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História Seven - Ato I - Dangerous Woman


Escrita por: athenax

Notas do Autor


Olá! Desculpem pela demora, e muito obrigado a todos que deram uma chance para a fic, obrigado mesmo! Espero não desapontá-los!
Boa leitura! Seven

Capítulo 2 - Ato I - Dangerous Woman


Seven

Ato I – Dangerous Woman

Era madrugada em Nova York. Duas da manhã, para ser exato. Nem sequer o vento gélido e a neblina fraca que caia impediam a vasta juventude do Upper East Side de lotar os bares e casas de shows da cidade mais badalada do mundo. Pessoas iam e vinham a todo momento e as buzinas dos carros da área nobre da cidade não paravam de apitar faltando não mais de três horas para o sol despontar no horizonte.

Dentro de um desses carros, uma azulada dirigia calmamente cantarolando uma música qualquer da Rihanna. Em tese, não deveria dirigir, já que sua habilitação ainda estava em processo de admissão. Mas a garota não se importava muito. Ninguém teria coragem o suficiente para multá-la mesmo.

O fato é que Juvia Lockser não devia estar ali. Não mesmo. Principalmente na madrugada de uma quarta-feira letiva que não tardaria mais que cinco horas para começar. Mas a garota não estava muito preocupada com isso quando estacionou sua Mercedes em frente ao seu destino. Deu uma ultima olhada no retrovisor do carro, arrumando alguns fios azulados rebeldes que insistiam em sair de sua touca e colocando seus óculos escuros, que muito embora fossem completamente inúteis no meio da madrugada, para ela, eram indispensáveis.

Entregou a chave ao manobrista e, por um minuto, questionou-se o quão necessitada uma pessoa estaria para abdicar de seu sono para ganhar dinheiro em uma profissão como aquela. Suspirou, colocando as mãos nos bolsos do sobretudo que usava e encarando os três belíssimos edifícios á sua frente. A “Tríplice de Ouro”, como era popularmente chamada, era formada por três hotéis considerados 7 estrelas estupidamente altos. O da direita, “Imperium” e o da esquerda, “Platinum” eram conhecidos e aclamados no mundo todo. Geralmente, abrigavam ricos de todos os continentes que iam para NY por negócios ou apenas por lazer.

Já o do meio, “Palace”, era o destino de Juvia. O mais alto dos três, o edifício era frequentado por milionários, líderes políticos e personalidades importantes, resultando em um ambiente que exalava luxo e sofisticação. O saguão, mesmo naquela altura da madrugada, tinha uma boa quantidade de pessoas de todos os tipos confraternizando e bebendo.

A Lockser passou o mais discretamente possível pelo ambiente, contando com a música para disfarçar o som de seus saltos se chocando contra o piso extremamente bem polido. Passou direto pela ampla recepção do hotel, e como de costume, dirigiu-se ao elevador sem dirigir a palavra a ninguém. Os funcionários já a reconheciam como a garota que volta e meia aparecia por ali, sempre de madrugada, porém, ninguém ali sequer já tinha ouvido sua voz, tampouco sabia sua identidade.

Ao finalmente entrar no elevador vazio, Juvia suspirou aliviada por ter passado mais uma vez despercebida aos olhos dos paparazzi, que sem dúvidas esgueiravam-se ao redor das personalidades ali presentes em busca de fofocas e furos de reportagens. Retirou a touca e os óculos, soltando os enormes fios azulados que caíram como cascatas em suas costas. Esperou pacientemente o percurso do elevador e praguejou internamente sobre o quão desnecessário era fazer um prédio tão alto.

Quando as portas do elevador finalmente se abriram, a Lockser suspirou mais uma vez, aliviada. Caminhou tranquilamente em direção à única porta do andar inteiro, parando um momento para observar a vista privilegiada pelo grande painel de vidro que cobria toda a parede do corredor da cobertura do Palace. Dali de cima, os enormes arranha-céus da cidade pareciam menores e o jogo de luzes de lá era mais proeminente. Continuou seu percurso após alguns segundos admirando a bela paisagem e deu um mínimo sorriso ao imaginar o quão irritado ele estaria por ela tê-lo feito esperar.

Puxou o cartão magnético do bolso de seu sobretudo e destrancou a porta com facilidade, adentrando na enorme e ridiculamente luxuosa suíte máster do hotel. No momento em que trancou a enorme porta de mogno novamente, sentiu seu corpo sendo brutalmente prensado na mesma, fazendo seu sorriso alarga-se. Ele estava realmente irritado, afinal.

