História Servant - Uzumaki Naruto

Minhas mãos​ suavam, e, não apenas elas, mas todo meu corpo estava entrando em estado de pânico. Minhas pernas tremiam como dois galhos finíssimos em um vendaval. Elas se recusavam, juntamente com meus braços, à saírem do lugar. Talvez o terror da cena, talvez a percepção da própria morte, mas havia algo paralisando meus movimentos, me impedindo de tomar qualquer atitude.

O pior era não poder contar com Kurama. Ele estava esgotado, passara a noite inteira cuidando de minha febre com seu poder de cura, o qual era baixo é difícil de controlar, principalmente quando não eram ferimentos físicos.

Como se quisesse me lembrar de que tinha controle sobre minha vida, ou morte, Sakura encostou levemente a faca afiada em meu pescoço. A lâmina fria contra minha pele apenas agravava o medo em meu interior. Assim que vi a morte ali, na esquina, esperando para me pegar desprevenido, meu orgulho caiu por terra.

Eu não podia morrer sem antes me acertar com Sasuke e agradecer à Shisui e Itachi por serem os pais que nunca tive, ou mesmo  à Kakashi, por ter sido como um irmão mais velho para mim. Não podia morrer naquele estado, sem um rumo definido para minha vida. Não queria que toda minha existência tivesse um sentido tão vago e insatisfatório, tão vergonhoso e ridículo, tão covarde. Eu precisava ao menos tentar sair daquele aperto mortal, escapar da mão de ferro que prendia meu braço e me levava em direção à morte certa.

Minhas pernas ainda tremiam, mas eu estava decidido. Sakura continuava me olhando com histeria, mas parecia submersa em seu próprio mundo, murmurando palavras incompreensíveis para si mesma. Desesperado, meu olhar vagava pela área, procurando qualquer coisa que me desse ao menos uma chance de resistir. Enquanto isso, um filete de sangue quente escorria por meu pescoço, o que só aumentava o desespero que havia se alastrado por todo o meu ser.

Mesmo estando levemente distraída, o aperto de Sakura, assim como a faca em minha garganta, continuava firme. Quando estava quase desistindo, meus olhos acharam um rolo de massa, caído à alguns centímetros do meu pé direito. não sei como não o havia visto antes, pois era totalmente perceptível. Me agarrando ao filete de esperança proporcionado pela possibilidade de escapar daquele destino, estiquei meu pé da maneira mais sutil possível, tentando alcançar o rolo. O sucesso veio na terceira tentativa, quando a rosada parecia estar voltando aos seus plenos sentidos.

Por algum milagre, reuni forças e cuspi no rosto de Sakura, que se afastou, limpando os olhos com uma das mãos. Esse pequeno tempo foi suficiente para que conseguisse pegar o rolo de massa com minhas mãos, e o segurei em minha frente, desajeitadamente. A garota agora ria de mim, debochando do que lhe parecia um esforço estúpido, mas que para mim era a única forma de revidar. 

Em um momento repentino, sua expressão mudou para um sorriso disfarçado, e colocou cuidadosamente a faca sobre a mesa ao seu lado, escondendo-a debaixo de algo que não pude ver. Caminhou em minha direção devagar, uma expressão confusa tomando seu semblante, o que me deixou intrigado. Sem querer perder a única chance, por mais que pressentisse algo ruim, avancei em sua direção, e, no minuto em que acertei seu rosto, uma luz se acendeu, e pude ver Sakura no chão, com uma expressão de terror, levando uma de suas mãos à bochecha atingida.

Algo estava muito errado ali, e percebi isso quando vi seus lábios formando um pequeno sorriso, que sumiu tão rápido quanto apareceu.  

-  SAKURA?!

Era a voz de Sasuke. Finalmente, alguém estava ali para me tirar daquele inferno. Pelo menos era isso que eu achava, pois minha mente não estava em seu melhor estado naquele momento.

- NARUTO, SEU FILHO DA PUTA DESGRAÇADO! - Desprevenido, fui acertado com um tapa na cara. Nunca imaginei que o príncipe bateria em mim daquele jeito - SEU VADIO DOS INFERNOS, VAGABUNDO! ESPERO QUE MORRA!

- Eu, mas... EU?! ELA TENTOU ME MATAR!

Outro golpe, dessa vez um murro. - SEU PEDAÇO DE ESCÓRIA IMUNDA! 

O choque das palavras, juntamente com o murro, me desestabilizou totalmente, e eu caí no chão, longe da Haruno. O susto fora tanto que agora me encontrava rodeado por uma possa de urina, minha própria urina. Sem forças, não conseguia sair dali, então apenas continuei no chão, chocado demais para tirar meus olhos do casal que se afastava. Mas antes de deixarem o cômodo, o moreno veio em minha direção e cuspiu em meu rosto. - Isso é o que você merece por ser um vagabundo inútil e sujo que nem sabe ler...

E ele saiu. Simplesmente caminhou porta afora, com a rosada em seus braços, como se nada houvesse acontecido. Como se não tivesse acabado de destruir minha vida com uma simples frase. Pois é, Sasuke tinha esse poder.

Senti meu corpo enfraquecendo assim que eles sumiram de vista, e caí no chão. Ouvi vozes ao fundo, mas conseguia apenas pensar que estava desmaiando. "Não havia pensado que os seus seriam os últimos olhos que eu veria nessa situação. "

Talvez em outros tempos, as coisas tivessem caminhado de uma maneira diferente, menos angustiante e trágica. "Poderíamos estar juntos, agora mesmo, debaixo de uma árvore, apenas sentindo um ao outro. Mas você quis assim. Então, que assim seja."