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História Seven love letters - Conhecer os pais


Escrita por: myavengedromanc

Capítulo 18 - Conhecer os pais


 

Minuto a minuto, hora a hora, os dias se arrastavam. Eu estava de volta a um padrão de espera, de perpétuo estado de limbo. Além de Gerard, nada mais havia mudado na minha vida. Eu ainda não conseguia encontrar trabalho. Minhas economias tinham chegado ao nível de nada. Além disso, passear com os cachorros só estava pagando pela gasolina que eu gastava para chegar à casa dos clientes, o que me deixava com cerca de dez dólares por semana. Para adicionar insulto à injúria, fui esnobado por duas mulheres enquanto caminhava com um pequeno filhote de Jack Russell Terrier chamado Rocky, num parque local.

— Ah, ele é tão bonitinho. — disse uma mulher. Ela estava usando calças de ioga e um monte de maquiagem no rosto, além de ter o cabelo e as unhas recém-feitos.

— Qual é a idade dele? — sua irmã gêmea de Malibu perguntou, com um sorriso falso.

Seus olhos não tinham expressão, provavelmente vítima do Atendimento de Urgência, no qual os médicos, na verdade, faziam aplicações de Botox de emergência.

Dei de ombros.

— Não sei. Ele não é meu.

Seus sorrisos, antes amigáveis, transformaram-se em completo desprezo.

— Ah, você é só quem leva os cachorros para passear. — elas giraram nos calcanhares e saíram desfilando, deixando-me em pé no caminho empoeirado.

Eu queria gritar para elas: “Não sou apenas alguém que leva cachorros para passear. Sou um ex-diretor de arte, só estou passando tempo antes de me mudar para a França”. Nenhuma dessas palavras saíram da minha boca. Rocky, aumentando minha humilhação, fez cocô.

Peguei um saco de plástico azul do bolso e recolhi. Coberto de suor, levei Rocky de volta para casa e fui para o próximo cliente. Lá, encontrei três adolescentes descansando à beira da piscina sob uma tenda listrada, comendo morangos.

— Ah, é o passeador de cachorros. Só ignore.

E se as coisas com Gerard não dessem certo? Eu me tornaria o velho louco dos cachorros, que vivia na casa dos pais e era repudiado pela nata de Malibu? Exasperado, fui para casa e verifiquei meu e-mail, para ver se havia alguma boa notícia de Gerard, a luz mais brilhante na minha vida.

Minha mãe entrou na cozinha.

— Está mandando e-mail para aquele francês de novo? Você tem de sair do computador, conhecer mais gente.

— Não quero. Isso não me interessa. Só existe ele para mim.

— Não seja ridículo, Frank. Vocês podem ter passado férias fantásticas juntos, mas ele é praticamente um estranho para você.

Eu precisava chocá-la, fazê-la aceitar. Podíamos pisar em ovos quando se tratava do assunto, mas sexo não era exatamente um tabu em casa durante minha adolescência. Aos 16 anos, perguntei à minha mãe se ela poderia comprar para mim lubrificante, para abre aspas, um trabalho de química do colégio. Minha mãe, como ela me diria muitos anos mais tarde, não tinha nascido ontem. Eu mal podia acreditar no que eu queria dizer, então despejei.

— Ele é um amante incrível.

— Amante? — minha mãe engasgou com o muffin inglês — O quê? — um rubor subiu por suas bochechas, ela ficou de queixo caído — Frank, sou sua mãe. Não podemos falar sobre coisas como essas. — ela apertou os lábios e me lançou um olhar de soslaio — Então, qual é o tamanho do equipamento dele?

Café voou para fora da minha boca e caiu na mesa de vidro. Equipamento? Talvez eu estivesse forçando a barra por sequer mencionar sexo.

— Mãe, isso atinge um nível inteiramente novo de ser tão errado, que nem tem graça.

Mas tinha. E não conseguíamos parar de rir.

