História Servant - Uzumaki Naruto

   Palavras.

   Elas são um conjunto de letras, usadas para expressar sentimentos, desejos e outras coisas, ou seja, pra facilitar a vida das pessoas. Essa é uma das definições muito usadas, mas não é assim que eu as vejo.

   Acho que as palavras são como armas: Devem ser usadas com sabedoria, pois podem destruir a vida de alguém se usadas de maneira errada. E foi exatamente o que aconteceu comigo, fui machucado por seres humanos incapazes de pensar em nada além de sua própria felicidade.    

   Fui abandonado após a morte de meus pais, uma criança jogada nas ruas de Konoha. Me bateram, me maltrataram, abusaram de mim, mas, de tudo, o que mais machucavam eram as palavras. Coisas como "monstro, demônio, aberração" ou até "tóxico" foram usadas contra mim, dentre muitas outras que prefiro não citar. Diziam que eu tinha matado meus pais, que a culpa de tudo ruim que acontecia era minha.

   Porém, o perigo das palavras não está só nas ofensas, mas também em outras coisas, como falsa esperança e falsas promessas, e foram as deste tipo que me destruíram. A ideia amado pelo príncipe que me resgatou, suas palavras doces e carinhosas, apaixonantes, ditas nos momentos de prazer, quando nossos corpos se tornavam um só, isso tudo me cegou, não conseguia ver a verdade por detrás daqueles atos carinhosos. Uchiha Sasuke foi minha maior ruína, minha pior decisão foi me entregar de corpo e alma à ele.

   Sasuke me resgatou, cuidou de mim, me tornou seu servo de honra e disse que me amava. Jurou que nada iria nos separar, que nada era mais forte que o nosso amor, e eu, tolo, acreditei em cada palavra. Cada frase, cada olhar, cada coisa que ele fazia me hipnotizava, e por isso eu me iludi.

   Dentro de mim, em uma pequena parte onde ainda restava um pouco de razão, algo me dizia para não acreditar no que ele prometia. Mas era tudo tão... Encantador! Eu sofri tanto nas ruas, fui abandonado e esquecido, fui criado por mim mesmo, e, de repente, um príncipe diz que me ama! Eu estava muito maravilhado para dar ouvidos ao que a razão queria me contar.

   Agora eu consigo perceber. Eu nunca fui a coisa mais importante na vida de Sasuke, ele sempre amou mais o clã. E sendo o último da linhagem, precisava de um herdeiro, e assim, sucessivamente, de uma mulher, uma esposa para dar a luz à sua criança. Ele havia me dito que mesmo a ideia de reerguer o clã não era mais importante do que me ter ao seu lado, mas era tudo mentira. Ele estraçalhou meu coração com aquela noticia, consigo me lembrar das palavras exatamente como foram ditas, e do exato momento em que estavam:

  " Separamos nossos corpos depois de mais uma noite de amor e prazer, e deitei minha cabeça em suas coxas nuas, sua pele macia e pálida reluzindo ao luar. Sentados de frente para a janela, ficamos em silêncio observando a lua iluminando o reino. Sasuke olhou em meus olhos com uma certa determinação, e disse, escolhendo cuidadosamente suas palavras:

   - Vou me casar com uma Haruno, e juntos iremos reerguer o clã. Mas ainda te quero ao meu lado - Suas palavras foram como uma flecha cravada e meu peito, porém, não parecendo satisfeito com minha dor, completou:

   - Espero que me apoie, pois sabe que meu clã é mais importante que tudo para mim... "

   Mais importante que tudo? Onde está aquele Sasuke que se importa comigo acima de tudo, que me ama independente das escolhas que faço? Onde?

   - ONDE?!!!!!!!!!!!! - grito, sem me importar com quem estiver me ouvindo, talvez as árvores abafem meu grito angustiado. Me viro e corro até a margem do pequeno riacho que corta o bosque, caindo de joelhos com as mãos no rosto. Minhas lágrimas se misturam à água gelada que encharca minha calça, o silêncio em volta chega a ser torturante.

 Tudo isso é muito pra mim. 

   Sei que não sou um ser humano perfeito, esse tipo de coisa não existe, e sei também que já cometi muitos pecados, mas isso é demais. Essa dor é uma dor que ninguém devia conhecer, é algo muito profundo, capaz de te destruir em segundos. Se fosse para escolher entre a vida que levei até agora e ter continuado com a vida que levava antes de conhecer Sasuke, eu com certeza escolheria a segunda opção. Eu não conhecia o amor, a liberdade, a esperança, a felicidade e muitas outras coisas boas, mas, por outro lado, também não conhecia a dor que estou sentindo agora.

      As palavras rudes, os socos, os chutes, os olhares de ódio que as pessoas direcionavam para mim, nada conseguiu me machucar tanto, desde que eu nasci, e ele conseguiu me arruinar em minutos. Minutos que eu nunca vou esquecer, assim como as palavras que saíram de sua boca. Nunca me senti tão imponente, tão fraco, tão inútil, tão...

  Desnecessário. É isso o que eu sou para Sasuke, um ser incômodo do qual ele não precisa. Estou ciente de que, eu, um camponês miserável, sem estudos, e ainda por cima órfão, não mereço um príncipe. Se era assim desde o começo, por que ele me deu esperanças de sermos felizes? 

   Por que me prometeu amor se tudo o que me daria seria ainda mais sofrimento? 

   Porém, mesmo depois dessa, ainda o amo e não quero dividi-lo com ninguém. Mesmo sendo seu servo miserável e escravo do seu amor, eu me dou esse luxo. Como se mais um pecado fosse mudar algo na minha vida.

   Me sinto um ser imundo, impuro, uma desgraça. Não posso pedir a Sasuke que escolha entre mim ou o clã, por quê, por mais que me doa, eu preciso admitir que eu seria deixado para trás. Lá no fundo, eu não acreditava nas palavras que ele me dizia, então, por quê? Por que não dei ouvidos à essa maldita lógica? Por que eu fiquei tão cego de amor?

   Achei que, depois de tudo que passei quando era pequeno, nada me surpreenderia. Mas eu estava tão errado! Ah, se eu tivesse pensado um pouco mais antes de me entregar à esse homem... Nunca imaginei que algo chegaria à me machucar tanto como ele conseguiu. Ele conseguiu deixar meu coração mais despedaçado do que já estava.

   -  MENTIROSO DESGRAÇADO! EU TE ODEIO!EU TE ODEIO, TE ODEIO, TE ODEIO! - gritei com toda minha força, enterrando ainda mais meu joelho nas pedras do rio. Minhas pernas doíam, mas nada se comparava à dor que parecia esmagar meu peito. - Eu te odeio... 

   Sentei-me na grama e ali fiquei encolhido, chorando, sozinho no bosque. Exatamente como antes, e como sempre seria: Esquecido.

   - Eu não queria ter nascido. Não nessa época e nem nesse lugar. Nunca serei mais do que um saco de pancadas para as pessoas, nem mesmo para Sasuke.