- Está atrasada, Lockser. – sussurrou com o hálito extremamente frio arrepiando cada cabelo da nuca da azulada, que suspirou novamente. – Eu devia puni-la por isso, sabia? Você sabe muito bem que eu detesto esperar. – mordiscou levemente o lóbulo da orelha direita da garota, que suspirou novamente. O sorriso do rapaz se alargou, satisfeito. Adorava ouvi-la suspirar.

- Desculpe, vossa alteza. – resmungou Juvia, com a voz banhada de ironia. – Experimenta ter que pular quatro andares de uma vez silenciosamente pra não acordar ninguém. A sua sorte é que Alzack tem o sono pesado! – exclamou, virando-se de frente para o rapaz, que alargou ainda mais o sorriso.

- E você se importa? – questionou ele, murmurando com sua boca a centímetros de distância dos lábios vermelhos e convidativos da azulada.

Ela parou alguns segundos, refletindo sobre como Gray Alexander Fullbuster era irritantemente lindo. Os cabelos negros caindo desajeitadamente sobre o rosto pálido, os olhos tão negros quanto que pareciam esconder milhares de galáxias por detrás, o abdômen perfeitamente trincado e desnudo e até a estranha tatuagem tribal que ele tinha no antebraço. Gray parecia um daqueles bad boys das comédias românticas que namora com a patricinha no começo, mas acaba com a mocinha no final.

E naquele conto de fadas, Juvia com certeza não era a princesa.

- Nem um pouco! – respondeu, enlaçando rapidamente o pescoço dele e puxando-o para um beijo ávido e cheio de malicia. E aquele era apenas o aperitivo para mais uma das intensas noites divididas pelos dois.

*

Erza Scarlet

Eu odeio a minha vida.

Certo, talvez eu esteja sendo um pouco dramática. Mas quando você está cansada após uma sessão de fotos exaustiva e em meio a uma preparação para um dos maiores eventos de moda do mundo inteiro, uma ligeira crise de identidade é normal, até mesmo pra mim. Então tá, vamos reformular minha frase:

Eu odeio Ultear Fullbuster.

Oh, sim, eu a odeio pra caralho. Mais do que odeio Camille, a “prostituta de luxo” que meu pai insiste em chamar de esposa. Mais do que eu odeio Kelly, a piranha do 2-B que insiste em dar em cima do meu namorado. Mais até do que odeio Lola, a costureira velha e mal encarada que fica me espetando com o alfinete e reclamando que meus peitos não param de crescer. Aquela mulher me assusta.

O fato é que, neste momento, ás duas da manhã, estacionando meu Porsche 911 em frente a um pé sujo qualquer no subúrbio de Nova York, a única coisa que eu conseguia pensar era em quantas formas diferentes existem de torturar um ser humano.

Eu poderia, por exemplo, colocar cobras na cama dela á noite. Se bem que, do jeito que Ultear é venenosa, eu não duvido nada da pobre cobra morrer se picar ela. Ou talvez virem amigas. Nunca se sabe.

Poderia também contratar alguém para amarrá-la de ponta cabeça no para-raios do Empire State Building e deixá-la lá até alguém ir tirar. Simples e eficaz.

Ainda divagando sobre possibilidades de assassinatos discretos, lembrei-me abruptamente que estava sozinha dentro de um carro de luxo na frente de um bar qualquer na zona mais perigosa da cidade ás 2:37 da madrugada e não tardei a sair do veículo, dando uma ultima ajeitada em meus cabelos rebeldes. Nunca se sabe quando se vai encontrar um paparazzo se esgueirando por aí.

Nem mesmo o sobretudo enorme que usava por cima de meu pijama me impediu de sentir um calafrio dos pés a cabeça quando a brisa extremamente fria entrou em contato com meu corpo, e não pude evitar de encolher-me um pouco e esconder as mãos desnudas nos bolsos de meu casaco em busca de aquecimento. Pois é, quando se está sonolenta e irritada, a ultima coisa que se pensa é em agasalhar as mãos.

Passei rapidamente por entre as vielas escuras e fétidas dali, tentando ao máximo não chamar a atenção para mim. Bom, com o meu carrinho nada discreto, essa missão se mostrava um pouco mais difícil do que imaginei. Apressei o passo contornando o “estabelecimento” em busca da futura defunta, vulgo minha melhor amiga. Não demorei muito para encontra-la sentada no chão junto á lixeiras de lixo e restos de comida, no fundo do estabelecimento.

