de Naruto era mais quente, forte e firme enquanto que a mais clara era mais macia, fina e um pouco fria. Com a ponta dos dedos, Hinata percorreu o braço, o antebraço, analisou o pulso, a mão e as falanges.

- Não tem machucado.

- Eu disse, o Kurama sempre me cura. - Para Naruto, por mais que tivesse se acostumado com o braço de que precisava, era estranho ver que Hinata não estava com repugnância de tocar naquilo. E mesmo sendo uma prótese, não deixava de senti-la e, assim, sentia em todas as suas terminações nervosas, o toque da namorada. E isso se intensificou quando ela pegou a outra mão dele e colocou ambas lado a lado, comparando-as.

- É horrível, né? – Ele disse desejando com todo o seu ser que ela dissesse qualquer coisa para contradizer aquela afirmação ou ao menos amenizar sua insegurança.

- Naruto-kun, vamos imaginar que eu tenha sofrido um acidente ou tenha sido atacada...

- Eu não quero imaginar isso. – Deu um sorriso nervoso.

- Se hoje acontecesse alguma coisa que me deixasse sem um braço, você deixaria de gostar de mim?

- Claro que não. Eu amo você. – Ele disse com tanta veemência que Hinata sentiu o coração descompassar. Ele tinha virado, para cima, a palma da mão esquerda e apertado a dela.

- E se a Godaime me desse a chance de receber uma prótese e eu aceitasse porque não iria querer deixar de ser uma ninja? E se eu recebesse uma prótese como a sua, você me amaria menos? Acharia que tinha ficado ‘horrível’ como você disse? – Hinata entendia o sentimento dele, mas ela ficou um pouco irritada por ele usar aquela palavra para descrever qualquer aspecto da vida dele. Naruto era como o sol que brilhava com tamanha intensidade que tudo a seu respeito não deveria receber outra denominação além de belo e bom.

- Entendi seu ponto. Eu sei que não devia pensar assim e nem sentir nada do tipo, mas olhar para ele sempre me faz lembrar da guerra e dos Zetsus brancos... É como se o meu fardo fosse carregar essa recordação no meu corpo. Fico pensando se as outras pessoas não fariam a mesma associação que eu...

- Eu tenho certeza que ninguém da vila pensaria dessa forma. Você se tornou reconhecido e todos o respeitam muito. E não tem a admiração só das pessoas da nossa aldeia porque, depois que você e o Sasuke-kun nos tiraram do Tsukuyomi Infinito, as outras nações também ficaram gratas.

- Hinata, você sabe o quanto foi difícil fazer com que as pessoas da vila me aceitassem por causa do Kurama. Eu só não preciso que elas vejam isso. Mostrar para você foi o meu limite.

- Eu não quero que você pare de usar suas bandagens e nada do tipo. Você deve fazer as coisas no seu tempo. Só que eu não quero ouvir você falando de si dessa maneira. – Ela sorriu para ele – Sabe, eu não acho esse braço horrível e ele não me traz nenhuma lembrança ruim.

“Quando eu olho para ele, eu só consigo pensar que você não volta atrás em sua palavra e que cumpriu a promessa que fez para a Sakura-san e para você mesmo, que era fazer com que o Sasuke-kun voltasse para Konoha. E, mesmo que ele não esteja aqui, nesse momento, eu tenho certeza de que você guiou o coração dele na direção certa, como você sempre faz. Esse braço é uma prova de que você dá o máximo de si para proteger as pessoas que ama e que nunca deixará um amigo para trás. Isso só me faz te admirar e amar mais, Naruto-kun.”

Como que para provar que estava sendo sincera beijou a palma da mão branca e a espalmou em seu rosto, buscando o dele com sua própria mão. Ficaram assim, ela com a mão na bochecha dele e ele com a dele na bochecha dela. O ritmo cardíaco de ambos havia acelerado e seus olhares estavam conectados.

Naruto só conseguia pensar em como ela era compreensiva e linda. Tão linda com a luz que entrava pela janela contornando-a, como se a luminosidade emanasse dela e não de alguma coisa externa; e não era impossível que fosse esse o caso. E, sem segurar mais, já que depois de dias separados, ambos estavam tendo seu ansiado reencontro, ele se aproximou de Hinata, juntando seus lábios aos dela.


Notas Finais


Oie! Espero que estejam todos bem!

Dessa vez eu não demorei, certo?

Muito obrigada à quem está acompanhando, comentou e favoritou! <3


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