História Servant - Flashback - O Bosque das Cerejeiras

O garoto loiro com marcas na bochecha intrigava profundamente o jovem príncipe. Aquela figura enérgica e atrapalhada acordava em si sentimentos nunca antes vislumbrados. Era algo de outro mundo; uma mistura de sensações que o faziam se sentir confuso, estupidamente feliz e ás vezes, incompleto.

Algo naquele rapaz chamava sua atenção, como se precisasse ter ele em sua vista, pois nada faria sentido sem aqueles olhos azuis. Tinha uma estranha necessidade de ter o Uzumaki ao seu lado, e de não deixar que ninguém fosse tão próximo do loiro quanto ele próprio.

E foi numa tarde refrescante de primavera, na época em que as flores de cerejeira começavam a cair, que os dois provaram, pela primeira de muitas vezes, o gosto um do outro; Sasuke tinha fugido de suas aulas monótonas no castelo para poder apreciar a beleza das pétalas caindo, uma das poucas coisas que gostava de fazer.

Seu tutor, acostumado com essas escapadas, assim como o rei, seu irmão, decidiu deixá-lo ter seu momento. Mas o jovem loiro estava preocupado com seu mestre, e seguiu o príncipe de longe. O moreno era seu salvador, e estava finalmente conseguindo se aproximar deste sem vergonha ou medo de ser tratado com sempre fora. Estava começando a confiar em Sasuke, e sentiu uma urgência de saber o que tanto chamava a atenção daqueles olhos ônix que tanto admirava.

Naruto também sentia aquela mistura estranha de sentimentos, uma bomba de emoções plantada em seu coração, sobre a qual não possuía o menor entendimento. Não era só admiração, sentia que queria ver aquele garoto feliz, queria ser o motivo de sua felicidade. Achava ser amor, mas logo colocou essa ideia de lado, mesmo que ela ainda permanecesse ali, no fundo de sua mente, esperando para ser provada como verdadeira.

Depois de um tempo de caminhada, o moreno chegou a um pequeno bosque, e o loiro, que vinha atrás, presenciou a cena mais bonita que já havia visto em sua vida. Aos seus olhos maravilhados, o cenário parecia um quadro pintado com perfeição e harmonia, em que a beleza e a simplicidade estavam habilidosamente balanceadas:

Dezenas de cerejeiras, suas flores já no fim de suas curtas vidas. Pétalas caíam delicadamente ao chão, formando um tapete rosa que forrava o chão com sua beleza natural. Ao fundo, os sol poente proporcionava tons de laranja ao céu sem nuvens, num contraste estonteante. E, deitado sobre o tapete de pétalas caídas estava a pessoa que sabia ser, no fundo de sua mente, o amor de sua vida. Um garoto pálido de cabelos negros, feições da mais pura beleza e olhos negros que pareciam perfurar sua alma e enxergar nos cantos mais remotos de seu ser. De todos os elementos que formavam aquela obra, o ultimo era certamente o mais belo e o que mais lhe agradava.

Não que admitiria isso depois.

Foi chegando cada vez mais perto, atraído pela beleza única do príncipe, até que seus passos se fizeram ouvir, certamente chamando a atenção do garoto. Congelou no lugar que estava, pois sabia que não podia abafar o som de seus pés pisando em galhos caídos.

- Deite-se aqui, comigo... - aquela voz, que mais parecia uma harmoniosa melodia aos seus ouvidos, proferiu as palavras que, sem saber, esperava ansiosamente por ouvir. - Imagino que nunca tenha visto uma cena como esta.

- E-é, bem, não mesmo. Eu nunca tive a chance de ver tanta beleza reunida em um lugar só... - aos poucos foi se deitando para o lado contrário do moreno, suas cabeças deitadas lado a lado.

- Bem, se é assim, estou lisonjeado que me ache bonito. - A realização chocou-se contra o loiro de uma forma constrangedora, fazendo suas bochechas corarem tanto quanto possível.

- E-eu não, quer dizer, é. Não é mentira, você é bonito, mas o que eu quis dizer é que nunca pude ver essas belezas naturais - fez um gesto mostrando os arredores - pois nunca tive a chance de viver em paz para apreciar essas coisas. Ou eu vivia fugindo de aldeões irritados, ou estava sendo vendido para alguém e obrigado a...

Nesse momento, Naruto calou a boca. Na verdade, foi impossibilitado de falar pelos lábios que estavam colados aos seus. Primeiro entrou em choque, sem saber o que fazer, pois era exatamente aquilo que queria, mas por outro lado, estava inseguro de que estivesse se enganando pelas circunstâncias.

O príncipe descolou seus lábios dos lábios macios e rosados de seu servo. Quando ouvira o garoto começar a falar, se aproximou dele e sentou-se ao seu lado, observando os olhos cristalinos do garoto. Mas quando viu o rumo que a conversa iria tomar, logo agiu sem pensar, guiado por seus instintos mais primitivos, instintos de um rapaz em plena juventude, os desejos aflorados ao máximo. E não se sentia nem um pouco arrependido do que acabara de fazer.

