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História Seven love letters - O mês de teste


Escrita por: myavengedromanc

Capítulo 20 - O mês de teste


Durante meses, fiz tudo o que podia para encontrar um emprego. Percorri sites de vagas, enviei currículos aqui e ali para basicamente todos os lugares. Persegui minha recrutadora.

Ela me repeliu. Não havia oportunidades freelances. Não havia empregos. Não havia nada, além da minha carreira como passeador de cachorro e ocasionais noites em claro.

Enquanto cuidava de dois cães, um cavalo e um pônei Shetland e dormia num quarto que tinha uma coleção de bonecas velhas, com olhos e membros faltando, observando-me da prateleira em cima da cama, virando de um lado para o outro (ladeado pelos dois cachorros), eu me lembrei: pelo menos o trabalho pagaria o suficiente para arcar com minha parte da gata.

Porém me mudar para a França ainda não estava nada certo. Tudo podia acontecer. O casamento de Gerard com Natasha tinha azedado por causa do relacionamento — ou falta dele — com as crianças. E se não gostassem de mim?

Eu descobriria em breve.

O dia 19 de dezembro chegou e eu me vi de volta à França. Saí da alfândega, prestes a conhecer meus maiores críticos. Gerard correu em minha direção e me deu o maior dos abraços de urso e um beijo ainda maior.

Maxence e Elvire espiaram por cima do ombro, me encarando — a estranheza: um homem estranho da América. Elvire era uma flor delicada, magra, com uma tez cor de marfim e olhos de gata, grandes e azuis. Seu cabelo avermelhado proporcionava um forte contraste com a palidez de sua pele. Maxence era o seu oposto. Pequeno em estatura, com certeza, mas robusto e forte. A pele do garoto de 10 anos era mais amorenada, seus olhos eram esverdeados e seus cabelos eram de um castanho escuro. Os dois filhos tinham o nariz perfeito e fininho do pai.

Antes de Natasha ir embora, havia dito que Gerard não iria encontrar ninguém para amar seus dois monstros horríveis. Podia ser por causa da época de Natal mas, para mim, pareciam dois anjinhos. Não havia absolutamente nada de terrível neles.

— Tu es plus jolie en personne. (Você é ainda mais linda pessoalmente.) — eu disse para Elvire. O elogio de sua beleza imediatamente trouxe um grande sorriso a seu rosto. Trocamos beijinhos nas faces e, para causar uma boa impressão, dei-lhe um grande abraço. O processo também foi repetido com Maxence, mas em vez de dizer que ele era lindo, eu disse que ele era très beau. (Muito bonito.) Os olhos de Elvire e Maxence dispararam de um para outro e depois para mim. Eu quase podia ver seus pensamentos funcionando, se perguntando se eu era “tão legal quanto seu pai tinha dito”.

Gerard pegou minha mochila e fomos para o carro.

— Pronto para ir para casa?

Casa. Eu estava ansioso para vê-la.

— Não é muito. — disse Gerard — Mas faço o que posso. Precisei comprá-la às pressas. — ele olhou para as crianças — Logo depois a mãe deles faleceu.

— Tenho certeza de que é ótima.

— Tem muito trabalho a ser feito.

— Vou te ajudar. — um homem faça-você-mesmo, Gerard já tinha me preparado para algumas “questões”, como as paredes nuas no hall de entrada que precisavam ser pintadas e o buraco no chuveiro de um de seus fracassos de encanamento.

— Frank, não é nada como a casa dos seus pais.

— Eu sei. Eu já vi. — seus olhos se arregalaram de horror — Google Earth. — eu disse, a título de explicação — É uma casa de cor creme com um pequeno jardim na frente, de dois andares com uma cerca verde.

— Quando…

— Depois que você me enviou o telefone, eu peguei seu endereço no pacote.

Gerard estava bem consciente da minha natureza curiosa. Ele chamava de espionagem; eu chamava de pesquisa. Pelo menos tinha sido honesto sobre minhas atividades de Mata Hari.

— Ahh, meu pequeno espião. Você andou ocupado. — ele cutucou meu ombro — Em casa, há uma caixa na qual você pode estar interessado. Vou te mostrar onde fica.

Paramos em sua rua, que eu reconheci imediatamente das minhas investigações no Google.

Uma mulher passeando com um Lulu da Pomerânia indisciplinado olhou para o nosso carro.

Levantei minha mão num gesto amigável. Ela olhou feio para mim e apertou o passo, praticamente arrastando o cachorro pela rua. Gerard riu.