Os enormes e despenteados cabelos negros presos sem nenhuma delicadeza em um rabo de cavalo alto, o vestido negro amassado e os pés descalços evidenciavam que Ultear Michelle Fullbuster estava, em termos vulgares, pra lá de Bagdá.

- Aleluia! Achei que com seu senso de direção apuradíssimo já estivesse na Filadélfia. – soltou venenosa, e mesmo com o sorrisinho de canto irritante, pude ver facilmente seus lábios rachados tremendo de frio. O mini vestido coladíssimo que ela insistia em chamar de roupa não devia estar adiantando de muita coisa nos cinco graus que faziam em Nova York.

- Isso, vai caçoando mesmo. Da próxima vez te deixo morrer de frio, sua praga. Vou adorar dançar tango em cima do seu caixão. – resmunguei, cobrindo-a com o outro casaco que carregava comigo e passando seu braço por cima de meu ombro, a fim de levantá-la. Ela cambaleou, tropeçando nos próprios pés, e não pude deixar de notar o quanto ela parecia mais leve do que da ultima vez.

Prosseguimos o caminho todo até meu carro em silêncio, o que era deveras estranho, já que quando estava chapada Ultear costumava soltar ainda mais farpas do que quando está sóbria. O silêncio dela conseguia me assustar ainda mais do que o cheiro de álcool que preenchia o ar toda vez que ela respirava.

Quando finalmente cheguei ao automóvel, suspirei aliviada por ter conseguido chegar sem nenhum incidente, pois acredite, já passei por maus bocados em luares semelhantes àqueles. Joguei a praga sem muita delicadeza no banco de trás, mas ela não pareceu se importar muito já que meio segundo depois estava deitada precariamente no estofado macio de meu carro, mais pra lá do que pra cá.

Encostei minha testa no volante, exausta e suspirei pesadamente, ouvindo o bater insistente de seus dentes.

- Francamente, porque você faz isso, sua estúpida?

- Erik está de volta... – sussurrou, mergulhando de vez no mundo dos sonhos e me deixando sozinha com meu cansaço e meu espanto.

*

Lucy Heartfilia

Pinga, pinga, gota.

Mais uma vez, a chuva era minha única e fiel companheira noturna. A fina garoa que caia na cidade tintilava no vidro da janela do meu quarto, cuja única iluminação era a luz da tela de meu notebook. Meus dedos, ágeis, davam forma a minhas mais intimas ideias enquanto meu subconsciente buscava por mais inspiração.

Sim, eu tenho insônia. Desde criança, noites preenchidas completamente pelo sono são raras em meu cotidiano ativo e movimentado. Então, enquanto a maioria da cidade está em silêncio, minha mente turbulenta trabalha sem parar, embalada apenas pelo som da fina neblina  do lado de fora.

Paradoxo: O enigma da escuridão; era esse o nome do livro que eu escrevia todas as noites nos últimos seis meses. Conta a história de um grupo de pessoas que largam suas rotineiras e monótonas vidas e saem pelo mundo em busca de respostas sobre as questões que o homem ainda não foi capaz de responder enquanto lidam com os próprios dilemas interiores.

No momento, eu dava as considerações finais do vigésimo quarto capítulo. A história estava em seu ápice, onde os personagens principais, já no fim de sua viagem, tentavam entender seus enigmas pessoais e contraditórios, apoiando-se uns nos outros e fortalecendo seus laços de companheirismo e fidelidade.

Embora escrever me desse uma liberdade que nenhuma outra atividade poderia me dar, eu pretendia limitar meus rabiscos á tela do computador.

No fundo, embora eu fosse a pessoa mais segura e exibida que eu conhecia, revelar um pedaço tão intimo do meu subconsciente me assustava extremamente. Talvez porque eu colocasse minha essência naquelas palavras, ter alguém lendo e decifrando as entrelinhas era como ter um estranho vasculhando nas entranhas de minha mente, o que pra mim, é aterrorizante.

Tanto que, mesmo dentre minha roda de amizade, a única pessoa que tem conhecimento da existência do meu livro é Juvia, minha melhor amiga desde... Sempre?! Acho que nem mesmo a minha ligação de gêmea com Sting supera o laço que compartilho com a projeto de smurffete.

Ela é a única pessoa que conhece fundo o suficiente da minha mente para entender cada palavra que eu escrevia. Quando eu estava triste, escrevia drama. Quando estava com raiva, escrevia fervorosas discussões. E em meus dias alegres, minhas criações gozavam de momentos felizes.

