Eu conseguia ouvir minha mãe chorando dentro do quarto, seu choro foi o choro com mais dor que eu já havia escutado. Seus berros faziam meu coração partir. A única coisa que consegui fazer foi abaixar minha cabeça e chorar.
Escutei a porta abrir e levantei a cabeça. Era meu pai, caminhando em minha direção. Seus olhos castanhos, lindos olhos, estavam vermelhos de tanto chorar, tão vermelhos que quase escondiam a cor de seus olhos.
-- Se acalme filha, tudo irá ficar bem, tenha forças -- disse ele
Aquelas palavras ecoaram em meu ouvido, ouvir meu pai dizendo aquilo, com a voz trêmula, me destruiu. Mas no fundo, eu sabia que nada estava bem, e não iria ficar tão cedo. Eu o abracei, fechando os olhos, conseguia sentir uma criança que chorava por um motivo qualquer. Depois de longos minutos, ele levamtou e me deu um beijo na testa, o beijo que ele sempre me deu, desde que eu era menor.
Vários carros de polícia estavam estacionados em frente a minha casa, e vários policiais estavam revistando tudo, apreendendo cada coisa que achavam necessário. Me senti incomodada com aquela falta de privacidade, então resolvi ir até meu quarto. Passando pelo corredor, vi algo que nunca irei esquecer. Dentro do quarto, o quarto em que os policiais se encontravam, o quarto em que minha mãe se encontrava, eu vi, meu irmão, meu velho irmão, meu Dustin. Era a pior cena que eu havia visto em toda minha vida. Seu corpo pálido, estava estirado no chão, 2 buracos de bala haviam o acertado pelas costas. Caido no chão com a barriga para baixo, seu rosto era visível, cabelos castanhos claros, extremamente lisos, a franja bagunçada, e minha mãe, em cima de seu corpo, fazendo carinho em seu cabelo. Ela chorava, chorava como um bebê que caiu de um berço, e meu pai estava em pé, consolando minha mãe com um carinho em suas costas. Logo eu me virei, e sai correndo. Eu estava passando mal, tive que ir pro banheiro, e vomitei. Sentei embaixo da pia e chorei, chorei de dor, de raiva, de dúvidas, de saudade, e acima de tudo, de dó. Dó dos meus pais, que teriam a vida acabada após perder o filho mais velho. Ele foi assassinado, a morte mais cruel, baleado pelas costas. Quem poderia ter feito uma coisa dessas? Mas a única coisa que eu conseguia pensar era em Ben. Afinal, onde estava ele?
Fui até meu quarto e vi ele, meu irmão mais novo, agachado ao lado da minha cama, a expressão de medo dele me assustou, e me encheu de tristeza.
--"Por que mamãe está chorando?"
Eu não sabia como falar aquilo, ele só tinha 6 anos, como dizer que seu irmão havia sido brutalmente assassinado com 2 tiros? A única coisa que consegui dizer foi:
--"Alguma coisa muito triste aconteceu, mas você promete pra mim que vai ser forte?"
--"Prometo, Arya"
--"Dustin se machucou, só isso"
Ben estava lindo, com seu mini paletó e os cabelos penteados e extremamente alinhados.
Estávamos em um jantar. Era eu, mamãe, papai e Ben, se divertindo, comendo alguma carne gordurosa, enquanto meu irmão era morto. Dustin não quis ir a esse jantar, o que me fez lamentar, tudo isso poderia ser evitado, mas não, ele tinha que ficar em casa pra conversar com seus amigos no Skype e jogar algum videogame qualquer. Deitei na cama com Ben, e fiquei abraçada com ele. Só conseguia fechar os olhos e chorar, chorar silenciosamente, para não acordar o sono inocente de Ben. O som daquela casa era horripilante, a sirene da polícia, os berros da minha mãe, o barulho insuportável de móveis sendo desmontados. Fiquei ali, umas 3 horas, chorando, e o barulho parecia não diminuir. Foi quando ouvi a porta abrir, era meu pai, olhei no relógio e já eram 4 horas da manhã. Ele entrou no meu quarto silenciosamente, mas quando me viu acordada, veio direto conversar comigo.
--"Deixe-me levar Ben para o quarto dele" - disse
--" Não, pai, deixe ele aqui, ele me faz bem."
--"Está frio aqui dentro" - ele se virou e pegou uma coberta que estava em meu armário. Cuidadosamente, ele tirou meus saltos, e nos cobriu. Se virou para ir embora, mas antes, deu o beijo na testa, na minha testa, e na testa de Ben.
Quando ele fechou a porta, eu fechei meus olhos, e mesmo com o barulho daquela casa, eu consegui dormir.
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