— As pessoas não são tão amigáveis aqui como são nos Estados Unidos. Elas são, como eu disse, um pouco mais reservadas.

Ele estacionou o carro na vaga. As crianças pularam para fora do carro e se dirigiram para a casa branca com o portão de ferro verde. O pequeno jardim da frente estava um pouco cheio de ervas daninhas, mas eu não disse nada.

— Preciso do seu senso artístico para transformar a casa num lar. — disse Gerard, mexendo com as chaves.

— Natasha não fez nada?

— Não. Fiz tudo. Eu trabalhava na casa. Cozinhando, limpando, fazendo compras de supermercado e cuidando da decoração. Tudo.

— Mas ela não trabalhava?

— Por um tempo, sim. Depois o contrato acabou e ela entrou no seguro-desemprego. Não faço ideia do que ela fez com o dinheiro dela. Ela nunca se ofereceu para ajudar com nada. Quando eu pedia, ela gritava e chorava.

— Ela ligou?

— Não, não nos falamos desde que o divórcio foi finalizado, há duas semanas. Só temos nos comunicado por e-mail.

— Ela falou com as crianças?

— Nem uma palavra.

Bufei para expressar minha desaprovação.

Gerard abriu a porta. Eu estava esperando “casa de homem”, como era minha casa no início do meu casamento com Chris: sofá preto de couro com uma TV de tela grande, talvez uma mesa de centro com rodas de carroça. Mas ele estava exagerando quando disse que precisava de ajuda. Claro, os quartos podiam ganhar um toque, mas ele tinha feito um bom trabalho na decoração. Numa das paredes da sala de estar havia papel de parede feito de fibras de folhas, em cor natural, e a parede nua havia sido pintada de bege claro. A mesa da sala de jantar, um pedaço de madeira sólida, escura, com quatro cadeiras, era de influência asiática, assim como o aparador sobre o qual estava a televisão. O sofá era marrom-chocolate, da IKEA, com espaço suficiente para quatro pessoas.

A sala era estreita, mas confortável, e ficaria melhor com um toque de cor — um tapete, um pouco de arte, almofadas, velas, coisas dessa natureza. No canto havia uma árvore de Natal Charlie Brown: um arbusto patético com luzes de quatro cores e alguns enfeites multicoloridos espalhados. Era evidente que ele estava tentando.

— Quando comprei este lugar, tinha sido abandonado. Você deveria ter visto isso, Frank. Estava horrível. Com pressa de encontrar alguma coisa, eu só tive duas semanas para torná-lo habitável antes que as crianças viessem morar aqui comigo. Felizmente, meu irmão ajudou.

Olhei para a pequena cozinha com armários de pinho e o piso quadriculado preto e branco.

Estava tudo impecável. Gerard abriu a porta que levava à garagem, onde encontrei um pequeno recanto com uma lavanderia modesta. Ele apontou para a secadora.

— Acabei de comprar isso. Para você. Feliz Natal, para meu garoto americano.

— Você é tão romântico — eu disse.

Seus belos lábios se uniram num sorriso travesso.

— Eu sou, Frank. Seja paciente. Você vai ver.

Enquanto ele subia apressado as escadas, eu me perguntava o que ele estava tramando.

Gerard tinha coberto a entrada e a escada que levava ao segundo andar com ladrilhos que pareciam tijolos, mas o trabalho havia parado no meio do caminho, no patamar, e as paredes acima do trabalho de ladrilhos eram de gesso sem acabamento. Ele acenou para as paredes nuas e deu de ombros.

— Sei que precisam ser pintadas. Só não tive tempo de fazer nada ainda. E gostaria que você escolhesse a cor.

Concordei com a cabeça, ansioso para dar uma mãozinha.

— Você fez um trabalho muito bom com o lugar. Devia ficar orgulhoso.

— Você é muito gentil. Não está perfeito, mas vai chegar lá um dia.

O quarto de Elvire era revestido por papel de parede amarelo girassol pálido e decorado com pôsteres do Crepúsculo. Além de sua cama, havia uma estante de livros, um armário e uma mesa de vidro. Era um total caos adolescente: explosão de embalagens de doces, papéis e roupas no chão. Gerard sacudiu a cabeça.

— Eu disse a ela para limpar, mas ela simplesmente não me dá ouvidos. — ele gritou — Elvire, viens ici et range ta chambre! (Elvira, venha aqui e arrume seu quarto!)