Já que agora minha mãe e eu parecíamos compartilhar tudo, decidi mostrar a ela como o Google Tradutor funcionava com um dos e-mails franceses do meu sapo. Peguei uma das cartas mais curtas, que, à primeira vista, parecia “correta”.


Meu amor, 
Esta manhã, durante o café da manhã, realmente pensei em você. Nós temos hoje e amanhã e eu sou louco de alegria por ter você comigo… é a conclusão.
Muito amor para meu queridinho, meu putinho safado.
(Plein d’amour pour ma petite chérie, mon petite cochon.)


Minha mãe olhou para a tela do computador.

— Por que cargas d’água ele está chamando você de putinho?

Depois que peguei meu queixo do chão, respondi:

— O quê? Não, não, nãããão, ele não está me chamando disso. Mon petite cochon significa “meu porquinho” — o que era verdade. Mas havia uma conotação sexual quando se chamava alguém de porquinho, na realidade funcionava mais para mulheres, mas Gerard tinha a imaginação fértil com os apelidos e não era uma tradução literal. Obrigado, Google.

Minha mãe não estava convencida.

— Bem, por que ele está chamando você de porquinho?

— Não é uma expressão de carinho? Oink?

— Então você deveria chamá-lo de gros cochon. (Porcão)

— Não, você pode chamá-lo disso na cara dele. De acordo com o e-mail mais recente que mandou, ele gostaria de fazer uma visita em outubro. É claro que, se não tiver problema com vocês.

Ela olhou para mim como se eu tivesse três cabeças.

— Mi casa, su casa. — disse ela — E você não tem que pedir. Estou morrendo de vontade de conhecê-lo pessoalmente!

No início da noite, sentei na varanda do meu quarto, com Ike ao meu lado e um Chardonnay gelado na mão. Lá fora, entre as árvores e pássaros, eu conseguia respirar. Estar ao ar livre, na natureza, sempre tinha um efeito calmante sobre minha alma. Eu adorava observar os beija flores.

Que criaturas mágicas e fantásticas eles eram, voando de flor em flor, com os corpos iridescentes brilhando à luz do sol, asas batendo a milhares de quilômetros por hora. E então a coisa mais incrível aconteceu.

Um dos pássaros pairava a meio metro de mim. Seu corpo era elétrico, um verde cintilante vivo, com o pescoço de um vermelho vivo. Um pequeno motor ronronando, suas asas se agitavam e zuniam. O pássaro inclinou a cabeça de um lado para o outro, parecendo estar tão interessado em mim como eu estava nele. Prendi a respiração, sem querer assustar aquela magnífica criatura. Nem um segundo depois, ele voou mais para perto, agora a quinze centímetros diante do meu rosto. Suas asas batiam tão furiosamente que eu mal podia discerni-las.

Em um movimento rápido, ele disparou na minha direção. Com medo de que ele furasse meu olho com seu bico preto e pontudo, pulei para trás. Como se rindo do meu medo, ele voou acima da minha cabeça mais um pouco, antes de aterrissar num galho de árvore.

Ri de volta.

Aquele beija-flor, para mim, trazia uma mensagem de um poder superior, dizendo-me para ser forte, ser paciente, para apreciar meu mundo, minha nova vida. Gerard conhecia minhas posições sobre religião. Eu acreditava, mas era o tipo de pessoa que aceitava e respeitava todos os credos. Quando contei a Gerard, sempre o cientista, sobre minha experiência no quintal, ele entrou numa explicação de como beija-flores eram extraordinários.

— São uma maravilha da engenharia. — disse ele.

Pacientemente, eu o ouvi explicar como, por anos, os cientistas do campo aeroespacial haviam tentado recriar os padrões de voo dos beija-flores, e eu me diverti com seu entusiasmo e sua paixão pelo assunto. Ele se deleitava sobre o fato de serem as únicas aves do planeta que podiam voar para trás, verdadeiros especialistas em aerodinâmica.

— Sim, sim, tudo isso é interessante, mas o que você acha do pássaro?

— C’est incroyable, mon coeur. (Inacreditável como você) — disse Gerard. 

