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História Será que é AMOR? - Capítulo 13


Escrita por: lluanakaren

Capítulo 13 - Capítulo 13


Hyemi sabia agora, com toda certeza. Com consciência. Sempre amou Youngjae como irmão, como amigo. E agora...

"Agora quero amá-lo como meu homem", murmurou, fechando os olhos numa tentativa de aplacar a dor da descoberta.

Ouvir de si mesma tal afirmação tampouco a ajudou a aceitá-la. 

Deprimida, ela ergueu-se do chão devagar, ajeitou a saia, chutou para longe os sapatos e livrou-se dos grampos que lhe prendiam os cabelos num coque sofisticado.

Não mais tão sofisticado, pensou, depois de ter sido manuseado por dois homens diferentes...

E tão diferentes. O toque de Taemin lhe causara verdadeira ojeriza; sem falar no susto que tinha levado diante daquela súbita transformação de personalidade.

Também se assustou com Yoingjae, admitiu. Mas o medo, nesse caso, foi outro: o de perder por completo o controle. De se entregar de corpo e alma... E de livre e espontânea vontade.

Mas, e se tivesse feito isso?, refletiu num desafio. Eram adultos, não eram? Não, percebeu Hyemi com angústia. O medo maior não tinha sido o de terminar na cama com ele, e sim que Youngjae houvesse se afastado por uma repentina lembrança de Meghan.

Meghan. Correu as mãos pelo rosto, atordoada. Para onde ela teria ido? Para casa, dormir cedo? Ou esteve até então esperando por Youngjae, no apartamento dele?...

Não era possível, tentou se convencer. Com Meghan à disposição, ele não teria feito aquilo com ela... Ou teria?

Youngjae não havia tido a intenção de ir tão longe. Só quisera lhe dar uma lição; mostrar como as coisas podiam escapar do controle num piscar de olhos.

"E que lição!" Riu, melancólica. Tão consistente que ele próprio havia se assustado.

Desviou o olhar para a janela, mirando a cidade semi-adormecida. Não mais obstruída pela neve, as ruas não passavam de faixas negras cortando o manto brilhante e dourado das luzes de Seul. O tráfego fluía, sonolento.

Nada disso, porém, registrava-se em sua mente, onde os pensamentos eram mais caóticos que a trama de ruas e avenidas, lá embaixo.

"Só você é responsável por isso", acusava a si mesma. "Foi você quem trouxe Meghan à cena. Você quem detonou a única ponte que poderia levá-la a Youngjae."

Na manhã seguinte, pelo telefone, o sr. Eunho mostrou-se mais do que relutante em mostrar a casa a Hyemi.

— Tenho quase certeza de que já está vendida — argumentou. — Só não fizeram ainda a oferta porque não conseguiram contatar pessoalmente o proprietário.

Ela mal acreditava no que estava ouvindo. Um corretor de imóveis que não queria nem sequer mostrar um imóvel?...

— Seria uma pena se apaixonar pela casa e depois saber que não tem chance de comprá-la — prosseguiu ele. — Já aconteceu antes e é uma decepção para o cliente. Por outro lado, tenho muitas outras opções pelas quais pode se interessar, srta. Kwan.

— Quero ver essa — insistiu Hyemi. — Mostre-a primeiro. Depois quem sabe me interesso por outras.

— Francamente, eu...

— Se está imaginando que não tenho condições de adquiri-la, não se preocupe.

Ele soltou um suspiro.

— Está bem. Apesar de eu achar uma perda de tempo.

— Muita gentileza sua se preocupar com meu tempo — rebateu ela, seca.

O homem não teve resposta e, pelo silêncio do outro lado da linha, ela percebeu que o atingira.

— Pode ser que se veja às voltas com uma guerra de propostas, sr. Eunho — provocou. — Se eu gostar da casa, quero dizer.

Pouco depois desligavam, com o corretor prometendo mostrar o sobrado, se ela se encontrasse no local em meia hora. Hyemi teve a certeza de que ele a pressionava propositadamente, na esperança de que ela recuasse.

— Se o sr. Yoo voltar, diga a ele que vou ficar fora por uma hora, mais ou menos — instruiu a secretária.

— Naturalmente, srta. Kwan.

A voz da moça transpirava profissionalismo, embora com uma ponta de simpatia. Era óbvio que já tinha farejado problemas. Hyemi só esperava que ela não desconfiasse do que lhes havia causado...

Mal havia visto Youngjae nos últimos dias. No primeiro dia do ano, ele passara o tempo todo fora. Com Meghan, concluiu, com uma agulhada no coração. No dia seguinte, a agência publicitária dera início à sessão de fotos e, desde então, Youngjae reservava a maior parte de seu tempo para acompanhar o trabalho nos estúdios.

