Acordei, no dia seguinte, me arrumei e fui direto para Band. Chegando lá, caminhei pelos corredores da emissora e parei diante da sala onde aconteceria a reunião que eu havia pedido, por telefone, na noite anterior.
- Com licença! – Abri a porta e entrei
- Claro, pode entrar, Aninha. – Falou Pato
Estavam na sala, Pato e alguns componentes do departamento jurídico da Band. Me direcionei a cadeira que estava reservada para mim e, então, começamos a reunião.
- Diga, Ana. O que de tão importante você tem para falar conosco que não podia esperar.
- Bom, vou ser direta com vocês – Parei e tomei coragem – Eu estou aqui para informar que não continuarei como apresentadora do MasterChef. Estou pedindo demissão.
A sala ficou em completo silêncio. Patrício e os demais estavam com cara de assustados, olhavam uns para os outros, como se procurassem uma explicação. Depois de algum tempo, Pato se manifesta
- Vocês podem nos dar licença? – Eles levantaram-se e saíram da sala
- Por favor, Pato, tente me entender – Eu estava preocupada com a reação dele
- É isso mesmo que eu quero, Ana. Quero entender. Você pode me explicar o que aconteceu? – Ele fala com a voz calma
- Apesar de a gente nunca ter anunciado nada, você e os meninos sabem que eu e Paola estamos juntas, não sabem?
- Claro. E sempre demos a maior força. Mas... por que a pergunta?
- Nós terminamos. Ela terminou comigo...
- Como assim, Ana? O que aconteceu? – Pato estava surpreso
- Nem eu sei te dizer. Foi tudo de repente, nem eu entendi ainda
Ali, sentada na sala de reuniões, contei todos os acontecimentos das últimas semanas. Minhas conversas com a Paola, as brigas e como chegamos a essa situação. Pato me ouvia atentamente
- Nossa, Ana... Nem sei o que te dizer – Ele fez uma pausa – O que eu posso falar é que eu estou aqui para qualquer coisa que você precisar, minha amiga.
- Obrigada, amigo. Obrigada!!!
- Desculpa, mas você acha que a única solução é sair do programa? Nós não saberíamos como fazer sem você.
- Eu não vejo outra saída. Eu só sei que não aguentaria ter que conviver com ela agora. Eu ainda a amo muito, Pato. Eu estou destruída. Eu preciso que você me entenda nesse momento. Eu não tenho condições de gravar uma nova temporada junto com a Paola. Eu preciso de um tempo – Falei segurando em suas mãos e deixando algumas lágrimas caírem
- Não fica assim, minha amiga – Ele diz secando algumas lágrimas que teimavam em cair – Eu entendo a sua dor. E, talvez, tenha uma solução para todos nós.
- Tem? E que solução seria essa? – Pergunto curiosa
- É o seguinte: a Band tem o projeto de outros dois programas. E, semana passada, estávamos discutindo se não seria melhor ter um intervalo maior entre as temporadas do MasterChef, para o público não ficar saturado, e colocar esses dois projetos novos no ar enquanto isso. Não decidimos ainda, mas, na próxima reunião, eu posso propor esse intervalo e te dar um tempo maior para se recuperar de tudo isso. O que você acha?
- Isso seria maravilhoso, Pato!!! Mas, de quanto tempo seria esse intervalo?
- Aproximadamente um ano e dez meses. Seria tempo suficiente para você?
- É tudo que eu preciso – Falei já um pouco mais animada
- Sabe o que seria ótimo? – Ele me olha e eu balanço a cabeça para que ele prossiga – Você ter alguma proposta para apresentar que pudesse justificar um intervalo tão grande.
- Sabe que eu acho que até já tenho um projeto para apresentar?
- Essa é a Ana Paula de Vasconcelos Padrão que conheço – Ele fala tão empolgado que eu acabo rindo
Uma semana depois, estávamos em reunião com os diretores da emissora. Pato propôs o intervalo e eu apresentei meu projeto. Ficaria viajando pelo mundo, durante esse período e produziria uma série de documentários para serem exibidos na Band.
Depois de muita conversa nossas propostas foram aceitas. Encerramos a reunião e eu segui para casa.
Eu tinha um mês para organizar tudo e começar a viajar. Passaria por 15 países nesse período. E os quatro últimos meses seriam para edição e montagem dos episódios.
