Quando percebeu que Sasuke havia adormecido, Sakura levantou discretamente e foi para a sala.
A mesa estava limpa já, então estendeu um pergaminho e começou a revisar certos pontos que considerava importantes. Não poderia deixar nada de fora. Pesquisou todos os imprevistos que poderiam acontecer.
Já fizera alguns partos, todos com sucesso, mas o peso daquela responsabilidade a assustava um pouco. Tinha medo de ficar sem saber o que fazer (o que não era mais comum de acontecer), de fazer errado ou não ter tempo de estabilizar seu chakra e picar a moça em mil pedaços.
Embalada pelo medo, estudou e estudou. Cochilou sobre os pergaminhos por alguns minutos, no fim da noite, até ouvir batidas na porta do corredor.
Se recompôs o melhor que pôde. Ninguém iria reparar as olheiras, pois elas já estavam ali antes.
- Entre – Sakura falou, vendo a porta abrir revelando a senhorinha, e sentindo movimentação no quarto do noivo – Oh, bom dia!
- BOM DIA! BOM DIA! BOM DIA! – Disse ela – A mocinha faria a gentileza de tirar os papéis da mesa para o café ser servido?
- Com certeza, só me dê uns minutos, por favor – Respondeu gentilmente.
A senhora saiu para a cozinha, e enquanto Sakura enrolava um dos pergaminhos, Sasuke abriu a porta.
- Não me diga que você passou a noite lendo isso aí – Sasuke falou.
- Bom dia pra você também, Sasuke-kun – Sakura emendou disfarçada – Nossa café está vindo, sente-se.
Sasuke se sentou em silêncio a frente da namorada, a observando guardar os pergaminhos, alguns rabiscados, outros intactos.
- “Enforcamento por cordão umbilical” – Ele leu em um pergaminho ainda aberto – Você tá pensando em tudo que pode dar errado.
- Já passei por todas essas situações, mas apenas quero deixar tudo fresco na minha cabeça – Sakura suspirou – Realeza ou não, são duas vidas na minha mão, e isso não é brincadeira.
Nesse instante entrou a senhora com um carrinho, e começou a servi-los.
- Então a mocinha é médica? – Ela perguntou soltando um Oooooh.
- Hai, obasan
- Parece que conheço você de algum lugar – Ela perguntou olhando Sakura bem de perto – Não se vê muitos cabelos rosa por aí.
- Eu e meu noivo nos hospedamos aqui com o Nanadaime e o Rokudaime na infância.
- OH! E vocês não são aqueles da guerra? – Ela apontou pra Sasuke – Você não foi o que ajudou a selar a tal Kagulha?
- Kaguya – Sakura explicou – Sim, é ele.
- Lembro de vocês pequenos aqui. Que bom que estão noivos, achava esse aqui muito bobalhão resistindo a atenção que dava a ele – A obasan falou meio cochichado para Sakura, que riu, vendo que Sasuke havia escutado.
Sasuke cruzou os braços, suspirando de olhos fechados, confuso.
- O jeito dele continua o mesmo – A obasan falou dando de ombros, servindo o último prato, e se retirou com um aceno, fechando a porta.
- Como pode lembrar tão bem? – Sakura riu, com uma gota na cabeça.
- Lembrar do que, meu Deus?
- Essa cabeça de prodígio não grava memórias? Nos hospedamos aqui naquela missão na fazenda.
Sasuke arregalou os olhos, com a xícara na boca.
- Por acaso quando tentamos descobrir o rosto do Kakashi? - Lembrou-se.
- Pra você, Kakashi-sensei - Sakura observou - Sim, nunca tinha visto você em um estado tão... Espontâneo. Naqueles dias você era uma criança curiosa, aprontando e afetando com seus dois amigos e colegas - Suspirou, saudosa. Logo depois vocês foi embora. Deixou essa frase no fundo da garganta. Ela não era mais necessária.