Mesmo na fábrica preferia ficar trancado no escritório, estudando os projetos de propaganda.

A verdade era que devia estar tão embaraçado quanto ela, meditou Hyemi, enquanto dirigia para Cheongdam. Além de não querer correr o risco de que pudesse acontecer de novo.

"Como se eu fosse deixar!", murmurou ela em voz alta.

Depois estalou a língua. Não adiantava mentir para si mesma...

Youngjae não podia nem sequer fitá-la, refletiu com tristeza. Agora só esperava que a transação com a casa desse certo. Seria melhor para ambos, embora a ideia de ter de deixar o apartamento não lhe fosse de todo agradável. Aquele fora seu lar por pouco tempo, porém haviam sido meses felizes.

As lembranças desabrochavam dentro dela, numa doce e melancólica sequência.

Manhãs de domingo, quando tomavam o café juntos e liam o jornal em silêncio, geralmente com os dois ainda quase dormindo. As noites na Sala de Orquestra, a apenas alguns quarteirões dali, ouvindo, embevecidos, a potência da Sinfônica de Seul. As tardes de primavera em que andavam de bicicleta pelo parque.

Sempre com Youngjae a seu lado, provocando-a e rindo...

"Não seja idiota, Hyemi", ordenou a si própria. Se não parasse logo com aquilo, acabaria em prantos!

As ruas de Cheongdam encontravam-se tranquilas e ainda um pouco escorregadias por causa da última tempestade de neve. Quando estacionou em frente a casa, não havia sinal do tal sr. Eunho. Curiosa, ela aproveitou para descer o vidro do carro e estudar melhor seu antigo lar.

Engraçado, notou. Nunca havia reparado na estranha mistura de estilos da arquitetura do sobrado. Era diferente de tudo que já tinha visto e, mesmo assim, muito aconchegante. Um bom lugar para criar uma família.

Por que aquela idéia, agora?, perguntou-se, exasperada.

A casa era toda branca, com janelas de madeira envidraçadas e grossas vigas de ipê suportando o telhado inclinado da varanda ampla. No andar superior, canteiros de plantas adornavam as sacadas dos quartos num toque rústico e ao mesmo tempo romântico. O gramado que cobria o terreno continuava bem tratado, estendendo-se até a rua sob a sombra de dois gigantescos pinheiros.

Quando uma gol g4 estacionou atrás dela, Hyemi olhou pelo retrovisor sorrindo ao ver um homem baixinho, gordo e careca descendo do carro.

Então aquele era o famoso sr. Eunho. Desceu também, indo ao seu encontro para cumprimentá-lo.

— Boa tarde.

— Srta. Kwan? — Ele a fitou, parecendo ligeiramente surpreso. — Temos de andar depressa.

Hyemi torceu o nariz. Nunca tinha visto alguém tão devotado ao trabalho!...

Acompanhou-o até a porta, esperando que ele a abrisse, com impaciência. 

Tinha se perguntado se pisar no hall de entrada não seria como pisar no passado. E a primeira sensação foi mesmo como a de ver um fantasma.

Tal reação, todavia, não chegou a durar muito. A longa escada de mogno era a única coisa que permanecia como antes. O ambiente fora totalmente modificado, desde a cor das paredes até o carpete denso em tom de terra.

Virou-se automaticamente para a direita, adentrando a larga sala de estar. Ah nada tinha mudado: a velha lareira de pedra, ao redor da qual costumavam se reunir nas noites frias de inverno; a saleta adjacente onde se entregava horas à leitura de romances na adolescência...

A saleta era três degraus em desnível com o resto da sala e, com quatro anos de idade, ela havia aprendido a escorregar pelo pequeno corrimão, graças a Youngjae.

Lembrava-se ainda como a mãe dela ficava furiosa com os dois.

Sorriu, acariciando a madeira lisa, e o sr. Eunho suspirou, impaciente.

— Depois do hall fica a sala de jantar e a copa-cozinha — adiantou-se ele. — Também a entrada dos fundos e um lavabo. Lá em cima...

— Três dormitórios com duas suítes, um banheiro e uma saleta íntima — completou Hyemi com um sorriso travesso, retornando ao hall enquanto o homem a fitava, embasbacado.

A primeira coisa que viu na sala de jantar foi o papel de parede comentado pela mãe dela. Sem dúvida, as enormes borboletas coloridas eram de péssimo gosto.

"Precisa ser trocado", decidiu, só então se dando conta de que já falava como se houvesse comprado a casa.

Suspirou, longamente.

— Quanto estão pedindo? — Voltou-se para o corretor, que consultou um bloco de anotações antes de informá-la.

Hyemi mordeu o lábio, surpresa. Era quase o dobro do que havia imaginado.