Ao dedilhar o ponto final do capítulo, um sentimento controverso me invadiu. Por um lado, a sensação de estar tão perto de concretizar uma das minhas maiores fontes de orgulho me enchia de felicidade. Por outro, a simples ideia de ter que me despedir uma ultima vez de algo que tomou tanto do meu tempo me deixava em uma depressão momentânea. Era como a sensação de ter que se despedir de um amigo de longa data, ou de um parente próximo.

Para uma escritora da madrugada como eu, cada palavra era um pedacinho de mim também.

Suspirei, fechando a tela do meu notebook e tamborilando minhas unhas nele, fazendo um ruído irritante preencher todo o quarto. Pra variar, estava entediada. Insônia, sua linda, você por aqui?

Levantei, sentindo meus ossos estralarem desconfortáveis e depositei meu notebook na pequena mesinha ao lado da minha cama, onde jaziam apenas um abajur desligado e um porta-retratos simples de madeira. Parei um segundo para observá-lo, sorrindo involuntariamente. De todas as fotos que tinham naquele quarto, talvez aquela fosse a minha favorita.

Nela estávamos Natsu, Juvia e eu nas férias que passam juntos em Amsterdã, dois anos atrás. Ela foi tirada logo após um disputado jogo de paintball que os dois praticamente me obrigaram a participar. Juvia tinha tinta vermelha espirrada por todo seu rosto e os cabelos azuis completamente desleixados presos em um rabo de cavalo. Já Natsu, que na época ainda tinha cabelos castanhos, estava sem camisa e completamente melecado de laranja neon. E eu, que mal conseguia me mexer depois dos tiros levados, estava suja dos pés a cabeça de rosa pink. Ele tinha um braço ao redor de cada uma e nós três sorriamos completamente sujos, suados e desarrumados.

Não sei exatamente porque eu gostava tanto daquela foto. Talvez fosse a espontaneidade dos nossos sorrisos, ou apenas as lembranças boas e nostálgicas que me traziam de quando eu tinha meus dois melhores amigos junto a mim. Abracei o porta-retratos meio que por instinto e caminhei pelo enorme quarto em direção á janela, a fim de encontrar minha melhor amiga, cujo quarto ficava na frente de minha janela.

Para minha surpresa, o quarto dela estava vazio.

 

*

Mirajane Strauss

- PUTA QUE PARIU O PATOLINO! QUE CARALHO É ESSE? – Berrei, levantando em um pulo da minha enorme e macia caminha. Olhei de um lado pro outro, ainda sem entender bulhufas do que estava acontecendo. Sabe quando você acorda de uma vez e se esquece até seu nome? Então, essa sou eu no momento.

O som ensurdecedor da música Rise, do Skillet, não me deixava ouvir nem meus próprios pensamentos. A propósito, eu costumo adorar essa música, mas a lista de coisas que eu adoro ás 6:38 da manhã é bem reduzida. Cambaleei, tentando lutar contra o sono e fui até a enorme janela do meu quarto, abrindo-a, só pra constatar o que eu já imaginava: pela janela da frente, era possível ver claramente o loiro implicante, mais conhecido como Laxus Emmanuel Dreyar, deitado tranquilamente em sua cama, sem camisa, e balançando a cabeça no ritmo da música.

Meu sangue ferveu. Como assim essa criatura estava ouvindo música no último volume a essa hora da madrugada? Gente, eu acho que ele tem Down.

- Ô FILHOTE DE PIKACHU, DÁ PRA DESLIGAR ESSA MACUMBA AÍ OU TÁ DIFICIL, FILHINHO? – Berrei pela janela, alto o suficiente pra que ele ouvisse mesmo com a música. O loiro olhou pra mim com cara de cu, deu um sorrisinho mínimo quase imperceptível e balançou o controle do som em sua mão.

O DESGRAÇADO AUMENTOU AINDA MAIS O VOLUME.

Fala sério, eu devo ter palitado o dente com um pedaço da cruz pra merecer esse encosto que chamo de vizinho. Mandei o meu belíssimo dedo do meio pra ele e fechei a janela novamente, não antes de ouvir a gargalhada seca do filhote de Pokémon.

- ARRRRRRG! MALDITA BICHA LOIRA ESCANDALOSA! – berrei, me jogando novamente na minha cama e cobrindo meus ouvidos com um travesseiro na tentativa de abafar o som. Tenho certeza que ele ouviu, pois aumentou ainda mais o volume daquela coisa.

