1. Spirit Fanfics >
  2. Seven love letters >
  3. Continua a excursão para reacender o romance

História Seven love letters - Continua a excursão para reacender o romance


Escrita por: myavengedromanc

Capítulo 17 - Continua a excursão para reacender o romance


 

As duas noites em Dinan passaram sem quaisquer problemas, exceto pela mulher do hotel que encurralava Gerard sempre que possível, o que nós dois acabamos achando muito engraçado. À noite, andávamos pelas ruas íngremes de paralelepípedos, explorando a cidade e olhando um pouco de vitrines. Comemos galettes recheadas de chèvre chaud, queijo de cabra quente, acompanhadas por uma cidre brut, sidra seca. Paramos num pub local e observamos as pessoas enquanto tomávamos mojitos de hortelã. Todas as noites terminávamos fazendo amor. Começávamos cada dia da mesma maneira.

Visitamos a cidade fortificada de Saint-Malo, com suas bandeiras de pirata, e desfrutamos de ostras frescas à beira-mar, caminhando ao longo das praias acidentadas. Passeamos pela antiga cidade de Mont Saint-Michel, o antigo povoado monástico na Normandia, que de longe se assemelhava a um castelo de areia gigante, flutuando sobre campos de milho e trigo cor de âmbar. Quando chegamos lá, Gerard me alertou sobre o mar de intermináveis turistas e também sobre o fato de que precisávamos sair antes da maré alta, ou ficaríamos presos, já que a ilha de maré seria cercada por água em poucas horas.
Atravessamos as praias da Normandia, o cassino em Deauville, uma cidade conhecida como a Riviera Francesa do norte. Comemos moules frites, exploramos a parte histórica, e bebemos vinhos franceses finos. Éramos um jovem (mais ou menos) casal apaixonado, nos divertindo ao máximo.

O engraçado era que eu nunca tinha sido uma pessoa sentimental, o tipo de garoto com o coração palpitante, e agora eu tinha me tornado a parte feminina dos casais de que eu costumava tirar sarro. Normalmente, teria dito que aquele tipo de relacionamento nunca durava, mas cada dia que passei com Gerard provou que a teoria estava completamente errada.

Enquanto nos registrávamos em outro château transformado em hotel, o Château de Goville, nos arredores de Bayeux, na região da Normandia, na França, fiquei imaginando como diabos eu seria capaz de deixar Gerard dali a alguns dias. Eu o vi falar com o proprietário e o observei com orgulho. Ele simplesmente estava encantando o senhor mais velho, que, nervoso no início, agora dava tapinhas nas costas de Gerard, como se fossem velhos amigos.

Era uma pena que eu não tivesse ideia do que eles estavam conversando, por isso, apenas levei as coisas para dentro enquanto Gerard cuidava da nossa reserva.

Antiguidades francesas eram exibidas em todos os lugares, em cada fenda, em cada cômodo e em cada recanto — pratos, têxteis, galos de porcelana e estatuetas de vidro. A atmosfera tinha uma elegância do velho mundo como só os franceses sabiam encenar. Gerard ainda conversava com o proprietário, e eu soube que tinha mais do que alguns minutos para explorar o terreno. Eu queria absorver a atmosfera, respirar tudo. Fui lá fora e cheguei a um lindo jardim francês com arbustos bem cuidados, rosas e um pequeno coreto escondido na parte de trás. O exterior do castelo mostrava um estado de decadência — as pedras calcárias cor de areia estavam um pouco rachadas, as persianas brancas, descascando —, mas isso só aumentava o charme.

Gerard tinha conseguido de novo; tinha encontrado minha ideia de perfeição.

Um jovem casal subiu pelo caminho de cascalho numa motocicleta. O motor parou abruptamente. Curioso, observei-os tirarem o capacete. O rapaz era bem bonito, de jeito meio sisudo, e a moça era essencialmente francesa, com um biquinho permanente em seus lábios, e linda, mesmo que seu longo cabelo castanho estivesse uma bagunça por causa do vento. Eles passaram andando por mim, deixaram a porta da frente aberta e subiram as escadas, cada passo ecoando ruidosamente.

Gerard me chamou de volta para dentro com um aceno, e nos mostraram onde eram as escadas e onde era nosso quarto.

Tecido em brocado verde-oliva — da cor dos olhos do meu Romeu — decorava as paredes. Havia uma bela escrivaninha de mogno no canto e uma mesa redonda com duas cadeiras diante da janela, um lugar para tomar nosso café da manhã. Era lindo, de um jeito estranho e eclético. Nós nos esparramamos sobre a cama com dossel e os sons distintos de um casal fazendo amor — cama rangendo, mulher gemendo — vieram do quarto acima de nós. Luzes se acenderam. Eu tinha certeza de que sabia quem estava vivendo o encontro apaixonado, porém, acabou tão rápido quanto começou. Uma porta bateu. Passos duros desceram a escada.

— Acho que temos uma competição — disse Gerard com uma piscadela sexy.

— Competição? Sinto muito pela garota. Só durou dois minutos.

