História Seul Rain - Seja uma "Gizibe"

Não seja tola. Você é uma excelente detetive.

Falei para mim mesma, enquanto atravessava a porta com várias papeladas em minhas mãos. Observei o Yang do outro lado do grande escritório, acenando para ir até ele. Troquei olhares com Minzy, na mesa próxima a minha. Pude ler os seus lábios  ━ “Você está encrencada?” Dei de ombros, pois não sabia a resposta.

━ Chaerin... ━  Ele começou com um tom hesitante.

━ O que eu fiz?

━ Nada, tenha calma. ━ Ele sorriu de lado, andando.  ━ Pode vim até aqui?

━ Tudo bem. ━ O segui e tentei não suar frio. Eu estava dando o melhor de mim ali. Todos já sabiam que quando o senhor Yang chamava para entrar na sua sala quase secreta, era má notícia.

Ele fechou a porta, sentando na grande cadeira de couro. Ouvi o estalar da cadeira e minhas pernas tremiam quase no mesmo ritmo. Ele observou os papeis na mesa, com um olhar baixo, subindo lentamente a visão até o meu rosto. ━ As coisas não vão bem, Lee. ━ Ele umedeceu os lábios.

━ Senhor, eu sei que meus relatórios com investigação estão o decepcionando, mas preciso de um pouco mais de tempo. ━ Quase me debrucei sobre a mesa, implorando por mais uma chance. ━ Eu estudei muito para isso, dediquei a minha vida toda por isso. Eu amo a minha profissão.

━ Lee, é difícil. Seul até que está em paz com a sociedade. Os policiais estão fazendo um ótimo trabalho aqui e faz mais de dois meses que não se registra um assalto se quer. Mas sabemos, que por trás de tudo isso, da comunidade coreana e de toda a nossa cidade, está lotada de marginais que atuam debaixo dos lençóis. ━ Ele se levantou, caminhando lentamente até mim. ━ Você sabe, nós somos maiores que os policiais, sem querer desprezá-los. Mas você não faz idéia de como a população cobra de nós. Somos detetives que trabalhamos para os policiais civis. Sabe o que tem por trás do governo? Máfias, e das grandes. ━  Seu olhar ficou indecifrável. ━ Isso é difícil, pois não sabemos nem como começar a investigá-los. Pode ter até máfias aqui dentro do departamento. Você não está fazendo nada aqui dentro a meses...”

━ Senhor Yang, eu tentei eu juro. ━ Respirei fundo, mantendo a atenção na minha conduta séria. ━ Me dê mais uma chance. Eu te prometo, que descobrirei sobre a máfia e ainda vou prender o cabeça disso tudo. ━  Falei sem gaguejar. Ele virou-se para mim, com seu rosto indecifrável.

━ É perigoso... ━  Disse ele rápido e com desprezo.

━ Estou aqui para correr riscos. ━ Falei seria, com uma postura totalmente rude. Ele respirou fundo, como se falasse “mais uma vez isso”, mas tentei não me importar.

━ Tudo bem. Eu não sei aonde isso vai dar, mas prometo que se conseguir, não perderá o seu cargo.

━ Obrigada, senhor. ━ Me virei ainda séria, e nervosa. Saí da sala e andei até a minha mesa.

━ E ai, como foi? ━ Minzy perguntou, andando até mim mordiscando uma maçã verde.

━ Demissão ━ Respondi sentando na cadeira e a encarando.

━ Eu sabia... ━  Ela respirou fundo. ━ Todos sabem o que vem depois que entram na sala quase secreta. ━. Minzy gesticulou, dando ênfase no quase.

━Mas eu tenho mais uma chance. ━ Liguei o computador e amarrei o meu cabelo. Abri a gaveta direita da mesa, e puxei um grande bloco de papel amarelado de folhas recicláveis. Minzy arqueou a sobrancelha escura e se sentou do meu lado.

━ O que vai fazer? Você aceitou sair com o chefe?

━ Você é doida? ━ Tentei não rir e continuei a pesquisa. Não respondi, apenas observei Minzy ler o resultado na página do Google.

━ Máfia Coreana? Você está doida?

━ Qual o problema? Eu posso conseguir.

━ Não sozinha... ━  Minzy deu de ombros.

━ Claro, sozinha não... ━ Sorri de orelha à orelha enquanto lhe encarava, quase pedindo um favor.

━ O que está querendo dizer? ━ Minzy encostou na mesa, esperando uma resposta óbvia. ━ Por favor, Chae, eu e você?

━ Qual é, somos mulheres...

━ Mas não super-heroínas. ━ Minzy revirou os olhos.