 

 

**

 

 

Outubro esgueirou-se como uma tempestade surpresa. Minha única esperança era de que todas as nuvens de tempestade fossem passar. Jessica veio até a cidade para um longo fim de semana com o propósito de celebrar meu aniversário — minha entrada nos “enta”.

De alguma forma, eu consegui me convencer de que quarenta era o novo trinta. Que trouxessem o borbulhante.

Minha mãe, Jessica e eu, com Ike, pegamos o barco e tivemos um dia épico. Ficamos só dando uma volta, ouvindo The Rolling Stones e bebendo vinho branco, e um cardume de pelo menos quarenta, talvez cinquenta golfinhos nadava perto da gente, disparando para frente, rolando e brincando no rastro de espuma branca. Os golfinhos estavam por toda parte, nadando debaixo do barco de costas, exibindo as barrigas brancas perto da proa, brincando e pulando, orquestrando um show que rivalizava com qualquer apresentação do Cirque du Soleil. Impressionantes e incrivelmente belos, os golfinhos dançavam e nadavam, a água era seu palco. Foi mágico.

— Ai, meu Deus, estão vendo ali? — gritou Jess. Na verdade, todos nós estávamos gritando, apontando, sorrindo e dando risada. Porém, tão depressa como haviam aparecido, os golfinhos desapareceram no horizonte. Naquele dia, fui para casa me sentindo contente, mas alguns dias depois, aquele sentimento se transformaria numa tristeza melancólica. Aquele mês foi preenchido por muitas despedidas.

Despedi-me da Jessica, que voltou para sua casa em Nova York. Despedi-me dos meus 30 anos. Em breve, também seria a hora de dizer adeus ao meu fiel companheiro, Ike. Depois de descobrir que a Pet Airways tinha acabado de ser inaugurada, Chris perguntou se poderíamos dividir a guarda do filho peludo. Concordei.

Eu sabia que o dia em que colocasse Ike no avião seria difícil, assim como os dias seguintes, mas nada me preparou para a dor de deixá-lo partir. Quando o deixei na Pet Airways, embora tentasse me convencer do contrário, eu tinha uma intuição profunda de que seria a última vez que iria vê-lo. Um nó se formou na minha garganta e precisei de todas as minhas forças para não me debulhar em lágrimas.

Como um pai controlador, avisei a recepção sobre a paralisia de laringe do Ike. Que, se ele começasse a surtar, que, por favor, esfregassem seu pescoço e lhe dessem um Benadryl para acalmá-lo. Entreguei à mulher a bolsa com a comida e os remédios, os cobertores e seu animal de pelúcia favorito: um grande macaco marrom.

— O apelido dele é “macaco” — eu disse. Puxei meus óculos de sol, que estavam sobre a cabeça, para cobrir meus olhos.

Ela me lançou um sorriso compreensivo.

Eu queria dar meia-volta e seguir para casa, esquecer o acordo feito com Chris. Afinal, Ike estava feliz. Tinha uma vida excelente na Califórnia — nadava na piscina, ia à praia e comia hambúrgueres grelhados e cachorros-quentes. Entretanto, uma promessa era uma promessa. Ike também era o cachorro de Chris.

Abaixei-me para dar o maior abraço do mundo no meu melhor amigo peludo, jogando os braços em volta de seu pescoço. Ele lambeu as lágrimas do meu rosto. Com um petisco em mãos, a mulher levou Ike para a sala dos fundos. Ele balançou o rabo o tempo todo. E então se foi. Uma vez dentro do meu carro, eu me entreguei. Meu corpo sacudia. Minhas mãos tremiam.

Engoli em seco os soluços irregulares.

De volta em casa, lembranças de Ike estavam espalhadas por toda parte, bichos de pelúcia, guias sobressalentes, rolos de pelo preto girando no chão. Bodhi, o golden retriever, me seguia aonde quer que fosse, como se dissesse: “Pare de ser tão triste! Você tem a mim!”.