— Nada de errado com um tiro rápido.

Mas havia. O tempo tinha passado rápido demais. Só tínhamos mais dois dias restantes.

Dois dias sobrando para provocarmos um ao outro. Dois dias sobrando para fazer amor.

 

**

 

De manhã, dirigimos três horas até o pitoresco vilarejo de Étretat, uma comuna na região da Alta Normandia, e chegamos em cima da hora para o almoço. Nós nos sentamos do lado de fora, num restaurante coberto por tenda, aproveitando o ar com cheiro de mar e ouvindo os gorjeios das gaivotas, onde Gerard me apresentou a uma nova tentação chamada bulots — que eram pequenos caracóis marinhos servidos com um molho aioli aromatizado com raspas de limão. Não mais estranha aos pratos mais típicos, como escargot, eu tinha confiado a Gerard o pedido da refeição e sinceramente adorei as delícias saídas das conchas marrons mosqueadas, comendo uma logo após a outra.

— Para onde vamos agora? — perguntei.

— É surpresa. — disse Gerard. Ele me espiou por cima dos óculos escuros Ray-Ban — Tenho esperança de que você vai adorar.

Gerard pagou pelo almoço e me levou pela mão. Andamos pela cidade e depois por uma colina gramada. A cada passo que dávamos, a visão se tornava cada vez mais de tirar o fôlego. Logo me vi de frente para as falésias calcárias brancas e as águas azuis do Canal da Mancha, que separava a França de seu vizinho, a Grã-Bretanha.

— Nunca vim aqui, mas lembrei que você amava arte, principalmente os impressionistas franceses. — disse Gerard, apontando para um arco impressionante em uma das formações rochosas — Aquelas são as falésias que Monet gostava de pintar. Você se lembra de ver essa pintura no Musée d’Orsay na sua primeira viagem a Paris?

— Lembro. — disse eu, minha voz enroscando na garganta. Exatamente como vinte anos antes, lá em 1989, quando Gerard me levou ao Sacré-Coeur para mostrar onde meus artistas favoritos pintavam, pois ele tinha se lembrado da nossa conversa da noite anterior, ele tinha se lembrado do meu amor pelos artistas franceses, especificamente, pelos impressionistas. Gerard me puxou para um beijo, e a brisa soprou por nossos cabelos.

— Venha. — disse ele, afastando-se do abraço — Vamos explorar.

Estávamos à beira do precipício, mas não fiquei com medo. Tinha depositado toda a minha confiança nas mãos de Gerard. O medo de amar e de ser amado estava realmente se tornando um pesadelo distante no meu passado. Eu queria dar o salto.

 

**

 

Nossas duas últimas noites foram passadas em Saint-Valéry-en-Caux, a uma curta viagem de carro de uma hora, a partir de Étretat. O cansaço da exploração ininterrupta tinha finalmente se instalado. Uma caminhada curta mais tarde, decidimos jantar no hotel, que era adorável e tinha vista para a praia rochosa.

Mais uma vez, depositei minha fé em Gerard, que ainda não tinha feito nada de errado para mim. Na verdade, tinha feito tudo certo. Por isso, concordei quando ele sugeriu que eu provasse o pot-au-feu de la mer. O garçom colocou a refeição sobre meu jogo americano.
Esperava mexilhões, camarão e talvez um pouco de lula, não um monte de peixe… com cabeça, globos oculares e pele, numa tigela fumegante de sopa de repolho. A explosão de várias cores, combinada ao cheiro pungente, trouxeram à minha mente um mercado de peixe ao ar livre em um dia quente. Ainda assim, não poderia ofender Gerard, recusando o prato, por isso engoli um pedaço do peixe não identificado com um gole de vinho, a única forma de lavar a boca cheia de gostos torturantes.

— Como está seu prato? — perguntou Gerard.

Enfiei um pedaço de pão na boca e tentei não fazer caretas.

— O… o… o camarão está bem gostoso. — estava salgado demais e difícil de comer com as cascas.

— E os outros peixes? Têm gosto bom?

— Hummm-humm. Delicioso. Quer um pouco? — tipo o pedaço que está olhando para mim? Ele pegou uma porção da minha tigela e deixou a pele prateada para trás. Fez sinal com o garfo para eu continuar comendo. Só que eu não conseguia. Não sem um caçador atrás de mim. Havia apenas um problema. Só tinha um conjunto de copos na mesa e estavam cheios até a boca com o vinho rosé da casa. Ele pensaria que eu era um alcoólatra se começasse a dar goladas no vinho. Peguei a garrafa de água — Querido, você pode pedir à garçonete para trazer dois copos para água? Ou, j’ai besoin d’une pipe.

O casal sentado à mesa ao lado abafou a risada nos guardanapos. Gerard deu um sorriso largo e sexy. 

— Você acabou de dizer que precisa fazer sexo oral.

— Não, eu não disse. Eu disse que precisava de um canudo — afundei na minha cadeira, murmurando ao me corrigir. Maldito site francês de sacanagem — O que teria sido une paille, não une pipe.