━ Preciso desse emprego. Custou minha vida toda de esforço, você sabe. ━ Observei a mesma gesticular positivamente com a cabeça.

━ O que pretende fazer?

━ Talvez se infiltrar em uma dessas festas de gangues, aonde vende bastantes drogas.

━ Mais tem um super problemão... ━ Minzy falou ━ São totalmente escondidas e secretas.

━ Você que pensa... ━  Eu sorri, enquanto ligava para um amigo do colégio.

[...]

Cheguei em casa e joguei as pastas azuladas em cima do sofá. O celular tocava constantemente, e andei até ele sem pressa.

━ Alô?

━ Chae, me ligou? ━ Choi SeungHyun atendeu, com uma voz sonolenta.

━ Sim, eu liguei. Você sabe me dizer se o Bae ainda tem usado drogas? ━ Perguntei tranqüila, já que esse cara era conhecido pela cidade toda e já foi preso mais de quatro vezes.

━ O que você acha? É claro...

━Sabe me dizer aonde ele compra?”

━Chae, você quer comprar? ━ Ele riu.

━Você está maluco? ━Me irritei pela pergunta. ━Só quero saber aonde ele compra.

━Cara, eu não sei. Deve ser nessas festas do outro lado da cidade.

━Você pode me explicar aonde chega lá?

━Bom...

[...]

23:41

Estava tudo planejado. Eu estava confiante e sabia que eles não podiam perceber o meu envolvimento com os civis. A pistola 38 estava na minha bolsa vermelha. Ouvi o bater na porta e meu coração gelou. Abri a mesma e Park Bom chorava do outro lado da porta.

━ O que foi? ━ Perguntei assustada.

━ Me desculpa vim essa hora da noite. ━ Ela me abraçou. ━ Eu não sei mais o que faço, o Choi está um grosso.

━O que ele fez? Você sabe que ele não é assim e ele vem bebendo ao extremo.” ━ Puxei a mesma para o sofá e sentei do seu lado.

━ Você vai sair? ━ Ela analisou o meu rosto e perguntou em um tom doce.

━ Eu vou, mas posso deixar você ficar aqui em casa hoje.

━  Ele está andando com um tal de Teddy, e seu comportamento não está muito bom. Eu sei que ele me ama, sabe? Mas eu não gosto das suas amizades e ele fica chateado comigo.

━ Você sabe como ele é. Os três anos de ensino médio ainda não me ajudou a entender aquele cara. ━  Bom, Choi e eu fomos colegas de classe. Estudamos os três anos juntos e nunca mais nos separamos.

━ Você acha que ele me ama?

━ Cara, é óbvio. Ele morre por você. ━  Falei me levantando e pegando a bolsa. ━ Bommie, tenho que ir.

━ Tudo bem...

━ Pode ficar aqui, ok? Mas não me espere acordada. ━ Falei andando até a porta e pegando a chave do carro.

━ Obrigada, amiga. Tenha cuidado.

━ Eu terei. ━ Abri a porta e a fechei lentamente enquanto saía. O barulho do meu salto era o único barulho que eu podia ouvir enquanto saía do condomínio. Abri a porta do carro e entrei, puxando umas folhas da pasta e visualizando os supostos rostos. Joguei as fotos no banco traseiro e dei a partida.

Liguei o som do carro como qualquer outra pessoa e enviei uma mensagem para Minzy. A mesma estava dirigindo até o local. Demorei praticamente uma hora até passar por todos os pontos turísticos da cidade e chegar do outro lado. Observei alguns carros parados e uma grande casa com jogos de luzes. Não reconheci rosto algum das fotos que tentei memorizar, e desci do carro, caminhando até onde eu e a Minzy combinamos. Esperei por uns três minutos e a mesma estava chegando. Observei-a descer do carro com o seu visual totalmente digno de ninguém desconfiar com seu envolvimento com a polícia.

━ Não sabia que tinha tattoo... ━ Sussurrei.

━ E não tenho. ━Ela riu ━ É hena.

━ Você entra mesmo no personagem, não é? ━ Arrumei o meu cabelo e minha bolsa antes de entrar.

━ Você sabe que fiz teatro.” ━ Rimos por um momento e depois nos encaramos.

━ Obrigada por estar aqui, independente do que aconteça. ━  Falei engolindo seco.

━ Ah, para de blá blá blá. ━ Ela riu ━ Eu tenho a você e você a mim.

━ Então tudo bem... ━ Falei arrumando o cabelo e gesticulando para a mesma me acompanhar para dentro da grande casa.

━ Seja apenas uma “gizibe”.

[...]