Sasuke pareceu sofrer o impacto daquela lembrança. Ele fora uma criança normal, mesmo que por pouco tempo, graças a sua noiva e seu melhor amigo. Mais um item para reforçar a gratidão eterna.
- Mas eu não era um bobalhão – Sasuke resmungou, começando a se servir, tentando esconder sua súbita emoção.
- Era sim, no sentido amoroso – Sakura fez um bico.
- Eu era orgulhoso.
- Então, é a mesma coisa.
Sasuke riu derrotado.
- Tudo teria sido diferente se você fosse mais aberto naquela época.
- Tudo como foi como deveria ter sido, Sakura – Sasuke falou, engolindo a comida – Nossos sentimentos chegaram em outro patamar, depois de tanto sangue e escuridão. Transformar a dor em poder é a especialidade do clã Uchiha, e não serve apenas para o sharingan.
- Nossos sentimentos foram postos a prova tantas vezes – Disse Sakura com um olhar vazio, vendo passar diante de si as vezes que o homem a sua frente tentou mata-la. Um lampejo de dor estalou em seu peito.
- Eu estava fadado ao ódio, tão consumido por ele que ficava cego. Mas felizmente me libertei dele, por que pude conhecer o amor e o perdão de verdade – Sasuke suspirou demoradamente – Eu me arrependo profundamente de cada vez que agi com ódio contra você. E agradeço a todos que impediram que eu tirasse sua vida.
- Não gosto de falar sobre isso – Sakura desviou o olhar desconfortável.
- Precisamos falar disso, sim – Sasuke manteve o olhar firme na namorada.
Sakura estava lutando contra o choro. Não queria chorar de jeito nenhum, sabia muito bem que Sasuke desaprovava isso e não queria que o clima piorasse.
Compreensivo, Sasuke se levantou, deu a volta na mesa e se sentou sobre as pernas na frente da rosada, encostando seus joelhos. Pegou as mãos de Sakura.
- Sakura, olhe para mim – Sasuke falou firmemente, e logo viu os orbes verdes dela nos seus – Eu não estou mais tomado pelo meu destino de ódio. Não tenho mais nenhum selo amaldiçoado. Nada mais me controla além de mim mesmo. E a minha única tendência homicida vai ser contra quem tentar prejudicar você. E NUNCA MAIS vou encostar em você com ódio – Sasuke pegou o rosto de Sakura entre as mãos – Você sabe que nunca vai ouvir palavras de mim em vão, então me escute bem que eu só vou falar uma vez.
O coração de Sakura acelerou. A expressão de Sasuke era serena como sempre, mas seus olhos sustentavam um olhar decidido nos de Sakura.
- Eu decidi me afastar pra sempre do meu passado obscuro e recomeçar. E eu escolhi VOCÊ para ser meu novo começo, por que você é a mulher que eu amo – Aquilo caiu como um anestésico no corpo de Sakura – Amo você por nunca desistir de mim, apesar de tudo, por ter se tornado uma grande mulher passando por cima da sua dor, por se dedicar a tudo a sua volta e pela sua insistência em buscar a luz em mim. E você, e claro, o baka do Naruto, foram quem me iluminaram. E aqui estou eu. Livre da escuridão e do ódio graças a você, as vésperas de casar contigo, Sakura. Não tem mais espaço pra dor e más lembranças, entendeu?
Sakura engoliu o choro, piscou e acenou com a cabeça. Sasuke sorriu de canto, aliviado por ela perceber sua sinceridade. E para selar o esclarecimento, puxou o rosto da namorada suavemente e beijou-a.
Mas não eram os beijos comuns entre eles, de apenas lábios pressionados. Já estava na hora de algo mais. Sasuke abraçou os lábios de Sakura com os seus, e ela imediatamente fez o mesmo.
Ambos deram passagem ao outro, e começou o primeiro beijo de verdade. Profundo, calmo e intenso. Sentindo o gosto um do outro.
Sasuke pensou que poderia facilmente se acostumar com aquilo.
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