PUTA QUE PARIU, CARA! COMO ISSO É POSSIVEL?

Urrei, mais uma vez, e me vi obrigada a me levantar. As aulas da FTS, o colégio em que nós estudávamos, começavam apenas 8:00, então eu acordava 7:00, já que a área residencial onde moro é próxima ao colégio. Mas, como o projeto de Barbie tinha feito o favor de me acordar 22 minutos mais cedo, não adianta tirar mais uma soneca. E mesmo que eu quisesse, não conseguiria. Bufei, indo em direção ao meu banheiro. Mesmo com o isolamento acústico do cômodo, ainda era possível ouvir o som da música, que agora era Faint do Linkin Park. Bom, pelo menos o resto de aborto tem um bom gosto.

Enquanto esperava a banheira encher, aproveitei pra dar uma olhada nas minhas redes sociais. A foto que postei no Instagram ontem a noite tinha 389 mil curtidas. Hum, normal. Me distrai lendo os comentários da foto, e como eu sou uma pessoa um pouco lesada, a banheira transbordou. Ótimo, esse dia não poderia começar melhor.

Aproveitei um bom tempo na banheira, e quando percebi, o som do quarto lado já tinha cessado. Ouço vozes dizendo algo, seria um aleluia?

Quando sai da banheira já eram 7:04, e tive que me apressar um pouco, então acabei pegando a primeira roupa que vi pela frente no meu closet e vesti, sem me importar muito mesmo. O colégio não cobrava o uso de uniforme, já que o diretor Makarov achava a ideia de todos dividirem um visual monótono um principio muito antiquado. E também, ele adorava ficar olhando as pernas das garotas de saia.

Acabei vestindo um vestido de alcinhas vinho, com um cinto de brilhantes marcando a cintura, um salto preto fino e um colar bem simples com uma pequenina pedrinha preta. Prendi minha franja pra trás em uma trança, passei um rímel e um batom vinho e pronto. Como o clima oscilava bastante àquela época do ano, peguei minha jaqueta de couro branca só por precaução, já que o sol brilhava lá fora.

Desci as enormes escadas praguejando a Zeus o fato de morar em uma casa tão grande sem a menor necessidade. E sim, eu moro sozinha, sem empregados nem serviçais, apenas uma diarista que vem uma vez por semana. Meus pais moram com meus irmãos mais novos na Rússia, onde eu passei alguns anos antes de nos mudarmos para cá, quando eu tinha 7 anos.

Algum tempo depois, quando a rede de empresas do meu pai atingiu seu auge, ele se viu obrigado a voltar para a Rússia, onde ficava a sede. Como eu já tinha 14 anos na época, minha mãe me deu a escolha de ir ou ficar, e eu acabei optando por continuar nos Estados Unidos. Desde então sou legalmente emancipada, embora ele deposite todos os meses uma quantia na minha conta e eu nunca tivesse realmente trabalhado na vida. Embora tenha aceitado minha decisão, sei bem que meu pai nunca se conformou do fato de eu não querer voltar com eles, e com o tempo, nossa relação se desgastou a ponto de se resumir a um telefonema no mês apenas para confirmar o depósito do dinheiro. Resumindo, é complicado.

Antes de sair com o meu carro, faço uma lista mental para ter certeza de que não estou me esquecendo de nada. Como eu havia dito, sou um pouco lesada.

Celular: Ok;

Cartão de crédito: Ok;

Chaves: Ok;

Dignidade: Bom, até agora ok.

Vamos ver depois que eu encontrar o projeto de Barbie mal comido. Provavelmente não vai ser muito agradável.

Pra ele.

*

Levy McGarden

Já mencionei o quanto eu odeio o calor?

Se não, deixo aqui escrito e comprovado o fato de que não há nada desse mundo que me irrite mais do que isso. Nada mesmo.

No momento, ás 7:33 dessa manhã de quarta-feira, eu caminhava tranquilamente pelas calçadas ainda vazias me perguntando o porque de eu morar em um lugar como Nova York. Eu poderia estar esquiando em Moscou, ou passeando em Paris. Talvez fizesse até uma visitinha para tia Ângela, em Londres. Mas não, eu tinha que estar aqui, fritando feito ovo nos 33 malditos graus que faziam naquela cidade enorme.

A calça de couro preta e o blusão vermelho de gola alta que eu usava não estavam ajudando também. O casaco azul marinho que eu usava ao sair de casa, pensando erroneamente que as temperaturas ficariam mais amenas devido á fina garoa que caiu de madrugada, já estava amarrado em minha cintura e eu estava me segurando para não tirar o blusão também, e ficar apenas com a regata branca transparente que eu usava por baixo.