Mas perder Ike foi como perder um filho.

Não conseguia parar de chorar.

Trouxe Bodhi, o grandão, para um abraço junto do meu peito. E então liguei para Bert. Eu mal conseguia falar.
,

— O que foi? — perguntou ele.

— Acabei de colocar o Ike num avião. 

— Ah, Frankie, sinto muitíssimo. Você vai vê-lo de novo.

— Não, B, meu instinto me diz que não vou. Parecia um adeus definitivo. Ele não está bem de saúde. Eu deveria ter mantido ele aqui. Comigo.

— Frank, é provável que você se mude para a França…

— Não sei.

— Mas você ama Gerard e ele te ama, não é?

— É.

— Olha, sei que ele vem te ver em breve, mas, depois disso, você precisa de um mês de teste ou dois. Na França. Vocês precisam parar com a fantasia de férias e tentar coisas reais. Precisa ver como a vida dele é de verdade, como são os filhos. — ele fez uma pausa — E não se preocupe com Ike. Você fez tudo o que podia por ele.

— Eu sei.

Eu estava chorando histericamente quando desliguei o telefone.

 

O dia 26 de outubro não poderia ter chegado mais depressa. Os filhos de Gerard ficariam hospedados na casa da avó durante o feriado de La Toussaint, e meu francês viria para a cidade. No momento em que Gerard saiu da esteira de bagagens, corri até ele e ele me girou nos braços. Cara, que falta eu sentia daqueles braços. Sentia falta do sorriso. Sentia falta dos lábios, do toque. Nós nos beijamos, longamente, com força, com paixão. Antes que alguém pudesse gritar “arranjem um quarto”, levei-o até o outro lado da rua, para o carro.

Quinze minutos mais tarde, estacionei na marina.

— Onde estamos? — perguntou.

— No barco dos meus pais. Achei que você ia querer se refrescar antes de conhecê-los. — balancei minhas sobrancelhas — Já se passaram dois meses desde que nos vimos. Achei que a gente poderia usar um pouco de privacidade.

Saí do carro e caminhei até as docas antes que ele pudesse argumentar. Gerard seguiu com sua bagagem de mão e subimos no barco. Ele enfiou a mão na bolsa e tirou uma caixa preta fina e quadrada, envolta num laço vermelho.

— Joyeux anniversaire, meu amor.

Joguei a caixa sobre o balcão e empurrei Gerard para cima da cama.

— O que eu quero é você.

Duas horas depois, aparecemos na casa dos meus pais.

Do lado de fora da porta da frente, toquei o colar que Gerard tinha acabado de me dar como presente de aniversário.

— De verdade, não precisava.

— Se eu não tivesse trazido nada — ele argumentou —, você não pararia de falar.

— Você veio aqui. Isso é presente o bastante.

— Sei. — ele gargalhou, estreitando os olhos para um olhar provocador. Seu lábio superior se contraiu — Estou me sentindo um pouco esquisito de conhecer seus pais.

— Por quê?

— Porque meu divórcio não saiu ainda. — eu percebia que aquilo realmente o incomodava, mas além de ser paciente, não havia nada que qualquer um de nós poderia fazer a respeito — Me sentiria muito melhor se pudesse pedir sua mão em casamento para seu pai. Frank, eu preferia te dar um anel a um colar.

Meu coração deu uma cambalhota e eu ri anasalado, claramente envergonhado.

— Você seria o primeiro a pedir permissão ao meu pai.

Seu receio era palpável. Ele fez um gesto em frente à porta.

— Estou um pouco intimidado com tudo isso. Minha casa é muito menor do que essa. Muito menor. Não posso te oferecer luxo, nem piscina ou um barco. Só posso… 

Beijei-o de leve nos lábios.

— Gerard, coisas materiais não importam para mim. Só você me importa. E já contei tudo aos meus pais. Eles compreendem. De verdade. Tenho a sensação de que você e meu pai realmente vão se entender.

Pelo menos era minha maior esperança. 
 



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