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História Ser Mãe é Opção - Meu Útero é Laico


Escrita por: Ari_tata

Notas do Autor


Já vou avisando q essa fic se trata de um assunto polêmico (acho q já devem ter percebido isso), mas é importante q seja discutido, por isso a escrevi.

Capítulo 1 - Meu Útero é Laico


Fanfic / Fanfiction Ser Mãe é Opção - Meu Útero é Laico

 

"Se você não gosta do casamento gay, não se case com um gay. Se você não gosta do aborto, não aborte. Se você não gosta de drogas, não use. Se você não gosta de sexo, não faça. Se você não gosta de álcool, não beba. Se você não gosta que tirem os seus diretos, não tire os direitos dos outros" Prof. Renato Rossato - advogado e consultor trabalhista.

 

Há dez anos atrás, quando eu tinha apenas 16 anos e estava cursando o 2° ano do Ensino Médio, uma coisa inesperada aconteceu: descobri estar grávida do meu ex-namorado.

Bom, no país onde eu nasci e moro até hoje, que no caso é o Japão, o aborto é legalizado desde 1948, então não é perigoso como nos países em que o aborto não é permitido e as pessoas realizam ele mesmo assim sem nenhum cuidado e segurança, o que resulta muitas vezes na morte da mulher no processo por conta disso. Mas sempre existe aquela dúvida se é mesmo o certo a se fazer ou aquele medo das pessoas te julgarem como uma “assassina” egoísta e sem coração.  

Então, depois de ter contado para os meus pais e para meu ex, eu passei muito tempo pensando e refletindo sobre isso e finalmente tomei uma decisão. Que, claro, não foi muito bem aceita por todos os meus conhecidos e desconhecidos...

- Fiquei sabendo que você quer abortar o seu bebê, isso é verdade? – me lembro que essa foi a primeira pergunta que uma de minhas professoras do colégio fez quando soube da notícia.

- Ela tem o direito de escolher se quer ser mãe ou não – minha melhor amiga estava lá também e me defendeu.

- É, professora. Eu não me sinto preparada pra carregar essa responsabilidade tão grande que é cuidar de outra pessoa. Poxa, eu sou menor de idade e nem sei cuidar de mim mesma ainda, como vou conseguir tomar conta de uma criança? Sei que foi um erro nosso, mas se isso então é um castigo para aprendermos a lição acho que ele é muito injusto, por ser totalmente desproporcional. Porque tipo, só porque a gente se esqueceu de usar a camisinha em uma noite vamos ser obrigados à carregar um filho, que não planejamos ter, pelo resto de nossas vidas? Sem falar que o pai dessa futura criança nem é o homem com quem eu desejo construir uma família.

- O pai da criança e os seus pais já sabem disso? – perguntou desconfiada.

- Sim, e eles me deixaram à vontade para tomar uma decisão. Meu namorado até me disse que não iria interferir na minha escolha e na que eu escolhesse ele me apoiaria. E com os meus pais é a mesma coisa, porque eles e eu sabemos que se essa criança nascer quem vai acabar cuidando dela será a minha mãe, pra que eu possa continuar com os meus estudos, e eu não quero fazer isso com a minha mãe, essa responsabilidade não é dela e sim minha.

- Então você vai matar o seu filho? Ele só uma criança sem culpa!

- Não, ele ainda não é uma criança e nem o meu filho! Ele pode se tornar uma criança e o meu filho, mas por enquanto ele é só um embrião. Durante os primeiros três meses de gestação não se forma nem o coração, nem o cérebro e nem o sistema nervoso, portanto ele ainda não é um ser vivo. E como se mata um ser que ainda nem nasceu? Por isso eu não vou matá-lo, vou apenas tirá-lo, antes que ele tenha vida e se torne um bebê. 

Pra mim dizer que um embrião é um bebê, é a mesma coisa que dizer que uma lagarta é uma borboleta. Uma lagarta não é uma borboleta, ela pode se tornar uma borboleta, é diferente.

- Por que você não deixa ele em um orfanato então? – ela voltou a perguntar, com o objetivo de me fazer mudar de ideia. 

- Não quero que ele cresça achando que os pais o abandonaram. E já existem tantas crianças em orfanatos esperando que um dia possam ter uma família e muitas ainda acabam não conseguindo isso. Não quero colocar mais uma nessas condições de vida horríveis. Por acaso você sabe como eles tratam as crianças lá? Porque eu não sei e não confio neles. E é por isso que também digo que se essa criança nascer quem mais vai sair prejudicado não será eu e sim ela, e eu não quero que ela sofra ou tenha uma vida infeliz.

- A minha religião não permite que você faça isso! – ela mudou de assunto.

- E quem disse que eu sigo a mesma religião que você?! Que direito você tem de impor os seus valores religiosos à mim?

- Você é minha aluna, eu só quero te ajudar! Não quero que seja uma pecadora e pague muito pior depois. Vai por mim, você está tomando uma decisão precipitada, é melhor reconsiderar.

- 1° eu não pedi a sua ajuda, 2° eu não estou sendo precipitada, porque já pensei muito no assunto e 3° não importa o que você ache ou diga, eu não vou reconsiderar. E se no final eu acabar me dando mal o problema será meu, não seu.

- Eu não concordo com você!

- Mas você não tem que concordar, apenas respeitar a minha opinião e aceitar a minha decisão! Além do mais o que muda na sua vida, o que eu faço ou deixo de fazer com a minha?

Ela me dava aulas desde o 6° ano e ela sempre se mostrou muito religiosa, mas isso não impediu que eu seguisse com o que eu achasse ser o certo pra mim.

Dez anos depois, eu me formei, consegui passar na faculdade de medicina que eu queria, conheci um rapaz na qual me apaixonei perdidamente e hoje, com 26 anos, sou casada com ele e realizei meu sonho de trabalhar ajudando as pessoas e salvando vidas, já que agora sou uma das médicas mais importantes da cidade onde moro. E completando dois anos de casados, eu e meu marido estamos planejando ter o nosso primeiro filho. 

Se eu me arrependi do que fiz? Posso até parecer um pouco insensível ao dizer isso, mas não, não me arrependo do que fiz. Se eu imagino como seria a minha vida se eu não tivesse abortado? Claro! E cada vez que imagino isso, sempre chego na mesma conclusão: minha decisão pode não ser considerada o certo pela sociedade, mas com certeza foi o certo para a minha vida.

 

"Como cristão, não apoio o aborto, mas defendo a legalização, pois sei que meus valores não devem ser impostos a toda uma sociedade, que é livre pra fazer independentemente do que eu ou a Igreja ache" - Bernard Ferreira. 

 



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