Tudo isso porque eu neguei a carona do meu pai até o colégio, iludida com a oportunidade de finalmente poder ficar sozinha nas duas quadras que separam minha casa do colégio. Digamos que meus pais são cientistas que usam cálculos para praticamente tudo. O imóvel foi escolhido estrategicamente em um local da cidade que dava um acesso rápido a grande parte de NY, inclusive o FTS.

Suspirei aliviada ao chegar finalmente no meu destino. Enxuguei o suor na minha testa e encarei a fachada do Centro de Apoio e Tratamento de Nova York, e pensando pela primeira vez que sair de casa naquela manhã não tenha sido uma decisão tão ruim. Pelo menos, depois de um bom tempo, eu poderia vê-la novamente.

Adentrei no prédio, soltando um muxoxo de alívio ao entrar no ar-condicionado da recepção. Passei direto pela mesma, olhando subitamente para o relógio na parede. 7:35, eu teria que ser breve. Atravessei os grandes corredores rapidamente, aturdida pela quantidade estupidamente alta de branco naquelas paredes. Chega a doer os olhos.

Cheguei na frente do quarto 413 e pus a mão na maçaneta, hesitante. Meus pais não gostavam que eu frequentasse aquele lugar porque toda vez que eu colocava a mão naquela maçaneta, mesmo sem querer, eu me enchia de esperança de que daquela vez seria diferente. E não era.

Respirei fundo e girei a maçaneta em um lampejo de coragem, sendo momentaneamente cega pela luz do sol matutino refletindo nas paredes irritantemente brancas do amplo ambiente Quando minha visão voltou, pude enxergar melhor o quarto que, apesar da incomoda claridade, era bem confortável e aconchegante. No centro do lugar, deitada na cama lendo distraidamente um livro, estava Emília Scott, minha avó materna. Uma bandeja ao seu lado trazia o que provavelmente era seu café da manhã, intocado, e do outro lado uma pequena mesinha abrigava incontáveis frascos de diferentes cores e tamanhos cheios de capsulas de remédio.

Ela estava tão distraída com a leitura que precisei pigarrear para que sua atenção se voltasse para mim. Os olhos âmbar me encararam por cima das lentes de seus óculos, curiosos, com aquele olhar. Ah, sim, aquele olhar curioso que me quebrava em mil pedaços todas as vezes. Eu tinha esquecido como era doloroso. Engoli em seco e dei meu melhor sorriso, fechando a porta atrás de mim.

- Bom dia! Como está se sentindo? – questionei, me aproximando cautelosamente de sua cama. Ela repousou o livro na mesinha dos remédios e retirou os óculos, ainda me encarando.

- Bem, eu acho. – respondeu, cautelosa. – Mas, mocinha, quem é você?

Pronto. Aconteceu de novo. Quase pude ouvir algo se quebrar dentro de mim ao ouvir mais uma vez aquela pergunta. O sorriso vacilou em meu rosto, mas fingi não me abalar e o alarguei ainda mais.

- Sou eu, vovó. Levy. Sua neta. Vim te visitar. – respondi, vendo a dúvida estampada em sua expressão. Seus olhos me percorreram de cima a baixo, em segundos que pareceram horas.

- Neta? Desculpe mocinha, mas acho que você errou de quarto. Eu não tenho nenhum neto. – respondeu, com um sorrisinho de canto e dando de ombros. Meu maxilar doeu em meu esforço de manter o sorriso falso e comecei a perceber que aquilo era um erro.

- Não houve nenhum engano, vovó. Sou filha de Laura, sua filha. – suas sobrancelhas enrugaram, assim como sua testa.

- Oh, não querida. Isso é impossível. Minha Laura tem apenas 12 anos. Você não pode ser filha dela. – falou, em tom de obviedade e suspirei pesadamente, desistindo. Era mais difícil do que eu me lembrava.

- É, acho que me enganei mesmo. Desculpe pelo incomodo. – respondi, quase num sussurro e não esperei por resposta, sai do quarto mais rápido do que entrei, batendo a porta de forma ruidosa. A ouvi dizer algo do tipo “É cada doido que me aparece” e soltar uma risadinha, voltando ao silêncio de antes. Encostei minha cabeça na porta e suspirei, sentindo uma lágrima solitária descer por meu rosto.