— Deux secondes. (Dois segundos) — foi a resposta.

Dois segundos. Suspirei, lembrando de como eu era na idade dela. Filhos, quer na França, quer nos Estados Unidos ou no Zimbábue, eram todos iguais.

Peguei uma foto de uma Elvire muito mais jovem, sorrindo com uma mulher com cabelos curtos e ruivos. A mulher tinha olhos azuis de gata, assim como Elvire. Confetes azuis e rosa cobriam as duas.

— Natasha pediu para Elvire manter as fotos escondidas da vista. Elas te incomodam?

Não que me incomodassem, em si. Senti como se estivesse olhando para o rosto de um fantasma, um sentimento difícil de descrever, não bem ciúme, mas de consciência. Um pequeno buraco se formou no meu estômago.

— Natasha queria competir com a memória de uma mãe morta?

— Não. — disse Gerard.

— Ela competia com Elvire pela minha atenção.

— Fico mais do que feliz em dividir você. — recordando a história que ele havia me contado sobre seu único ménage à trois, eu o beijei e corrigi — Com as crianças, é claro.

Gerard me levou ao quarto de Max, que era revestido com papel de parede num tom médio de azul. Ao contrário de Elvire, seu quarto estava arrumado e organizado. Cartas colecionáveis estavam colocadas em pequenas pilhas perfeitas sobre sua mesa. As roupas e os brinquedos tinham sido guardados. Sorri quando vi o robô azul que meus pais tinham lhe dado de aniversário, o qual Gerard tinha trazido para Max depois de me visitar nos Estados Unidos. A tromba de um elefante cinza aparecia sob o edredom azul-marinho.

— Aquele é o Doudou. Max tem desde que era bebê.

— Ah. — eu disse. Outro resquício do passado. Foi então que eu disse a mim mesmo para deixar a espionagem de lado. Eu sabia tudo o que precisava sobre Gerard e seus filhos.

— Tenho outra coisa para te mostrar. — disse ele, me guiando para a varanda, que havia sido fechada com uma grande janela. Ele sorriu, orgulhoso.

— Achei que você precisaria do próprio armário. Eu mesmo coloquei o piso e as paredes. Tudo o que você tem de fazer é escolher os acabamentos.

Meu coração batia descontroladamente, feliz.

Nossa próxima parada foi a suíte principal parcamente mobiliada. Apenas uma cama e uma cômoda.

— Você parece um pouco cansado. — ele me deu um beijo no nariz — Descanse um pouco enquanto eu preparo o jantar.

Tive doces sonhos e não acordei até o dia seguinte. Fizemos amor pela manhã; eu tentando fazer silêncio por causa de Max, que dormia profundamente logo ao lado. Por um tempo, apenas ficamos ali, envoltos nos braços um do outro, pernas entrelaçadas.

— Você acha que vai ser capaz de viver aqui? — sussurrou Gerard.

Esfreguei minha mão sobre seu peito.

— Já me sinto em casa.

 

**

 

Logo após o café da manhã, Gerard, as crianças e eu íamos para o mercado de Natal em Toulouse. Apelidada de La Ville Rose, por causa de todos os seus edifícios de tijolos, a “cidade rosa” era o centro para a indústria aeroespacial francesa — e a razão por Gerard viver na área. Eu estava animado para ver a cidade rosa coberta por um manto branco, o que, de acordo com Gerard, era muito raro.

Vestidos com nossos paramentos de inverno — botas, casacos, gorros e cachecóis, andamos vinte minutos de carro até Le Capitole, o centro de Toulouse, passando por parques cobertos de neve, em que pais empurravam os filhos em trenós de plástico, e o Canal-du-Midi, que agora estava coberto por uma fina camada de gelo. Atravessamos ruas estreitas ladeadas por belos edifícios com varandas de ferro e portas de madeira entalhada, chegando enfim ao nosso destino: uma praça grande cheia de pequenas barracas de madeira que vendiam de tudo — de roupas e sapatos a especiarias, frutos do mar e salsichas. As bancas faceavam um enorme edifício neoclássico de tijolos e pedra calcária, adornado com esculturas impressionantes. Um grupo de cafés, inclusive com clientes sentados do lado de fora, circundava o mercado.

— Assim que o mercado termina, a praça fica vazia. Às vezes, apresentações ou outros eventos acontecem aqui. Essa é a prefeitura. — disse Gerard, acenando para o Capitólio — Na extremidade direta, há um teatro. Você gosta de ópera?