Gerard se inclinou para frente, roubando um pedaço de alguma coisa rosa e escorregadia da minha tigela. Meus lábios tremeram involuntariamente. Seus olhos brilharam com malícia.

— E você mentiu para mim. Você prometeu que nunca mentiria para mim.

— Não menti.

— Sim, sim, mentiu. — ele riu — Você não gostou do seu jantar. Você odiou. É como assistir a uma criança pequena fazer cara feia.

— Então você sabia o tempo todo? E não disse nada?

— Foi muito divertido ver você comer. Você faz umas caras muito engraçadas, Frankie. Muito engraçadas.

— Eu não queria te decepcionar. — falei.

— Você nunca poderia me decepcionar, Frank. Você é um tesouro, que eu pretendo guardar. 

 

**

 

Os dias e as noites se juntaram num só borrão. Na praia rochosa de Saint-Valéry-en-Caux, estendemos uma toalha de praia e tentamos aproveitar nossos últimos momentos juntos com uma garrafa de vinho, um tablete de patê de pimenta verde, e um pedaço de pão recém-assado.

Ao longe, uma família remava em caiaques laranja-vivo, circunvagando alguns pescadores que lançavam redes. A água estava calma, lisa como um espelho. Em contraste, minhas emoções sacudiam. Um poço de medo substituiu as borboletas de felicidade que vibravam no meu estômago. Na manhã seguinte, Gerard me deixaria no Charles de Gaulle. E eu não estava pronto para ir embora.

— Temos tempos bem difíceis pela frente e precisamos ter paciência — disse Gerard —, mas podemos passar por eles. Estamos lançando o alicerce do resto da nossa vida. Agora, tudo o que temos a fazer é construir.

Além do meu amor e talvez de algumas palavras bonitas, eu não era capaz de oferecer muita coisa a Gerard.

— O que eu posso construir? Não tenho emprego. Nenhum dinheiro. Tudo o que tenho são as roupas do corpo.

Gerard riu. Começou baixinho e ficou mais alto. Franzi as sobrancelhas.

— O que é tão engraçado?

Ele me cutucou nas costelas.

— Essa é a história mais triste que já ouvi.

— Estou falando sério.

— Eu também. — ele me deu um beijo na testa — Eu te amo, Frankie. Já disse isso antes e vou continuar dizendo até você acreditar em mim. Quero compartilhar tudo com você, apesar de o tudo que tenho não ser muito. Sou um homem muito simples, vivendo uma vida muito simples.

Uma vida menos complicada soou bem para mim. Estava cansado de fugir, cansado de tentar manter as aparências. Não precisava de um carro de luxo ou de uma casa enorme, nem de roupas de grife. Quando parava para pensar, nada dessas coisas importava, e nunca tinha importado. Tudo o que eu precisava era de uma vida rica de amor. E de paixão.

Ah sim, eu precisava de paixão.

Em silêncio, vimos o pôr do sol lançar uma tonalidade amarela e alaranjada sobre as falésias brancas que se erguiam acima de nós. Uma brisa quente de verão soprou pelo meu cabelo. Gerard passou os braços em volta de mim, me abraçando forte como se eu pudesse sair voando. O ar cheirava fresco e salgado, limpo, uma promessa de novos começos.
Mudando um pouco o peso do meu corpo de lugar, virei a cabeça para que pudesse ver o rosto de Gerard. Seus olhos refletiam a cor do céu, tão calmos, tão serenos. Eu assisti às gaivotas rasgando o ar e as ondas quebrando na costa rochosa, sentindo como se eu estivesse num sonho perfeito e não quisesse acordar. Naquele instante perfeito, encontrei a tranquilidade e a paz pelas quais estava procurando durante minha vida inteira. O coração de Gerard batia nas minhas costas.

Ele estava comigo, me aceitando com todos os meus defeitos.

Eu estava com ele.

Ajeitei-me nos braços dele, apoiando as costas em seu peito. Uma única lágrima silenciosa rolou pelo meu rosto. Na manhã seguinte, eu estaria num avião. Não queria dizer adeus. Mas, claro, eu tinha de dizer.

 

**

 

De: Gerard

Para: Frank

Assunto: Mon Amour
 

Acabei de chegar em casa depois de sete horas dirigindo sem meu maravilhoso passageiro. Muitas vezes olhei para o banco vazio ao meu lado, na esperança de te encontrar lá.

Você não pode imaginar o quanto sinto sua falta, de todo você: seu corpo, sua pele, seus olhos, sua boca, sua risada, seu humor.

Você é um homem maravilhoso, tão carinhoso, tão agradável e tão cheio de surpresas. Nunca pensei que fosse encontrar um homem como você. Nunca nos meus sonhos. E ainda assim, você existe! A realidade da sua existência está além das minhas palavras.

Estes dez dias ao seu lado foram fantásticos, mas uma vida com você é indescritível; é simplesmente a porta do paraíso. Sim, tudo é lindo.

Seu,

Gerard



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...