Minha avó tem Alzheimer. Descobriu há três anos e desde então está cada vez pior. É uma doença cruel e incurável que afeta não só o enfermo, mas todos á sua volta, destruindo suas memórias e seus laços. O caso de minha avó tinha progredido de forma rápida, e seus momentos de sanidade já eram quase escassos.

Ela costumava ser minha heroína. Quando eu era criança, meu programa favorito era ir para a casa de minha avó e ouvi-la contar histórias mirabolantes até eu dormir. Histórias das quais ela sequer se lembra mais. Assim como também não se lembra de mim. Ano passado, quando minha avó foi internada no Centro, a imprensa divulgou notas insinuando que meus pais estavam descartando-a intencionalmente e tinham lhe abandonado por conta da doença. Mas só quem convive com o Alzheimer sabe o quanto dói ouvir alguém que você ama lhe perguntar todo santo dia quem você é.

Minha avó, em um momento de sanidade, pediu á minha mãe que fosse internada, porque sabia que ela estava sofrendo. Eu a via chorando pelos cantos, tentando achar uma explicação plausível para aquilo. Mas, no fundo, ela sempre soube que a explicação não existia.

Levantei meu rosto e suspirei novamente, me encaminhando rapidamente até a saída do Centro, e quando a alcancei, sai sem nem ao menos olhar para trás.

O clima lá fora estava quente, mas dentro de mim, nunca esteve tão frio.

*

Wendy Dragneel

Ai, caralho!

Foi a única coisa que eu consegui pensar quando acordei com o som de um despertador que com certeza não era o meu, em uma cama que não era minha e em uma casa que definitivamente não me pertencia. Ergui meu tronco de uma vez, quase derrubando a figura que até agora eu não tinha percebido que estava do meu lado.

Merda.

Automaticamente, olhei pra mim mesma e respirei aliviada ao constatar que eu ainda estava vestida.

- Não aconteceu nada entre nós, se é isso que quer saber. – resmungou Eve, bagunçando os cabelos cor de areia com cara de poucos amigos. Flashes da noite passada vieram com tudo, e me lembrei de como tinha ido parar ali. A festa, o jogo, Chelia indo embora e Eve e eu vindo para a casa dele. Lembrei inclusive do fato dele ter tentado – mais uma vez – dar um passo á frente em nossa relação, mas que eu tinha praticamente saído correndo de seus braços.

Merda 2.0

- Eve, eu... Eu sinto muito, ainda não estou pronta. – sussurrei, abaixando a cabeça envergonhada. Não era a primeira vez que algo do tipo acontecia, e eu podia sentir o nosso relacionamento ficando cada vez mais distante pelo simples fato de eu não conseguir me desapegar da minha virgindade. Patético.

Ouvi-o suspirar cansado e ergui a cabeça, encarando seus olhos castanhos profundos. Ele deu a volta na cama e ajoelhou-se na minha frente, erguendo meu queixo com seus dedos e depositando um selinho rápido em meus lábios.

- Olha Wendy, eu não quero te obrigar a nada. Você sabe disso. – suspirou novamente e fechou os olhos. – Não precisa se desculpar por isso. Eu sei que é um grande passo na nossa relação, principalmente pra você e entendo isso. De verdade. Não vou te pressionar. Quando estiver pronta, eu estarei aqui pra você.

- Você é o melhor namorado do mundo, sabia?! – colei nossos lábios rapidamente, passando meus braços em volta de seu pescoço alvo. Eve Stuart era meu primeiro namorado e foi com ele que dei meu primeiro beijo, 1 ano atrás. E embora eu confiasse minha vida a ele, simplesmente não conseguia me entregar por completo. Da minha roda de amigos eu era a única que ainda não tinha perdido minha virgindade, e isso me envergonhava muito.

Quando saí da casa de Eve era pouco mais de 7:30 da manhã. Ele fez questão que seu motorista me levasse até em casa, mas acabei pedindo para que ele me deixasse uma esquina antes. Tive que insistir muito e quase implorei para ele, que foi praticamente obrigado a concordar com meu pedido. Pois é, sei ser bem persuasiva quando quero.

Quando cheguei em casa já eram 7:55, e agradeci internamente por isso. Teria o dia todo para pensar em minhas desculpas por ter passado a noite fora. Como eu imaginava, os carros de Natsu, Zeref e papai não estavam na garagem. Quase chorei de alegria.

