Batidas.
Batidas constantes, que aumentavam de intensidade a cada segundo, se misturavam ao meu sonho, tornando difícil separar o real do onírico. Combinadas às vozes, que pareciam chamar o meu nome, a presença desses barulhos me deixou em um estado entre o sono e o desperto, mas ainda não conseguia abrir os olhos. A presença do som se torna impossível de se ignorar, e um estrondo, muito mais intenso, se faz presente.
Agora, não somente batidas, mas também passos; Tudo se combinava em um conglomerado que vinha em minha direção, e o sentimento de perigo soou em minha cabeça, me despertando de uma vez por todas. Abri os olhos a tempo de ver guardas, alguns já alcançavam a cama em que me encontrava ao lado de Sakura, e o conselheiro do meu irmão, Shisui. Ainda com os sentidos consideravelmente entorpecidos por ter saído de um estado de sono, mal tive tempo de reagir; os guardas já levavam a rosada, que se debatia em desespero pelo susto que lhe tirara os sonhos.
A revolta cresceu em meu âmago ao constatar o real sentido daquela cena que presenciava, eles não pareciam estar se importando com a situação. Oras, era uma quebra da hierarquia do castelo! Como podiam ter a audácia de invadir o quarto do príncipe Uchiha, descendente Fugaku e herdeiro do trono? Era uma afronta á minha pessoa, invasão da privacidade de um membro da realeza! Pior, tiveram a coragem de levar Sakura como prisioneira... E sob ordens de quem?
- Eu EXIJO uma explicação. AGORA! - gritei, minhas mãos tremiam de raiva ao constatar o olhar de deboche presente no rosto de Shisui. Os guardas já haviam deixado o quarto quando levantei da cama e me dirigi ao conselheiro.
- Olhe ao seu redor. - O menor aponta para o quarto, afetado pela invasão dos guardas. - Achas que tens como se impor? A situação não está boa para seu lado, Sasuke-kun.
- Insolente! - berrei, as veias em meu pescoço começavam a se tornar visíveis de acordo com a impaciência que crescia, implacável . - Entra em meu quarto, leva minha noiva... e ainda zomba de mim? A quem achas que se dirige, plebeu?
Quem me conhecesse diria que aquilo era uma ilusão, que eu nunca me dirigiria a uma pessoa, seja quem fosse, de maneira tão rude e debochada. Todos afirmariam que "o príncipe estava fora de si" e não possuía controle sobre suas ações, ora, era o que eu dizia a mim mesmo! Mas uma hora as desculpas acabariam, e teria que encarar a culpa frente à frente. Já não era mais uma criança.
No entanto, não era bem assim que o conselheiro me via naquele instante.
- Não tenho tempo para isso, e, francamente... já estou cansado de suas infantilidade, garoto. Com todo respeito a seu irmão, e aos seus pais, não me importo se você é um príncipe, nem mesmo se fosse padeiro deixaria de ser um idiota orgulhoso.
- Olha aqui seu...
- Basta, basta, não me importo com todos os nomes que lhe passam à cabeça para definir a mim. - Dispensou meus atos com a mão - Acho que você vai querer saber o que tenho para lhe dizer. É uma mensagem do Rei.
- Meu irmão? Tem certeza que é de Itachi? - Uma dúvida cruel se apossou de minha mente, e eu a negava com todo meu ser, mesmo que soubesse o significado daquela situação. Foi realmente Itachi quem ordenou tudo isso? Ele realmente desistiu de mim?
- Acredito que não haja outro rei neste reino, mas coisas estranhas acontecem. Enfim, aqui está a mensagem:
" Irmão,
Me dói mais que tudo, mas chegamos a esta situação deplorável. Não lhe direi que me arrependo desta decisão, porque todos têm de pagar por seus atos e sofrer as consequências de escolhas equivocadas, ainda mais quando minhas ações abrirão seus olhos para o que não pode perceber com seu orgulho cego.
Decepcionado, ah, se não o estou, mas ainda assim, lhe mostrarei a certeza que eu levei em minha mente, e sem culpa alguma em meu coração. Não há mais desculpas, aceite os fatos após esta conversa que teremos, e desista de uma vez por todas deste maldito clã que somente nos trouxe sofrimento e inimizades.
Estarei lhe esperando com Sakura em minha sala, e espero que sua teimosia não o prenda a uma mente fechada, assim como seu orgulho o fez.
De seu irmão e rei, Uchiha Itachi."
Shisui termina de ler a carta que trazia em mãos, mas as palavras pacíficas de meu irmão não pareciam alcançar meus ouvidos; eu estava envolvido em uma bolha de raiva, que turvava minha visão, entorpecia meus sentidos. Uma bolha que eu pretendia estourar bem encima do meu maldito rei.
Inflamado pelo ego e pela indignação desenfreada, caminhei para fora de meus aposentos, sendo detido apenas pela mão de Shisui, que envolvia meu pulso firmemente. Sem me virar, ouvi as palavras que o conselheiro pronunciou em um pedido forçado:
- Sasuke, não irá me ouvir te suplicar nada novamente, mas acalme-se. E não decepcione seu irmão, não quero ter que vê-lo chorando por um ingrato como você novamente. - Sua voz era firme, e dava para perceber sua irritação. Puxei meu braço de seu aperto bruscamente e comecei a correr, descontando a frustração que ameaçava me dominar em passos fortes, desmedidos.
Talvez o fato de Itachi ter chorado por mim devesse mudar meu humor, ao menos que levemente, mas nada poderia me fazer enxergar outra explicação para aquilo, senão a de que era uma punição, algo para me humilhar e mostrar que eu não sou digno de respeito. Digno do trono.
É uma pena, Shisui, mesmo. Amo Itachi, minha única família, e sei que ele quer ter uma relação saudável comigo. Mas que ele pensasse nisso antes de decidir me humilhar, me encurralar e me ofender dessa maneira."Corte minhas pernas, arranque meu coração, corte minha língua; ainda terei meus olhos para amaldiçoar aqueles que tiram de mim o que me é importante." Itachi não será perdoado facilmente.
Pobre príncipe, mal sabia que o maior inimigo se deitava em sua cama.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.