As crianças gemeram. Eu ri e disse:

— Gosto.

— E sua favorita?

— Madame Butterfly.

— Um dia, talvez a gente possa assistir juntos.

— Eu gostaria.

As crianças correram à nossa frente. Gerard colocou o braço ao meu redor e seguimos, dando a eles espaço para explorar, mas ficando de olho ao mesmo tempo.

Entre os velhos e os jovens, passeamos enquanto olhávamos as vitrines do mercado, apenas desfrutando de todas as vistas, os cheiros e os sons. Havia uma ligeira brisa, não suficiente para nos fazer tremer, mas apenas para garantir que a ponta do meu nariz ficasse fria. Max e Elvire correram até um vendedor de doces, praticamente babando sobre as guloseimas. Gerard entregou alguns euros a cada um. Comprariam as frutas cristalizadas revestidas de açúcar: pêssegos, maçãs e morangos? Ou chocolate?

— Querido, quer um vinho com especiarias? É uma especialidade aqui. — Gerard inclinou a cabeça em direção a uma barraca a poucos metros de distância. Fiz que sim, com olhos ansiosos. Ele se afastou, com passo confiante. Mais uma vez, eu lhe assisti jogar seu charme para o vendedor. Gerard era muito descontraído; fazia todo mundo sorrir.

Nossos olhos se encontraram quando ele me entregou um copo de papel de vin chaud, e os aromas natalinos do vinho quente permearam minhas narinas. Tomei um gole, e o líquido aqueceu minha garganta. Delicioso. As crianças logo se juntaram a nós, açúcar cristalizado brilhando em seus lábios, e seguimos em frente.

— Está gostando do mercado? — perguntou Gerard.

Gostando? Eu estava amando o mercado. Amando os aromas. As especiarias, a canela e a noz-moscada permeavam o ar naquela época do ano, juntamente do pão recém assado. Alguns dos vendedores usavam gorros de Natal e cantavam canções natalinas francesas, e o sentimento geral era de festa. A novidade da minha nova situação não parecia tão intimidante como tinha sido na minha chegada.

Maxence puxou a manga do meu casaco.

— Regarde! Un petit cochon! (Olha! Um porquinho!)

Numa caixa à nossa esquerda, um pequeno porquinho corria em círculos, gritando, o som agudo mandando dezenas de pombos pelos ares. Estavam vendendo algum tipo de doce. O porco bebê era, obviamente, uma estratégia para atrair clientes mais jovens. Sorri para baixo, na direção de Max.

— C’est toi?

É você?

— Non, c’est notre dîner. (Não, é o nosso jantar.) — disse Gerard.

Os olhos de Elvire se arregalaram. A risada de Maxence diminuiu. Dei um soquinho no braço de Gerard.

— Não vamos comer leitão no jantar. — pisquei para as crianças. — Ton père, quel blagueur!

Que palhaço!

Maxence correu para acariciar o porco de estimação. Gerard colocou um braço em volta de mim, o outro em torno de Elvire. E eu sorri. Os cílios longos de Elvire piscaram para afastar a neve e quaisquer sinais de desconfiança.

Flocos de neve em miniatura cobriam o chão com uma camada fina de branco, derretendo sob nossos passos. A forma como as crianças olhavam para Gerard, com os olhos arregalados, com adoração, fazia meu coração se encher de orgulho, um balão de água cheio demais, pronto para estourar. Era o país das maravilhas de inverno. Meu país das maravilhas.

Eu estava tão feliz, que tive de parar de girar no meio da rua, agitando os braços, com língua para fora para pegar flocos de neve, como as crianças. Caminhamos de volta ao estacionamento, com um saco de castanhas torradas, deixando pegadas pelo caminho atrás de nós. Era hora de conhecer os amigos de Gerard.

Ele colocou um CD clássico e deu partida no carro. As crianças colocaram fones de ouvido nos iPods.

— Faz quatorze anos que trabalho com Christian. Ele e a esposa, Ghislaine, são tão próximos a mim como minha própria família.

— O que você contou a eles sobre mim?

Gerard estalou os lábios.

— Frank, não tem com que se preocupar. Tenho certeza de que eles vão te amar tanto quanto eu.

Porém, no modo típico de cisma do Frank, eu estava preocupado. Apertei minhas mãos, imaginando catástrofe. Tipo, e se as crianças dissessem aos amigos de Gerard que não me suportavam, que mal podiam esperar para eu levar minha bunda americana de volta ao Estados Unidos, onde era o lugar dela? E se, em vez de canudo, eu pedisse sexo oral de novo?

