História Seu Sorriso. HIATOS - VI - Esquecer?!

" Não tenha medo de arriscar. 

A luz mais intensa vem dos lugares mais sombrios. "

Sophia

Entrei na sala feito furacão e dessa vez os olhares que sempre eram dirigidos a mim me incomodaram. As pessoas estavam me olhando com...desprezo, ou pena, algumas mulheres com...raiva? 

Suspirei pesadamente e me sentei, abrindo o caderno e começando a escrever o que havia no quadro, a professora era insuportável e a aula dela me fazia querer dormir. 

Eu queria esquecer aquele beijo. Muito. Queria esquecer de ter sido idiota ao entregar à minha boca a ele. Queria esquecer que o dia de hoje. Queria esquecer tudo, inclusive ele. Entretanto minha mente problemática e fazia lembrar de tudo.. de cada detalhe e da boca dele sobre a minha. 

Agora eu entendo por que as pessoas dizem que beijos são difíceis de esquecer e muito fáceis de serem lembrados.. Mas eu simplesmente queria não estar na lista daquele idiota agora. Não queria ser o nome de que todos os f.d.p.d.f (fofoqueiros de plantão da faculdade - uma sigla para abreviar, criada por mim) estão falando nesse exato momento. Não queria tanta coisa, inclusive não estar nem um pouco prestando atenção na aula, logo da matéria que eu tenho dificuldade. 

-- Pode me responder essa pergunta, Sophia? 

Olho ao redor e percebo que a professora estava na minha mesa, com os olhos em mim que estava rabiscando o caderno no lugar de copiar a apostila. Merda! Mil vezes merda. 

Passei o olhar pela apostila e deduzi o que ela estava me perguntando. Ter lido o assunto antes ajuda nessas horas. 

Encarei a professora e lhe respondi, em um tom baixo, para que apenas ela escute e caso eu erre, não seja motivo de piada, outra vez. 

Ela sorriu diabolicamente para mim e olhando para toda a classe, corrigiu a minha resposta. 

-- Estava quase certeza, senhorita. Errou apenas uma palavra. Alguém sabe me dizer por que a colega de vocês errou? 

-- Porque ela beijou o gato do Nathan e está se achando! -- Ouvi uma das meninas gritarem do fundo. 

-- E pelo o que eu ouvi, ele já trocou ela por uma loira, linda e gostosa também. -- Rafael, um antigo colega meu, falou, debochando da minha cara. 

-- Lerdo, é a mesma garota de sempre, a única amiga dele. -- A mesma menina de antes respondeu. 

Eu odiava todos daquela sala. Acho que isso ficou visível no meu olhar porque a professora olhou com pena e curiosidade para mim. 

Quem eles pensam que são para falar comigo daquele jeito? 

-- Vocês deveriam era cuidar da vida de vocês, o que eu deixo ou não de fazer na faculdade não desrespeito a ninguém, esqueçam que eu existo. -- Retruquei, já irritada daquelas pessoas fúteis.

-- A gente cuida do que a gente quiser, fofa. Inclusive, eu também quero um beijo. Será que ela beija tão bem assim? -- o líder idiota da turma falou..ele era um típico Nathan dois.. mas não media palavras para ferir as pessoas. 

-- Vai beijar a puta que pariu, não ela , eu estou antes na fila, quem nunca quis descobrir os segredos da ruiva da sala hein? 

Era inacreditável como as pessoas conseguiam me magoar com pouco. Eu sou muito idiota mesmo. Levantei e peguei minhas coisas saindo da sala, eu não iria ficar ali sem gritar com ninguém. 

-- Lá vai ela chorar, que pena! Na minha cama você também choraria linda! - ainda escutei algum dos lesados dizerem antes de sair da sala. 

Tudo isso por culpa de um beijo... 

Eu literalmente me odeio. 

***

No meio do corredor, me debati com muitas pessoas e sequer pedi desculpas.. eu precisava sair desse ambiente. 

-- Sophia! 

Ouvi meu nome ser chamado e me virei para olhar, suspirando ao ver quem era. Só podia ser.

-- Micael, o que você quer? 

-- Podemos conversar?

-- Acho que não percebeu, estou com pressa. Com licença. 

-- Prima! Ao menos me escute! 

Me virei uma única vez, eu odiava conversar com ele e ele sabia. 

-- Você tem dois minutos. 

-- Ok. Sua mãe está lá em casa, ela pediu para te avisar que quer você lá assim que sair daqui, estão organizando as coisas do aniversário. 

-- Eu tenho minhas coisas da faculdade para fazer, Micael, e ela sabe.

-- Eu sei, eu sei, mas ela pediu para você ir. Ela precisa de você lá. 

-- Me resolvo com ela, obrigado pelo recado. 

Não esperei sua resposta e fui em direção ao carro, ligando para o minha mãe no caminho.

Como ela sabe que eu odeio ir para aquele lugar e ainda ousa pedir minha ajuda, justamente lá? Por favor, alguém sequestra a minha mãe e põe juízo na cabeça dela! E justamente, ela não atendia. Que ótimo mãe, você só está piorando o meu dia. Resolvi ligar para o meu pai. Ele ao contrário da mamãe era o juízo em pessoa. E iria querer matar cada um que estava falando algo aqui na faculdade. Ah, se ia. 

-- Oi princesa -- ele atendeu no segundo toque. Como eu amava meu pai, apesar de todos os conflitos e a máscara que ele usava na frente de minha mãe apenas para satisfazer os desejos dela. 

-- Que história é essa de ir para a casa do Micael pai? Eu odeio aquele lugar! 

-- Sophia... calma, é somente um aniversário, não vai te matar. 

-- Vai me matar sim e o senhor sabe disso, eu não vou à lugar nenhum! Tenho coisas da faculdade para fazer. 

-- Sophia você tem que aprender a superar esse medo.. já faz tantos anos.

-- Eu vou desligar, até mais tarde, irei desligar o celular. 

Desliguei, ele sabia que eu odiava falar desse assunto, sabia o quanto delicado era para mim. Estava todo mundo a fim de transformar minha vida em uma das trincheiras da primeira guerra mundial. 

Liguei o carro e suspirei, pensando para onde ir, já que eu não tinha nada da faculdade para fazer e se quer estava me importando pelas aulas que eu perdi hoje (fora que foi a primeira vez que eu filo aula). Eu realmente não estava bem. 

Lembrei de um lugar, o único que ainda me fazia bem, que não tinha nada que me machucasse, muito pelo contrário, era o que me fazia bem. 

Sai do estacionamento e fui pelo caminho mais rápido para a minha felicidade. A minha sala de ballet.