Tentei passar pela sala o mais silenciosamente possível para não chamar a atenção de Dora, nossa governanta, ou de qualquer outra pessoa que estivesse em casa. Estava quase pensando que minha tentativa tinha sido um sucesso quando ouço um pigarreio alto. Olho pra trás meio que roboticamente e dou de cara com minha mãe em pé e de braços cruzados bem atrás de mim.

Merda 3.0

- Pode parar por aí, mocinha. – começou, com um tom de voz que não era muito comum para ela. Estava irritada. Muito irritada. – Wendy Charlotte Dragneel, poderia me dizer onde a senhorita passou a noite?

Queria estar morta.

*

Ultear Fullbuster

Um dia eu ainda paro de beber.

Era sempre isso que eu dizia a mim mesma toda vez que acordava com a sensação de mil agulhas perfurando meu cérebro. E, bom, todo mundo sabe que isso nunca vai acontecer.

Não me surpreendeu o fato de eu ter acordado na casa de Erza. Acontecia com tanta frequência que eu já tinha até mesmo memorizado o aroma doce e enjoativo que o perfume da minha melhor amiga deixava no ar.

Eu já tinha vomitado pelo menos três vezes, mas pelo menos a dor de cabeça já não estava tão forte. Acho que meu corpo já está se acostumando com a ressaca. Tinha uma muda de roupa em cima da poltrona vermelha ao lado da cama, junto com um bilhetinho perfeitamente dobrado. Sorri inconscientemente, ela era tão previsível.

Bom dia, flor do dia. Espero que tenha dormido bem, já que eu não dormi porque certa desmiolada me fez ir atrás dela ás 2:00 da manhã. Isso te lembra de alguma coisa?

                   Da próxima vez que quiser se matar, se joga de uma ponte. É mais eficaz.

Com todo ódio do mundo, você sabe quem sou eu.

Delicada feito coice de mula. Mas eu não podia reclamar, já que ela sempre estava lá por mim, mesmo que não quisesse estar. Às vezes eu achava que não merecia ter pessoas tão boas como Erza na minha vida.

- Bom dia, senhorita Ultear. Espero que tenha tido um bom descanso. A senhora Eileen está a sua espera para o almoço. – cumprimentou Reina, uma das milhares de empregadas da casa de Erza. Ela não é muito mais velha do que eu, mas trabalha ali desde que eu me entendo por gente.

- Almoço? – questionei, meio grogue. Geralmente eu costumo acordar a tempo para o lanche. 

- Sim, senhorita. Já são 13:24. Com licença. – e saiu, desaparecendo tão rápido quanto apareceu. Credo.

Desci as intermináveis escadas sem a mínima empolgação. Provavelmente, tia Eileen já teria avisado para Ur que eu tinha dormido aqui e minha mãe, a essa altura, já estaria preparando o sermão para quando eu chegasse em casa.

- Bom dia, Ul. Dormiu bem, querida? – cumprimentou tia Eileen, sorrindo, assim que eu cheguei á sala de jantar.

Eileen Scarlet era uma das minhas pessoas favoritas em todo o mundo. Não importava o quão errada eu estivesse, ela sempre ouviria minha história e tentaria entender meu ponto de vista. Era doce e carismática ao mesmo tempo em que era firme e imponente. Queria ser como ela quando crescesse.

- Bom dia, tia. – cumprimentei de volta, me sentando em uma cadeira á seu lado. – Dormi bem sim, obrigado. Cadê a Erza?

- Ela tinha treino de vôlei depois da aula e só chegará mais tarde. A propósito, você não treina também?

Bati minha mão com certa força na minha testa. Puta.Que.Pariu. Eu esqueci completamente do vôlei!

- É, pois é né... Eu meio que dormi demais. – respondi, envergonhada, e ela soltou uma pequena risada, negando com a cabeça. Tia Eileen era meio que uma mãe pra mim também. Provavelmente porque eu frequentava mais a casa dela do que a minha.

- Mas, mudando de assunto, tem algo que eu quero te perguntar. – ela assumiu uma postura mais séria, endireitando-se na cadeira. Lá vem. – Erza me contou o estado em que você chegou aqui ontem. Quer conversar sobre isso?

Suspirei derrotada, constatando que se tinha uma pessoa no mundo que eu podia conversar sobre isso, essa pessoa era tia Eileen.

- Tia, você se lembra do Erik?

- Aquele seu namorado que foi embora? Lembro sim, por quê?

- Bom... – suspirei novamente, criando coragem para continuar. – Ele está de volta. E dessa vez, é pra ficar.

 

 

 


Notas Finais


Espero que tenham gostado. Qualquer duvida, é só perguntar!
Até mais!


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