E se os amigos fossem pessoas tensas, reservadas que não entendessem meu senso de humor?

E se nos servissem pot-au-feu de la mer e eu tivesse que dar uma golada na minha taça de vinho para mandar goela abaixo?

Gerard tocou a campainha. A porta se abriu.

Revelou-se que meus medos não se justificavam. De forma alguma.

Christian tinha olhos azuis cintilantes, um sorriso enorme e, como Gerard, vinha com uma risada contagiante de fábrica. Falou algumas palavras em inglês, o que imediatamente me deixou à vontade. Ghislaine, a esposa, tinha um rosto acolhedor e alegre, cabelo loiro curto e usava óculos com armação moderna cor de laranja. Ambos, eu imaginei, estavam em seus sessenta e poucos anos. Com movimentos rápidos de mãos, eles nos conduziram para a sala de estar.

Desde o instante em que chegamos, eles não pararam de sorrir. O aperitif — vinho espumante — foi servido. As crianças se entretiveram com um livro de truques de mágica.

Sentados perto da lareira, comemos aperitivos, queijos e tortas, e fizemos nossa melhor tentativa de conhecer um ao outro apesar da barreira linguística. Gerard traduzia quando eu não entendia. Falando por meio de gestos, me ofereci para ajudar Ghislaine na cozinha, mas ela se apressou em recusar.

Durante o jantar, foi servido um vinho Bordeaux picante. Gerard contou nosso caso em 1989, sobre como retomamos o contato vinte anos mais tarde e nossos planos futuros de casamento. Entrei na conversa aqui e acolá, falando francês só no passado e no presente.

Ninguém me corrigiu, porque eu estava tentando. Falamos de alguns problemas em nossos relacionamentos passados; ele com Natasha e eu com Chris. Quando terminamos, Ghislaine tinha lágrimas nos olhos.

— Je suis très contente. (Eu estou muito feliz) — disse ela e acenou com a cabeça para as crianças — Et je pense qu’ils sont heureux aussi. Ils ont besoin d’un morceau de bonheur. (E acho que eles estão felizes também. Eles precisam de um pouco de felicidade.)

Foi então que notei as crianças sorrindo para mim. Percebi que eu não precisava de um gato para dar a eles o que estavam procurando, un morceau de bonheur, “um pouco de felicidade”.

Tudo o que precisavam era serem rodeados por amor. Sim, todos nós, todos nós estávamos très contentes. Muito felizes.

Numa tentativa de me aquecer ainda mais para as especialidades regionais, aquela noite foi dedicada a le canard, ou pato, e as várias maneiras das quais era servido. Como entrada, nos deleitamos com foie gras, que eu nunca tinha experimentado antes e que era produzido naquela região da França. Era saboroso, uma delícia amanteigada, que foi seguida pelo prato principal, um confit de canard, coxa de pato, servido com batatas assadas. Nossos anfitriões sorriram e me perguntaram se eu estava gostando da refeição.

De fato, eu estava.

— C’est fantastique!

Nenhum jantar francês estaria completo sem uma salada, uma variedade de queijos e frutas frescas, que, prato após prato, foram servidos logo antes da sobremesa: uma torta de chocolate excepcional decorada com kiwis cristalizados e morangos. No final da refeição, eu estava cheio e zonzo com todos os sabores marcantes. Então chegou a fadiga. Mal conseguia manter os olhos abertos e lutei contra a vontade de bocejar. Eram apenas 22h, mas depois do nosso dia agitado no mercado e meu jet lag, parecia ser duas da manhã. Gerard me olhou e explicou que eu tinha viajado de avião na noite anterior e que ele achava ser uma boa ideia me levar para casa. Afinal, partiríamos para a Provence no dia seguinte, logo cedo.

— Sem problemas! Entendemos! — exclamaram nossos anfitriões. Um turbilhão de despedidas e beijos duplos nas faces vieram em seguida.

No caminho de volta para casa, não pude deixar de pensar no quanto Christian e Ghislaine, de fato, pareciam família. Só tinha passado algumas horas com aquele casal fabuloso, mas sua gentileza e bondade fizeram minha ideia de me mudar para a França algo bem menos aterrorizante.

 


Notas Finais


Preciso deixar avisado que vou demorar um pouco pra postar o próximo capítulo, minhas provas da faculdade vão começar e eu preciso estudar, tudo bem? <3


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