Caminhou pelo resto dos cômodos em silêncio. Não havia muita coisa a melhorar e a vontade de recuperar seu próprio território cresceu dentro dela.

— Acho que vou fazer uma proposta — decidiu, já a caminho do carro.

— É mesmo? — O sr. Eunho mostrou interesse pela primeira vez. — Posso saber de quanto?

— No momento ainda não tenho uma cifra. De qualquer modo, acho que estão pedindo demais.

— Engana-se, srta. Kwan. Esta casa não vai continuar no mercado por muito tempo.

Ela cruzou os braços.

— Sinceramente, não sei como espera vendê-la tão depressa quando nem mesmo se empenha em mostrá-la — acusou, fria.

— Acontece, moça, que a proposta já feita está muito próxima ao que foi pedido.

Hyemi comprimiu os lábios, perguntando-se se aquele não seria um truque para obrigá-la a subir a oferta. 

Depois abriu um sorriso forçado, entrou no carro e deu a partida no motor.

— Neste caso eu abro mão dela, de bom grado.

O homem soltou uma espécie de grunhido.

— Se a negociação não der em nada, eu certamente entrarei em contato, senhorita.

— Vamos ver o que acontece, então.

Hyemi passou o resto da tarde pensando na casa. Que ironia achar que, com a visita, pudesse obliterar a vontade de reavê-la!...

Mirou as linhas simétricas e modernas do apartamento e, quase de imediato, sentiu falta do aconchego do sobrado em Cheongdam. Podia comprá-lo de volta se quisesse. Afinal nenhuma proposta formal havia sido feita, de acordo com o corretor.

A questão era: queria mesmo sair dali?

Respirou fundo, apanhou o casaco e saiu, disposta a reabastecer a despensa da cozinha. Era imprudência não ter quase nada em casa, no ápice do inverno, com ameaças de nevascas a qualquer momento.

Meia hora depois, aguardava na fila do caixa do supermercado, fitando as compras no carrinho com desânimo. Às vezes sentia falta de uma comida caseira. Já estava farta daqueles congelados, de não ter tempo nem mesmo de experimentar novos pratos e temperos.

Mas tinha de ser honesta consigo mesma. Uma vida profissional como a dela não lhe permitia muito luxo na cozinha. Sem dizer que, por mais que tentasse, dificilmente conseguiria equiparar suas habilidades domésticas com as da mãe ou de SoYoon, por exemplo.

Avançou na fila. Há tempos não se sentia tão melancólica. Talvez porque até pouco tempo pudera contar, em tempo integral, com a companhia e a amizade de Youngjae.

Agora não possuía nem mesmo isso. Tinha, isso sim, a terrível consciência de ter perdido um amor que até então nem sequer sabia sentir.

Mas, e se houvesse reconhecido antes seus verdadeiros sentimentos por Youngjae?

O que poderia ter feito? Dito a ele?

Não. Isso só o afastaria mais depressa. Angustiada, ela desviou o olhar para o display de revistas, tentando se distrair.

"Abominável homem das neves aterroriza turistas", leu a manchete de um dos folhetins, com uma careta. Sempre a mesma ladainha!...

O jornal seguinte, contudo, a deteve.

"O segredo de Meghan", dizia o cabeçalho.

Deu de ombros. Na certa haviam descoberto a história das banana-splits, concluiu. Mas apanhou o caderno. Não era uma boa foto da modelo: escura e pouco nítida. No instante em que a viu, porém, ela não teve dúvidas de onde havia sido tirada, nem quando. O segredo de Meghan era o homem a seu lado.

E o homem ao lado dela era Youngjae.

Hyemi largou o folhetim como se esse lhe ardesse nas mãos. Devia ter adivinhado. Meghan era notícia e aquele tipo de imprensa não perderia tal oportunidade.

— Pronto, moça! — chamou a caixa com impaciência e ela piscou, só então percebendo que segurava toda a fila.

— Desculpe — murmurou, empurrando o carrinho para desocupá-lo sobre o balcão. Num impulso, incluiu o folhetim nas compras. Iria pendurá-lo no espelho do banheiro. Encarar a realidade todos os dias talvez a ajudasse a se conformar mais depressa.

O zelador a recebeu com um sorriso esquisito na portaria do prédio e Hyemi o retribuiu, hesitante. Não era nada difícil Taemin ter dado com a língua nos dentes na noite anterior, imaginou, corando.

Uma vez sozinha dentro do elevador, recostou-se na parede e fechou os olhos.

No mesmo momento viu-se transportada para os braços de Youngjae. Podia sentir o perfume de sua pele, o calor de seu corpo, de seu toque...