Era o meu último dia no Brasil, antes da viagem. Então, resolvi fazer uma visita especial. O relógio marcava 17:30h quando estacionei em frente ao colégio de Francesca. De longe avistei ela e Paola, de mãos dadas, indo em direção ao carro
- Minha princesa linda! – Gritei e Fran se virou no mesmo instante
- TIA ANAAA! – Ela veio correndo em minha direção e pulou no meu colo
Vejo que Paola estava vindo em nossa direção, mas ignoro completamente sua presença
- Como você está, meu amor? A tia já estava morrendo de saudade – Falo enquanto seguro Francesca no colo
- Eu também tava com saudade! Você não me ligou e também não foi me visitar – Ela disse fazendo uma carinha triste
- Ai, minha princesa... a tia Ana está trabalhando muito. Mas agora eu estou aqui com você e a gente pode matar a saudade
- Que ir lá pra casa brincar comigo? A gente pode assistir o filme da Frozen – Ela falava, animada
- Hoje eu não posso, princesa!
- Aaah, por que? – Ela já formava um bico
- Na verdade, a tia Ana tem uma coisa pra te contar
- O que? O que? – Achei graça da empolgação e curiosidade dela
- Eu vou precisar viajar, meu amor. E vou ficar um tempo sem poder te ver – Fran parecia triste e isso cortou meu coração
Paola só observava e não falava nada, mas eu pude ver a mudança na expressão dela quando me ouviu falar sobre a viagem
- Mas você prometeu que a gente ía se ver sempre, mesmo você não sendo mais a namorada da mamá
- Eu sei, princesa. É que a tia Ana precisa trabalhar e, dessa vez, o trabalho é viajar por vários lugares. Mas eu prometo que a gente vai se falar todos os dias por telefone. Você vai poder me ligar e falar comigo sempre. A gente só não vai estar pertinho assim, como a gente tá agora – Falei apertando ela nos meus braços – Mas a gente ainda pode se ver pelo celular. Não é legal?
- É – Ela falou sem demonstrar muita empolgação
- E sabe o que mais? – Coloquei ela no chão e me ajoelhei de frente pra ela – Em cada lugar que eu for eu vou comprar um presente diferente para uma certa princesa
- Pra mim? – Ela já sorria de novo
- Claro! Você conhece outra princesa?
- Ebaaaaaa – Ela comemora levantando os bracinhos
- Foi só eu falar de presentes que você já ficou toda feliz, né sua sapeca? – Abracei Fran e a enchi de beijos. Ela ria sem parar
- É que eu gosto de presentes, tia Ana – Ela ainda ria
- Eu sei bem... – Eu ria do jeitinho dela – Mas agora eu tenho que ir, tá bom? Só vim dar um beijo e matar a saudade da minha princesa linda – Dei mais um beijinho nela – E agora eu quero um abraço bem apertado
- Tá!!! – Ela me abraça forte
- Te amo, minha princesa linda!
- Eu também te amo, tia Ana!
- Fran? – Paola se pronunciava pela primeira vez – Você espera a mamá lá no carro? Eu preciso falar com a tia Ana
Fiquei sem saber o que dizer. O que ela queria comigo?
Dei mais um beijo em Francesca e ela foi em direção ao carro
- Faz tempo que a gente não se ve – Paola inicia uma conversa
- E nem teria motivo, né? – Falei ríspida.
Paola ignorou minha resposta e continuou
- Você vai viajar? A trabalho?
- Vou! – Me limitei a dizer
- Por quanto tempo? É trabalho da Band? E o programa, como vai ficar?
- Vou viajar por algum tempo. Sobre o programa, é melhor você perguntar ao Pato, que é o diretor.
- Nossa, Ana! Não precisa falar assim... apesar de tudo, nós podemos ter uma boa relação e....
- Nós tínhamos uma relação, Paola – Interrompi – Mas você acabou com ela há algumas semanas, esqueceu?
- Não... – Ela abaixou a cabeça – Mas...
- Eu não tenho tempo pra isso, Paola. Acabou! Você mesma olhou nos meus olhos e disse isso – Meu peito doía ao lembrar da cena – Então, se você não está contente com a situação, lembre-se que foi você mesma quem a criou. Com licença!
Saí sem esperar uma resposta. Eu não aguentaria mais um minuto ali sem chorar. E eu já tinha prometido a mim mesma que não derramaria uma lágrima na frente dela.
Fui para o meu carro e pude ver quando Paola entrou no carro e partiu. Assim que me vi sozinha dentro do meu carro, me permiti chorar. Como era dolorido te-la ali, tão perto, e não poder abraça-la, beijá-la... Paola parecia um pouco abatida, mas, mesmo assim, continuava linda. O perfume inconfundível, as roupas simples e o jeito elegante e sexy que só ela tinha.
Por que eu tinha que amar tanto aquela mulher? E por que ela me magoou daquela maneira? Eu não tinha resposta para nenhuma das minhas perguntas. A minha única certeza, naquele momento, é que eu precisava me afastar e arrancar Paola Carosella do meu coração, de uma vez por todas.
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