- Se você estiver ao meu lado, nunca irei deixar que ninguém te trate assim novamente... - As palavras saiam sem que conseguisse controlar o que expressava, apenas deixando-se levar pelos sentimentos - Você merece mais do que um idiota sem escrúpulos que abusa de um menino tão belo. Fique comigo, Naruto, e eu vou lhe conceder o amor que merece.

Aquelas palavras mexiam com Naruto profundamente, pois jamais se sentira tão protegido e feliz, afinal, havia encontrado alguém que parecia se importar consigo. Se pudesse, ficaria ao lado daquele garoto para o resto de sua vida, se entregaria de corpo e alma a ele, daria tudo de si para sentir aqueles braços fortes e protetores ao redor de seu corpo frágil.

- Sasuke...- Os olhos cristalinos brilhavam, emocionado com as palavras que tanto sonhara em ouvir, mas nunca pensara que realmente as ouviria. - Eu não poderia estar mais feliz...

O príncipe, tomando aquilo como um incentivo, beijou o loiro outra vez, mais firme e seguro do que anteriormente. Tomou os lábios do menor em uma carícia quente e apaixonada, que envolvia ambos em uma dança ritmada onde nada mais importava senão a presença um do outro. Os beijos logo evoluíram para algo mais intenso; as línguas se envolviam, entrelaçadas, numa deliciosa confusão, que para os dois era algo inestimável e insubstituível. Uma sensação única.

A sensação de se estar apaixonado.

Passaram o resto do tempo assim, entre beijos e carícias mais leves, mas com o mesmo sentimento puro e profundo, que os confortava e aquecia naquele bosque, o lugar onde onde o que se tornaria uma trágica história de amor teve seu início. Mas, naquele exato momento, o futuro de nada lhes importava; o fato de estarem ali, compartilhando um momento só deles, fazia com que tudo mais perdesse a importância. Tudo se tornava uma preocupação banal na presença de um amor tão sereno e protetor.

Naruto descansava sua cabeça nas pernas do outro, enquanto Sasuke bagunçava de leve suas madeixas loiras, em um carinho tenro, sem segundas intenções, ao que os dois presenciavam o que antes era tarde se transformar em uma noite estrelada. Uma noite em que não estariam sozinhos.

- É tão bom... - disse o loiro, que fechará os olhos, concentrando-se em sentir a brisa da noite que acariciava sua face.

- O que, exatamente? - indagou o príncipe, que por sua vez estava focado em observar os detalhes do semblante sereno que o menor exibia. - O ar fresco?

- Não sei, talvez a junção de tudo. - Seus olhos se abrem vagarosamente, o olhar preso em algum ponto abstrato no céu escuro da noite. - A sensação da brisa em meu corpo, o som das folhas balançando em seu próprio ritmo, o céu estrelado. A harmonia e a beleza da natureza não te fascinam?

- Ouvindo você falar assim, eu poderia passar todos os meus dias a observar essas árvores ao seu lado. - O moreno aconchega o outro em seu colo, envolvendo o corpo bronzeado em seus braços e apoiando a cabeça no ombro de Naruto. -Mas é isso o que quis dizer?

- Não só isso, você também está aqui. Seus braços ao circundando minha cintura, sua presença serena e acolhedora; nossos olhares presenciando as mesmas estrelas, enquanto confidenciamos beijos e toques únicos, sentimentos que são apenas nossos. Tudo parece tão certo, isso não te faz se sentir bem?

- Parece que eu arranjei um pequeno poeta - O comentário arrancou uma gargalhada gostosa do garoto mais novo, que aproveitara para se virar e ficar frente à frente com a pessoa que havia se tornado a causa de sua felicidade. - Mas, respondendo à sua pergunta, sim, isso faz com que eu me sinta estranhamente tranquilo, como se tudo estivesse entrando nos trilhos.

O loiro se distrai um pouco ao que o moreno começa a distribuir leves beijos por sua mandíbula, continuando e parando em seu pescoço. Naquele momento, o Uzumaki nota

Pela primeira vez a lua cheia que se destacava no céu. Seus olhos foram rapidamente atraídos para a luz prateada, e uma ideia lhe veio à cabeça.

- Sasuke. - chamou, arrancando um suspiro do outro, que parecia incomodado por ter que cessar com suas ações naquele momento. - Olhe ali.

Seu braço esticado apontava para a fonte de luz, que acabara por atrair a atenção do Uchiha. Ambos ficam parados por alguns segundos, apenas admirando a lua e sua beleza noturna, até que o loiro decide se pronunciar mais uma vez.

- Vamos prometer uma coisa?

- O que?

- Que, enquanto essa mesma lua estiver no céu, não iremos desistir facilmente desse amor.

- Você é um malandro, sabia?

- Você acha? - Os dois selam os lábios rapidamente, um ínfimo contato que, mesmo com sua simplicidade, fazia seus corações baterem em harmonia com seus sentimentos.

- Acho sim. Mas eu aceito. Quero dizer, a sua proposta.

- Que bom, senhor Uchiha. - O Uzumaki é acertado por um soquinho fraco em seu flanco direito, uma brincadeira com o modo como se dirigira ao "seu principe".

- Por mim, esse sentimento não vai acabar, nem que eu precise desistir de tudo só para ter você ao meu lado.