Abriu os olhos e o sorriso de Meghan a esperava na primeira página do pequeno jornal. Afundou-o para dentro do saco, cerrando o maxilar. Se significasse algo para Youngjae, lembrou a si própria, ele já teria se manifestado de alguma forma mais convincente. Era um homem maduro, que sabia o que queria. E ele a queria como amiga.

"Amiga!" Hyemi soltou o ar que vinha prendendo, com ímpetos de atirar a sacola de compras contra a parede. Em vez disso tratou de se controlar e procurar as chaves.

Tateou os bolsos, sem sucesso. No casaco, só encontrou a carteira.

— Ah, essa não...

Mordeu o lábio, pensativa. Tinha deixado a bolsa sobre a pia da cozinha e, na pressa, devia ter se esquecido de pegar as chaves! Agora a porta se fechou por dentro e sua única alternativa era ir atrás de Youngjae para pedir as chaves de reserva.

Isso se ele estivesse em casa. Youngjae provavelmente nem vinha dormindo no apartamento. Na certa passava todo o tempo com Meghan.

— Estúpida! — xingou a si mesma, descendo a escada.

No meio do caminho, entretanto, endireitou o corpo e marchou corredor abaixo. Não tinha do que se envergonhar. Afinal, para isso é que mandara fazer uma cópia das chaves!

Bateu à porta, com os ouvidos atentos. Nada de música, ou ruídos na cozinha. Nem sinal de vida. Tornou a bater, por via das dúvidas. Teria entrado se as chaves do apartamento dele também não estivessem dentro da bolsa...

— Cretina! — tornou a praguejar, irritada.

Já estava prestes a desistir quando a fechadura girou com um clique.

— Eu devia ter imaginado — resmungou Youngjae, pela fresta da porta.

Hyemi comprimiu os lábios.

— Pode crer que eu não iria incomodá-lo, se não fosse uma emergência.

Ele ergueu as sobrancelhas, com um suspiro, soltando a corrente.

— O que foi desta vez? Ficou sem maçãs, acabou seu xampu ou quer jogar buraco?

— Tranquei minha porta por dentro.

Youngjae riu, coçando a cabeça.

— Pelo menos foi mais original. — Apertou o cinto do robe. — Por que não arranja um esconderijo para a cópia da chave?

— Droga, Youngjae! — Os olhos dela encheram-se de lágrimas, traiçoeiros, e Hyemi disfarçou, aflita. — Não fiz de propósito.

Ele a fitou por um momento, depois abriu uma gaveta na estante.

— Eu não disse que tinha feito.

— Pois está me tratando como se eu houvesse planejado isso!

— Talvez porque nem sempre esteja a fim de ser perturbado — devolveu Youngjae, e as palavras tiveram o efeito de um tapa nela.

Hyemi engoliu em seco, ferida. O que ele queria dizer com aquilo? Que já nem era seu amigo?...

— Por quê? — insistiu, ácida. — Posso interromper algo importante? Por acaso está esperando Meghan? Neste caso é só me avisar e eu prometo ficar longe.

Youngjae soltou uma risada amarga, destituída de humor.

— Como pode ter tanta certeza de que ela não está aqui, agora? — indagou, simplesmente.

Ela empalideceu. Tinha de ser mesmo uma idiota. Não era nem meia-noite, portanto muito cedo para que ele já houvesse se recolhido. No entanto Youngjae estava ali, só de robe, com os cabelos em desalinho...

— Não vou mais tomar seu tempo — disse, rígida, pegando as chaves.

— Que diabos tem contra Meghan, Hyemi? — ele a impediu de dar as costas, intrigado.

Ela mudou de posição, pouco à vontade. O que poderia dizer?

— Nada.

— Pois não parece. Se lhe interessa saber, Meghan gosta muito de você.

Hyemi bufou, irônica.

— Estou falando sério — insistiu ele. — Já cansou de me dizer o quanto admira seu trabalho na companhia, o quanto é bonita e refinada e tudo mais.

Ela não respondeu. Olhou-o por um segundo, então bateu em retirada, parando só depois de se trancar dentro de casa.

Recostou-se na porta, ofegante. Meghan era um demônio. Então costumava falar bem dela para Youngjae?... Que brilhante estratégia. Se a houvesse atacado poderia ter despertado os instintos de proteção dele, não era mesmo? Em vez disso, fingia admirá-la, para mantê-lo cativo.

E que argumento ela, Hyemi, poderia usar para combater a influência de Meghan?

Nenhum. Qualquer coisa que dissesse acabaria sendo atribuída a puro ciúme... de uma amiga.

Cerrou o punho e esmurrou a pia da cozinha com ódio. A dor que sentiu, todavia, não foi maior do que a do ciúme que a corroía por dentro.

 



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